Bernardo
José Pereira
Às
vezes sou comparado com o Chico Mendes, mas, não é correto! Começa que o Chico
Mendes nunca foi ambientalista. Ele era um sindicalista que defendia os
seringueiros do Acre. A diferença é que eu como ambientalista, já plantei mais
de 40 milhões de mudas de árvores nativas da floresta amazônica e ele nunca
plantou um pé de capim!
Assim Bernardo começou nossa
conversa em seu Parque Ecológico Lagoa Azul situado nas redondezas de Costa
Marques no dia 6 de junho passado, um dia após o dia do Meio Ambiente. Entre mudas
de tudo quanto é espécie de árvore nativa, inclusive da sua mais nova paixão,
que são as mais diversas e exóticas mudas de palmeiras do mundo. “Passei
a investir nas mudas de palmeiras, porque elas são mais fáceis de comercializar”.
Bernardo é ambientalista por convicção, na luta pela preservação da natureza já
foi até preso. Ele desenvolveu a plantação de Açaí e Cupuaçu de touceira e por
isso, foi matéria no Globo Rural e já fez até palestra em evento da ONU. É a
segunda vez (a 1ª foi em 1998), que entrevistamos o Bernardo e a cada conversa mais
o admiramos.
ENTREVISTA
Zk – Vamos a uma breve
história da sua vida?
Bernardo – Nasci na extrema
do Maranhão com o Pará em Imperatriz e logo minha família se mudou para Óbidos
onde me criei, hoje estou com 67 anos de idade.
Zk – E Rondônia?
Bernardo – Cheguei a
Rondônia nos anos setenta. Vou te passar, antes de prosseguir essa conversa, a
seguinte informação: O Açaí de touceira e o Cupuaçu trouxe de Santarém (PA) em
1970, já em 1972 comecei a distribuir mudas até Guajará Mirim. Dava duas mudas
de Cupuaçu e duas de Açaí pra cada morador. Na época eu vendia produto para
padaria e aproveitava para distribuir as mudas.
Zk – Qual o objetivo dessa
distribuição de mudas?
Bernardo - Queria caçar um local
para desenvolver meu trabalho, mas, quando chegava num lugar não tinha apoio,
era muita agressão à natureza, a BR 364 era muito violenta, parei em Jaru, Ji
Paraná que ainda não eram nada naquele tempo, pra piorar chegou o Jorge
Teixeira.
Zk – Por que pra piorar?
Bernardo – Não dava certo
porque ele era ditador e eu ativista, então resolvi ir para Guajará Mirim, um
lugar desprezado de tudo e então vim à Costa Marques e me apaixonei. As serras
de Costa Marques cheiravam a natureza. Cheguei a Costa Marques no dia 7 de
Setembro de 1980.
Zk – Então?
Bernardo – Então disse, aqui
é o lugar que vou ficar. Quando os madeireiros chegarem por aqui já estarei bem
aprumado. Por ignorância, agora descobri que era ignorância da minha parte, eu
queria repor toda a madeira que os madeireiros tirassem. Foi aí que começou meu
trabalho, queria fazer todas as mudas retiradas pela indústria da madeira, fiz
40 milhões, mas, não deu certo, porque eles voltavam a cortar. Fiz um acordo
com o ex-deputado Hamilton Casara que era o chefe em Rondônia do IBAMA ele
disse, “vou fazer para Costa Marques, porque o governo não quer isso, ele quer
é arrecadar com o Fundão, mas vou ver o que faço”. To falando de
reflorestamento utilizando árvores nativas, firmei compromisso de fazer Dois
Milhões de mudas por ano.
Zk – Dessas mudas, quais as
mais difíceis de conseguir semente?
Bernardo –Tem várias! No
caso do Mogno era uma verdadeira operação de guerra, a gente tinha que subir na
árvore sem ter equipamento, no meu caso que cheguei a ir buscar semente em
árvore com até 60 metros de altura, as pessoas diziam: Lá vem o doido do
Bernardo! O Mogno é um dos mais difíceis, a semente abre lá em cima, vem o
vento e joga e quando ela cai no chão o bicho come, outra coisa, os madeireiros
não gostavam de me ver entrando no mato, fui proibido de entrar em muitos
lugares, porque eles estavam tirando madeira. Fiz 6 Milhões de mudas de Mogno.
Zk – Como é a história do
campeonato de pesca de Costa Marques?
Bernardo – Quando cheguei a
Rondônia fiquei assustado. Em todo canto tem campeonato de pesca, mas, esses campeonatos
acontecem com decência, o sujeito compra uma câmera fotográfica, uma fita
métrica e uma balança, então o peixe que o competidor pega é pesado, medido,
fotografado e devolvido ao rio. Quando cheguei em Costa Marques o campeonato
acontecia com quatro, cinco pessoas bêbadas, todas nativas, era aquela
barrigona de fora com a viola velha roca tocando e bebendo cachaça. Comecei a
bater no 1º prefeito Ruy Almeida e fui preso, ele era ditador, entrou o outro
que também não deu importância e depois veio o Hélio da Ceron e durante um
almoço aqui em casa, ele se aborreceu com as minhas cobranças e foi embora,
soltando fumaça pela venta que nem touro brabo.
Zk – Detalha essa história
pra gente?
Bernardo – A professora
Carolina – Carol que deve estar lecionando na UNIR hoje, comandava o Movimento
“Água Pé”, naquele tempo houve um movimento muito forte que pregava a
conservação da floresta, construíram um hotel em Pedras Negras, uma casa de
Palafita no meio do rio Guaporé, representando a casa de seringueiro. Certo dia
convidei esse povo prum almoço aqui em casa, inclusive o prefeito Hélio veio,
Levei todos para visitar o Parque das Orquídeas falei do meu projeto de mudas. Faltava
uma semana para o Campeonato de Pesca, o secretário de turismo estava junto,
então reuni todo mundo e falei: Hélio quer melhorar esse campeonato, por que tu
não segue a experiência de quem conhece, de quem andou mais do que tu? A Carol
ficou constrangida porque briguei com o prefeito. Ele ficou chateado e disse
que não mudaria, foi então que ameacei entrar no Mistério Público solicitando a
suspensão do torneio. Ele nem acabou de almoçar, se levantou e foi embora.
Zk – E você entrou com a
liminar suspendendo o evento?
Bernardo – Passado dois
dias, chegou o dito secretário de turismo e lá de fora gritou, pronto Bernardo,
vem de lá, me dá uma abraço! Amanhã vai começar o Festival de Pesca, taqui o Regulamento,
vamos mudar em cima da hora, mas, vai ser do jeito que você quer. Você é
convidado especial do prefeito. Pra encurtar a história, a partir de então o
Festival passou a reunir tanta gente que virou Festival de Praia que acontece
até hoje no mês de setembro.
Zk – Agora a campanha é contra
a utilização de um veneno que estão usando por aqui que acaba com a floresta. Que
veneno é esse?
Bernardo – Existe duas
pessoas preocupadas com isso aqui em Costa Marques, eu e o Promotor, ele fez
uma placa e colocou na rodoviária e alguém mandou arrancar no mesmo dia. É o
seguinte: O fazendeiro não quer mais pagar pararoçar. Esse povo vai a uma
cidade onde vende esse produto legalizado, hoje existem nove espécie de
produtos que são utilizados na agricultura, que apesar de proibidos pela ANVISA,
estão sendo vendidos na base da Liminar. Eles vão compram dois, três baldes que
não dá para cobrir a fazenda toda, pega a Nota Fiscal direitinho, chega à
fazenda, secam os baldes e vão a Bolívia que é ali do outro lado do rio, enchem
os recipientes com produto de novo e passam se for o caso pela fiscalização com
aquela Nota Fiscal brasileira e tá tudo certinho novamente. Esse produto é uma
arma química conhecida por toda engenharia o nome dele é Tordo, um material que
vem da China é o adubo do crime organizado. É o mesmo que foi utilizado pelos
Estados Unidos para dizimar a floresta do Vietnã durante a guerra. É uma
desgraça esse veneno que estão utilizando no pasto. O Idaron faz o que pode,
mas, sozinho não dá conta. Aliás na nossa avaliação, o melhor fiscal que atua
na BR 429 é o Idaron.
Zk – É cancerígeno?
Bernardo – O povo de
Barretos teve aqui fazendo pesquisa e me contaram que Rondônia é campeão em
casos de câncer e Costa Marques é campeã de Rondônia.
Zk – Agora o negócio é
plantar palmeira?
Bernardo – Ano passado fiz
uma mudança, aderindo a um viveiro meio comercial com o intuito de vender
alguma coisa, espécie florestal não vende, então passei a cultivar mudas de
palmeiras de todas as espécies, inclusive algumas que estão em extinção. Junto
dinheiro com o dinheiro da minha aposentadoria e compro sementes de palmeiras.
Tenho palmeira de todo tipo para decoração de ambientes.
Zk – Quem quiser comprar faz
o que?
Bernardo – Liga para (69)
8415-1495 tem o site parqueecologicolagoaazul.blogspot.com.
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