Por
Matheus Leitão
A
Funai preparou a maior expedição das últimas décadas para entrar
em contato com um grupo de índios Korubo, na Terra Indígena (TI)
Vale do Javari, que permanecia totalmente isolado.
A
expedição tinha dois objetivos principais: reaproximar parentes que
se afastaram em 2015 e, também, evitar novos conflitos entre eles e
os Matis, outra etnia indígena da região, pelas terras próximas ao
Rio Coari.
Havia
o risco de extinção física de uma das etnias, segundo a Funai, no
caso de um contato inadvertido, porque existem muitas desavenças
entre os dois grupos. Daí, a necessidade da expedição que fez a
fundação abrir mão da política de "zero contato” com
índios isolados, que vinha sendo adotada desde 1987.
Atualmente,
a Funai evita ao máximo o contato com grupos indígenas para
preservar a decisão dos índios de se isolar. Depois de
aproximadamente 32 dias, o chefe da expedição e coordenador-geral
de índios isolados e recém contatados da Funai, Bruno Pereira
lembra que a equipe da expedição era composta por 30 pessoas, entre
profissionais de saúde, servidores da Funai, da Secretaria de Saúde
Índigena (Sesai) e índios já contatados da região. Além da
equipe que trabalhou efetivamente nas matas, a expedição teve o
apoio da Polícia Militar, do Exército Brasileiro e da Polícia
Federal.
Inicialmente,
a equipe de trabalho passou por uma quarentena de 11 dias para se
livrar de gripes e evitar a contaminação dos índios com doenças.
Depois do período em quarentena, a equipe permaneceu oito dias na
mata em busca dos Korubo isolados.
Bruno
relata que a equipe usou como intérpretes índios Korubo já
contatados, parentes que tinham se perdido do grupo dos Korubo
isolados em 2015. Ao chegar nas roças mapeadas pela Funai, a equipe
não encontrou imediatamente os índios isolados, que tinham saído
em busca de alimento. Ao procurar pelos caminhos abertos pelos
indígenas, a equipe conseguiu realizar o encontro.
“Num
primeiro momento, eles não estavam com suas armas, suas bordunas, e
a gente também não. Nossos intérpretes Korubo são familiares que
foram separados, então houve bastante emoção nesse momento, foi um
contato bem pacífico e ele foi sendo construído”, explica Bruno
Pereira.
De
acordo com ele, no dia seguinte chegaram outros 22 indígenas que
estavam nas proximidades. Duas famílias, compostas por 10 indígenas,
se aproximaram nos três dias seguintes. Ao todo foram contabilizados
34 Korubos. Quatorze deles com idade aproximada entre 20 e 48 anos,
sendo oito homens e seis mulheres, duas delas grávidas. O grupo
conta, ainda, com 21 crianças e jovens de até 16 anos, sendo nove
meninos e 12 meninas. Dessas, três bebês de menos de um ano de
idade.
O
chefe da expedição relata que não há registros de doenças que
tenham sido passadas da equipe para os índios até o momento. Bruno
explica que os Korubo estavam com uma malária “suave”, mas que
não foi adquirida pelo contato com a equipe. Segundo ele, os índios
“podem ter adquirido [a doença] nas visitas aos Matis ou pelos
próprios caçadores ilegais que andam próximo ao Rio Coari”.
Bruno
Pereira ressalta que a expedição não terminou. A ação vai
diminuindo gradualmente até que a situação seja considerada segura
e o contato esteja consolidado com os índios. Segundo ele, é
preciso estar “alerta” por causa do histórico de conflitos na
região.
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