quarta-feira, 17 de abril de 2019

LIVRO - Porto, Velho Porto - Histórias da cidade onde nasci e vivo


Autor: Sílvio M. Santo

Nesta edição damos continuidade às histórias que fazem parte do livro de minha autoria, que está prontinho para ser publicado: “PORTO, VELHO PORTO – HISTÓRIA DA CIDADE ONDE NASCI E VIVO”.
São histórias que pesquisei em publicações de vários autores que se preocuparam com a nossa história como Esron Menezes, Amizael Silva, Abnael Machado de Lima, Yedda Bozarcov, Manoel Rodrigues, Hugo Ferreira e em especial do meu amigo professor Francisco Matias, porém, a maioria das histórias relatam fatos vividos por mim, já que apesar de ter nascido no Distrito de São Carlos, vivi minha infância, adolescência e vivo até hoje, em Porto Velho. Muitas das histórias que os amigos tomarão conhecimento a partir de hoje, são exclusivas, pois foram vividas por mim.
Infelizmente pelas normas acadêmicas, meu livro não pode ser considerado como de História, porém, as histórias nele contidas, posso garantir, (a maioria. foram vividas por mim) e as demais, são fruto de dias e dias de pesquisas.
Se você empresário editor, se interessar em produzir o meu Livro, entre em contato através do celular: (69) 9 9302-1960


Mocambo – O bairro boêmio

Levando-se em consideração que o bairro Caiari só foi criado depois que a Madeira Mamoré passou a ser administrada por brasileiros e ainda que os bairros do Triângulo e Alto do Bode ficavam nas terras da empresa Madeira Mamoré Railway Cº e, que a área onde ficava a famosa Rua da Palha jamais foi considerado bairro. O Mocambo pelo menos na análise desse escriba foi o primeiro aglomerado de casas e pessoas que podemos considerar como bairro na Porto Velho brasileira, que nasceu durante a administração do Major Guapindaia (1915 – 1917).
Talvez por ter sido formado por pessoas consideradas de baixo poder aquisitivo, pouco se encontra a respeito de sua formação em publicações da época.
O mais completo documento que encontramos sobre a formação do bairro, faz parte da monografia de bacharelado para o curso de História da escritora Nilza Menezes publicada no livro "Mocambo – Com Feitiço e com Fetiche".
Desde quando surgiu, o Mocambo é considerado o bairro boêmio de Porto Velho, por abrigar por muito tempo as casas das chamadas "mulher de vida fácil" – Prostitutas, naquele tempo, os abrigos dessas mulheres eram conhecidos como "Pensão", Cabaré ou Prostituição. Ali também foi instalado o primeiro "Batuque" (terreiro de Macumba) de Porto Velho que ficou conhecido como "Batuque de Santa Bárbara" cuja Mãe de Santo era dona Esperança Rita.
Em consequência da existência das várias "Pensões" e do Terreiro da Mãe Esperança os homens solteiros que moravam na Casa Seis e outras edificações da Madeira Mamoré, por ser único local onde poderiam encontrar diversão, e, os próprios moradores da Porto Velho brasileira (em especial os da Vila Confusão) frequentavam o local, que ninguém sabe explicar com precisão como surgiu.
Nilza Menezes em sua monografia escreve: "...Com a vinda de Dona Esperança Rita, negra maranhense, que fundou o terreiro de Santa Bárbara, localizado atrás do cemitério dos Inocentes e próximo ao córrego que hoje divide o Mocambo do Areal, iniciou-se o povoamento daquele espaço, cujo ano de ocupação é motivo de discussão". Segundo Antônio Cantanhede em Achegas para História de Porto Velho, “Por iniciativa de D. Esperança Rita, maranhense, natural da cidade de Codó, foi organizada, a 24 de junho de 1914, a Irmandade Beneficente de Santa Bárbara”. Ainda segundo Nilza, para o Dr. Ary Pinheiro a tenda de umbanda teria sido fundada em 1917. Moradores antigos e frequentadores do bairro e dos cultos afros na cidade de Porto Velho, também confirmam o início das práticas religiosas por Mãe Esperança Rita a partir de 1916 como o foco do povoamento do Mocambo. Pelo que conseguimos colher, o Mocambo começou quando Guapindaia autorizou a demarcação da área do Cemitério dos Inocentes.

O Batuque da Mãe Esperança Rita


O professor Marco Antônio Domingos Teixeira cita em "A Macumba em Porto Velho": "Na Amazônia, em geral, a partir de Belém do Pará, os cultos afro-brasileiros são, usualmente, conhecidos por Batuques, sobretudo aqueles que assimilam mais intensamente as influências caboclas da pajelança e do curandeirismo. Os cultos de tradição nagô, mais especificamente os candomblés, tem a sua entrada neste cenário em um momento mais avançado do processo de expansão das religiões afro-brasileiras.
Em primeiro lugar observa-se a pajelança, o curandeirismo e as mesinhas. Mais tarde, encontramos a penetração de ritos afros que se mesclam aos rituais de pajelança, dando "conotações amazônicas" ao conjunto dos rituais mina trazidos primeiramente do Maranhão para Belém do Pará e desta para Manaus, ramificando-se pelas demais regiões Amazônicas...
Em Porto Velho, a "macumba", compreendido o termo em sua acepção popular, surgiu com a criação da cidade, que, por sua vez, surgiu com a criação da Estrada de Ferro Madeira Mamoré.
Conforme nos falam Amizael Silva e Ary Tupinambá, o primeiro terreiro de macumba surgiu em Porto Velho entre 1916-1917, portanto há apenas dois ou três anos após a criação do município.
Podemos dizer que a macumba surgiu com o aparecimento da própria cidade. A fundadora D. Esperança era uma maranhense de Codó. O Terreiro de Santa Bárbara (Iansã no sincretismo afro-católico) foi construído junto ao cemitério dos Inocentes.
Observamos que a Iansã de Balé é cultuada nos cemitérios e é ela a dona dos eguns.
Segundo Ary Tupinambá foi o Bispo D. Pedro Massa quem inaugurou a capela de Santa Bárbara pertencente à irmandade da linha de Xangô que tinha Iemanjá como guia.

No balanço da Mad Maria

Aproveitando o sucesso da minissérie Mad Maria resolvemos Lembrar algumas histórias sobre a Madeira Mamoré. Consultando o arquivo da nossa memória, já que vivemos a infância brincando no pátio da estação da Madeira Mamoré em Porto Velho, pois, moramos até 1966, na Avenida Farquar em frente ao Mercado Central.
Lembramos de alguns fatos que marcaram nossa vida, como, amossegar trem, "roubar" castanha e outros produtos dos vagões estacionados no pátio de manobra da Ferrovia, assim como carregar produtos dos agricultores que chegavam no Trem da Feira vindo do Teotônio.
Dormíamos e acordávamos com o badalar dos sinos das locomotivas e de seus apitos. O burburinho no chamado Plano Inclinado era intenso. Embarcava-se borracha, castanha, ipecacoanha, farinha e tantos outros produtos nos navios que de início eram "Chatas" como a "Cuiabá" e depois navios de alto calado como Augusto Monte Negro, Lauro Sodré e Lobo D`almada. A usina pertencente primeiramente a Madeira Mamoré e depois ao governo do Território do Guaporé, acordava a cidade apitando as seis e meia, seis e quarenta e cinco e sete horas da manhã; dizia que os operários tinham que deixar o serviço para o almoço através do apito das onze horas e os colocava de volta às 13 horas e apitava avisando que era hora de ir para casa jantar às 17 horas.
A Serraria Santo Antônio ficou conhecida como Serraria do Território e funcionava num galpão onde hoje é a feira do Cai N`água na beira do Rio Madeira, ainda hoje a caldeira está lá. São essas histórias que vamos reviver a partir de agora.
"Como era gostoso o balanço do trem/quando eu viajava junto com o meu bem/Comendo tapioca/crocrete e beiju/cafezinho quente/Almoçando angu”. Letra da música de minha autoria "Balanço do Trem". Vamos viajar no tempo, embalados pelas loucuras da Maria.

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