Por
Silvio M. Santos (fotos de Ana Célia)
Vamos re-publicar em agradecimento ao centenário da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, a matéria que produzimos e foi publicado na edição do dia 30 de abril deste ano, do jornal Diário da Amazônia em página espelhada: “EFMM: O centenário da ferrovia que não deveria parar” e que nos possibilitou estar em Manaus no próximo dia 3, participando da festa da premiação do Prêmio Milton Cordeiro de jornalismo impresso.
Vamos re-publicar em agradecimento ao centenário da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, a matéria que produzimos e foi publicado na edição do dia 30 de abril deste ano, do jornal Diário da Amazônia em página espelhada: “EFMM: O centenário da ferrovia que não deveria parar” e que nos possibilitou estar em Manaus no próximo dia 3, participando da festa da premiação do Prêmio Milton Cordeiro de jornalismo impresso.
O Diário da Amazônia através desse colunista é o
único jornal impresso de fora do estado do Amazonas, classificado para a
finalíssima. Sexta feira a noite, durante a solenidade de premiação, esperamos
ouvir os apresentadores anunciarem: “O
Prêmio Milton Cordeiro de jornalismo impresso,
vai para Silvio Santos do Jornal Diário da Amazônia”. Para chegar a
essa etapa do Milton Cordeiro, contamos com a colaboração da fotógrafa Ana
Célia.
Na edição de hoje vamos reproduzir apenas o resumo
da reportagem que publicamos e que está nos proporcionando tão importante
premiação a nível regional:
EFMM: O centenário da
ferrovia que não deveria parar
Há
exatamente cem anos, era assentado o último dormente da Estrada de Ferro
Madeira Mamoré, no ponto final em Guajará Mirim, 30 de abril de
1912. “Entre entusiasmados discursos, autoridades presentes saudavam o
término da construção dos 364 km de via férrea, um prego de ouro foi simbolicamente batido no último dormente”,
Matias Mendes no livro “Pioneiros”. Terminava ali após várias décadas, o
sacrifício dos produtores de borracha e outros produtos brasileiros e
bolivianos, de arriscarem vidas subindo e descendo as cachoeiras existentes no
trecho dos rios Madeira e Mamoré entre Santo Antônio e Guajará
Mirim.
Ao longo desses cem anos de
existência, a Estrada de Ferro Madeira recebeu vários codinomes, entre eles:
Ferrovia do Diabo, A Estrada dos Trilhos de Ouro, aquela que Cada Dormente
Representa uma Vida, Ferrovia de Deus e assim por diante.
O que
pretendemos com essa matéria, é chamar a atenção de quem de direito, para o
potencial turístico que representa “A
Sucata da Estrada de Ferro Madeira Mamoré”, de como poderemos
transformar em geração de renda e emprego o que ainda resta da lendária
ferrovia.
Não
precisamos ir muito longe para confirmarmos o que citamos acima, basta ir à
Praça da Madeira Mamoré aos finais de semana, para ver o quanto as pessoas
gostam de apreciar, tocar, fotografar enfim, de registrar de alguma maneira, os
vagões, litorinas, prédios da estação, armazéns, o plano inclinado e as
locomotivas. É comum encontramos crianças e adultos se equilibrando em cima dos
trilhos assim como casais namorando dentro dos vagões. A oficina é outra
atração turística, pois ali podemos ver tornos, fresas e outras máquinas que
fabricavam as peças de reposição das locomotivas e de todas as composições da
Ferrovia, sem falar na exposição de ferramentas, fotografias, e apetrechos
utilizados pela administração no que denominam de “Museu da EFMM” existente no
galpão nº 1. Infelizmente esse “Museu” ninguém sabe explicar, só abre aos
domingos à tarde.
Sucata –
Atração turística que vale ouro
Para quem
gosta de praticar o turismo de trilha, podemos indicar a caminhada pelos
trilhos e dormentes entre a estação em Porto Velho até a Vila de Santo Antônio.
Nesse trecho o turista vai se deparar com o maior crime já cometido contra o
patrimônio histórico de Rondônia e brasileiro. Ali estão jogadas locomotivas,
guindastes, vagões de carga e passageiros, vagões de lastro e tantas outras
peças, que durante sessenta anos transportaram cargas e passageiros da Bolívia,
Guajará Mirim, Vila Murtinho, Colônia do Iata, Abunã, Mutum Paraná, Jacy
Paraná, e Porto Velho.
Essa
sucata se bem explorada, com certeza vai gerar divisas e emprego, basta à
prefeitura de Porto Velho ou o governo estadual mandar limpar, tirar o mato que
cobre todo o acervo, pintar nas cores originais e colocar a disposição dos
turistas guias especializados em Madeira Mamoré além, é claro, de colocar o
trem trafegando pelo menos de Porto Velho a Santo Antônio.
Guajara
Mirim & Iata, Vila Murtinho etc.
Em
Guajará Mirim existe um movimento que a cada dia cresce mais, no sentido
de sensibilizar o governo estadual a recuperar o trecho da Estrada de Ferro
Madeira Mamoré que vai até o Iata. Nesse trecho o turista vai apreciar as
belezas da serra dos Parecis ou Pacaás, além de conhecer a vila que por muitos
anos, abasteceu de cereais, verduras e legumes as cidades de Guajará Mirim e
Porto Velho.
Ao
contrário de Porto Velho, Guajará Mirim não tem o cemitério das
locomotivas e composições da Ferrovia, ali se conserva o prédio onde funcionou
a estação e o escritório da administração da Estrada de Ferro.
Além
desse trecho, temos a Estação de Vila Murtinho que fica no município de Nova
Mamoré. A estação de Vila Murtinho era a que mais dava lucro a empresa Madeira
Mamoré, pois era ali que embarcavam os produtos oriundos do Departamento do
Beni na Bolívia. Vale lembrar que é justamente em frente a Vila Murtinho que se
encontram os rios Mamoré e Beni e desse encontro, nasce o Rio Madeira.
Abunã
também é potencial turístico que precisa ser explorado, pois além da Estação da
Madeira Mamoré é por lá que Rondônia tem acesso via terrestre, ao estado do
Acre, é uma região rica na produção de castanha brasileira.
Jacy
Paraná, talvez seja a cidade mais promissora das que nasceram ao longo dos
trilhos da Madeira Mamoré, pois, em virtude da construção das
Usinas Hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio a Vila se transformou
numa cidade promissora. Turisticamente falando, além da famosa ponte de Jacy,
temos as ruínas da estação da Estrada de Ferro e a Caixa D’água que fica a
aproximadamente 1 kg do centro da Vila, além do Rio Jacy considerado bom
produtor de pescado.
História -
A saga da construção da EFMM
Graças ao
tratado de Petrópolis, assinado no dia 17 de novembro de 1903, a Estrada de
Ferro Madeira Mamoré foi construída. “Os Estados Unidos do Brasil
obrigam-se a construir em território brasileiro, por si ou por empresa
particular, uma ferrovia desde o porto de Santo Antônio, no rio Madeira, até
Guajará Mirim no Mamoré, com um ramal que passando por Vila Murtinho ou outro
ponto próximo (Estado de Mato Grosso), chegue a Vila Bela (Bolívia), na
confluência do Beni e do Mamoré. Dessa ferrovia, que o Brasil se esforçará por
concluir no prazo de quatro anos, usarão ambos os países com direito às mesmas
franquias e tarifas” Cláusula VII do Tratado de Petrópolis.
Tudo isso
aconteceu em virtude do litígio entre Brasil e Bolívia em torno das terras que
hoje formam o estado do Acre.
Na
realidade, a idéia de se construir uma estrada de ferro para facilitar o
escoamento da produção de borracha brasileira e boliviana que era feita no
trecho encachoeirado dos rios Madeira e Mamoré, surgiu no ano de 1861, através
do general boliviano Quentin Quevedo e do engenheiro brasileiro João Martins da
Silva Coutinho que percorreram o rio Madeira. “A eles, pois, cabe a prioridade
da sugestão de uma ferrovia que substituísse o trecho das cachoeiras do Alto
Madeira” escreve Manoel Rodrigues Ferreira às páginas 63 do livro “A Ferrovia
do Diabo”.
Esse
sonho só começou a ser realizado em 1907, quando o empresário americano
Percival Farquar após uma manobra que envolvia o engenheiro brasileiro Joaquim
Catrambi ganhou a concorrência da construção da Estrada de Ferro Madeira
Mamoré.
A
primeira estaca, aquela que deu inicio a construção da Estrada de Ferro, foi
fincada no dia 23 de junho de 1907 em Santo Antonio e o prego (de ouro), que
fixou seu último dormente foi batido no dia 30 de abril de 1912, porém, a
inauguração propriamente dita, só aconteceu no dia 1º de agosto daquele ano com
os trens trafegando entre Porto Velho e Guajara Mirim, na extensão total de 364
km.
O dia que
a Maria Fumaça parou
Corria o
ano de 1972 e o zum zum de que a Estrada de Ferro Madeira Mamoré seria
desativada por completo, chegara ao Café Santos, ponto de encontro dos
portovelhenses, que ficava na esquina das ruas Sete de Setembro e Prudente de
Moraes.
Ao
iniciar o mês de julho as rádios e os jornais impressos começaram a divulgar
uma nota da administração da Estrada de Ferro Madeira Mamoré convidando a
população para a solenidade de encerramento das atividades da Estrada de Ferro
que aconteceria no dia 10 de julho as 19h00.
Exatamente
as 19h30 do dia 10 de julho de 1972, as locomotivas que estavam no pátio da
Estrada de Ferro em Porto Velho tocaram seus apitos durante cinco “longos”
minutos. Foram 60 (sessenta) anos, percorrendo os 366 km de extensão da
ferrovia, que levou o progresso para dezenas de localidades e transportou
toneladas e toneladas de borracha, castanha e tantos outros produtos produzidos
tanto pelos brasileiros como pelos bolivianos. Pois é, no dia 10 de julho de
1972 a Maria Fumaça parou. Parou mas, não foi totalmente desativada.
Festa do Centenário
Hoje o
governo do estado de Rondônia através da Secretaria de Esportes, da Cultura e
do Lazer – Secel em parceria com a prefeitura de Porto Velho e a Santo Antônio
Energia, a partir das 7h00, a festa do centenário com vasta programação marcada
para acontecer no Complexo da Madeira Mamoré com ato cívico, ecumênico, corrida
do centenário e show musicais no palco que está montado na esquina da Farquar
com a avenida Sete de Setembro. Salve o Centenário da Estrada de Ferro Madeira
Mamoré!