O artista plástico pernambucano J. Messias é um
homem de fé. Enquanto as pessoas ouviam música, bebiam ou dormiam em redes,
durante uma viagem de barco entre Porto Velho e Manaus ele orava o tempo todo.
“Fiz isso, porque sou grato a Deus pelo cenário que muito me inspirou na
pintura de quadros com motivos amazônicos”, destaca.
Sua mostra denominada “As cores a serviço da arte”
irá até o próximo dia 13 de julho na galeria Afonso Ligório, na Casa de Cultura
Ivan Marrocos, no centro de Porto Velho.
José Messias, pai de duas filhas, tem 64 anos e
aprendeu sozinho a profissão, observando ruas e igrejas de Olinda e do Recife.
Algumas telas mostram homens e palhaços gigantes que ele conheceu ainda menino,
transportando-os da memória já em Porto Velho.
“Nasci em Porto de Galinhas e decidi adotar a
temática do preenchimento de todos os espaços de um quadro, mostrando cores
diversas; procurei não imitar ninguém, não seguir nenhum estilo de época, nem
escola de arte”, detalha.
Assim, 55 anos atrás, começou a desenvolver sua
própria técnica para produzir, por exemplo, o quadro “As cores fortificam a
paz”.
Em misturas aplicadas ao acrílico e óleo sobre
tela, J. Messias tem produção admirável. Os 28 quadros de sua atual mostra
foram todos produzidos em 2019. Pássaros e peixes soltos por todo o quadro
mostram o índio com o pilão, no qual soca e mói grãos alimentícios. “A emoção”,
outro quadro, expõe a cabocla morena de longos cabelos, com a pomba branca em
seu ombro esquerdo.
Sentado na mesinha à entrada do salão, onde as pessoas
assinam o livro de visitas, ele explica cada uma de suas motivações. Pergunta:
“Tem peixes mais bonitos que estes?”. E caminha para apresentar sua exposição
na qual também se vê a cara do Brasil: uma vendedora vestida de chita, olhos
esverdeados, outra com moringa na cabeça, e a negra de olhos castanhos.
A predominância dos olhos femininos é o verde, mas
no quadro “Vidas entre o colorido” ele pintou uma mulher com olhos azulados.
“Além de usar com maestria as cores, J. Messias é
um artista com um coração brasileiro, mostrando sempre temas regionais, do
nosso folclore, com detalhes preciosos, brilhantemente colocados, encantando nossos
corações”, opina a artista plástica, professora e curadora Ângela Schilling.
“Seja como for, ele nos inspira para o melhor em cada um de nós”, ressalta.
Lembrando o artista e cientista Bruno Tausz, a
curadora explica que as cores influenciam umas às outras. “É a
interinfluência”.
Segundo Ângela, nas pinturas de Messias percebem-se
cores vibrantes nas quais ele usa muito bem todos os aspectos dessa
interinfluência: fundos diferenciados, luminosidade, reflexos, contrastes,
entre outros.
Considerando-se, definitivamente, dono do próprio
estilo, J. Messias lembra a transição: “Depois que surgiu a máquina fotográfica, as
artes plásticas precisaram seguir seu próprio caminho, e o movimento modernista
veio, então, com a tentativa de pôr fim à arte acadêmica”.
Na visão do artista, atualmente esse estilo não
entra mais no salão, onde se expõe arte contemporânea. E foi por ela que
recebeu três prêmios na competição estadual: 1º lugar em cultura (1997), e
menções honrosas (1998 e 2017).
No início dos anos 1990, exposições em Porto Velho
vendiam acima de 20 quadros. “Eu fui campeão de vendas, sempre agradava”,
conta.
Os preços dos quadros de J. Messias variam de R$
400 a R$ 1,5 mil.
Sereno em suas considerações, ele se entrega ao que
faz, colocando acima do dinheiro, a semente do conhecimento de crianças e
adultos frequentadores da Casa de Cultura. “Que tal o apoio do governo à maior
participação do artista do interior em eventos na capital?”, sugere.
Preocupa-lhe a situação de escolas públicas que
ainda não estimulam alunos a frequentar esse ambiente. Acredita que isso se
deve à falta de um meio de transporte. “Penso que a Secretaria de Educação
poderia requisitá-lo. Um ônibus ajudaria consideravelmente”, propõe.
Para levar seus quadros até a casa, ele investiu R$
100 na viagem de ida e outros R$ 100 investirá na volta.
Esta semana, o artista recebeu com alegria uma
turma de estudantes de História da Universidade Federal de Rondônia (Unir).
As cores a serviço da arte
Local: Casa da Cultura Ivan Marrocos
Avenida Carlos Gomes nº 563 Bairro Caiari
Horários: 8h às 17h30 (segunda a sexta-feira); aos Sábados,
das 9h às 14h.
Entrada: gratuita
Fonte
Texto: Montezuma Cruz
Fotos: Leandro Morais e arquivo Casa da Cultura Ivan
Marrocos
Secom - Governo de Rondônia
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