Bainha e Silvio autores do samba |
Para
contarmos essa história, é necessário voltarmos ao ano de 1972, quando a escola
de samba Os Pobres do Caiari conquistou seu primeiro tricampeonato, ao
apresentar na avenida o enredo: “Brasil
Esplendor das Três Raças” uma pesquisa da professora Marise Castiel e samba
de autoria da parceria Silvio M. Santos e João B. Feitosa.
Acontece
que mesmo a escola sendo campeã, a professora Marise tão logo terminou o
carnaval, comunicou a diretoria, que a agremiação não desfilaria no carnaval de
1973, porque ela tinha a pretensão de passar o carnaval no Rio de Janeiro onde
procuraria orientação dos carnavalescos cariocas, de como se montava o enredo
de uma escola de samba, mesmo já tendo sido campeã por três vezes no carnaval
de Porto Velho, escrevendo enredos para a Pobres do Caiari.
Marise invade o desfile da Portela
Um dos
objetivos de Marise Castiel no Rio de Janeiro, era conhecer pessoalmente o
Patrono da Escola de Samba Portela o famoso Natal. Apesar das várias tentativas,
Marise não conseguiu ser recebida pelo seu Natalino José do Nascimento, mais conhecido como Natal da Portela
em seu escritório em Madureira,
porém, ela não desistiu da empreitada de falar com ele custasse o que custasse
assim, foi assistir aos desfiles das escolas de samba do Grupo 1 (Especial),
que naquele ano foi na Candelária.
Ainda
era de tarde, quando ela chegou à Candelária e se posicionou num lugar
estratégico. A Portela foi a 4ª escola a entrar na avenida, defendendo o enredo
“Passárgada, Amigo do Rei”. Quando o
presidente Natal surgiu na passarela numa cadeira de rodas, Marise pulou para
dentro da pista, não deu confiança aos seguranças de Natal e quase de cócoras,
saiu desfilando ao lado do presidente e disse o motivo de sua atitude. Natal
gostou do atrevimento de Marise lhe deu um cartão de visita e mandou que ela o
procurasse na sede da Portela que ele a receberia.
Portela batiza a Caiari
Passado
o carnaval, Marise foi realmente recebida pelo Patrono da Portela e não só
conseguiu expor suas ideias, como conseguiu com o grande carnavalesco, que sua
escola de samba “Os Pobres do Caiari” de Porto Velho (RO), fosse batizada pela
PORTELA. Como prova do Batismo Natal lhe entregou os símbolos da Portela, à
época (ainda não existia a Águia), Uma Cartola e Uma Batuta e mais alguns mimos
que Marise trouxe para Porto Velho e em reunião solene, com a direção da Caiari
contou o que havia conseguido no Rio de Janeiro, em especial na Portela. Foi
então que as cores Azul e Branca passaram a ser as cores oficiais da Pobres do
Caiari.
Viagem a Bahia
Logo
após o carnaval e depois de ter conseguido o que queria com ‘seu’ Natal, Marise
Castiel embarcou rumo a Salvador – BA com o objetivo de reunir material para
desenvolver o enredo de sua escola Os Pobres do Caiar para o carnaval de 1974.
Ao desembarcar na capital baiana, deu início a pesquisa sobre os costumes e o
folclore baiano e foi juntando livros, revistas, cordel além de visitar as
rodas de capoeira, maculelê e tomar conhecimento das festas religiosas candomblé,
umbanda, Nossa Senhora da Conceição, Lavagem do Bomfim e Iemanjá que acontece
no dia 2 de fevereiro, além da culinária.
Ao
regressar a Porto Velho e depois de ter estudado sobre os costumes da Bahia no
material que conseguiu trazer, me convidou para uma ‘merenda’ em sua residência
no bairro Caiari onde após me explicar, detalhadamente como seria desenvolvido
o enredo da Pobres do Caiari no carnaval de 1974, me passou todos aqueles
livros dizendo: Estuda todo o conteúdo desses livros e faz o samba enredo. “Dona Marise não tem como a senhora fazer um
resumo de tudo e me passar? ” Argumentei. É melhor você mesmo transformar essas
histórias num samba, você á capaz menino!
E assim
passei a ler aquele monte de livros, na realidade, eram livros de poucas
páginas cujo conteúdo, eram mais as cantigas praticadas nas festas baianas.
BAINHA NA CAIARI
Já era
o mês de agosto e dentro em breve, as escolas começariam seus ensaios, para
isso, era preciso que o samba enredo estivesse pronto.
Certo
dia estava eu no Bar do Cassimiro quando chega o Bainha todo ‘jururu’,
perguntei o que estava acontecendo e ele me mostrou um papel no qual constava
uma carta, com ele informando a diretoria da escola Os Diplomatas de sua
renuncia ao cargo de presidente da escola. Aquela atitude não me pareceu
normal, e consegui que ele me contasse o que realmente havia acontecido e ele
me disse, que os diretores mais influentes da escola não aceitaram os nomes que
ele havia apresentado para compor sua diretoria, uma vez que ele havia sido
eleito presidente da escola e assim sendo, preferiu entregar o cargo de
presidente em caráter irrevogável, no mesmo documento, informava, que também
estava deixando de ser sócio brincante da escola. Quer dizer, o Bainha havia
deixado de pertencer aos quadros da escola que havia ajudado a criar, era um
negócio muito sério. O baixinho realmente estava triste com a situação, pois o
carnaval de 1974 estava começando.
Diante
do quadro, fiz o seguinte convite ao Bainha: Você não quer ser o Mestre de
Bateria da Pobres do Caiari e meu parceiro no samba enredo? Bainha admirado e
feliz argumentou: “Será que a diretoria da Caiari vai me aceitar? ” Vamos tirar
essa dúvida agora mesmo, fomos até a casa da Dona Marise. Quando disse do
convite que havia feito ao Bainha e ele havia aceitado, dona Marise falou: Será
uma honra tê-lo em nossa escola de samba e mais ainda, como Mestre da nossa
Bateria.
Voltamos
ao Cassimiro e festejamos juntos com a turma, o ingresso do Bainha nas fileiras
da nossa escola de samba Os Pobres do Caiari.
Nasce o samba Odoiá Bahia
Alguns
dias depois, era no meio da semana, nos encontramos eu, Bainha, Neguinho
Menezes e o Haroldo um jovem que tocava surdo, no Bar do Gaúcho que ficava na 7
de Setembro com a Joaquim Nabuco e apresentei parte do samba que eu havia feito
há alguns dias e junto com o Bainha terminamos a letra e a harmonia. O
interessante, era que a cada estrofe concluída, pegávamos um táxi e íamos até a
Escola Normal onde dona Marise era a diretora e cantávamos aquela parte do
samba e em troca, ela nos dava o dinheiro do táxi e da cerveja. Fizemos essa
viagem umas quatro vezes naquele dia, o samba ficou pronto antes de terminar a
tarde.
ODOIÁ BAHIA
Samba:
de Silvio M. Santos e Bainha
Odoiá Bahia
Nossa
primeira capital
Que a
Caiari apresenta
Neste
carnaval
Da
festa da Conceição todos vão de pé
Pra
lavagem do Bonfim
Entre
danças e canções
Mostram,
sua fé
Tem
dendê
No
Caruru, no Vatapá
Tem
moqueca de xaréu
E o
gostoso abará.
Dia 2
de fevereiro,
Os
saveiros vão pro mar
Vão
prestar sua homenagem
À
Rainha Iemanjá.
Tem
maculelê
Tem
capoeira
Tem
candomblé camarado
Lá na
Ribeira;
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