Num mercado pop em que a aparência
muita vezes importa mais que o talento, Ned, com seu pouco mais de um metro de
altura e o corpo fragilizado pela displasia espondiloepifisária, foi um dos
maiores ídolos românticos do Brasil."Eu sou um milagre", costumava
dizer o cantor.
Nenhum brasileiro cantou para tanta
gente no exterior. Ned se apresentava em estádios – não teatros, estádios mesmo
– na Colômbia, República Dominicana, Venezuela e no México. Foram duas vezes no
Madison Square Garden e quatro no Carnegie Hall, em Nova York.
Quando o escritor colombiano Gabriel
Garcia Márquez visitou o Brasil, em 1981, Chico Buarque perguntou: "Se sua
literatura fosse música, que tipo de música seria?". "Um bolero
cantado por Nelson Ned", afirmou o Nobel.
Nascido em Ubá (MG), em 1947, Ned teve
seis irmãos normais. Desde pequeno, conviveu com o preconceito. Em tempos
politicamente incorretos, até sua gravadora faturou em cima do "pequeno
gigante": um de seus primeiros discos chamava "Um Show de 90
Centímetros". "Eu tinha mais de um metro, mas acharam que 90
centímetros chamaria mais atenção", disse o cantor.
Ned nunca foi aceito pela elite da MPB.
Ronaldo Bôscoli o chamava de "anãozinho ridículo", o que o motivou a
compor "Tamanho Não É Documento": "Sou pequeno, mas meu coração
é grande/bem maior do que o seu".
Dizia que o preconceito do dia a dia o ajudava a
encarar qualquer platéia: "Quem passou a vida toda sendo humilhado aprende
a se defender. Quando canto eu me transformo, consigo ver o ar transformado em
música. É uma sensação gloriosa". (Por André Barcinski)
O cantor
Nelson Ned, 66, foi cremado na noite de domingo (5), no Cemitério Horto da Paz,
em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo.
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