sábado, 21 de janeiro de 2017

Entrevista - Dezival Ribeiro dos Reis


O piloto comandante do PDS no tempo do Teixeirão


O comandante Dezival Ribeiro dos Reis hoje fazendeiro, pode ser considerado pioneiro de Rondônia, pois, de piloto do Ministério dos Transportes e de empresa mineradora de cassiterita, conseguiu se eleger presidente do Partido Democrático Social – PDS disputando com o candidato do poderoso governador Jorge Teixeira de Oliveira. “Ganhei do candidato dele por um voto”. Teve a coragem de dizer em audiência com o então presidente João Batista de Figueiredo que o candidato dele a presidência da república, Mário Andreazza não teria mais do que três votos entre os delegados do partido em Rondônia. Teve a coragem em dizer ao amigo Jorge Teixeira que solicitou que ele levasse um presente a uma jovem que se dizia grávida dele (Teixeirão). Que não levaria o presente porque o filho “Não é seu governador”. Dezival apesar de ser o manda chuva do PDS, jamais assumiu cargo de secretário de estado e nem foi candidato a deputado ou outro cargo qualquer. “Para não dizer que nunca assumi um cargo Comissionado no governo, fui presidente da CAGERO no governo de Osvaldo Piana”.
O homem que se quisesse, seria um dos maiores latifundiários de Rondônia, tem apenas uma fazenda de 450 hectares. Quinta feira passada à tarde, eu e o fotografo J. Gomes gravamos a entrevista que segue:

ENTREVISTA


Zk – Quem é o Dezival?
Dezival – Sou Goiano, porém quando vim pra cá, estava morando em Brasília. Era comandante (Piloto) funcionário federal do Ministério dos Transportes, aliás, o comandante mais novo que tinha na frota. Pedi licença sem remuneração por um ano e vim pra cá pra Rondônia. Aqui comprei um avião em sociedade com um colega piloto que também era do Ministério. Esse colega veio na frente e começou a voar e naquela ganância de ganhar dinheiro, esqueceu de abastecer o avião, caiu e morreu.
Zk – Depois desse desastre?
Dezival – Não esmoreci, comprei outro avião em sociedade com outro piloto do mesmo Ministério e comecei a vida de novo. Estava com 28 para 29 anos de idade quando aqui cheguei no dia 8 de fevereiro de 1968. Nasci no dia 9 de maio de 1938.
Zk – Fale sobre sua vida de piloto de aeronave em Rondônia?
Dezival – Comecei a voar aqui para a Cia Estanifera do Brasil que tinha as subsidiárias CIVA e Mibrasa, transportando cassiterita, veja bem, eu nunca gostei de ser aventureiro, de ficar atrás de garimpeiro pra levar e trazer do garimpo. Gostava de voar mais barato e em conseqüência disso, fiz negócio com a CIVA e com a Mibrasa os diretores eram o Dr. Napolitano e o Dr. Cássio entre outros e fui me entrosando com os empresários daqui. Enquanto os colegas pilotos disputavam os garimpeiros eu voava com a diretoria das empresas e transportava cassiterita obedecendo às normas da aviação, ou seja, não excedia o peso.
Zk – Qual o nome do garimpo?
Dezival – Naquele tempo só existiam dois municípios, Porto Velho e Guajará Mirim o resto era Distrito ou Vila, hoje são 52 municípios e eu ajudei a fundar quase todos eles. Respondendo a sua pergunta. Voava para os garimpos SPI, Marechal Rondon, Ariquemes, Massangana. Meu reduto mesmo era onde hoje é Campo Novo. Naquele tempo ninguém era dono de nada aqui, não tinha proprietário de terra, não tinha fazenda. O maior fazendeiro daqui ficava na Vila de Rondônia, era o Zé Milton Rios que tinha umas 800 cabeças de gado. Hoje Rondônia tem quase 20 milhões de cabeça. Conheço um fazendeiro que sozinho, tem mais de 120 mil cabeças de gado é o Garão Maia cuja fazenda fica em Chupinguaia.
Zk – Lembro que o senhor foi presidente do PDS. Como aconteceu isso?
Dezival – Comecei a trabalhar e ganhar dinheiro... Quando cheguei aqui o governador era o Cel. Assunção Cardoso. Depois passou Ghaiva, João Carlos Henrique duas vezes, Cel. Guedes até chegar o Cel. Jorge Teixeira. Na gestão do Coronel Guedes entrei para a política, o partido era a ARENA e ele me pediu para ajudar a eleger o Isaac Newton deputado federal que não era nada na vida, a não ser o  gerentezinho de um banco lá em Guajará Mirim.
Zk – É verdade que ele resolveu fazer o Isaac deputado em virtude de uma briga com o Odacir?
Dezival – Houve uma desavença... Era tudo do mesmo partido. Acontece que o Odacir fez uma “panela” e botou só gente fraca, colocou o professor Teixeira e então o Cel. Guedes disse, vou lançar o Isaac e acabou que o Isaac ganhou a eleição, aí fui tomando gosto pela política, sempre ia a Brasil e procurava me inteirar dos acontecimentos político, os bastidores. Quando o Teixeira assumiu o governo do Território de Rondônia me chamou e me convidou para criar o PDS. Lembro como se fosse hoje. O Rochilmer Rocha já trabalhava com ele e foi quem me disse que o governador queria falar comigo. Quando cheguei o Teixeirão foi dizendo: To com a ficha do PDS pra você assinar. Minha ficha foi a número seis.
Zk – E como foi que o senhor se elegeu presidente do PDS?
Dezival – Fui secretário geral por um tempo. A história da minha eleição para a presidência do partido foi considerada “zebra”; o jornal Alto Madeira publicou uma charge onde minha cabeça era colada no corpo de uma zebra. Ganhei a eleição pela diferença de um voto do candidato do Teixeirão. Acontece que os senadores Galvão Modesto, Odacir Soares e os deputados Chiquilito, Rita Furtado e Dr. Rachid se desentenderam com o Teixeira e eu fiquei do lado deles. O candidato do governador Teixeira foi o senador Claudionor Roriz. Eu só ganhei porque o Teixeirão não foi votar. Ele declarou à época: “Se fosse candidato único eu ia votar...” e nem o Cel., Arnaldo Martins que era deputado federal. Quando terminou a eleição fui ao palácio, afinal de contas eu era muito amigo do Cel. Teixeira e fui muito bem recebido. Ele apenas fez uma recomendação: “Só não quero que você traga aqui o Mauricio Calixto e nem o Mário irmão dele. Os demais tudo bem”.
Zk – E depois dessa eleição, como ficou seu relacionamento com o governador Teixeira?
Dezival – Ficamos mais amigos e eu sempre dava idéia pra ele: Governador, por que o senhor não convida nossa bancada federal para um jantar em sua residência com o objetivo de se discutir a melhor política para o estado e ele não aceitava. O problema é que ele não queria dividir o poder com ninguém, era só ele e mais ninguém. Nessa mesma balada sugeri que ele chamasse o Bianco que era o presidente da Assembléia e os deputados do partido para uma conversa em sua residência e ele ficou irredutível. O clima foi ficando ruim entre eles, comigo não, até que chegou o ponto do presidente da república João Batista de Figueiredo ficar sabendo e me procurou. Repara bem: To chegando à sede do PDS na rua José Bonifácio e a secretária disse: Presidente tem uma ligação de Brasília pro senhor, atendi e era a Dra. Mercedes da Casa Civil da presidência e ela foi dizendo: “O ministro Leitão de Abreu me deu a incumbência de avisá-lo que o presidente Figueiredo quer falar com o senhor” e passou o telefone para Leitão que me disse que o presidente queria falar comigo sobre o que estava acontecendo entre os senadores, deputados federais e estaduais contra o governador Jorge Teixeira.

Zk – E o encontro com o presidente João Figueiredo?
Dezival – Assim que terminei de falar com o ministro liguei pro meu padrinho senador Odacir Soares que recomendou que embarcasse imediatamente para Brasília, a audiência com o presidente ficou marcada para quarta feira e eu saí daqui pra lá na segunda feira. Nunca havia entrado no palácio da Alvorada, nunca havia falado com um presidente da república. Depois de passar pelos protocolos de praxe me vi frente a frente com o presidente da republico e mais, em seu gabinete, uma honra. Antes disso o major Dourado da Casa Militar me orientou: “Quando o senhor entrar vai dar de cara com muitos jornalistas, fotógrafos de todos os lados, não se preocupe, siga em frente, não responda nada. A fala com o presidente não pode passar de 18 minutos, certo”.
Zk – Qual o assunto da conversa?
Dezival – Na época estava em discussão à eleição para a presidência da republica e o PDS tinha dois candidatos, Mário Andreazza que era o candidato oficial e o Paulo Maluf. Ele quis saber sobre o relacionamento do Coronel Teixeira com os nossos delegados eleitores e eu expliquei que o Teixeira apesar de ser uma pessoa muito boa não é bem quisto pela classe política em virtude de não querer ouvi-la. O presidente ponderou: “O Teixeira é assim mesmo” e me contou alguns causos do Teixeira militar, até que entrou no assunto principal, perguntando o que eu achava da eleição do Mário Andreazza e eu respondi, em Rondônia ele não ganha, não terá mais do que três votos. “Não é possível, não é isso que o Teixeira fala! Por que você acha que o Maluf tem esse prestígio em Rondônia?”. Porque o Doutor Paulo Maluf, liga, passa telegrama pras mulheres dos delgados, ta sempre em contato pedindo voto. Resultado, na convenção Mario Andreazza só conseguiu três votos o do governador Jorge Teixeira, Marize Castiel e o do João Wilson. Depois recebi uma correspondência do presidente Figueiredo dizendo que nunca tinha visto um homem leal e sério como eu.
Zk – Vamos começar a encerrar nossa conversa. O senhor disse e é verdade, que ajudou a criar quase todos os municípios de Rondônia. Em virtude disso conseguiu muita terra?
Dezival – Só tenho uma fazenda e assim mesmo é considerada pequena. A respeito da sua pergunta. Certa vez chego a Cacoal e o Catarino Cardoso me apresenta um mapa e diz: Comandante, o senhor pode escolher até cinco lotes, eles chamavam Data, só vai pagar a taxa de expediente e nada mais e me mostrou uma área muito grande, não aceitei dizendo: Isso aqui não vai passar disso.  Nesse terreno que ele queria me dar, hoje é a Fundação Bradesco e Cacoal é um dos municípios mais ricos do nosso estado. Assim foi com o Coutinho em Vilhena, com Vicente Homem Sobrinho em Pimenta Bueno e em Ji-Paraná. Não tenho um palmo de terra a não ser esse terreno que consegui no tempo do Capitão Silvio do INCRA que é a fazenda Santa Maria de 450 hectares com umas 150 cabeças de gado.
Zk – Casado?
Dezival – Há 22 anos com a rondoniense nascida e criada aqui que é a Tânia.

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