Comandante Ribeiro
Contando histórias
de Porto Velho no meio do rio Madeira
Sexta
feira dia 28, encontrei no Mercado do Peixe do Cai N’água, degustando uma
cabeça de tambaqui assada na brasa, na Banca da dona Graça, o Comandante Ribeiro.
Ha muito queria entrevista-lo, para saber como funciona suas aulas sobre a
história de Porto Velho durante os passeios na Lancha Águia Tour. Após o almoço
nos dirigimos a Lancha e lá, com o apoio da repórter fotográfica Ana Célia
gravamos a entrevista, que nos levou e creio que também levará os leitores, por
uma viagem sobre a história da nossa cidade, principalmente sobre o Morro do
Triângulo, Baixa da União, EFMM, Alto do Bode, Morro do Querosene e até os
igarapés de Santa Barbara e Bate Estaca.
Como
não somos egoístas, vamos compartilhas com os amigos, as histórias do
Comandante Ribeiro,
ENTREVISTA
Zk –
Qual seu nome completo?
Comandante
Ribeiro – Meu nome é João Ribeiro Nogueira mais conhecido como Comandante
Ribeiro. Sou natural de Porto Velho (RO), Rua do Coqueiro Baixa da União, nasci
no dia 24 de junho de 1958 na Maternidade Darci Vargas.
Zk –
Como era a Baixa da União?
Comandante
Ribeiro – A Baixa da União ficava entre o Morro do Alto do Bode, Morro do
Querosene e Morro do Triângulo. As casas ficavam ao redor de um campo de
futebol, utilizado como área de lazer, onde aconteciam torneios entre os times
dos bairros de Porto Velho. O curioso era que as casas não tinham quintal e nem
ruas alinhadas. Outra coisa, quando chegava o inverno Amazônico o rio Madeira
enchia demais e a água alagava a Baixa da União que ficava justamente onde hoje
tem o Camelódromo e a Feira do Agricultor.
Zk –
E a rua do Coqueiro?
Comandante
Ribeiro – A rua do Coqueiro hoje tem o nome de Euclides da Cunha. Como rua do Coqueiro
existia da Sete de Setembro até a Baixa da União. Meu pai senhor Virgílio
Nogueira do Amaral era telegrafista de código Morse da Madeira Mamoré e montou
na rua do Coqueiro, a Fábrica Colchoaria Nogueira. Era um empreendedor
fabricante de colchões de capim. Lembro que quando o 5º BEC chegou aqui para
ajudar no desenvolvimento da cidade, saia caminhões e caminhões de colchões de
solteiro de lona e depois de chitão para atender os recrutas cujo alojamento
era na REO.
Zk –
Antes de ser Comandante o senhor trabalhou fazendo o que?
Comandante
Ribeiro – Na minha juventude fui ajudante de marceneiro do Mestre Cícero um
exímio profissional marceneiro que construiu muita casa aqui e foi com ele que
aprendi um pouco mais da vida.
Zk –
O Senhor chegou a conhecer a Serraria Tiradentes?
Comandante
Ribeiro – Como a guarita da Ferrovia Madeira Mamoré ficava onde hoje é o
Mercado do Peixe ao lado do Terminal Pesqueiro da Colônia de Pescadores Z-1
Tenente Santana eu ia pra lá. Naquela época na beira do rio existiam os
flutuantes onde ancoravam e desancoravam as embarcações. Nesse sentido, à
época, a Serraria Tiradentes a 1ª Serraria do Território Federal do
Guaporé/Rondônia era um dos meus parques de brinquedo, o gerente nos dava a
liberdade de ver todo o manejo da Serraria, só pedia cuidado pra gente não se
acidentar. Uma das diversões era subir nas toras, quando eles estavam puxando
no cabo de aço do rio Madeira para levar até a serra central. Os rapazes mais
velhos costumava pegar Tora de Madeira que vinha baixando o rio e vendiam para
a Serraria, eu mesmo nunca me aventurei, porque era magrelo e não tinha força
física para dominar as toras. Gostava mesmo era de pular de cima da montanha de
serragem dentro do rio. Meu pai era um dos clientes da Serraria porque, na
própria Baixa da União ele construiu a primeira Estância que hoje chamam de
República. É importante dizer que a maior parte da madeira beneficiada na
Tiradentes era Cedro Mara.
Zk –
Quando foi que o senhor resolveu ser Marinheiro - Comandante?
Comandante
Ribeiro – Uma das primeiras escolas que estudei e gostei muito, foi o Duque de
Caxias quando vi a avenida Farquar ser asfaltada no rumo do Aeroporto do Caiari
e muito entusiasmado, queria algo melhor para mim, meu pai já era empreendedor
da fábrica de colchão e eu alimentava um sonho. Eu pensava em ser uma
autoridade. Com o tempo as coisas foram mudando e resolvi entrar na área
comercial, tenho aproximadamente 45 anos no ramo comercial. Meu primeiro emprego
foi como vendedor de tecido na Casa Saudade de T.T Dias e Cia.
Zk –
E o marinheiro?
Comandante
Ribeiro – Meu pai ganhou a oportunidade de fazer uma pequena reforma no prédio
da Capitania dos Portos e ele fez amizade com o Capitão de Corveta, esse
Capitão um dia, chegou e perguntou se eu não queria fazer o curso de marinheiro
que por sinal, foi o primeiro curso autorizado pelo Rio de Janeiro para o
Território de Rondônia. Estava com 16 anos, fiz o curso e fui aprovado mais
nunca o exercitei. Fui pra área comercial onde trabalhei como vendedor gerente,
supervisor, distribuidor e outras denominações e em 2008, apareceu à
oportunidade de prestar concurso para a Prefeitura Municipal de Porto Velho e
fui ser Piloto de Urgência e Emergência dentro do rio Madeira transportando
doentes do Distrito de Nazaré para a capital Porto Velho. Minha primeira
denominação, é Marinheiro Fluvial de Convés, hoje sou Contramestre Fluvial que
me dar condições de pilotar embarcações até 50 AB – Arqueação Bruta exemplo, o
Barco Hospital da Prefeitura.
Zk –
Como surgiu a ideia de se transformar em Comandante proprietário de uma Lancha?
Comandante
Ribeiro – Minha história é um pouco diferenciada porque quando prestei concurso
em 2008, foi para trabalhar como profissional como aprendi na Marinha do
Brasil, eu queria fazer a diferença pra minha cidade, prestar um serviço de
qualidade, mais encontrei barreiras dentro da Prefeitura, algumas pessoas
diziam que eu estava errado, que tinha que ser igual a todo mundo e eu fui
diferente e nesse ser diferente, cheguei a responder processo administrativo,
por querer trabalhar de forma profissional, agregando valores ao meu serviço em
benefício da própria Prefeitura como comandante da embarcação Rosalina III que
por sinal, é o nome da Mãe do prefeito Roberto Sobrinho. Fui responder processo
e tive que me virar em mais do que trinta, até que consegui ser absolvido.
Chegaram à conclusão que eu não devia nada e foi tudo arquivado, mais fiquei
aborrecido e então, pedi a Deus que me mostrasse uma maneira de me sobressair,
sem estar me aborrecendo com ninguém.
Zk –
Então?
Comandante
Ribeiro – Veio o projeto de trabalhar no rio Madeira e oferecer serviço de
passeio turístico, que até então não tinha nessa modalidade que ofereço. Montei
essa Lancha que tem o nome de ÁGUIA TOUR com capacidade para 12 passageiros,
motor 115 e se propõe não apenas a passeios panorâmicos mais com viagens
longitudinais, busca de documentos ou missões pertinentes dentro do rio
Madeira. Essa embarcação foi financiada pelo Banco da Amazônia. Estou no ramo
desde 2011.
Zk –
Muitos elogiam os passeios e em especial as histórias que o senhor conta sobre
a cidade. Vamos falar sobre isso?
Comandante
Ribeiro – Fui criado com disciplina de orientação, meu pai era militar da 3ª
Cia de Fronteira, hoje 17ª Brigada, então fui crescendo nas duas modalidades,
amor e disciplina. Sou filho da professora Francisca Ribeiro Nogueira. De tanto
assimilar os conhecimentos de vivencia, tanto no pátio da EFMM como no Porto
Cai N’água, Baixa da União, Morro do Triângulo e Alto do Bode e vendo que isso
não consta da grade curricular dos colégios, sejam municipal ou estadual, não
está na grande mídia e nem em nenhum informativo, resolvi compartilhar todo
esse conhecimento com a população.
Zk –
Como acontece a aula durante o passeio?
Comandante
Ribeiro – Nossa lancha é dotada de um sistema de som moderno e enquanto eu
piloto, vou narrando as histórias e ainda divulgando os endereços das
bibliotecas, museus, restaurantes, hoje incluí o passeio da Litorina. Muita
gente me encontra via Internet, já me encontraram na revista 4 Rodas, outros já
me encontraram na Europa. Hoje trago um broche, que ganhei de um embaixador
americano Mister Jofre que veio aqui e passeou na nossa Lancha e me presenteou
com um broche que tem as bandeiras brasileira e americana.
Zk –
Quanto tempo dura o passei.
Comandante
Ribeiro – São 50 minutos religiosamente cravados. Saímos do terminal
hidroviário do Cai N’água e no meio do rio começo a falar sobre a história da
nossa cidade em especial, da Chaminé da Serraria Tiradentes, Triangulo o bairro
que abrigou os estrangeiros de 50 nações aproximadamente, que vieram trabalhar
da construção da Ferrovia e usavam macacões de Jeans e só falavam inglês e
ficaram conhecidos como Barbadianos. A uma velocidade cruzeiro, vou contando as
histórias porque conheço, não é que me contaram, ai falo sobre o Cemitério da
Candelária, as Casinhas do KM -3 hoje Vila Candelária, Igarapé do Bate Estaca e
Santa Bárbara. Antes ia até o Porto das Canoas Igarités e no Porto dos Vapores.
Hoje vou até o limite de segurança da usina.
Zk –
Valores do passeio?
Comandante
Ribeiro – Cobramos R$ 30 por passageiro. Nossa saída mínima é de 7 passageiros
a não ser, que o turista queira pagar o valor de 7 passageiros. Hoje arredondo
para R$ 200. Nosso contato telefônico é (61) 9 8380-1409 ou e-mail aguiatour@live.com.
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