Cidadão
de Ji Paraná por excelência
Durante a feira “Rondônia
Rural Show” que aconteceu em Ji Paraná no final do mês de maio passado,
visitamos o pioneiro da comunicação regional Arlindo Xavier, com o objetivo de
ouvir sua história vivida no município, que foi criado pelo presidente Ernesto
Geisel em 11 de outubro de 1977. “Não teve festa porque a emancipação foi um
ato totalmente governamental, sem a participação da população”. Arlindo
Xavier é o jornalista/radialista polêmico mais respeitado de Rondônia, tanto
que é consultado por tudo quanto é autoridade. Assinou a Ata de fundação do
Clube Vera Cruz que até hoje é o maior clube social de Rondônia e jamais
aceitou título honorário de cidadão Ji Paranaense ou Rondoniense. “Se
nasci no Brasil sou cidadão de todas as cidades brasileiras, sem precisar de um
papel que diga isso”. Arlindo Xavier é pioneiro de Rondônia
Entrevista
Zk – Por que veio para
Rondônia
Arlindo Xavier – Por eu ser
por natureza, aventureiro e por uma razão trágica, que foi a morte da minha
filha aos 12 anos de idade em Campo Grande. O lugar que achei foi Vila
Rondônia, aonde cheguei num domingo 4 de fevereiro de 1964.
Arlindo Xavier – Basicamente
nada, tinha um núcleo administrativo do município de Porto Velho cujo
administrador era o acreano Clóvis Arrais Chaves. Tinha dois times de futebol o
Vera Cruz e o Vila Nova então comecei a me entrosar com o pessoal do Vera Cruz,
foi nessa época que eles queriam acabar o time de futebol e eu que era espírito
de porco, avacalhei com a reunião. Não tem clube nenhum, vocês vão acabar o
que? É só não jogar mais e pronto, não tem mais time. Foi então que surgiu a
idéia de se criar o Clube Vera Cruz, formamos uma comissão, eu fiquei
encarregado de elaborar os estatutos. Lavrei a Ata de fundação e depois o Dr.
Claudionor Roriz que assumiu a presidência, meteu a cara e construímos a sede.
Até hoje o Vera Cruz é o maior clube social de Ji Paraná e de Rondônia.
Zk – Voltando a suas
origens?
Arlindo Xavier – Nasci na
ilha de Cananéia o núcleo urbano mais antigo do Brasil, no dia 1º de novembro
de 1926 quer dizer, vou fazer 88 anos de idade. Martim Afonso aportou em Cananéia em 1531 e
fundou São Vicente em 1532. Quando ele chegou já existia o porto do famoso
Bacharel que tinha um exército grande de índios e escravos. De lá saí pra São
Paulo, Paraná, Mato Grosso e Rondônia.
Zk – Quando é que surge o
jornalista, comunicador?
Arlindo Xavier – Desde
quando estudava o segundo ano do curso Clássico em São Paulo onde fundamos um
clube chamado “Centro de Oratória”
que existe até hoje.
Zk – E em Ji Paraná?
Arlindo Xavier – Aqui comecei
na hoje rádio Alvorada fazendo comentários no programa do Camata. Depois passei
sete anos em Porto Velho e criei o programa “A Hora do Povo” que até hoje é apresentado na Rádio Rondônia do
Odacir Soares. O nome foi tirado do MR8 que tinha um jornal com o nome “Hora do
Povo” acrescentei apenas o “A”. Fui jornalista no Paraná, em Campo Grande onde
criei o jornal “Panfleto” inspirado no Pasquim. Já em Rondônia trabalhei no
jornal “Sete Dias” em Porto Velho do qual fui diretor. Quando vim para Ji
Paraná passei a escrever artigos no jornal “A Palavra” do Samuel Garcia, Dionísio
Xavier da Silveira – Dió e do Nelson Townes de Castro e em 1976 tentei criar o
jornal “O Gy Paraná”, com “Gy” porque essa é a grafia oriunda dos indígenas.
Zk – Como foi o movimento
para emancipar Ji Paraná, quem encabeçou?
Arlindo Xavier – Foi um
movimento direto do governo do território que a época tinha como governador o
Humberto da Silva Guedes. Como eu tinha feito a campanha do Odacir ele me
encarregou de coletar assinaturas de eleitores para mudar o nome de Vila de
Rondônia para Ji Paraná, alguns moradores entre eles eu, preferia que o nome
permanecesse Vila de Rondônia, mas o governo e o pessoal da Arena resolveu
colocar Ji Paraná em função do rio que banha a cidade. Quem sancionou a Lei criando
o município foi o presidente Ernesto Geisel no dia 11 de outubro de 1977.
Zk – Quem foi o primeiro
prefeito de Ji Paraná?
Arlindo Xavier – Depois que
saiu o Clovis Arrais veio pra cá um engenheiro chamado Valdecir que não deu certo,
aí mandaram o Walter Bártolo. Fui encarregado de fazer o discurso de saudação e
disse: Finalmente mandaram um igual a nós pra cá, um sujeito que vai governar
isso aqui sem frescura. Ele foi um ótimo administrador e quando a Vila passou a
município foi o primeiro prefeito nomeado, depois dele veio o Nunoy, Canuto,
Lamego. Em 1982 aconteceu a primeira eleição para prefeito e o Roberto Jotão
Geraldo foi eleito.
Zk – Como foi a festa da
emancipação?
Arlindo Xavier – Foi uma
coisa apagada. Foi estritamente burocrática, não teve a participação do povo.
Só depois de alguns anos, passamos a comemorar a data e assim mesmo comemoramos
na data errada. Comemoramos no dia 22 de novembro quando a Lei de criação do
município é de 11 de outubro. Não houve a instalação. A Lei que criou o
município dizia o seguinte: O município será instalado com a posse da primeira
câmara de vereadores, então não houve instalação, o município era apenas um
apêndice do governo já que o prefeito era nomeado e prestava contas ao governo
do Território.
Zk – Lembro que quando ainda
era Vila de Rondônia vocês formavam uma confraria bastante sintonizada. Quem
fazia parte dessa confraria?
Arlindo Xavier – O Walter
Bártolo cantava, tocava violão e bebia, Claudionor Roriz que foi senador bebia
muito, o Waldir Estrela, José de Abreu Bianco bebia demais, Nelcides da Casa
Saudade, Luiz Defunto é claro que eu também tomava as minhas canas.
Zk – Quando instalaram a
Comarca de Ji Paraná quem foi o primeiro Juiz de Direito?
Arlindo Xavier – Antes da
eleição de 1982, criaram o fórum de Ji Paraná e transformaram em Comarca, o Juiz
foi o Dr. Edmundo. Se você tiver interesse na história vou lhe contar a
história dos cartórios em Ji Paraná!
Zk - Claro que temos
interesse. Vamos lá?
Arlindo Xavier – Vilhena,
Pimenta Bueno, Cacoal, Vila de Rondônia não tinha cartório. Pra gente reconhecer
uma firma tinha que ir a Porto Velho aí o Nunoy que era vereador em 1976, me
perguntou, “o que Vila de Rondônia precisa?” e eu numa ressaca dum porre que
tinha tomado no aniversário do Bianco, falei pra ele, vocês são uns vereadores
de merda! É um absurdo a gente ter que andar mais de 300 km para reconhecer uma
firma, por que você não apresenta uma indicação ao Juiz de Porto Velho que pelo
menos mande uma pessoa para reconhecer firma aqui em Ji Paraná! Resultado, ele
pediu e eu totalmente embriago datilografei a indicação, um troço totalmente
deselegante e ofensivo, mesmo assim, foi apresentada. O presidente da Câmara
era o Zé Viana que colocou a indicação em votação e foi aprovada por
unanimidade, o Juiz era um cidadão de sobrenome Figueiredo um jovem de seus
26/27 anos, quando recebeu aquilo, ficou puto, isso que está aí é mentira, a
pessoa andar mais de 300 km para reconhecer uma firma é mentira, o escrivão me
contou o episódio, o Juiz mandou a indicação para Brasília então criaram uma
filial do cartório de Porto Velho. O primeiro cartorário andou fazendo umas
besteiras e então nomearam o Bianco que foi o primeiro Tabelião da Vila de
Rondônia.
Zk – Casado com quem e
quantos filhos tiveram?
Arlindo Xavier – Completei
53 anos de casado com a dona Agostinha Xavier tivemos seis filhos, uma filha
morreu em Campo Grande.
Zk – Sobre a Ji Paraná de
hoje?
Arlindo Xavier – É um
município de economia sólida, não tem tido prefeitos excepcionais, mas, tem
tido prefeitos razoáveis, A cidade cresceu muito, hoje tem mais de 100 mil
habitantes, é uma cidade mais ou menos estruturada, não tem favela, a miséria é
administrável, como já disse, é a melhor cidade que encontrei pra viver.
Zk – Você já foi homenageado
pelo município ou pelo estado?
Arlindo Xavier – Não! Houve
tentativa de dois vereadores no sentido de me conceder o título de Cidadão
Honorário de Ji Paraná e eu não aceitei por uma razão: Não preciso desse título,
porque sou cidadão de Ji Paraná. Por quê? Porque quando nasci em Cananéia já
era cidadão de Rondônia, porque nasci no Brasil. O Jesualdo quando era deputado
estadual (hoje é prefeito de JI Paraná) também externou a possibilidade de
apresentar moção me reconhecendo como cidadão rondoniense, agradeci a bondade
dele, mas não aceitei também, acho que não fiz nada em Rondônia para merecer o
Título de Cidadão Honorário do Estado.
Zk – Para encerrar. O que
devemos fazer para chegar aos 88 anos assim em forma?
Arlindo Xavier – Em primeiro
lugar não ter medo; segundo, não levar a vida muito a sério. Pra viver muito
tempo tem ser meio largadão. Cheguei a Vila de Rondônia com 47 anos de idade,
sem conhecer ninguém e sem dinheiro, é loucura. O corpo decaiu um pouco, porém
a mente permanece intacta.
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