Em 1966 chega a Porto Velho
o 5º Batalhão de Engenharia e Construção – 5º BEC precisamente no mês de abril
e já no mês de setembro, desembarca no aeroporto do Caiari o hoje 2º Sargento
da Reserva Santo Ivo Tolentino que consultado sobre sua especialidade na
unidade de origem, terminou por ser designado para servir na Cantina. Santo Ivo
gosta de contar histórias vividas no seu tempo de soldado e principalmente de
lembrar os amigos de Porto Velho daquele tempo, como Tufi Matny, Cabeça Branca
Chico da Coringa, Dr. Mendes e a Carol, Joel e Pedro do BB, Berenice Jonshon,
Fernando Sadeck, e tantos outros. Leitor assíduo do Diário da Amazônia do qual
é um dos mais antigos assinantes, procurou nossa redação, solicitando que
lembrássemos os seus 75 anos, completados no último dia 19 (ontem). Batemos um
papo e devido tanta recordação do inicio do 5º BEC em Rondônia, resolvemos
festejar seu aniversário, publicando sua história. Parabéns Santo Ivo Tolentino
Zk – Qual seu nome completo?
Ivo Tolentino – Meu nome é
Santo Ivo Tolentino. Nasci lá no Desengano município de Linhares no estado de
Espírito Santo. Trabalhei na lavoura com meu pai até os vinte anos de idade era
trabalhando e estudando o primário, naquele tempo existia prova de admissão
para o 5º ano,
Ivo Tolentino – Inclusive
como no Desengano existia muita mata, os jovens eram dispensados, quer dizer,
não precisavam servir o exército, aí um amigo sabendo do meu desejo recomendou:
“Fala que você mora em Vitória”. Me apresentei ao Sargento Antenor e dei o
endereço da minha irmã que morava na capital, ele então falou “Vem cá moreno,
você vai incorporar” era o dia 15 de janeiro de 1963 e entrei no antigo 3º
Batalhão de Caçadores – 3º BC, Vila Velha/Vitória,
Zk – O que o senhor fez para
conseguir continuar no exército após o tempo obrigatório?
Ivo Tolentino – O Capitão Pigarrilho
perguntou se eu queria engajar e aceitei. Hoje ele é Coronel e nos comunicamos,
ele mora no Rio de Janeiro, tenho que falar com ele hoje (dia 18) pra lembrar
que o dia da Vitória foi ontem dia 17. Bom, voltando a nossa conversa, resolvi
conhecer a tal da fronteira. Fiz o curso de Cabo e fui para a 1ª CIA de
fuzileiros em 1964. Falava-se muito na Região Norte, resolvi conhecer a área.
Nesse momento surgiu a nova unidade, que seria construída em Porto Velho –
Território Federal de Rondônia. Eu, solteiro, fui verificar e solicitei a
transferência.
Zk – Lembra o dia que desembarcou
em Porto Velho?
Ivo Tolentino – Cheguei ao
local desejado, no dia 05 de Setembro de 1966, muita diferença da antiga OM. O
5º BEC havia chegado em abril. Chegou em duas etapas, o Major Rondon chegou
primeiro e o Capitão Pastor chegou no mês seguinte (maio), porque teve
problemas na estrada.
Zk – O senhor veio pela
estrada?
Ivo Tolentino – Vim de avião
e mesmo de avião era muito longe, dois dias de viagem, paramos em Cuiabá e
fomos dormir na REC (Residência Especial de Cuiabá), o comandante era o capitão
Oto, de lá, Vila Bela, Guajará Mirim e Porto Velho. Desembarcamos no aeroporto
Caiari cuja pista começa onde hoje é o Claudio Coutinho e a estação de
passageiros em frente ao estádio Aluizio Ferreira.
Zk – Fale mais sobre as
instalações do 5º BEC naquele tempo?
Ivo Tolentino – Nossa Companhia
de Comando e Serviços - CCS era atrás do quartel da Guarda Territorial ali no
Arigolândia o comandante era o Capitão Mansur. Em cada local da cidade tinha
uma parte do OM até construir o BEC. O comando onde atualmente é o Hospital de
Guarnição. O Coronel Weber, Major Tibério e seus subordinados. O Hospital do
BEC, onde é a Assembléia Legislativa. Esse foi o começo.
Zk – E o senhor foi para
qual unidade do BEC?
Ivo Tolentino – Fui
trabalhar na Cantina, que era próxima ao Mercado Central, com vendas todas no
cartão de crédito, balanço todo mês. Aprendi muito, graças a Deus. Conheci
muitas pessoas, que conosco viviam trabalhando e fazendo compras. Com o tempo,
mudamos a Cantina para o 5º BEC. Ficou melhor. Na primeira a gente despachava
muita conserva (boi ralado), mortadela era o que existia, com o tempo instalaram
a Distribuidora Coringa do Chico da Coringa e o BEC passou a comprar com ele.
Lembro que existia aqueles caminhões FNM – (Fome Necessidade e Miséria) e tinha
os motoristas entre eles meu amigo Carolinha que até hoje freqüenta o bar
“Amarelinho”. Não quero nem falar do bairro Liberdade.
Zk – Como não! Porque foi
criado o bairro da Liberdade?
Ivo Tolentino – Quando
terminaram a construção do quartel o BEC precisa de uma via para se comunicar
mais rápido com o centro da cidade. Naquele tempo o acesso era apenas pela rua
Prudente de Moraes então, resolveram criar o hoje bairro da Liberdade para
alocar os moradores da Baixa da União, Alto do Bode e Morro do Querosene. O BEC
construía o alicerce e a frente das casas de alvenaria e entregava para o
morador e assim nasceu um dos bairros mais organizados até hoje de Porto Velho.
Zk – O que mais o senhor
lembra?
Ivo Tolentino – O Trem que
saia de Porto Velho rumo a Guajará Mirim, de manhã era aquele movimento e nós
na cantina, lembro do seu Caldas ao lado, a tipografia do Ratinho na frente, a
Fábrica de Gelo, o gelo era em barra e o movimento na feirinha, é uma história
longa. O trem de ferro era para estar funcionando ate hoje, evitando essa
“Carroagem” batendo um no outro nas estradas.
Zk – Quem era o seu
Comandante?
Ivo Tolentino – Coronel
Carlos Aloizio Weber que dizia: “Se tem que chorar, chore andando. Não sente
pra chorar, se não o atrasado passa por você”. Na Infantaria: “Quem com o sabre
fere, com o sabre será ferido”; “Os melhores, são apenas bons, para a Infantaria”;
“Quem obedece ordem, não dar ordem”. O que mais nós temos hoje é de Cem, 20 são
mal educado fazendo bobagem ai pela rua. Tem pai e tem mãe pra educar. Hoje
chega uma jovem no quartel e diz “Quero falar com o soldado José” o outro
responde é do meu pelotão. ”José tem uma mulher te chamando e ele vai lá e às
vezes cria caso com a mulher. No nosso tempo existia mais disciplina. Era na
ordem de comando: “Soldado José, dê um passo fora do pelotão e vá atender à
senhora!”“.
Zk – Voltando a cantina?
Ivo Tolentino – Existia a
granja onde se criava galinha, peru, gado pra tirar leite, porco se fazia
linguiça, tinha o carrinho para entregar leite. Hoje em dia, nem a cobra vai lá
com medo de entrar no mato. Nós passamos
para o Peg & Pague que foi o primeiro supermercado daqui. Ali vendia de
tudo, desde gênero de primeira necessidade até carro e moto. Tinha o dia dos
oficiais comprarem, depois sargento e depois o civil era tudo na escala.
Zk – O senhor foi professor
da rede pública?
Ivo Tolentino – Dei aula de
OSPB e Moral e Cívica no colégio Nossa Senhora das Graças. Hoje encontro com
meus alunos e eles dizem: “Professor o senhor falava a verdade!”. Quando
tiraram o Colégio Estudo e Trabalho do Barão do Solimões eu estava fazendo pela
segunda vez o segundo grau e falei com o professor Álvaro que gostaria de dar
aula, de ser professor ele me indicou para o Nossa Senhora das Graças.
Zk – O senhor gosta de lembrar
os professores?
Ivo Tolentino – Professor
Batalha, Orlando Freire, Professora Esmite, Waldir Rodolfo Siqueira:
“Substantivo, artigo, numeral, pronome e verbo; Advérbio, interjeição,
preposição e conjunção, versificação e pleonasmo. O verbo nesse conjunto é o
anacoluto. Dê um exemplo: “Burro rinchou” você não rincha, é anacoluto, tudo
isso era para decorar. Hoje a garotada não sabe a tabuada que é decorativa. Fundamental é aquele que
funde a mente total do aluno. Matéria decorativa é pra decorar.
Zk – Família?
Ivo Tolentino – Eu me casei,
com a jovem Amália Frazão Tolentino, tivemos três filhos: Ivanilson, Ivanilda e
Ivana, todos trabalham, têm suas formações universitárias, não tinha faculdade
aqui, fizeram suas formações fora do estado. Tenho seis netos. Graças a Deus,
incentivo para que estudem. Me aposentaram em 1988/89, mas minha vida ativa
continua. Gosto de trabalhar e estudar, receber orientações para progredir.
Após a aposentadoria, já trabalhei em vários setores até mesmo na construção
civil, por cinco anos com carteira assinada.
Zk – E a festa dos 75 anos?
Ivo Tolentino – Quero
agradecer a todos de Porto Velho, onde vivo, por terem me acolhido todo esse
tempo, por 52 anos. Minha família, meus amigos e amigas presentes e ausentes.
Que sejamos sempre felizes com a benção de Deus e a saúde para os doentes que
estejam em seus lares. Muita fé no criador divino. Obrigado por terem lido
estas minhas frases, é de coração e felicidades.
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