Se fossemos publicar o currículo do nosso entrevistado,
jornalista e escritor Montezuma Cruz, não teríamos espaço para a entrevista. As
histórias do Montezuma são vividas em praticamente todas as regiões
brasileiras. Ele vai do Sul ao Norte e do Sudeste ao Nordeste num piscar de
olhos. Ao mesmo tempo em que registra a guerra dos índios Suruis X Zorós e os
policiais comandados pelo famoso delegado Fleury de São Paulo serem mortos em
confronto com contrabandistas de cassiterita em Rondônia, viu os brasileiros
(Brasiguaios) serem incentivados a plantar soja no Paraguai e hoje serem
expulsos, acompanhou a Embrapa descobrir o DNA da mandioca. “A Mandioca nasceu
há mais de 10 mil anos numa localidade perto de Porto Velho e hoje existe em
mais de 150 países” assim como viu nascer o Mercosul em 1991. São tantas
histórias vividas pelo Montezuma que resolvemos, para não perder nenhum
detalhe, dividi-las em três capítulos ou edições deste jornal. O primeiro
capítulo você passa a acompanhar a partir de agora:
ENTREVISTA
Zk –
Quem é o Montezuma
Montezuma
Cruz – Sou paulista de Presidente Prudente tenho 61 anos de idade, trabalho há
41, comecei no interior de São Paulo, tenho uma trajetória entre a fronteira
Brasil, Paraguai e Argentina até o estado do Maranhão, passei por Rondônia,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal e Bahia.
Zk –
Desde quando em Rondônia e em quais empresas?
Montezuma
Cruz – Entre 1976 e 1986. Comecei no jornal A Tribuna, depois trabalhei no O
Guaporé, Estadão do Norte, Empresa Brasileira de Noticias e sucursal do jornal
O Parceleiro. Fui correspondente do jornal do Brasil, Folha de São Paulo e O
Globo.
Zk –
Dentre os jornais de Rondônia qual o que você passou mais tempo?
Montezuma
Cruz – A Tribuna. Foi no período conhecido como da colonização, viajei bastante
pelo interior de Rondônia e coletei muitas informações a respeito da vida das
famílias de migrantes dos projetos do INCRA e muitas visitas a aldeias
indígenas não só de Rondônia, mas, do sudoeste do estado do Amazonas e algumas
no estado do Acre. No jornal O Guaporé foi o período das coberturas urbanas a
respeito da vida no bairro do Triângulo, movimento sociais, direitos humanos,
terra e mineração. Havia uma corrida muito grande pela cassiterita e havia uma
proibição antiga da Portaria do Ministério das Minas e Energia que impedia os
garimpeiros de minerar aqui. Existia uma mineradora poderosa chamada
Paranapanema, lembro que o advogado Acir Bernardes mandoubuscar em São Paulo a
pedido dos diretores da empresa, policiais supervisionados pelo famoso delegado
Fleurypara perseguir garimpeiros nas matas da região de Ariquemes.
Zk –
Houve confronto entre policiais e garimpeiros?
Montezuma
Cruz – O delegado Fleury mandou pra cá, policiais do Departamento Estadual de
Investigações Criminais – DEIC e esses policiais se embrenharam nas matas de
Ariquemes e sofreram revés muito grande e alguns morreram no confronto com
contrabandistas de minério que na verdade, eram ligados a traficantes de
cocaína e esse minério ia pra Bolívia em vez de ir para Volta Redonda no Rio de
Janeiro, isso deixou Rondônia numa situação muito difícil porque a polícia
local não dava conta de conter esse contrabando. Só uma vez que o delegado de
Patrimônio Walderedo Paiva conseguiu prender os traficantes que atuavam em
Campo Novo e Bom Futuro.
Zk –
Você conhece muitas histórias do tempo da colonização de Rondônia?
Montezuma
Cruz – Existem as histórias pitorescas e algumas tristes, por exemplo: no
Centro de Triagem em Vilhena o sujeito vinha do Paraná em busca de uma vida
melhor em Rondônia e trazia até cachorro vira lata pra vender. As histórias
sobre a vida sem recursos de quem vivia no interior assentados pelos Projetos
do INCRA. Quando era coordenador aqui o Bernardes Martins Lindoso ele não
gostava das reportagens da Tribuna. A gente mostrava, por exemplo: Os Projetos
Riachuelo em Ji Paraná e o Rolim de Moura onde as pessoas não tinham recursos e
conviviam com a malária e morriam dentro de suas próprias terras e os
sepultamentos eram feitos em redes. Isso foi motivo de muitos discursos do
Jerônimo Santa na Câmara dos Deputados. Naquele tempo se não se publicasse nos
jornais e transmitisse a noticia pelas rádios ninguém ficaria sabendo. Mesmo
com todas as dificuldades que Ji Paraná enfrentava, exportava arroz pra
Bolívia, ao mesmo tempo faltava óleo diesel e a Ceron promovia aqueles
racionamentos de energia e a Petrobras não permitia que o senhor José Gomes
(presidente da Ceron) comprasse fiado e ele chorava as mágoas pros jornalistas
e a gente publicava na Folha de São Paulo.
Zk –
Quem fazia parte da equipe da Tribuna?
Montezuma
Cruz – A Tribuna era um jornal formidável, quando cheguei o jornal já estava
plantado desde 1975, Vinicius Danin foi um dos precursores, Lucio Albuquerque e
Ivan Marrocos que vieram de Manaus e também existiam os repórteres entre eles
um com expressão nacional, era Edson Luiz Ferreira que era do Acre mais começou
a carreira aqui, depois trabalhou no Correio Brasiliense, no Zero Hora, no
Estado de São Paulo e foi assessor do Ministro da Justiça Marcio Tomaz Bastos;
O Nonato Cruz também começou sua carreira na Tribuna por onde também passou
Vismar Cafury e colunistas notáveis, entre os quais a gente destaca o Robertinho
Vieira.
Zk –
Por falar em Roberto Vieira o Lucio Albuquerque sugeriu que eu perguntasse
sobre uma determinada viagem a mineração e um robe cor de rosa. Por que o Lucio
insiste tanto nesse episódio?
Montezuma
Cruz – Essa história é um pouco fantasiosa. Fomos auma festa numa mineração a
convite da direção e ao chegarmos, não tinha aonde dormir a não ser em redes,
pois todos os acampamentos estavam ocupados e eu consegui um quarto a muito
custo, aí os amigosespalharam que eu havia dormido com o Robertinho Vieira.
Pior era que o Robertinho ria da história, mas, não desmentia e então ficou
essa crença de que nós havíamos dormido juntos. Pura gozação do Lúcio.
Frequentei muitas festas nesse interior e tive a sorte de conhecer a vida
interiorana como ela era nas glebas, nas minerações e até nas terras indígenas.
Zk –
Tem alguma história que envolve índios?
Montezuma
Cruz – A gente ia muito com o Apoena Meirelles às aldeias e os índios viam
relógios em nossos pulsos e queriam trocar por missanga, pra eles era o mesmo
valor e muitas vezes o Apoena tinha que advogar a nosso favor para não sairmos
sem o relógio. Fico surpreso que depois de muitos anos, aqueles índios que eram
guerreiros que usavam flecha para espantar os Capixabas que estavam ocupando a
terra deles por um erro da colonizadora Itaporanga que permitiu que eles
invadissem a terra Suruí. Lembro-me que em 2010 voltei lá depois de mais de
trinta e cinco anos e encontrei os mais velhinhos gordinhos, o Pajé e o Almir
Suruí apresentaram-me os antigos,que hoje são pais e avós e os meninos estudam
em Cacoal, houve uma integração muito grande com a sociedade, eles usam
computadores, fiquei surpreso em ver aqueles mapas que naquela época não tinha,
eles eram roubados na madeira e no peixe. Hoje você vê esses índios fazendo
planejamento para os próximos 50 anos, para que essa floresta fique em pé, para
eles quem sabe, ganharem crédito de carbono. O único deputado que brigava por
eles Eduardo Valverde morreu e a Comissão Especial de Mineração na Câmara
fraquejou e só se vê deputados paulistas interessados no minério de diamante um
mercado regulado pelos Judeus.
Zk – O
que mudou do jornalismo daquela época para o de hoje?
Montezuma
Cruz – Hoje não se vê mais uma Rondônia como naquela época. Os jornais não
fazem mais coberturas, as televisões de vez em quando fazem. Nós tivemos sorte
em contar com patrões muito bons como seu Emanuel Pontes Pinto e o Rochilmer
Rocha, por exemplo, eles gostavam que a gente viajasse. Paulo Queiroz era o
editor do O Guaporé e quando eu trazia as matérias da colonização da região de
Vilhena, Cabixi, Chupinguaia, Colorado e Cerejeiras ele abria manchete. Nunca me
esqueço de duas manchetes: “Só resta mesmo a gleba que um dia foi
Prosperidade” e a outra é “Uma aventura, mata adentro”, mostrando os
colonos gaúchos chegando à região de Vilhena. O Guaporé era um jornal
guerreiro, corajoso embora tenha sido um jornal no passado, ligado a Aluízio
Ferreira, mas, nos anos oitenta, abriu espaço, muita gente se revelou ali.
Zk – O
que o levou a se tornar, vamos dizer assim, num repórter andarilho?
Montezuma
Cruz – Foi aqui mesmo. Saí de Presidente Prudente e fui pra Campo Grande,
estava com 22 anos de idade, com a intensão de realizar um sonho que era
conhecer a Madeira Mamoré. Via na revista O Cruzeiro matérias sobre Rondônia e
fiquei querendo saber mais. Em Campo Grande aprendi a fazer reportagem policial
na rádio Cultura e no jornal Correio do Estado. De lá eu pedi ao correspondente
da sucursal da Folha de São Paulo Fernando Bastos para me transferir para Porto
Velho e vim no peito e na raça e fiquei por dez anos com direito algumas idas e
voltas graças ao Vinicius Danin que me arrastava para trabalhar no Diário de
Cuiabá. Na somatória dessa década consegui ser andarilho por aqui, visitando as
aldeias indígenas. O Odacir Soares mesmo, me convenceu a acompanhar o
Francelino Pereira presidente da ARENA nas viagens pela Amazônia. Daqui fui pra
Cuiabá de lá pra São Luiz do Maranhão onde trabalhei um ano no jornal do Zé
Sarney.
Zk –
Essas viagens com Francelino te levaram a ser assessor parlamentar em Brasília?
Montezuma
Cruz – Não! Foi depois, fiquei seis anos em Foz do Iguaçu (de 91 a 96) na Folha
da Fronteira depois de ter trabalhado em Maringá, quando sai de Foz fui pro
interior de São Paulo trabalhar num jornal pequeno chamado “Debate” em Santa
Cruz do Rio Pardo durante dois anos e então os amigos de Brasília me chamaram
para fazer cobertura dos comícios do Joaquim Roriz para o grupo do Cristóvão
Buarque isso em 1998. Certo dia encontrei o Cristóvão num churrasco na casa do
Amir Landoe ele perguntou se era eu que fazia os relatórios, pensei comigo, ele
vai me arrumar um emprego, que nada, quem me empregou foi o Amir Lando. Fiquei
seis anos assessorando o Amir.
Zk – E
as viagens continuavam?
Montezuma
Cruz – Em 2006 trabalhava no Diário do Norte em Maringá e voltei para Brasília
e encontro Fernando Melo deputado federal pelo Acre, foi aí que aumentaram as
viagens, conheci mais rios, mais pessoas, mais estados. Entramos em boa parte
do Pará, fomos a Bahia e no Acre só não conheci Tarauacá, cheguei até o Peru.
Fernando Melo defendia o melhoramento genético da Mandioca, aliás, a Mandioca é
da Amazônia, segundo DNA da Embrapa, nasceu aqui perto de Porto Velho há mais
de 10 mil anos, está em 150 países. Então essa minha vivencia é mais amazônica
do que sulista embora tenha ficando durante seis anos na fronteira Brasil,
Argentina e Paraguai e ali viajei bastante pra conhecer a realidade Argentina e
a realidade do Paraguai. Posso dizer que não conheça Buenos Aires, mas, conheço
toda a região de Missiones. Ali a gente constatou que a pobreza era tripla. No
tempo da ditadura de Alfredo Stroessner levaram muitos brasileiros pra lá e
plantaram muita soja e de uns tempos pra cá, vem expulsando o que chamam de
brasiguaios e esses colonos vem pras terras do Pontal do Paranapena. Na
Argentina vi adolarização levar o país ao fundo do poço no governoMenem e no
período de 1991 vi nascer o Mercosul.
Zk –
Essas viagens o levaram a escrever o livro “Do Jeito que vi?
Montezuma
Cruz – O livro...
Zk –
Vamos deixar para falar sobre o livro na próxima edição!
Montezuma Cruz – Histórias de
um repórter andarilho - Final
No capítulo de hoje, o
jornalista e escritor Montezuma Cruz, fala de como nasceu o livro “Do Jeito Que
Vi” além de nos deixar por dentro, de como era a vida boêmia em Porto Velho no
tempo do garimpo de cassiterita. “Quantas vezes amanheci no bar Arapuca que
ficava no Trevo do Roque apreciando o dia raiar e o Paulo Queiroz admirando o
orvalho nos pára-brisas dos caminhões ao lado das nossas ‘amadas”. O jornalista
que hoje presta serviço no Departamento de Comunicação do Governo de Rondônia –
Decom lembra dos tempos do nascimento do Mercosul em 1991. “Participei de uma
reunião em Manaus na qual os empresários da Zona Franca não aceitaram vender
seus produtos em Foz do Iguaçu alegando que ‘aquilo é terra de contrabandista”.
Lembra de quando um policial da
PM ao dar o baculejo na bolsa de um jornalista apresentador do Jornal de
Rondônia encontrou um Ruge e disse: “Isso é jornalista coisa nenhuma, é uma
bichona”.
As histórias do Repórter Andarilho apesar de
termos divulgado que seriam três edições, termina com a publicação deste
capítulo.
ENTREVISTA
Montezuma Cruz – ... Na Argentina vi a
dolarização levar o país ao fundo do poço no governo Menem e no período de 1991
vi nascer o Mercosul...
Zk – Essas viagens o levaram a escrever o
livro “Do Jeito que vi?"
Montezuma Cruz – O livro não conta nem a
metade das andanças, ainda devo muito pra Rondônia, espero no próximo livro
publicar o capítulo “Ouro” essa história já tem 30 páginas escritas. O título
Do Jeito que Vi é porque nem sempre do jeito que você ver é igual o que o se
colega profissional, o político, o religioso vê. No caso do nosso livro é do
jeito que o repórter viu!... Então foi o surgimento do Mercosul em 1991, a
União Européia adotou o Euro o Mercosul nasceu e não tinha moeda. Era um
fenômeno que a gente via na discussão sindical, em debates polêmicos entre
engenheiros agrônomos, no controle fito sanitário, no controle de fronteira, da
harmonia cultural que nunca houve. Os Argentinos divulgavam o Tango os
Paraguaios a Polca e a Guarânia e nós com o nosso samba e outros ritmos, porém,
não há a integração cultural. Na argentina vi uma vantagem, tinha mais escola
ensinando português naquelas provinciais do que nós ensinando espanhol.
Zk – Em suma
Montezuma Cruz – O Mercosul era aquilo ali.
Agora foi que eles estenderam para a Venezuela, Bolívia, mas ele nasceu mais um
acordo comercial daqueles quatro países, Uruguai, Brasil, Paraguai e Argentina.
Tem um detalhe importante que precisa ser dito. Nós com essa propulsão que
existem aqui em Rondônia e o Acre de conseguir exportar esse crescimento
vertiginoso dos grãos do Noroeste de Mato Grosso, a ferrovia que vem de Mato
Grosso traz pra discussão, pro debate um acordo comercial muito maior. Como é
que vamos enfrentar os Estados Unidos e o México se não temos um Mercosul que
abranja o Brasil todos. Se o Brasil é sócio do Mercosul pressupõe-se que desde
lá do Caburai até no Chuí o acordo vigore o fabricante de calçado, o fabricante
de suco os colares de pera dos índios tem que ter preço tem que ter menos
taxação. Percebi umas desavenças muito grandes.
Zk – Por exemplo?
Montezuma Cruz – Não havia acordo e com isso
um fato pitoresco aconteceu, prenderam 14 cavalos de um circo que ficaram
retidos na Aduana passando fome e morreram dentro de um container gigante
esperando a visita da Vigilância Sanitária. Vi muita greve de camionheiros,
muita mercadoria de sacoleiros serem apreendidas e muito contrabando saído de
avião. Quando fiz uma reportagem que consta do livro, apenas umas 20 linhas,
publicada na Folha de Londrina falando que o contrabando aéreo era superior dez
vezes a dos sacoleiros, o Comando Aéreo de Curitiba Sindacta s pronunciou, as
autoridades da Receita Federal de Foz do Iguaçu se pronunciaram, era realidade
e é até hoje o avião sai de Quito carregado de televisores, equipamento de
informática e praticamente ninguém fiscaliza e o sacoleiro é o de menos. Os
sacoleiros é uma necessidade pra Foz que tem o quinto parque hoteleiro do País,
tanto que já houve uma proposta de se vender os produtos da Zona Franca de Manaus
lá, para fazer frente aos produtos chineses, tailandeses.
Zk – Por que não deu certo essa proposta?:
Montezuma Cruz – O Clube de Diretores
Lojistas de Manaus na Páscoa de 1993. Eu estava presente na reunião, não
concordaram alegando que ali era reduto de contrabandistas, isso aí não presta
é contra o Brasil deixa esse negócio de Foz do Iguaçu pra lá, deixaram de
vender com o aval do governo federal e da prefeitura de Foz. São umas coisas
contraditórias que percebi na profissão nas minhas coberturas, projetos que
poderiam dar certo. Da mesmo forma se a Funasa existisse nos tempos no tempo de
Apoena Meirelles a situação indígena em Rondônia era outra, não haveria tanta
matança de garimpeiro, tanta matança de índios. Quando se fala na matança
daqueles 29 garimpeiros em 2004 tem que se falar também que há 40 anos os
índios foram trucidados lá no Norte de Mato Grosso, Serra Morena, no Paralelo
11 quando mataram índias grávidas. Mataram também no Seringal Muqui, o senhor
Raul Espanhol na época comandava um grupo de jagunços pistoleiros, que matavam
índios assim brincando. As mineradores utilizavam em suas guaritas Fuzil com o
cano serrado, não sei pra que, mas, eram bem guarnecidas.
Zk – Agora vamos lembrar os tempos do
jornalista boêmio do tempo que era bacana frequentar as boates do bairro do
Roque?
Montezuma Cruz – A boemia era regra e essa
regra a gente cumpria.
Deixávamos a redação totalmente sóbrios. O Lúcio
Albuquerque e o Ivan Marrocos no período da Tribuna quando encerrava a edição,
eles iam pros seus lares e nós íamos pra noite, no bairro do Roque me lembro
até hoje, havia três boates Copacabana, Paissandu e Rio Mar e tinha de quebra o
Bar chamado Arapuca. Quantas vezes, vi o sol nascer no Arapuca o Paulo Queiroz
achava aquilo bonito poético, o sol nascendo iluminando os pára-brisas dos
caminhões e a gente ali com nossas amadas, Não há mistério nenhum em dizer o
quanto nossas companheiras sofreram naquela época, Tinha o Degas que vendia
sopa no meio da rua e o seu trailer era puxado por um boi de carroça. Quando me
encontrei com o Cloter Motta e o Maurício Calixto que foram conhecer essa noite
que tantos falavam, foram conhecer no auge do garimpo. Quantas vezes vimos os
garimpeiros fechar boate ninguém entrava ninguém saia. Vimos também à polícia fazer
uns baculejos por lá!
Zk – Tem algum fato pitoresco dessa época?:
Montezuma Cruz – O Mauricio Faref
correspondente da rádio Nacional, ele apresentava o Jornal de Rondônia no tempo
do Ubiratan Sampaio, era numa casinha azul que até hoje ta ali na Gonçalves
Dias, naquele tempo não tinha externa era só o sujeito apresentando, assim
aconteceu com o Bonifácio que apresentava o Bom Dia Rondônia do qual fui o
primeiro redator por ordem do Eudes Lustosa. Veja só, Mauricio Faref no
baculejo abre a sacola pra mostrar pro PM o que existia dentro e lá estava o
RUGE. Aí o PM reagiu: Esse cabra diz que é jornalista e carrega ruge na bolsa
isso é uma bichona. O Ruge era usado para tirar o brilho da face na hora da
apresentação do jornal. Para o PM era coisa de viado!
Zk – Sempre no Roque?
Montezuma Cruz – A gente visitava outros
pontos, outras boates conhecidíssimas também como a Anita, Maria Eunice,
Tartaruga, Cambuquira a gente passava por lá e se o ambiente não estivesse
propício para nossas aventuras à gente ia pra Sopa do Januário.
Zk – Fala a respeito da boate do Junuário?
Montezuma Cruz – Era igual à Taba do Cacique
mais era uma Taba pobre o Carmênio mantinha a Taba eclética frequentada pela
alta sociedade, políticos, jornalistas, advogados, dirigentes de empresas
mineradoras altos funcionários do governo e no Januário era um bailão daqueles
arrasta pé parecidos com os bailes gaúchos. Seu Januário atendia muito bem a
gente. Ele tinha uma memória incrível tanto que um dia o encontrei e já não
existia mais a boate, era uma loja de roupa e ele perguntou “E o outro?” Ele
queria saber do Jorcenez Martinez que era um andarilho da noite também. Nossas
andanças pela noite de Porto Velho coroaram o período jornalístico, No dia
seguinte a gente chegava ao jornal e o assunto do dia era quais pontos a gente
foi.
Zk – E família?
Montezuma Cruz – Tenho família constituída.
Meus três primeiros filhos foram criados aqui em Rondônia. Depois tive mais
três com uma segunda esposa e mais dois com uma pessoa com quem me relacionei.
São oito filhos mais dois netos que criei em Brasília. Todos os filhos
crescidos e se encaminhando pra vida. Uma das filhas é eximia cozinheira em
Campinas estudou em Goiânia, outra lança nesta semana em Brasília o livro
chamado “Plágio” uma pesquisa que levou muito tempo e um tema muito recorrido
no Brasil hoje. Fico feliz em ver meus filhos encaminhados. Tenho uma filha que
hoje é médica que nasceu aqui na Maternidade Darci Vargas.
Zk – Você chegou a escrever pro Diário da
Amazônia?
Montezuma Cruz – Sempre fui admirador do
Diário da Amazônia. O Emir Sfair quando veio fundar o jornal com o Valdir Costa
fizeram uma incursão no jornalismo de Rondônia nos costumes locais da mesma
maneira, que fez o Mario Calixto no O Estadão do Norte trazendo também pessoas
do Paraná como foi o caso do Paulo Martins, Carlos Sperança. O Diário se
consolidou, hoje é um jornal que abre muito espaço aos temas econômicos,
culturais e também políticos é um jornal que tem opinião. É um salto muito
grande em tempo de mídia digital, ter um jornal impresso de qualidade.
Zk – Para encerrar essa nossa conversa. Passa
para a juventude que hoje está fazendo jornalismo o que devem fazer para se
tornar ou pelo menos chegar perto, da competência de um repórter como você?
Montezuma Cruz – Não é bem um segredo.
Fazendo parte dessas aves antigas que aprendeu quando era repórter de esporte.
Comecei fazendo reportagens esportivas dentro do vestiário de uma cidadezinha
do interior de São Paulo e comecei a frequentar a redação. Naquele tempo não havia
curso de comunicação a gente estudava até por correspondência, Instituto
Universal, Instituto Técnico Profissional do Rio de janeiro, meu pai pagava
quinze cruzeiros (CR$), eu entregava O Estado de São Paulo pra ele e ele me
pagava CR$ 15. Aí começava aprender diagramação, pirâmide, lide, sub lide, de
que maneira você apura uma matéria e pode guardá-la para publicar no fim de
semana (hoje isso é impossível). O segredo é se dedicar sempre a profissão com
vontade, é aquilo que se diz: "Lê até bula de remédio”. Posso dizer, vim
ler bula de remédio agora, depois dos sessenta, mas, lia Almanaque Capivarol,
Almanaque do Biotônico Fontoura. Aqui em Porto Velho conseguia ler dois três
jornais de São Paulo e em Brasília conseguia ler quatro cinco. Antes do computador,
antes da Internet quem teve a sorte de militar na imprensa naquela época
guardou isso aí dentro de si como uma arma, uma alavanca pra poder alcançar a
mídia digital. Confesso a você, sou analfabeto em Watsapp e até em telefone
celular.
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