Por
- Arimar Souza de Sá
“Olha pro céu meu amor, vê como ele está lindo, olha praquele balão multicor, como no céu vai subindo”.
“A
fogueira está queimando em homenagem a São João”....
(Luiz
Gonzaga)
Hoje,
estou vestido de inocência, relembrando dos meus tempos de criança
nas festas de São João em Porto Velho.
A
atmosfera era tão estimulante que a gente se vestia de qualquer
coisa: “de roupa de chita com o chapéu de palha” – o que valia
mesmo era a pura animação. Nos pés, uma surrada sandália, no
coração, uma alegria imensa. Ao redor das fogueiras, pipoca,
quentão, mingau de milho, canjica, vatapá, pamonha, curau, bolo de
milho, dentre outras iguarias.
Eita
São João danado de bom!
No
terreiro, o sanfoneiro tocava o baião e o forró e os adultos e as
crianças pulavam freneticamente aos comandos do marcador da
quadrilha. Balancê, anarriê, returnê, tour, travesse, ou em
português, balançar, voltar, lá vem a chuva, olha a cobra,
cavalheiro à frente das damas e por aí seguia...
Nas
quadrilhas, o padre era uma piada. “Os noivos, os pais dos noivos,
damas ao centro, cavalheiros fazem a roda”, ordenava o marcador.
Era um mundo de sonhos para homenagear o santo que, a despeito de
tanto paparico, nem se fazia de rogado.
Tudo
isso, porém, passou célere e o tempo, que não perdoa o próprio
tempo, carregou tudo e alojou no silêncio este São João aí, que
eu até considerava “meu chapa”.
Então
veio a modernidade e as festas juninas ficaram muito longe da minha
estação criança. O tempo, implacável, destruiu o idílio temporal
e as famílias foram traídas pela cibernética.
Hoje,
as crianças vivem grudadas na rede mundial de computadores, via
celular, e o vídeo gerado transformou os pimpolhos em adultos
precoces. Falar das festas de São João é besteira, nem toca o
coração dos pequeninos.
Mas
no passado, quando reinava a inocência, os namorados, à frente dos
pais brincavam com as músicas juninas (“tem tanta fogueira, tem
tanto balão”... – Trio Nordestino) e sonhavam com o amor e
pulavam a fogueira e faziam adivinhações. Hoje, os adolescentes
brincam é de Whatsapp, e fazem “amor” sem olhar a cara, nem se
importar com a conquista...
Eu,
hein! Jamais trocaria minha inocência por estes avanços construídos
pelas ferramentas dos homens. Pena é que não há como voltar e o
melhor, então, é vestir-se de saudade e quem sabe acender uma
fogueira na imaginação, olhar para o céu e contar as estrelas como
antigamente.
Tenho
certeza que o brilho delas me ajudará a sentir o coração do
passado e aí reviverei com os meus irmãos, primos, vizinhos,
colegas de escola e amigos de infância, os momentos mais felizes da
minha vida no bairro da Olaria em Porto Velho.
E
soltarei balões, E soltarei foguetes, E pedirei pipoca aos anjos, E
pularei fogueira, E viverei superstições. Ficarei ansioso na
barraca do beijo... E serei valente nas corridas de sacos, de ovo na
colher e no cabo e guerra... E cantarei Luiz Gonzaga: “olha pro céu
meu amor vê como ele tá rindo”... E dançarei a céu aberto...
Serei,
assim, por um instante, feliz de novo. Voltarei pelos braços do amor
a ser inocente, vivendo o São João como antigamente que, de forma
vigorosa e indelével, marcou tanto minha infância em redor da minha
amada cidade. Que pena!
A
fogueira que estava queimando, apagou...
AMÉM!
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