Fotos Roni Catvalho
OLHO
‘Na
dissertação a gente também fala sobre a questão do
abrasileiramento. Algumas famílias como os Squaios, a família,
salvo engano, Box, ao longo do tempo abrasileiraram os nomes. Squires
virou Siqueira (Geraldo Siqueira que na memória ficou conhecido como
seu Alumínio porque era muito negro e brilhava que nem alumínio)’
‘Estou
no segundo ano de doutorado em educação pela UNESP - Universidade
Paulista e baseei meu doutorado nas MULHERES BARBADIANAS. A única
coisa que encontramos sobre a participação das mulheres na formação
de Porto Velho, é uma foto do Danna Merril com várias mulheres
trabalhando na lavanderia’
A
história da comunidade antilhana em Porto Velho - Os Barbadianos
No
dia 26 de março passado, a comunidade descendente de antilhanos,
mais conhecida como “Os Barbadianos”, que vieram para Porto Velho
trabalhar na construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, se
reuniu e prestou homenagem a embaixadora de Barbados no Brasil
senhora Tonika Sealy – Thompson que atendeu convite da doutoranda
Cledenice Blackman também conhecida como Cleide.
A
festa foi regada a muita música caribenha e algumas iguarias da
culinária antilhana. Um dos momentos de grande relevância no
encontro, foi quando as famílias presentes, passaram a relatar a
história de seus antepassados. O cantor Ernesto Melo – Poeta da
Cidade participou, acompanhado pelo seu irmão Ênio Melo (violão) e
Sílvio Santos (percussão), contando parte da história de Porto
Velho através das letras de suas canções.
No
final do evento, conversei com a Cleide sobre a possibilidade, de ela
nos relatar, sobre seu trabalho de mestrado e doutorado, com a
história dos Barbadianos em Porto Velho.
Cleide
nos recebeu acompanha da senhora sua mãe dona Lió em sua
residência, no bairro Aponiã e nos concedeu a seguinte:
ENTREVISTA
Zk
– Vamos a sua identificação?
Cledenice
Blackman – Sou conhecida como Cleide mais meu nome é Cledenice
Blackman, sou descendente de barbadianos, dos negros e negras que
vieram não somente para trabalhar na Estrada de Ferro Madeira Mamoré
mais também, em outras frentes de trabalho como a extração da
borracha. Nasci em Porto Velho na maternidade Darcy Vargas, bisneta
de Preston Blackman e Constância e neta do Helton Blackman conhecido
como Caetano que além de ser ferroviário era boêmio, tocava banjo.
Zk
– Há algum tempo você vem estudando a história dos barbadianos
em Porto Velho. Fala sobre essa pesquisa?
Cledenice
Blackman – A gente começou esse trabalho desde 2004. Sou egressa
da Universidade Federal de Rondônia - UNIR fiz história de 2003 a
2006 e la, comecei um trabalho de pesquisa sobre a questão dos
barbadianos em Porto Velho e escrevi o texto: “OS
BARBADIANOS E AS CONTRADIÇÕES DA HISTÓRIA REGIONAL” e
elenquei vários trabalhos de memorialistas e historiadores. Do que
eles diziam sobre barbadianos, assim também, como fontes documentais
(jornais), que encontrei no Centro de Documentação do Estado;
entrevistas dos próprios barbadianos que nasceram na primeira
geração em Porto Velho e juntei todo esse material e comecei a
analisá-los e vi os contrapontos entre eles, percebi que na verdade
a nossa história era construída por pessoas, como diz José de
Souza Martins que é um autor que fala sobre essa questão; que é
construída pelo outro, pessoas que não vivenciam que não fazem
parte da comunidade. Entendo que sou a primeira descendente da quarta
geração, que vem escrevendo sobre os barbadianos, usando o termo
afro antilhanos.
Zk
– Outras fontes?
Cledenice
Blackman – Na dissertação intitulada “Do
Mar do Caribe a Beira do Madeira – As Contradições da
Historiografia Regional”
a gente fez um trabalho de reconhecimento, através de fontes
documentais como Passa Porte, Ficha Funcionais, Entrevistas dos
próprios pioneiros como Norman Jhonson e Raimundo Winter dentre
outros, que conseguimos juntar no Centro de Documentação.
Confrontamos novamente o discurso da história e o discurso do grupo
e percebemos que os barbadianos, alguns, não se consideravam com a
nacionalidade barbadiana: Eles diziam, “não, eu não sou
barbadiano eu vim de Granada em 1929”, bomo Norman Jhonson. Foram
essas pequenas nuances que a gente começou a juntar e fazer uma
análise de contraponto e percebemos, que o grupo era formado por
pessoas oriundas de várias ilhas. Na realidade, consegui descobrir a
nacionalidade de 29 antilhanos e negra antilhanas que vieram de
Barbados, Granada, Trinidad Tobago, Guiana Inglesa, Jamaica, São
Vicente e outras ilhas e aqui viveram no Barbadian Town onde a
historiografia trata de uma forma preconceituosa denominando-o como
“Alto do Bode”
Zk
– Existe algum documento sobre esse preconceito?
Cledenice
Blackman – Temos alguns trabalhos publicados na Internet trazendo
basicamente quatro explicação através do confronto dessa gana
documental, que venho juntando desde 2003. Na historiografia, Hugo
Ferreira diz que ficou Alto do Bode, porque os negros que ali
moravam, tinham um cheiro forte. Alguns diziam que era por causa da
criação de Bode. Existe a versão, de que o nome foi dado a partir
do entendimento dos brasileiros, que diziam que os negros não
falavam, bodejavam. Por conta disso, ficou na memória dos
porto-velhenses esse nome pejorativo, eu como descendente, fui e
apresentei quatro versões, mais, o que gostaríamos que ficasse
quando os historiadores fossem falar sobre o primeiro bairro de Porto
Velho. Que se referissem ao Babrbadian Town e não mais Alto do Bode.
Zk
– Na dissertação você também se refere ao abrasileiramento dos
nomes das famílias. Quer explicar?
Cledenice
Blackman – Na dissertação a gente também fala sobre a questão
do abrasileiramento. Algumas famílias como os Squaios, a família,
salvo engano, Box, ao longo do tempo abrasileiraram os nomes. Squires
virou Siqueira (Geraldo Siqueira que na memória ficou conhecido como
seu Alumínio porque era muito negro e brilhava que nem alumínio),
que é meu tio-avô, a esposa dele era minha tia-avó. Ele foi dono
de um clube social conhecido como Imperial.
Zk
– Sabemos que os negros e negras barbadianos/as que vieram para a
Amazônia em especial para Porto Velho, eram pessoas técnicas em
conhecimentos, quer dizer, não vieram como trabalhador braçal, mas,
como técnicos. Vamos falar sobre isso?
Cledenice
Blackman – Como Barbados era ponto estratégico, de onde saiam
vários negros para trabalhar em outros países. Barbados era uma
verdadeira Babel, acontece que os vapores que vinham da Inglaterra
paravam la para fazer recarga de carvão e de pessoas, que não
partiam tão somente para o Brasil, mas, para a América, em busca de
emprego. No caso de Porto Velho a maioria dos que para cá vieram,
eram contratados como técnicos especializados, para ajudar na
construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, porém, alguns
vieram para trabalhar na extração da borracha. Nosso trabalho de
pesquisa, consegue desmistificar essas questões também, é claro
que a maioria ficou na EFMM.
Zk
– Sobre as mulheres barbadianas?
Cledenice
Blackman - Estou no segundo ano de doutorado em educação pela UNESP
- Universidade Paulista e baseei meu doutorado nas MULHERES
BARBADIANAS. A única coisa que encontramos sobre a participação
das mulheres na formação de Porto Velho, é uma foto do Danna
Merril com várias mulheres trabalhando na lavanderia. Com isso a
historiografia deixa de registrar a contribuição que as mulheres
barbadianas negras prestaram a educação, na historiografia elas são
tradas como domésticas, lavadeiras e até prostitutas termo que
encontramos na biografia de Farquar: “As
mulheres barbadianas vieram para Porto Velho para ser prostitutas ou
lavadeiras”.
E no sentido de desmistificar toda essa historiografia negativa,
estou desenvolvendo meu trabalho de doutorado em cima da história de
cinco (5) mulheres, que contribuíram na educação porto-velhense.
Zk
– Quais são essas mulheres?
Cledenice
Blackman – Aurélia Banfield, Judite Holder, Lídia e Berenice
Jonshon e a professora Rosilda Shockness.
Zk
– Essas mulheres professoras, todas trabalhavam contratadas pelo
governo? Antes dessas você destacaria outros educadores barbadianos
sem vínculo com o governo?
Cledenice
Blackman – Até então e é o que se conhece, a primeira
instituição (colégio) existente em Porto Velho, foi o Barão do
Solimões porém, para mim, a primeira escola de educação, foi no
Barbadian Town só que não tinha a chancela do estado, eles
organizaram uma escola onde tinham dois professores que era o Fred
Banfield pai da Aurélia Banfield e a professora Priscila que
ensinava línguas.
Zk
– Podemos dizer que a música chega a Porto Velho com os
barbadianos?
Cledenice
Blackman – O que podemos afirmar, é que aonde tem grupo caribenho
não pode faltar música. No Centro de Documentação encontrei uma
entrevista com meu avô e ele cita que havia orquestra no Barbadian
Town com piano, pratos, bumbos e outros instrumentos. .
Zk
– E seus pais?
Cledenice
Blackman – Na verdade a minha família materna é que traz o nome
Blackman. Meu pai não me registrou, só o conheci depois de adulta.
Minha mãe Leonilce de Nazaré Blackman conhecida como Lió é filha
de Elton Blackaman
Zk
– Como ter acesso ao seu trabalho?
Cledenice
Blackman – Tenho vários trabalhos publicados na Internet. Quanto
ao material impresso (livro), já estamos providenciando e
provavelmente dentro de nove meses publicaremos. Digita Cledenice
Blackman ou Cleide Blackman que você encontra. Temos artigos em
livros organizados pela Unicamp e outras editoras.
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