As Mulheres do
Aluá, espetáculo teatral que foi concebido a partir de uma pesquisa e uma
investigação cênica que coloca em foco a relação de gênero e o universo
feminino. Baseado nas histórias de mulheres que enfrentaram e desafiaram os
poderes para garantir as suas posições diante do mundo.
Num período em que
o pensamento-homem é que determinava a condição de cada mulher. São mulheres de
diferentes épocas, com histórias marcadas pela violência. Elas foram rés em
processos hoje arquivados no Centro de Documentação Histórica do Tribunal de Justiça
de Rondônia.
Processos que
revelam as dificuldades delas em um ambiente hostil e opressor do passado da
região, especialmente no inicio do surgimento da cidade de Porto Velho (entre
1910 a 1930) e teve forte influência no ciclo da borracha, com a construção da
estrada de ferro Madeira- Mamoré.
Essas histórias
registradas nas páginas frias do processo foram transformadas em dramaturgia e
virou espetáculo na concepção do encenador Chicão Santos, do O IMAGINARIO. “São
processos à partir de 1910 que correspondem às comarcas de Santo Antônio do
Madeira e Porto Velho”, explica a historiadora Nilza Menezes, diretora do CDH.
Dentre as personagens, uma mulher
identificada como Josefa, que em 1920 foi acusada de feitiçaria, uma cigana que
lia a sorte dos habitantes locais e se envolveu em um crime em 1914, uma
prostituta moradora da Vila Murtinho (1912), com histórico de brigas e
espancamentos e uma barbadiana acusada de matar uma comerciante.
Além delas outras histórias de outras
mulheres são incorporadas às quatro personagens vividas pelas atrizes: Agrael
de Jesus, Amanara Brandão, Jaque Luchesi e Zaine Diniz. Quem são essas
mulheres, que cantam, dançam, bebem e contam suas histórias?
O texto é de
autoria do dramaturgo sergipano Euler Lopes Teles, que num processo
colaborativo com a pesquisadora Nilza Menezes e com encenador Chicão Santos,
costura a linha dramatúrgica do espetáculo.
O diretor Chicão
Santos, com fina sensibilidade, construiu uma encenação estética usando
elementos que estabelece um ritual de quatro mulheres, com suas memórias
em que a realidade é gerada pelos processos de confecção do aluá e é banhada
pelas memórias e pelos mitos amazônicos.
Outro aspecto
significativo é a trilha utilizada que alude aos costumes e mitos ribeirinhos.
Alguns objetos cênicos também causam impacto, pois concentra em sua
significação toda a violência representada por essas personagens.
“Nós queremos
provocar o público para refletir, por meio dos crimes retratados no espetáculo,
toda uma conjuntura social e a condição da mulher nesse contexto”, destaca
Chicão Santos.
O Diretor acertou
em trazer à cena um espetáculo que revela novas histórias e que ganha um
contorno estético e uma beleza plástica. Temos certeza absoluta que novamente o
trabalho vai ganhar a cena nacional, como aconteceu com Filhas da Mata que fez
em 2010, o Palco Giratório do Sesc, circulando pelas principais capitais e
cidades do País e que também chegou a Mostra Latino-americana de teatro de
grupos, realizada em São Paulo, em 2012 e o Varadouro que estreou no Teatro de
Arena, do Itaú Cultural, em São Paulo e foi selecionado pelo Prêmio Petrobras
em 2013 e fez temporada em São Luís (MA) e João Pessoa (PB).
Ficha Técnica:
Elenco: Agrael de Jesus; Amanara
Brandão; Jaque Luchesi; Zaine Diniz.
Dramaturgia: Euler Lopes Teles
Pesquisa: Chicão Santos e Nilza
Menezes
Concepção de figurino: Zaine Diniz
Concepção Cenográfica e Luz: Chicão
Santos
Execução de cenário: Ismael Barreto
Operação de Luz: Osias Cardoso
Operação de Som: Mirilainy Dorneles
Preparação das bebidas (Aluá e
Chicha): Sacerdotisa Yakolecy e Arlete Cortez
Música do Aluá: Silvio M. Santos
Música da Mãe Preta: Tim Maia
Participação musical: As Pastoras do
Asfaltão.
Preparação de dança: Cristina Pontes
Preparação de voz: Marcos Grutzmacher
Produção e direção: Chicão
Santos
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