Paulinho
- O boêmio que se tornou funcionário público
Para seu Paulo, Paulinho ou
Coroa como querem os mais jovens, não tem tempo ruim, o negócio é estar em
atividade, servindo a entidade onde hoje é lotado como motorista no governo do
estado de Rondônia. Paulo chegou a Rondônia com tempo de conseguir emprego no governo
estadual, que hoje lhes proporcionou ser transposto para o quadro da União. “Agora
estou só esperando dar o tempo mínimo da transposição para entrar com meu
pedido de aposentadoria”. Querido por todos os funcionários da Superintendência
de Turismo de Rondônia – SETUR onde está lotado há quase dez anos, Paulo quando
não está fazendo algum serviço na rua, diverte todos com suas brincadeiras
sadias. De vez em quando, lembra o tempo que frequentava a boemia da Lapa no
Rio de Janeiro e começa a cantar uma canção de Nelson Gonçalves e outros
cantores que faziam sucesso no tempo da sua juventude. Outra característica do
Paulo é a sua gargalhada. “Isso não é risada seu Paulo” diz a Darkley tentando
repreender o “Coroa” e no final, todos riem juntos com ele. Viúvo há poucos
meses, Paulo diz que assim que se aposentar volta para sua terra natal Campina
Grande na Paraíba. “Minha família está toda lá”. Enquanto a aposentadoria não
chega, vamos conhecer mais um pouco da história desse nordestino/carioca de
Rondônia.
ENTREVISTA
Zk – Você é de onde?
Paulo – Nasci no dia 21 de
agosto de 1949, em Campina Grande a maior cidade da Paraíba. Tive uma infância
muito boa, nossa diversão era apanhar caju no quintal dos outros, o que gerava
muitas carreiras. A meninada ia pros sítios e eu era o primeiro a pular a cerca
para pegar caju. Quando o dono do sítio descobria, a gente saia em disparada
carreira e do jeito que vinha, passava pela cerca de arame farpado. Era muito
divertido.
Paulo – Fiquei na Paraíba
até completar 18 anos. Fui convidado pelo meu tio pra ir morar no Rio de
Janeiro, ele trabalhava na Viação Itapemirim. Lá me apresentei para servir o
Exército em São João do Meriti e fui dispensado. O certo foi que fiquei, meu
irmão também morava lá.
Zk – E então?
Paulo - Então passei a conhecer
a cidade, doido pra me casar com uma carioca, acontece que a carioca é mulher
malandra demais. Se você vacilar perde até as calças. No Rio, morei em Caxias,
Nova Iguaçu, Villar dos Telles, morei em Ramos onde freqüenta a famosa praia. Na
época era uma praia muito boa, com águas calmas que não oferecia nenhum perigo.
Zk – Você trabalhava fazendo
o que?
Paulo – Fui motorista de
ônibus: Trabalhei na Natividade Transportes Turismo, Viação Flores, Viação
Planalto. Fazia Caxias x Nova Iguaçu; Belfor Roxo x Villar do Telles; rodei
muito dentro do Rio de Janeiro capital.
Zk – É verdade que você era
boêmio cantor?
Paulo – Gostava muito da
boemia até porque, a turma dizia que eu cantava bem. Participei de muitas
serestas, consegui algumas namoradas, levei muita carreira dos pais das
meninas. Outra diversão que eu gostava era brincar carnaval. Só nunca brinquei
em escola de samba no Rio. Naquele tempo a passarela era na Presidente Vagas e
eu ia pra lá e devido o aglomerado de gente, quase não conseguia assistir os
desfiles direito.
Zk – Quantos anos você ficou
morando no Rio?
Paulo – Morei lá durante dez
anos, depois voltei ao Nordeste e me casei com a Dalva que me deu meus filhos,
Diego e Juliano um da Aeronáutica e outro da Marinha, me divorciei e casei com
a Graça. É assim mesmo, a vida é cheia de novidades. Às vezes você pensa que a
vida é ruim mais olhando pra trás ver que tem gente pior que você.
Zk – Como foi que você veio
parar em Rondônia?
Paulo – Cheguei aqui no
final dos anos de 1980. Com 15 dias que estava aqui, consegui emprego como
motorista fazendo entrega de mercadoria num Mercedes Truncado, o interessante
era que eu não conhecia nada na cidade e ficava pedindo informação sobre os
endereços das entregas.
Zk – E o emprego no governo
como surgiu?
Paulo – Foi interessante!
Sai daquela empresa de entrega e estava na fila de um escritório que ficava
perto do quartel do exército, onde estavam recrutando trabalhadores para
trabalhar no interior do estado, a fila era enorme e eu lá naquele sol
escaldante, foi quando um amigo passou, me viu e perguntou: Ta fazendo o que
aí? Vou me fichar pra trabalhar; Sai daí o homem quer falar com você lá no
governo. Acontece que eu já havia procurado emprego no palácio e meu nome
estava la numa lista de espera, foi então que esse amigo chegou e disse: vamos
lá. Embarquei no carro do governo eles me levaram pra garagem. Naquele tempo os
motoristas ficavam na garagem esperando ser chamado por uma secretaria. A
garagem era lá no Pedacinho de Chão e o chefe na época era o Juquinha. Teve um
diretor da garagem, o Japonês, que todo dia de manhã reunia todo mundo no meio
do pátio do estacionamento para fazer uma palestra sobre comportamento e rezar,
a turma fazia gozação com essas reuniões do Japonês, era todo dia a mesma
coisa.
Zk – Você chegou a trabalhar
no governo do Teixeirão?
Paulo – Quando cheguei aqui
ele estava saindo. Lembro do Ângelo Angelim, Jerônimo Santana, Oswaldo Piana,
Valdir Raupp, Bianco, Cassol e Confúcio e agora o Daniel Pereira.
Zk – E hoje?
Paulo – Consegui a
transposição e estou esperando completar pelo menos um ano como funcionário
federal, para entrar com meu pedido de aposentadoria. Depois vou pro nordeste,
pois minha família está toda lá, minha mulher Graça faleceu ano passado, tem
minha irmã que também está pra se aposentar e vai também pro nordeste.
Zk – Aqui em Porto Velho
você chegou a freqüentar a boemia?
Paulo – Fiz algumas serestas
com os amigos, gostava de apreciar as festas da escola de samba Pobres do
Caiari. Eu gosto de escola de samba. Em Capina Grande fui batuqueiro na Escola
de Samba 15 de Novembro e ganhamos o título em vários anos. Fui campeão, bi-campeão,
tri-campão, tetracampeão, pentacampeão e hexacampeão sempre tocando tarol.
Sempre vou apreciar os ensaios da escola Asfaltão.
Zk – Para encerrar?
Paulo – Costumo dizer
aos jovens que me chamam de coroa, mas, me consideram, pois gostam de ouvir
sobre minha história de vida. Que antes de mais nada, devem valorizar a vida,
nada de estragá-la usando droga, nada de beber demais, cuidar da saúde e
principalmente estudar. Há alguns anos sou lotado na Superintendência de
Turismo a Setur e me dou muito bem com meus chefes e colegas de serviço. Aqui
na Setur é como se fôssemos uma família, é um por todos e todos por um.
Obrigado por se interessar pela minha história. Quem sabe não consiga uma
namorada depois da divulgação dessa entrevista!
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