Em homenagem à memória do jornalista correspondente
do Diário da Amazônia no Cone Sul de Rondônia,
Afonso Locks falecido na madrugada de ontem 27, no Hospital de Base em
Porto Velho, vamos publicar a entrevista que fizemos com ele e que foi
publicada na edição do dia 18 de agosto de 2013.
Afonso conta que por engano veio parar em Rondônia: “Ao ver o nome Ariquemes na
rodoviária de Cascavel achei bonito e como tinha 17 dias para assumir o cargo
de escrivão no fórum de Curitiba, pensando que Ariquemes ficava perto, comprei
passagem na Eucatur e quando dei por mim, estava em Rondônia”. Afonso por 16 anos atuou como Frade Capuchino
no Paraná e ao deixar a vida religiosa, passou no concurso para escrivão do
fórum de Curitiba e então aconteceu o episódio narrado acima. Além de
correspondente do Diário da Amazônia foi até ontem 27, editor do jornal “Correio de Noticias”.
E N T R E V I S T A
Zk – Há quanto tempo você milita na imprensa?
Afonso Locks – Praticamente há vinte sete anos.
Comecei na década de oitenta, inclusive duas vezes funcionário do jornal Diário
da Amazônia. A primeira durante sete anos quando saí e fui para a Folha de
Rondônia onde fiquei por 13 anos e agora de novo estamos aqui no Diário como
correspondente no Cone Sul de Rondônia.
Zk – Você veio pra cá de onde?
Afonso Locks – Vim do estado do Paraná em 1983 e
logo em seguida trabalhei um período no governo estadual na época do Teixeirão,
depois acabei pedindo demissão coisa que não consegui, pois o governo não
aceitou me demitir e então me demiti por conta própria.
Zk – Por que o governo não aceitou seu pedido de
demissão?
Afonso Locks – Morava em Vilhena e então vim à
Porto Velho pedir demissão e não aceitaram, aí achei um carimbo da Ilza
Caculakis e carimbei minha carteira de trabalho dando baixa e eu mesmo assinei
e retornei a Vilhena. Ainda depositaram na minha conta seis salários. Peguei o
dinheiro e fiz um depósito na justiça em nome do governo estadual.
Zk – Em qual órgão do governo você prestava
serviço?
Afonso Locks – Era lotado na prefeitura de Vilhena
no gabinete do prefeito Élcio Carlos Rossique era o vice-prefeito do
Vitório Abraão que havia sido cassado. Minha função como assessor parlamentar,
era elaborar os Projetos do executivo que eram encaminhados à câmara de
vereadores.
Zk – E a imprensa?
Afonso Locks – Na assessoria parlamentar observei
que tínhamos pouco acesso à imprensa do sul do país, uma das poucas publicações
que a gente tinha disponível era a revista Visão e então comecei a mandar
alguns artigos pra lá sobre Rondônia e eles gostaram e então me chamaram para
fazer algumas matérias especiais sobre a região Norte.
Zk – Sempre em Vilhena?
Afonso Locks – Trabalhei na prefeitura de Ji Paraná
por quatro anos assessorando o prefeito Geraldo Jotão. Depois voltei para
Vilhena como assessor do prefeito Ademar Alfredo Suckel e logo depois
surgiu o Diário da Amazônia e fui convidado a ingressar em seus quadros.
Zk – Nesse período você chegou a sofrer retaliações
de algumas autoridades e entidades?
Afonso Locks – O ex-prefeito Melki Donadon me fez
responder 47 processos simultâneos, eu não podia tossir que ele me processava.
Reconheço que algumas ações tinham fundamento, pois eu era um tanto
irresponsável na parte da imprensa.
Zk – Por falar nisso, a imprensa em Vilhena é bem
ativa, inclusive com circulação de vários jornais impressos. Como você analisa
essa atuação jornalística no Cone Sul?
Afonso Locks – Acho que depois da capital Vilhena é
a cidade que mais abriga veículos de comunicação. Sempre considero Vilhena uma
cidade diferente em Rondônia. Não é bairrismo, mas, em minha opinião Vilhena é
a Suíça da Amazônia.
Zk – E as histórias protagonizadas por Vitório
Abrão. Você pode narrar algumas?
Afonso Locks – Pra inicio de conversa, Vitório é um
grande coração, sou suspeito de falar porque sou padrinho de casamento dele.
Bom! Na época, as coisas fluíam mais a vontade e o Vitório naquela empolgação
de fazer as coisas, atropelou a legislação, atropelou tudo e deu no que deu e
acabou cassado.
Zk – E a história de que ele pintou as casas de
cupim de branco para conseguir financiamento junto ao banco. É verdade?
Afonso Locks – É claro que existe muito folclore
encima disso e ele até leva na esportiva também. A história foi o seguinte: Ele
tinha uma fazenda que hoje pertence ao grupo Independência. Dizem que ele
pretendia um financiamento do Banco do Brasil e o Banco precisava de uma
garantia. Então ele pintou os cupins de branco e colocou o superintendente do
Banco do Brasil em um avião, sobrevoou a fazenda mostrando ao funcionário do
Banco seu rebanho (casa de cupim) de gado que do alto realmente impressionou o
superintendente do BB.
Zk – Tem outras histórias do Vitório Abraão não
tem?
Afonso Locks – Tem uma que ele deu como garantia uma
safra de arroz. Ele fez um lastro de palha de arroz, um armazém cheio de palha
de arroz, na frente ele colocou de fato o arroz verdadeiro e o fiscal ao ver
tamanha quantidade de arroz estocado, liberou o financiamento. Tudo isso é
folclore.
Zk – Como é fazer e manter um jornal no interior?
Afonso Locks – É muito difícil fazer um jornal no
interior, tenho o Correio de Noticias um jornal semanal com editoria própria e
é muito complicado você sobreviver disso. Procuramos fazer um jornal colocando
as coisas positivas do município de Vilhena.
Zk – Exemplo?
Afonso Locks – Vilhena nos últimos dez anos, saltou
de 20 Milhões de Dólares por mês de exportações, para 300 Milhões, levando em
conta a Carne e o Grão isso é fantástico. Também temos que destacar a produção
do município de Cerejeiras que está se transformando num Eldorado, você chega a
Cerejeiras hoje, tem 100 Km de soja a direita e 100 Km de soja a esquerda. As
lavouras ultrapassam os municípios de Cerejeiras, Corumbiara e já chegam a
Chupinguaia.
Zk – Culturalmente falando, Vilhena produz muito?
Afonso Locks – É um dos municípios de Rondônia que
mais promove eventos culturais através da Secretaria de Cultura e Esporte e a
Academia Vilhenense de Letras.
Zk – Vilhena inclusive, já teve político como
governador de Rondônia?
Afonso Locks – Foi o Ângelo Angelim inclusive tem
um fato interessante. Esses dias quase apanhei dentro de um supermercado em
Vilhena.
Zk – Qual o motivo?
Afonso Locks – Joguei um ovo podre nele. O Angelim
era governador em 1985 e eu era administrador do ginásio Gerivaldão de Ji
Paraná, naquele ano aconteceu o 5º JIR Jogos Intermunicipais de Rondônia. Na
época, o salário dos funcionários estava atrasado e quando o Angelim entrou no
ginásio para participar da abertura do JIR a primeira coisa que fiz, foi jogar
um ovo podre nele. Esses dias encontrei com ele no Supermercado Pato Branco em
Vilhena e falei sobre o episódio. Ele é uma pessoa fantástica, continua
contribuindo com o progresso de Vilhena.
Zk – Na condição de cronista e editorialista como
você ver a atual situação dos nossos poderes, legislativo, executivo e
judiciário?
Afonso Locks – A imagem que passa para o resto do
país é ruim demais. Acho que cada um deve criar sua independência e atuar na
sua área. Infelizmente no estado de Rondônia está se trocando poderes. Uma
disputa ferrenha entre quem manda mais. Isso é ruim pra todo mundo, inclusive a
gente ouve comentários no interior de empresários que gostariam de investir em
Rondônia e que em virtude das notícias vinculadas nos meios de comunicação
desistem.
Zk – Vamos começar a encerrar esse bate papo.
Familia?
Afonso Locks – Sou casado, meus filhos todos
formados, dois advogados, um técnico na Ematere minha esposa Neli é funcionária
da Receita Federal.
Zk – Agora para encerrar. Você veio fazer o que em
Rondônia?
Afonso Locks – Cheguei aqui no final de 1982 inicio
de 83. É uma história fantástica.
Zk – Por que?
Afonso Locks – Depois que deixei a vida religiosa,
fiz concurso e passei para Escrivão no Fórum de Curitiba e quando faltavam 17
dias para assumir a função... Acontece que morávamos numa cidade medianeira e
seria necessário conseguir um lugar pra morar em Curitiba, ao passar na
rodoviária de Cascavel achei bonito o nome Ariquemes e então fui ao guichê da
Eucatur perguntei ao funcionário, quanto era a passagem e ele me disse que era
27 Mil não lembro qual era o dinheiro da época, então disse, como ainda faltam
17 dias para me apresentar, vou lá. Me dá uma passagem. Anoitecia, amanhecia e
nada de Ariquemes chegar, para encurtar a conversa,saí de Cascavel numa segunda
feira 10 horas da manhã e cheguei a Ariquemes sábado três horas da tarde e não
tinha dinheiro pra voltar.
Zk – E aí?
Afonso Locks – Fiquei em Rondônia, me peguei com
Deus e a sorte foi que a noite, fui a missa e tinha um Arraial no pátio da
igreja e o governador Jorge Teixeira estava lá. Na missa encontrei um amigo meu
que era Frade Franciscano na cidade Pato Branco e que havia sido meu professor.
Aqui era vice reitor da UNIR e estava como secretário de educação de Ariquemes ele
me encaminhou, trabalhei um período com o prefeito Gentil Valério, peguei um
bocado de malária, aí o Jotão que era presidente da recém criada Associação dos
Prefeitos e numa dessas reuniões de prefeitos, fiz uma apresentação, o Jotão
gostou e me levou para a prefeitura de Ji Paraná.
Zk – Você além do jornalismo tem outra renda?
Afonso Locks – Não! Vivo 24 horas por conta do
jornalismo. Se você acessar o face quatro e meia da manhã, vai me encontrar e
só saio do ar após as dez horas da noite. Sou jornalista por convicção e
paixão.