O presidente do Boi Bumbá
Diamante Negro campeão da XXXVII Mostra de Quadrilhas e Bois Bumbás que aconteceu
de 27 de julho a 5 de agosto, no Arraial Flor do Maracujá, pedagogo Aluízio
Batista Guedes conta nessa entrevista, como superou a falta de recursos
suficientes, para montar o tema do boi para sua apresentação no maior Arraial
de Rondônia, “Graças a Deus temos um nome dentro do movimento cultural que é
respeitado e considerado e assim, conseguimos apoio de muita gente”. No
dia 4 de agosto, o grupo dirigido pelo Aluizio entrou na arena do Flor do
Maracujá todo renovado, “Tive que trazer pessoas de fora para compor
nossa apresentação como foi o caso do Pajé”. Durante aproximadamente 55
minutos, o Diamante Negro desenvolveu sua apresentação que para muitos, foi
quase perfeita e quando os envelopes com as notas dadas pelos julgadores foram
abertos, o Diamante obteve 629,85 pontos superando os contrários. “Fomos
o último boi a bater os tambores, por isso considero esse título como a vitória
da superação”. Sexta feira passada 10, fomos até a residência do
Aluizio e durante quase duas horas de conversa, ficamos sabendo das
dificuldades enfrentadas pelo grupo, inclusive, com a falta de brincantes e de
como tudo isso foi superado e transformado numa belíssima apresentação, que
culminou com a conquista do título de melhor do Arraial Flor do Maracujá 2018.
Acompanhe nossa conversa:
ENTREVISTA
Zk – Fala como você
conseguiu vencer a falta de recursos e colocar na arena do Flor do Maracujá um
Boi que teve uma apresentação belíssima?
Aluízio Guedes – Olha meu
amigo Zekatraca, usando da pura sinceridade, embora a paixão muitas vezes faça
com que a gente faça loucuras. Digo que o tema principal do Diamante em 2018
chama-se superação. Superação por falta de recursos, superação por ser o último
boi que bateu os tambores. Fizemos apenas sete (7) ensaios. Superação porque recebemos
somente R$ 5 MIL por estarmos devendo a Federon e eles descontaram do nosso
repasse.
Zk – E só com esse dinheiro
vocês fizeram aquela festa?
Aluízio Guedes – Temos que
falar o seguinte, já antecipando os agradecimentos: A figura do Aluízio Guedes
e eu agradeço muito a Deus, é considerada, e com isso, muita gente me ajudou
com patrocínio e colocamos um Boi que superou os R$ 16 MIL. Foi aquela luta pra
não ficar devendo, sendo massacrado, com o pessoal difamando porque estamos
devendo. Graças a Deus saímos do Flor do Maracujá este ano, sem ficar devendo a
ninguém, pagamos todas nossas dívidas, inclusive as roupas que alugamos do
Werner Botelho, pagamos os músicos da nossa banda. Hoje me sinto feliz, porque
posso me sentar na varanda da minha casa, posso dormir tranqüilo. Hoje quando o
telefone toca, faço questão de atender porque sei que não é debito. Isso é
superação de quem realmente tem amor e paixão pelo que faz.
Zk – E o que mais?
Aluízio Guedes –
Infelizmente, faço questão de citar nessa entrevista; tá faltando mais
sensibilidade por parte das nossas autoridades, tá faltando mais respeito com
quem produz a cultura. Tenho certeza, que não foi só o Diamante, muita gente
tirou dinheiro do bolso, fez empréstimo pra colocar seu grupo bonito no Flor do
Maracujá. Autoridades, Estaduais e Municipais não se engane, achando que a
gente colocou o Boi bonito porque temos dinheiro. A mixaria que recebemos de
vocês, não dar pra tomar um café pequeno.
Zk – Por falar nisso, em sua
visão, quanto seria necessário para se colocar um grupo da qualidade do
Diamante no Flor do Maracujá?
Aluízio Guedes – Olha, nós
acabamos de obter outra vitória. Essa questão de apenas cinco ficar no Grupo
Especial foi uma conquista de muitos anos. Essa Divisão Especial que passa a
valer no próximo ano vai transformar a festa muito mais rica e bonita, pois,
dos cinco que ficaram, no próximo Maracujá dois vão cair para o Grupo de Acesso
então pode escrever aí, com apenas R$ 20 MIL ninguém vai conseguir colocar um
grupo competitivo. O bicho vai pegar, até porque não trabalhamos sozinho, eu
não sei soldar, não sei costurar etc. Então temos que contratar artistas de
ponta se quisermos uma classificação melhor. Músico nenhum vai tocar por Cem
Reais. Chamo atenção para o fato de que a disputa é pra ficar entre os três
primeiros colocados, do quarto em diante, o grupo vai para o Acesso. Para o
grupo pensar em competir no próximo Flor do Maracujá no mínimo tem que ter em
caixa R$ 30 MIL.
Zk – Sem falar que o
material utilizado na confecção das roupas do Boi é muito caro, não é isso?
Aluízio Guedes – Vou fazer
duas comparações: A bateria da escola de samba com a batucada do boi, as duas
são peso pesado. Aí você vai pro mestre sala e porta bandeira da escola de
samba e Pajé e Sinhazinha do boi, os dois do boi dão um banho de investimento
nos dois quesitos da escola de samba. Sem sombra de dúvida, sem querer ferir
nenhum companheiro das escolas de samba, o Boi gasta muito mais que uma escola
de samba. O boi é realmente um teatro. O boi entra na arena e se apresenta
durante uma hora ou mais e a escola de samba passa pela avenida.
Zk – Quem estava com você na
produção da apresentação do Diamante este ano?
Aluízio Guedes – O pai velho
aqui, ta começando a colher os frutos, minha família hoje é o grande esteio do
grupo. A Simone que hoje é presidente da Liga Guarnecer, o Hudson mestre da
Marujada, a Leda que veio de Manaus com o marido que é um dos que fazem o
Festival Folclórico de Manaus foi ele que botou o boi na arena pra mim, por
isso foi tudo organizado. Trouxe de Manaus um coreografo. Meu Pajé também veio
de Manaus porque ainda estou resolvendo o problema do meu Pajé daqui. Tivemos
uma despesa de Sete (7) passagens ida e volta pra Manaus. Qual é a diferença
entre eu e alguns presidentes? É que o Aluízio Guedes tem nome e com isso as
pessoas acreditam e ajudam. Não brinquem com o velinho! Disseram que o Diamante
estava acabado, só porque perdeu quatro brincantes e por isso não tinha mais
nada, que o boi já era, que seria a vergonha da Zona Sul. Olha aí o campeonato!
Temos que respeitar o colega. Não posso deixar de citar a participação e
dedicação da minha esposa a Eleida. Minha mulher é uma guerreira de primeira
linha. Foi ela quem cuidou da parte econômica, ela telefonou se virou. Se um
dia eu não tiver minha mulher nesse boi, acho que ele não sai. No final nós os
homens ganhamos todos os elogios, porém quem realmente merece toda regalia e
consideração são as mulheres. Agradeço muito a minha família. Volto a lembrar,
o Diamante foi o boi da superação.
Zk – Na realidade o boi
bumbá é família?
Aluízio Guedes – Essa é a
diferença, quando não tem recurso suficiente, o governo, tanto o estadual como
o municipal deixa as famílias endividadas sem poder comprar no comércio, deixa
as famílias sendo difamadas. Isso chamo de injustiça social. Infelizmente eles
(governo) não têm um plano da realidade cultural da cidade, não sabem o que é
que tem na Zona Leste e nem na Zona Sul e principalmente, quem faz a cultura
popular o folclore e coloca naquela arena do Flor do Maracujá. Quando termina o
boi ta a família do Silvio Santos devendo a família do Aluizio Guedes devendo e
por ai vai.
Zk – Pra finalizar. Hoje os
grupos de boi tem uma entidade que é a
Guarnecer. Já conseguimos o Grupo de
Acesso e o Especial! O que está faltando mais para ficar melhor?
Aluízio Guedes – Falta
união. União e não pensar no individualismo, pensar no coletivo. Quando se
pensa no coletivo a gente deixa de ser egoísta. Alguns companheiros
infelizmente abandonam o interesse coletivo pra ir pro individualismo e nisso
um massacra o outro, rejeita isso, falta com a palavra. A Guarnecer veio pra
unir. O que eu não consegui a Simone ta tentando e eu espero que ela consiga.
Aquela rivalidade fora da arena tem que acabar se não, a Guarnecer não vai pra
frente. Fico muito preocupado, porque se voltarmos para o que era antes será um
retrocesso muito grande. Recebemos incentivo e aplausos de Parintins e de
Manaus por termos criado a divisão especial. Ta faltando também deixarmos de
ser traíra. Se passarmos a assumir o que é decido em assembléia a Guarnecer com
certeza se tornará numa entidade forte e respeitada por todos.
Zk – Para encerrar?
Aluízio Guedes –
Precisamos transformar o Flor do Maracujá em Patrimônio Cultural do estado de
Rondônia.
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