sábado, 8 de dezembro de 2012

CEZINHA - DEZ ANOS DO CANTO DA CORUJA



Sexta feira 07, durante a festa para Santa Bárbara na Tenda do Tigre, encontramos o Cezinha como é conhecido Augusto Cezar Passos da Cruz presidente do bloco de trio elétrico O Canto da Coruja e enquanto o compositor e cantor carioca Adalto Magalha cantava seus sucessos, Cezinha foi falando da sua vivencia desde quando nasceu em 1960 no bairro do Areal. “Quem me pegou foi a famosa parteira Dona Filó” e terminou por abrir o jogo e dizer que iria nos procurar, para solicitar uma entrevista com o objetivo de passar para os nossos leitores, a história dos dez anos do bloco O Canto da Coruja. “Que bom que você nos procurou para essa entrevista”. Cezinha fala sobre a extinção da escola de samba Unidos do Areal e porque hoje Porto Velho abriga mais de 40 blocos de trio elétrico. “Não tem critério. A prefeitura paga o trio elétrico e aí fica fácil colocar um bloco na rua”. Sempre acompanhado pela esposa dona Janira Holanda e aquela cerveja bem gelada, Cezinha marca presença praticamente em todos os eventos que se relaciona com carnaval. Vamos à história dos dez anos do bloco “O Canto da Coruja”

ENTREVISTA



Zk - Onde você viveu a infância?
Cezinha - Nasci no dia 18 de dezembro de 1960 no bairro do Areal pego pela famosa parteira Dona Filó. Fui batizado com o nome Augusto Cezar Passos Cruz. Minha infância e minha vida até hoje foi ali na avenida 13 de Setembro no bairro do Areal. Estudei no colégio Getulio Vargas, Joaquim Alves de Moraes que foi extinto, depois no Castelo Branco, Carmela Dutra e fiz graduação na área da educação na UFPA e hoje sou professor da rede pública municipal, sempre no Areal.

Zk - Vamos falar mais um pouco da sua infância no bairro do Areal?
Cezinha - A gente brincava de bola no Padre Mário (paróquia N.S. de Fátima), ia tomar banho no igarapé Grande. Tinha o Igarapé Grande para o rumo da Floresta e o Igarapé Grande da Ponte onde além de tomar banho, a gente ganhava alguns trocados lavando carro.
Zk - E seus pais?
Cezinha - Meu pai é Antônio Barroso da Cruz que era conhecido no bairro como Antônio Pintim e trabalhou nas Lojas Pernambucanas por muito tempo. Minha mãe é a professora Margarida que está viva com 84 anos de idade. Meu pai faleceu quando tinha apenas 44 anos de idade, muito cedo.

Zk - Vamos falar sobre o Cezinha adolescente?
Cezinha - Depois do lance de lavar carro. sem nunca deixar de estudar, sempre trabalhei. Desde sete, oito anos trabalhei com meu tio no Mercado, depois fui trabalhar como Office boy no Bazar Bezerra, trabalhei no Foto Lopes e então fui para uma empresa que veio de Maceió especializada em topografia e eu trabalhava com cálculos. Trabalhei no super mercado Maru, banco Bradesco e finalmente na prefeitura como professor. Como o cargo de professor me dava oportunidade, trabalhei também na Cagero.
Zk - Quando foi que surgiu o Cezinha carnavalesco?
Cezinha - Pelo fato da gente fazer parte de fanfarra em 1972 o engenheiro João Coelho criou o bloco “Os Desconhecidos” em homenagem a uma amiga nossa que faleceu num acidente, na época que estavam asfaltando a Campos Sales. A Máquina tava limpando e num lance que ninguém soube explicar a menina teve a cabeça decepada e em homenagem a essa jovem, João Coelho criou o bloco “Os Desconhecidos” que desfilou apenas por dois anos. Depois a gente se reunia pra fazer roda de samba e pagode na casa da Vó Diamantina na rua Jacy Paraná, aí o Galo ganhou na Loteria Esportiva e comprou tan tan, reco reco, frigideira e pandeiro. Com todo esse instrumental falei: Gente já da pra montar alguma coisa sobre carnaval. Então fomos com a Tacila de Castro na época coordenadora do carnaval de Porto Velho juntamente com o Sergio Valente e ela nos orientou como proceder para receber recurso da prefeitura.

Zk - Montaram qual agremiação?
Cezinha - Com isso conseguimos realmente comprar os instrumentos para formar uma bateria, o tecido para as fantasias e então fundamos a escola de samba “Unidos do Areal” em 1982, junto com as escolas  Unidos da Castanheira e Mato Grosso.

Zk - Por que vocês desistiram da escola de samba Unidos do Areal?
Cezinha - Acontece que foi indo, foi indo e a escola não passava daquilo, não crescia. Certa vez a gente estava na avenida e ao assistir o desfile do bloco “Tô Nessa” que era do Carlinhos Camurça cheguei com o Bosco Siqueira e disse: Por que a gente não faz um bloco desse no Areal e ele questionou, será é  viável, será que é possível e eu respondi, não sei, vamos correr atrás. Resolvemos fazer no estilo Galo da Meia Noite que já existia.

Zk - Além disso, qual outro motivo?
Cezinha - Acontece que até então os blocos que desfilavam eram todos do bairro Caiari. Galo da Meia Noite, Bloco do Alho até a Banda do Vai Quem Quer é do Caiari. Então resolvemos criar nosso bloco de trio elétrico. Na reunião para escolher o nome do bloco o professor Clodoaldo como é da área da educação, falou sem mais nem menos: Vamos colocar “O Canto da Coruja”. Lembro que quando lhe procuramos para divulgar o novo bloco na redação do Diário da Amazônia você falou, Coruja não canta, pia! É mas, agora ela vai cantar respondi pra você.
Zk - Acontece que você deu outra explicação para o nome do Bloco; Lembra qual foi?
Cezinha - Chegamos a conclusão que a palavra CANTO não se refere ao trinar dos passarinhos, CANTO nesse caso é o local onde a Coruja mora é ali naquele lugar que vive a Coruja no nosso caso, o Areal é o Canto onde vive o Bloco. Daí o Canto da Coruja, não sei se deu pra entender.
Zk - Depois da criação do bloco Us Dy Phora o Canto da Coruja se transformou num bloco onde as famílias vão brincar. Tem uma explicação?
Cezinha - Acontece que o Bosco com as dificuldades que encontrou durante o período que ficou na presidência, chegou comigo e disse: Cezinha estou desistindo, porque minha casa está sendo muito ocupada e uma série de coisas que a gente entendeu. Respondi só que já são três anos e a comunidade está exigindo que o bloco continue e ele disse assim, meu sobrinho vai colocar o bloco pipoca com o nome Us Dy Phora. Pipoca todo mundo faz, se ele colocou esse nome é porque ele gostou aderiu e está fazendo.

Zk - Na realidade Us Dy Phora se trasnformou realmente num bloco concorrente e não apenas na pipoca e então?
Cezinha - Pois é com a fundação oficial do bloco Us Dy Phora os jovens foram pra lá e então o Coruja ficou, como eles dizem, “bloco de velhos”, porque a ênfase maior são as marchinhas. Hoje em virtude da solicitação dos pais que querem levar seus filhos para o bloco, liberamos a banda para também tocar axé e outros ritmos. No inicio era só marchinha e samba enredo. Como você falou com a ida dos jovens para Us Dy Phora o Canto da Coruja ficou mais família. No Coruja realmente o pai a mãe leva seu filho porque sabe que contará com a tranqüilidade e segurança.

Zk - Quantos abadas vocês colocam a disposição do folião?
Cezinha - Nosso propósito não é a expansão, é o limite que a gente tem até hoje, de no máximo chegar a 1.500 pessoas que já é um trabalho muito grande. Hoje a gente manda confeccionar 1.200 camisas.
Zk - Qual a despesa de um bloco no estilo Coruja?
Cezinha - A gente gasta com os ensaios: Banda, aluguel de som e segurança, tem a logística que constitui a confecção de adesivos e outros meios que divulgam o bloco, depois vem a confecção de abada e no dia do desfile tem que colocar X quantidade de segurança pra poder atender a Lei 190. Exemplo: Se a banda cobra R$ 2 Mil por cada ensaio no desfile a gente chega a pagar 4 e até 6 Mil, tem bloco que paga até mais como é o caso da Vai Quem Quer que segundo me informaram chega a pagar R$ 8 Mil.

Zk Essas despesas são pagas apenas com a comercialização dos abadas?
Cezinha - Que nada, na maioria das vezes o arrecadado com a venda dos abadas não cobre as despesas, é aí que entra a ajuda do governo estadual e da prefeitura. A ajuda do estado e do município com essa situação dos trios elétricos foi muito bem vinda. Você manda confeccionar 1.200 abadás, na lógica geral a R$ 30 cada um, você vai apurar bruto R$ 36 Mil. Só que o aluguel de um trio elétrico custa em média em Porto Velho em torno de R$ 15 a 17 Mil já quebra você no meio aí vem a segurança, banda e os cordeiros no dia do desfile, mas tem as despesas dos ensaios. Já teve situação dos diretores se reunirem e dizer: E agora!

Zk - Tem muita doação de abada?
Cezinha - Dos 1.200 abadás a gente doa pra comunidade de graça, na faixa de 300 abadás. Acontece que você vê aquela pessoa que é da comunidade com vontade de brincar carnaval no bloco, mas não tem condições de comprar o kit e então a gente doa, não tem jeito. A parceria que a gente faz ajuda, mas também não cobre as despesas.

Zk - Um bloco no estilo Canto da Coruja dá prejuízo?
Cezinha - Não diria que dá prejuízo, mais posso garantir que lucro também não dá. No nosso caso empata. No inicio deu prejuízo, mas, depois fomos adequando e hoje empata.

Zk - Tem um alerta para quem pretende colocar um bloco na rua?
Cezinha - A pessoa não deve pensar em colocar um bloco com o objetivo de ganhar rios de dinheiro que não vai conseguir. Se não tomar cuidado tem prejuízo. O Coruja que tem uma diretoria pé no chão só empata. Cuidado para não entrar numa fria!

Zk - Na sua analise, por que de alguns anos pra cá surgiram muitos blocos?
Cezinha - O que acontece! Quando o Canto da Coruja se propôs a fazer o carnaval a gente bancava tudo. No terceiro ano o Ariel assumiu a Iaripuna e  resolveu ajudar colocando o trio elétrico por conta da prefeitura. O primeiro trio bancado pela prefeitura foi aquele ônibus do Inácio Azevedo, daí pra frente, como a Banda do Vai Quem Quer e o Galo da Meia Noite já tinham esse benefício juntamente com o Rio Kaiary e o Bloco do Alho começaram a surgir novos blocos. Só aqui no Areal existem três blocos e ainda tem o “Até que a Noite Vire Dia” que é do Mocambo que fica ligado no Areal. Com a facilidade do pagamento do trio elétrico pela prefeitura, foram surgindo blocos e mais blocos e hoje temos mais de 40 desfilando.
Zk - Não existe um critério para o bloco passar a usufruir desse benefício?
Cezinha - Bastava a Unibloco seguir o estilo da Federação das Escolas de Samba - Fesec. Você vê a Zona Leste botou a cara, mas, só vai receber subsídio depois de dois anos desfilando. Isso  consta do estatuto da Fesec. No caso dos blocos quando a gente quis frear, alguém da prefeitura disse não, o direito de ir e vir é pra todos, se a prefeitura ajuda um tem ajudar os demais. Esse conceito adotado pela prefeitura provocou essa explosão de blocos.

Zk - Não existe uma maneira de se controlar isso?
Cezinha - O Ministério Público quer travar, alegando que a cidade não comporta tanto bloco. O principal em um bloco depois do folião é o trio elétrico com a prefeitura pagando o trio fica fácil colocar um bloco na rua.

Zk - Você é casado?
Cezinha - Sou casado com a dona Janira Holanda Leite Cruz há 27 anos, três filhos e um neto.
Zk - Qual o tema do bloco para o próximo carnaval. Será a festa dos dez anos de criação?
Cezinha - A gente sempre fala, no Coruja não tem tema, até hoje não fizemos um tema X como o Galo e Us Dy Phora  faz. O Coruja pensou em fazer isso, mas encontramos dificuldades em compor as músicas, contratar alguém pra fazer, então resolvemos deixar “queto”. Vamos sempre manter a tradição de não homenagear ninguém e nem colocar tema, quem chegar com uma música que fale do bloco a gente acata e até banca a gravação.

Zk - Qual a programação do bloco para 2013?
Cezinha - Os ensaios vão acontecer nos dias 19, 26 de janeiro e no dia 2 de fevereiro. No dia 8 o bloco Canto da Coruja desfila, puxado pela banda “Tropical Folia - Metais Corujões”.

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