sábado, 11 de agosto de 2018

Aluízio Batista Guedes - Diamante Negro – A vitória da superação no Flor do Maracujá

O presidente do Boi Bumbá Diamante Negro campeão da XXXVII Mostra de Quadrilhas e Bois Bumbás que aconteceu de 27 de julho a 5 de agosto, no Arraial Flor do Maracujá, pedagogo Aluízio Batista Guedes conta nessa entrevista, como superou a falta de recursos suficientes, para montar o tema do boi para sua apresentação no maior Arraial de Rondônia, “Graças a Deus temos um nome dentro do movimento cultural que é respeitado e considerado e assim, conseguimos apoio de muita gente”. No dia 4 de agosto, o grupo dirigido pelo Aluizio entrou na arena do Flor do Maracujá todo renovado, “Tive que trazer pessoas de fora para compor nossa apresentação como foi o caso do Pajé”. Durante aproximadamente 55 minutos, o Diamante Negro desenvolveu sua apresentação que para muitos, foi quase perfeita e quando os envelopes com as notas dadas pelos julgadores foram abertos, o Diamante obteve 629,85 pontos superando os contrários. “Fomos o último boi a bater os tambores, por isso considero esse título como a vitória da superação”. Sexta feira passada 10, fomos até a residência do Aluizio e durante quase duas horas de conversa, ficamos sabendo das dificuldades enfrentadas pelo grupo, inclusive, com a falta de brincantes e de como tudo isso foi superado e transformado numa belíssima apresentação, que culminou com a conquista do título de melhor do Arraial Flor do Maracujá 2018. Acompanhe nossa conversa:

ENTREVISTA

Zk – Fala como você conseguiu vencer a falta de recursos e colocar na arena do Flor do Maracujá um Boi que teve uma apresentação belíssima?
Aluízio Guedes – Olha meu amigo Zekatraca, usando da pura sinceridade, embora a paixão muitas vezes faça com que a gente faça loucuras. Digo que o tema principal do Diamante em 2018 chama-se superação. Superação por falta de recursos, superação por ser o último boi que bateu os tambores. Fizemos apenas sete (7) ensaios. Superação porque recebemos somente R$ 5 MIL por estarmos devendo a Federon e eles descontaram do nosso repasse.
Zk – E só com esse dinheiro vocês fizeram aquela festa?
Aluízio Guedes – Temos que falar o seguinte, já antecipando os agradecimentos: A figura do Aluízio Guedes e eu agradeço muito a Deus, é considerada, e com isso, muita gente me ajudou com patrocínio e colocamos um Boi que superou os R$ 16 MIL. Foi aquela luta pra não ficar devendo, sendo massacrado, com o pessoal difamando porque estamos devendo. Graças a Deus saímos do Flor do Maracujá este ano, sem ficar devendo a ninguém, pagamos todas nossas dívidas, inclusive as roupas que alugamos do Werner Botelho, pagamos os músicos da nossa banda. Hoje me sinto feliz, porque posso me sentar na varanda da minha casa, posso dormir tranqüilo. Hoje quando o telefone toca, faço questão de atender porque sei que não é debito. Isso é superação de quem realmente tem amor e paixão pelo que faz.
Zk – E o que mais?
Aluízio Guedes – Infelizmente, faço questão de citar nessa entrevista; tá faltando mais sensibilidade por parte das nossas autoridades, tá faltando mais respeito com quem produz a cultura. Tenho certeza, que não foi só o Diamante, muita gente tirou dinheiro do bolso, fez empréstimo pra colocar seu grupo bonito no Flor do Maracujá. Autoridades, Estaduais e Municipais não se engane, achando que a gente colocou o Boi bonito porque temos dinheiro. A mixaria que recebemos de vocês, não dar pra tomar um café pequeno.

Zk – Por falar nisso, em sua visão, quanto seria necessário para se colocar um grupo da qualidade do Diamante no Flor do Maracujá?
Aluízio Guedes – Olha, nós acabamos de obter outra vitória. Essa questão de apenas cinco ficar no Grupo Especial foi uma conquista de muitos anos. Essa Divisão Especial que passa a valer no próximo ano vai transformar a festa muito mais rica e bonita, pois, dos cinco que ficaram, no próximo Maracujá dois vão cair para o Grupo de Acesso então pode escrever aí, com apenas R$ 20 MIL ninguém vai conseguir colocar um grupo competitivo. O bicho vai pegar, até porque não trabalhamos sozinho, eu não sei soldar, não sei costurar etc. Então temos que contratar artistas de ponta se quisermos uma classificação melhor. Músico nenhum vai tocar por Cem Reais. Chamo atenção para o fato de que a disputa é pra ficar entre os três primeiros colocados, do quarto em diante, o grupo vai para o Acesso. Para o grupo pensar em competir no próximo Flor do Maracujá no mínimo tem que ter em caixa R$ 30 MIL.
Zk – Sem falar que o material utilizado na confecção das roupas do Boi é muito caro, não é isso?
Aluízio Guedes – Vou fazer duas comparações: A bateria da escola de samba com a batucada do boi, as duas são peso pesado. Aí você vai pro mestre sala e porta bandeira da escola de samba e Pajé e Sinhazinha do boi, os dois do boi dão um banho de investimento nos dois quesitos da escola de samba. Sem sombra de dúvida, sem querer ferir nenhum companheiro das escolas de samba, o Boi gasta muito mais que uma escola de samba. O boi é realmente um teatro. O boi entra na arena e se apresenta durante uma hora ou mais e a escola de samba passa pela avenida.
Zk – Quem estava com você na produção da apresentação do Diamante este ano?
Aluízio Guedes – O pai velho aqui, ta começando a colher os frutos, minha família hoje é o grande esteio do grupo. A Simone que hoje é presidente da Liga Guarnecer, o Hudson mestre da Marujada, a Leda que veio de Manaus com o marido que é um dos que fazem o Festival Folclórico de Manaus foi ele que botou o boi na arena pra mim, por isso foi tudo organizado. Trouxe de Manaus um coreografo. Meu Pajé também veio de Manaus porque ainda estou resolvendo o problema do meu Pajé daqui. Tivemos uma despesa de Sete (7) passagens ida e volta pra Manaus. Qual é a diferença entre eu e alguns presidentes? É que o Aluízio Guedes tem nome e com isso as pessoas acreditam e ajudam. Não brinquem com o velinho! Disseram que o Diamante estava acabado, só porque perdeu quatro brincantes e por isso não tinha mais nada, que o boi já era, que seria a vergonha da Zona Sul. Olha aí o campeonato! Temos que respeitar o colega. Não posso deixar de citar a participação e dedicação da minha esposa a Eleida. Minha mulher é uma guerreira de primeira linha. Foi ela quem cuidou da parte econômica, ela telefonou se virou. Se um dia eu não tiver minha mulher nesse boi, acho que ele não sai. No final nós os homens ganhamos todos os elogios, porém quem realmente merece toda regalia e consideração são as mulheres. Agradeço muito a minha família. Volto a lembrar, o Diamante foi o boi da superação.
Zk – Na realidade o boi bumbá é família?
Aluízio Guedes – Essa é a diferença, quando não tem recurso suficiente, o governo, tanto o estadual como o municipal deixa as famílias endividadas sem poder comprar no comércio, deixa as famílias sendo difamadas. Isso chamo de injustiça social. Infelizmente eles (governo) não têm um plano da realidade cultural da cidade, não sabem o que é que tem na Zona Leste e nem na Zona Sul e principalmente, quem faz a cultura popular o folclore e coloca naquela arena do Flor do Maracujá. Quando termina o boi ta a família do Silvio Santos devendo a família do Aluizio Guedes devendo e por ai vai.
Zk – Pra finalizar. Hoje os grupos de boi tem uma entidade que é a
Guarnecer. Já conseguimos o Grupo de Acesso e o Especial! O que está faltando mais para ficar melhor?
Aluízio Guedes – Falta união. União e não pensar no individualismo, pensar no coletivo. Quando se pensa no coletivo a gente deixa de ser egoísta. Alguns companheiros infelizmente abandonam o interesse coletivo pra ir pro individualismo e nisso um massacra o outro, rejeita isso, falta com a palavra. A Guarnecer veio pra unir. O que eu não consegui a Simone ta tentando e eu espero que ela consiga. Aquela rivalidade fora da arena tem que acabar se não, a Guarnecer não vai pra frente. Fico muito preocupado, porque se voltarmos para o que era antes será um retrocesso muito grande. Recebemos incentivo e aplausos de Parintins e de Manaus por termos criado a divisão especial. Ta faltando também deixarmos de ser traíra. Se passarmos a assumir o que é decido em assembléia a Guarnecer com certeza se tornará numa entidade forte e respeitada por todos.
Zk – Para encerrar?
Aluízio Guedes – Precisamos transformar o Flor do Maracujá em Patrimônio Cultural do estado de Rondônia. 

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