ESPETÁCULO
A concentração da arte
pela fé
A procissão acabara de entrar na avenida Presidente Dutra e
o diretor da peça, “O Homem de Nazaré”, recomendava ao elenco concentrado na
calçada do banco Itaú, sobre as marcações que deveriam ser observadas. Pilatos
já em cena, anda de um lado para o outro na rampa do Banco do Brasil. Uma
repórter se aproxima do ator Omedino Pantoja já caracterizado de Jesus Cristo e
tenta entrevista-lo, por mais que insista não consegue uma palavra sequer como
resposta, até que alguém do elenco a chama de lado e comunica que “A partir
desse momento ele (Omedino) não falaria mais com ninguém, pois estava
totalmente concentrado na personagem que passaria a viver dentro de alguns
segundos, Cristo”. A jovem jornalista ainda ficou olhando a figura de “Jesus”
por alguns minutos, com certeza admirada com o profissionalismo do ator. Nós
que presenciamos toda aquela cena, também ficamos impressionados com a
transformação do ator a partir do momento que se caracteriza como o personagem
Jesus Cristo. Por força do hábito, resolvemos acompanhar de perto o
“sofrimento” de Jesus até o calvário (palco). Já com a cruz aos ombros,
cambaleando aqui e acolá, sob o chicote dos centuriões, segue Jesus sua Via
Sacra. O público não quer mais saber da procissão, ou melhor, deixa o esquife
com a imagem do Senhor Morto de lado e passa a acompanhar a encenação do
sofrimento de Cristo ao vivo, os flashs das digitais se multiplicam, mas, em
muitos rostos o que se vê, são lágrimas rolando, é o público emocionado com o
realismo da encenação, pois de vez em quando o chicote do “carrasco” acerta de
verdade o ator Jesus. Já no pátio da Catedral, fomos nos postar justamente
atrás do palco, já que nossa intenção era observar a postura do ator que faz o
papel de Cisto. Chega ele carregando aquela enorme cruz que nessas alturas,
deve estar com um peso considerável, enquanto os contra regras lhe tiram a cruz
dos ombros, permanece ajoelhado, o público o cerca na tentativa de tocar em
suas vestes, talvez com a intenção de pedir perdão de seus pecados, pois, crer
realmente, que ali estava Jesus Cristo de verdade e não um ator.
Outra repórter tenta tirar algumas palavras da boca do ator
e não consegue, dessa vez sou eu quem avisa que enquanto ele estiver
incorporando a figura de Jesus Cristo, não fala a não ser, o texto previamente
ensaiado e que faz parte da encenação. Omedino permanece ali concentrado de
joelhos rezando, por aproximadamente dez minutos, até quando o Nazareno diretor
da peça chega e diz é a sua vez, entra em cena.
A multidão extasiada acompanha o desempenho dos atores do
grupo Êxodo no quadro “A Paixão de Cristo”, Verônica mostra a figura do rosto
de Jesus em seu lenço, para logo em seguida se proceder à crucificação. Tive a
preocupação de ficar observando a reação das pessoas, durante as marteladas. O
interessante, é que o que se ouve é apenas o som de um martelo (efeito de
sonoplastia), reproduzido nas caixas de som e a cada pancada, as lágrimas na
maioria dos rostos da população ficam mais visíveis. A cruz é levantada e após
Cristo perdoar o “bom ladrão”, grita, “Pai, Pai é chegado o momento, em tuas mãos
entrego meu espírito”.
Os aplausos ecoam por toda praça da catedral, o elenco
agradece e só então os repórteres conseguem entrevistar o agora ser humano
normal, Omedino Pantoja que até minutos antes esteve incorporado com o
personagem Jesus Cristo. Espetacular!
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