Histórias
do tempo da usina do SAALFT
Hoje
aos 83 anos de idade, Francisco Mendes dos Santos mais conhecido como Chico,
mora na Vila Tupi com sua filha Wanda. “Viemos morar aqui após uma enchente que
alagou nossa casa no bairro Triângulo na década de 1970”. Se fosse hoje, Chico
seria considerado “Marido de Aluguel”, pois apesar de ser profissional
especializado em mecânica de motores e eletricidade, sempre era contratado
pelas madames categas e parentes, para fazer serviços tipo instalação elétrica,
trocar botija de gás e reparos em carpintaria. Porém, no início da década de
1960, encabeçou o movimento que culminou com o enquadramento no quadro de
funcionários da União dos trabalhadores do Serviço de Abastecimento de Água,
Luz e Força do Território – SAALFT. “Isso quando o governador era o Dr. Mafra e
o Goleiro era o chefe do SAALFT”. Nesse episódio foi suspenso e terminou por
ser convidado pelos professores Lourival Chagas e Abnael Machado seus colegas
de Dom Bosco para lecionar nas escolas do governo. “Isso demorou pouco porque
conseguimos o enquadramento e o Goleiro foi exonerado”.
São
história que o Chico conta na entrevista que segue:
ENTREVISTA
Zk
- Vamos começar pela sua identificação?
Chico
– Meu nome é Francisco Mendes dos Santos, porém sou conhecido como Chico. Nasci
em São Carlos do Madeira no ano de 1935, meus pais são Narciso Mendes dos
Santos e Raimunda Mendes dos Santos. Casei-me com a Zeneude Anastácio Macedo
dos Santos – Zezé, no dia 25 de agosto de 1962 e vivemos juntos até bem pouco
tempo, quando ela faleceu.
Zk
– O que você lembra do Triângulo daquele tempo?
Chico
– Era muito bom, naquele tempo o trem corria pra cima e pra baixo, a gente
tinha como vizinha a família da professora Elisa Corsino que depois se casou
com o sargento Chore e a gente se dava muito, a Zezé sempre ia pescar na beira
do rio com o Chore e a Elisa. O Armando Holanda conhecido como Periquito criou
a escola de samba infantil “O Triângulo Não Morreu” e minha filha
Auxiliadora foi brincar lá. O Periquito se fantasiava de mulher com aquela saia
pequena, se maquiava todo e desfilava com sua escola que por sinal, era formada
apenas por meninas.
Zk
– Você trabalhou na Estrada de Ferro ou no Governo do Território?
Chico
– Comecei a trabalhar na Madeira Mamoré. Estudava no colégio Dom Bosco, meu pai
viajava e me colocou como semi-interno no Dom Bosco. Meu tio trabalhava na
Usina de Luz que naquele tempo pertencia a Madeira Mamoré e esse tio arranjou
emprego pra mim e eu ficava limpando os tornos. Vale salientar que eu não
ganhava nada, a não ser uns trocados que os mecânicos me davam. Até que fui
trabalhar na Usina com meu tio e então passei a ter vencimento. Eram dois
motores a Gasogenio e um a Disel.
Zk
– É verdade que naquele tempo a luz ia embora antes da meia noite?
Chico
– A gente ligava as seis horas da tarde e quando era 15 pra meia noite
piscava a luz que era para o pessoal acender a lamparina ou candeeiro. Quando
dava meia noite a gente desligava tudo. Cinco horas da madrugada voltava a
virar o motor e ligava a energia que ficava até as 16 horas (quatro horas da
tarde).
Zk
– Por que desligava quatro horas da tarde?
Chico
– Acontece que era preciso fazer limpeza nos motores, principalmente no motor
principal que era americano a disel, que deu problema no eixo e como não tinha
como mandar retificar porque era muito grande então tínhamos que tirar. Como eu
era o menor da turma (Chico é baixinho), era quem entrava praticamente dentro
do motor pra tirar as Bronzinas para o mecânico encher de metal, retificar no
torno pra colocar de novo. Isso tudo tinha que estar pronto antes das seis
horas da tarde. Isso acontecia todo dia. Até que um dia compraram dois motores
holandês.
Zk
– Você está falando de qual usina?
Chico
– Era a usina administrada pela Madeira Mamoré que funcionava ali na Sete de
Setembro justamente onde hoje é a Ceron. Depois passou para o governo do
Território Federal do Guaporé/Rondônia com o nome de Serviço de Abastecimento
de Água, Luz e Força do Território – SAALFT.
Zk
– É verdade que a usina teve um administrador conhecido como “Goleiro” que desativou
os motores e jogou as peças no mato?
Chico
– Vou te contar um pedacinho dessa história. A gente tava trabalhando eu com o
finado Dico. Nessas alturas eu já era mecânico pois fiz o curso pela National
Escola da América do Norte eu e o Aragão da Usina de Borracha. Fui ligar a
chave de tensão sem luva e peguei uma descarga elétrica muito forte, bati a
cabeça e fui fazer tratamento em Manaus. Bom eu e o Digo entramos em atrito e o
resultado foi que nos aplicaram uma suspensão, o chefe da usina era o Goleiro.
Os professores Lourival Chagas e Abnael Machado de Lima souberam que eu estava
sem trabalhar e como a gente havia estudado junto no Dom Bosco me chamaram para
trabalhar na Educação como professor. O Goleiro foi reclamar pro governador e o
negócio fedeu a chifre. Terminei voltando pra Usina. Foi quando o Manoel Barros
foi vitima de um tiro, quando estava caçando no Campo do Mário Monteiro (hoje
5º BEC) caiu e o rifle disparou atingindo sua perna. Aí descobrimos que não
tínhamos direito a tratamento médico e nada, terminou que ele morreu ali.
Zk
– O que você fizeram?
Chico
– Como eu era o mais letrado e sabia datilografar a turma me elegeu líder e a
noite, produzi uma carta de reivindicações e todo mundo assinou. O governador
era o Dr. Abelardo Alvarenga Mafra e fomos entregar o abaixo assinado à noite
em sua casa. Ele prometeu que iria resolver. Todos nós éramos contratados como
assalariados extra e ele realmente conseguiu nos colocar como funcionário
federal do quadro da União. Fomos convocados a ir ao palácio Presidente Vargas
assinar nossa nomeação. Foi então que dona Maria Tourinho talvez a título de
brincadeira contestou nossa nomeação, dizendo, que a gente tinha entrado pela
janela, quer dizer, não fizemos concurso para conseguir ser enquadrado como Federal.
Zk
– E o Goleiro?
Chico
– Como disse, existiam dois motores a gazogenio que eram movidos a caldeira que
queimava lenha e quando chegaram os motores holandeses o Goleiro mandou
desmontar os gazogênicos e jogou as peças no meio da rua do Coqueiro ou seja ao
lado da Usina do SAALFT e a imprensa bateu forte dizendo que ele havia
jogado os motores fora. O Goleiro não sei por qual motivo, mandava e desmandava
no governo, só se deu mal com a nossa turma, na questão do abaixo assinado.
Zk
– Você ficou no SAALFT até quando?
Chico
– Fiquei até quando levaram os motores para a Usina do Bairro Nacional e então
parte da nossa turma, foi trabalhar na Garagem do Governo que ficava na hoje
Praça das Caixas D’água. Tem a história da Ceron.
Zk
– Então vamos contar?
Chico
– Nossa turma pode se dizer, foi a fundadora da CERON, aí eu tinha feito um
curso de eletricista. Quando a Ceron chegou foi preciso fazer o padrão das
casas, o engenheiro era o Dr. Gaioto e ele selecionou seis eletricistas pra
fazer o trabalho e eu fui um deles. Fui responsável pela instalação padrão de
todo o bairro Caiari eu e o Areia. Essa foi minha vida no governo de
Rondônia,
Zk
– Você era Cutuba ou Pele Curta?
Chico
– Rapaz eu era Pele Curta, Os Cutubas eram aqueles caras metidos como o Goleiro
e outros. O Pele Curta era do tempo do Renato Medeiros e o Renato também
defendeu nosso enquadramento. Naquele tempo aquela parte alta (Caiari) era tudo
Cutuba e nós aqui de baixo era tudo Pele Curta.
Zk
– Você se aposentou por tempo de serviço?
Chico
– Me aposentei com 62 anos de idade. Acontece que aquele acidente da descarga
elétrica me deixou três anos em tratamento quando voltei a trabalhar não
aguentei mais e então me aposentei.
Zk
– Por que vocês se mudaram do Triângulo para a Vila Tupi?
Chico
– Houve uma alagação muito grande; Nossa casa ficava pro lado da beira do rio.
Um dia já com á água dentro de casa, minha filha Dora acordou assusta dizendo
que um bicho tinha tentado morder sua mão, então resolvi sair de lá. Tinha o
João Maranhense que era comerciante forte e eu havia feito toda a instalação
elétrica do seu comércio que era no Morro do Querosene. Só sei que o João soube
do ocorrido pegou o caminhão e foi bater lá dizendo, vocês não podem ficar aqui
vamos embora pra minha casa e nos levou mesmo. O Macedo ficou tomando conta da
casa.
Zk
– E a Vila Tupi?
Chico
– Eu tinha um dinheirinho guardado na poupança e falei pro João que queria
comprar uma casa e então fomos procurar e encontramos uma na Vila Tupi uma
casinha coberta de palha, paguei a vista e até hoje moro aqui.
Um comentário:
TUA VIDA AMOROSA NÃO VAI INDO TÃO BEM ? CRISE,BRIGAS,DESENTENDIMENTOS E RAIVA TODOS OS DIA ? VEJA http://bit.ly/8passosrelacionamento COMO RESOLVER DE FORMA SIMPLES E SAUDÁVEL, CONHEÇA OS 8 PASSOS PARA SALVAR SEU RELACIONAMENTO DE FORMA SAUDÁVEL..!
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