O Diário da setembro Amazônia
ouviu o jornalista/escritor Lúcio Albuquerque atualmente editor do centenário
jornal Alto Madeira, sobre a importância da criação pelo presidente Getúlio
Vargas do Território Federal do Guaporé no dia 13 de setembro de 1943.
Diário - Qual a importância
do Território Federal para a colonização de Rondônia?
Lúcio - Há duas fases
distintas sobre o Território: o período 1944 (quando foi instalado) até 1968
(quando surge o primeiro Projeto de Colonização, em Ouro Preto, e o Incra é
criado. Na primeira fase em termos de desenvolvimento econômico, pouco mudou,
com a continuidade da economia à base do extrativismo vegetal - a partir de
1958 com a cassiterita ganha outro vetor mas continuamos extrativistas.
Com a chegada do Incra e da
equipe sob comando do capitão Sílvio Gonçalves de Faria, além da maciça
campanha do governo federal para a ocupação do Oeste brasileiro, levou à
migração com a chegada de centenas de milhares de pessoas, a maioria boias-frias
abandonando o Sul/Sudeste, se instalando inicialmente ao longo da BR-364 e
criando cidades - ou dando outra vida às pequenas vilas então existentes e
mudando o eixo econômico com a implantação em larga escala de atividades
agrícolas, alterando o norte econômico responsável pelo que hoje Rondônia é. E
isso foi o grande papel do Território para a colonização, para que em 1975 o
governador Humberto Guedes, que muitos reputam como o grande governador que
Rondônia teve, me dissesse em uma entrevista, que Rondônia já havia extrapolado
tudo que se poderia imaginar poder ocorre num Território. Em 1976 ele criou um
grupo de trabalho para planejar uma proposta de Estado.
Diário - Rondônia foi
governada por militares na época o território. Qual sua avaliação da forma de
governar da época? Foi boa? Positiva ou negativa? Por que?
Lúcio - É preciso que eu
deixe bem claro que por razões familiares tenho tudo para só criticar os
militares. Mas seria injusto não reconhecer que não só para a Amazônia, mas
especificamente para Rondônia, o saldo dos governadores militares que tivemos
no então Território foi bem positivo. O que éramos até 1964 - prefiro tratar
desse período em diante em razão de quando há referência à fase anterior
ninguém lembra do que fizeram, alguns poucos mas outros, como Aluízio Ferreira,
e Paulo Nunes Leal que desafiou o presidente JK para que abrisse uma estrada -
o “Outro Lado da Cruz”, fizeram muito.
A partir de 1964 o governo
federal precisou abrir uma nova fronteira. E descobriu Rondônia. Tínhamos uma
rodovia (BR-29) que era apenas o que o presidente Jânio Quadros chamou de
"caminho das onças". Em 1965 o primeiro grande fato, a criação do 5º
BEC e sua instalação em vários locais da BR, gerando apoio para o trânsito.
Paralelo com isso o Incra promovia o que se costumava chamar de “A única
reforma agrária que deu certo no Brasil”. Em 1974 foi a vez de Marques
Henriques criar uma emissora de televisão - na realidade transmissora - a
TV-Cultura ainda que funcionando por pouco tempo mas oferecendo ao rondoniense
uma nova opção de lazer e foi seu apoio que atraiu para fora de Manaus a, hoje,
Rede Amazônica de Televisão.
Em 1975 outro coronel,
Humberto da Silva Guedes, teve o mérito de entender que era a hora de mudar. E
estruturou o Território como se fosse um Estado graças, claro, ao apoio
decisivo do ministro do Interior Maurício Rangel Reis e do presidente Ernesto
Geisel. Guedes consegue a criação de cinco municípios instalados 49 anos depois
do último - havia só Porto Velho e Guajará-Mirim. Foi o governo militar que
colocou Rondônia na rota das telecomunicações - as torres da Embratel. Foi sob
governo militar que foi aberta a BR-319 e a BR- 425, além do asfalto na 364, a
criação do Estado, da Universidade, da estrutura do Hospital de Base e mais
municípios antes da criação do Estado.
Foi um trabalho
articulado pelo governador Jorge Teixeira, aproveitando o projeto deixado pelo
seu antecessor Humberto Guedes e com apoio do ministro do Interior Mário
Andreazza e do presidente João Figueiredo, todos coronéis e o último general do
Exército, que permitiu a criação do Estado. Não tenho dúvida de que foi
fundamental a presença daqueles homens nos momentos em que Rondônia viveu o
período de Território.
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