terça-feira, 3 de julho de 2018

São João dos tempos da inocência

Por - Arimar Souza de Sá


Olha pro céu meu amor, vê como ele está lindo, olha praquele balão multicor, como no céu vai subindo”.
A fogueira está queimando em homenagem a São João”....
(Luiz Gonzaga)

Hoje, estou vestido de inocência, relembrando dos meus tempos de criança nas festas de São João em Porto Velho.
A atmosfera era tão estimulante que a gente se vestia de qualquer coisa: “de roupa de chita com o chapéu de palha” – o que valia mesmo era a pura animação. Nos pés, uma surrada sandália, no coração, uma alegria imensa. Ao redor das fogueiras, pipoca, quentão, mingau de milho, canjica, vatapá, pamonha, curau, bolo de milho, dentre outras iguarias.
Eita São João danado de bom!
No terreiro, o sanfoneiro tocava o baião e o forró e os adultos e as crianças pulavam freneticamente aos comandos do marcador da quadrilha. Balancê, anarriê, returnê, tour, travesse, ou em português, balançar, voltar, lá vem a chuva, olha a cobra, cavalheiro à frente das damas e por aí seguia...
Nas quadrilhas, o padre era uma piada. “Os noivos, os pais dos noivos, damas ao centro, cavalheiros fazem a roda”, ordenava o marcador. Era um mundo de sonhos para homenagear o santo que, a despeito de tanto paparico, nem se fazia de rogado.
Tudo isso, porém, passou célere e o tempo, que não perdoa o próprio tempo, carregou tudo e alojou no silêncio este São João aí, que eu até considerava “meu chapa”.
Então veio a modernidade e as festas juninas ficaram muito longe da minha estação criança. O tempo, implacável, destruiu o idílio temporal e as famílias foram traídas pela cibernética.
Hoje, as crianças vivem grudadas na rede mundial de computadores, via celular, e o vídeo gerado transformou os pimpolhos em adultos precoces. Falar das festas de São João é besteira, nem toca o coração dos pequeninos.
Mas no passado, quando reinava a inocência, os namorados, à frente dos pais brincavam com as músicas juninas (“tem tanta fogueira, tem tanto balão”... – Trio Nordestino) e sonhavam com o amor e pulavam a fogueira e faziam adivinhações. Hoje, os adolescentes brincam é de Whatsapp, e fazem “amor” sem olhar a cara, nem se importar com a conquista...
Eu, hein! Jamais trocaria minha inocência por estes avanços construídos pelas ferramentas dos homens. Pena é que não há como voltar e o melhor, então, é vestir-se de saudade e quem sabe acender uma fogueira na imaginação, olhar para o céu e contar as estrelas como antigamente.
Tenho certeza que o brilho delas me ajudará a sentir o coração do passado e aí reviverei com os meus irmãos, primos, vizinhos, colegas de escola e amigos de infância, os momentos mais felizes da minha vida no bairro da Olaria em Porto Velho.
E soltarei balões, E soltarei foguetes, E pedirei pipoca aos anjos, E pularei fogueira, E viverei superstições. Ficarei ansioso na barraca do beijo... E serei valente nas corridas de sacos, de ovo na colher e no cabo e guerra... E cantarei Luiz Gonzaga: “olha pro céu meu amor vê como ele tá rindo”... E dançarei a céu aberto...
Serei, assim, por um instante, feliz de novo. Voltarei pelos braços do amor a ser inocente, vivendo o São João como antigamente que, de forma vigorosa e indelével, marcou tanto minha infância em redor da minha amada cidade. Que pena!
A fogueira que estava queimando, apagou...

AMÉM!

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