Cruzeiro no Cemitério dos Inocentes |
Muitas são as histórias que
ouvimos sobre ‘causos’ que se passaram num dia de finados.
Nesta postagem, vamos
lembrar alguns dessas histórias, que quando contadas num ambiente, - vamos
classificar de tenebroso - as pessoas ficam arrepiadas.
Finados
na rádio Caiari
Naquele dia de finados de
1961, eu e o José Ferreira da Silva - Piaba, fomos escalados pela direção da
rádio Caiari para colocar a emissora no ar às 18 horas (Seis da Noite). Naquele
tempo eu já me aventurava como locutor e naquele dia, o Piaba estava de plantão
como operador de som ou sonoplasta.
Encontramos-nos no Cemitério
dos Inocentes e juntos, subimos para a rádio cujo estúdio era no prédio da
prelazia atrás da catedral (onde hoje é a residência de Dom Moacir Grechi), naquele
tempo a entrada era pelo lado da catedral.
Para chegarmos ao estúdio, tínhamos
que atravessar o corredor da escolinha Domingos Sávio que funcionava no mesmo
prédio, tudo escuro. Piaba ligou o transmissor cuja chave ficava ao lado da
mesa de som e eu entrei pra cabine de locução e passei a ler um texto próprio
para o Dia de Finados era um negócio muito triste. Piaba colocou uma música fúnebre
como fundo musical e eu dentro do estúdio todo arrepiado de medo. Quando terminei
de ler o texto - parece até que tínhamos combinado – Piaba já havia desligado o
transmissor e me esperava na porta da cabine. Um olhou pro outro e sem falar
nada, saímos correndo no rumo da saída. Deixamos a rádio com as portas abertas.
No outro dia pegamos um “puxão” de orelha do padre Vitor Hugo.
Baba
e a Cruz dos Inocentes
Naquele dia de finados de
1977, saímos eu, Baba e Arnóbio a gente trabalhava na CERON por isso sempre aproveitávamos
os feriados para tomar umas e outras.
Naquele dia escolhemos um
Bar que ficava no Mocambo bem próximo ao Cemitério dos Inocentes. O movimento
no campo santos era intenso, vale lembrar que ainda não existia muro daquele lado
do Cemitério, era cerca de arame farpado. Chegamos ao Bar por volta de meio dia
e haja cerveja e cachaça.
Já era noitinha quando o
Babá desapareceu do bar que estava cheio de freguês. Arnóbio e eu estávamos disputando
cerveja na porrinha com outros fregueses.
De repente a senhora
proprietária do bar começa a gritar desesperada:
- moço, por favor, não entre
com isso no meu bar. Ai meu Deus!
Quando olhei pra ver o que
era, vi com esses olhos que a terra há de comer, o Baba segurando com as duas
mãos uma CRUZ que havia tirado de uma sepultura do Cemitério dos Inocentes e
totalmente transtornado (Babá era negro mais estava branquinho) ameaçava
entrar no Bar com aquela Cruz, quem estava bêbado ficou bom e quem só estava de
curioso saiu correndo no rumo do bar do Antônio do Violão tentando se esconder
do Babá com a Cruz.
O velório do Daniel
Esse não foi no dia de Finados,
porém, tem tudo a ver com esses ‘causos’.
Daniel Zelada era irmão do
famoso Zelada cantando em verso e prosa pelos poetas da Baixa da União. Bom!
Daniel trabalhava na Usina que a gente chamava de “Fábrica de Borracha” local
onde eu também trabalhava, isso no final da década de 1960.
De repente Daniel morre de
enfarto e eu com seu sobrinho Raimundo Serrati fomos pro velório que foi na residência
de Daniel a rua Alexandre Guimarães sub esquina com a Prudente de Moraes no
Areal. A boca da noite o velório estava lotado, não tinha garrafa de café que aguentasse,
porém, quando a luz foi embora por volta das onze horas da Noite, a casa foi
esvaziando, resultado, a meia noite eu e o Serrati fomos pra frente da casa e
sentamos num banco de madeira e ali ficamos, as velas que estavam ao redor do
caixão, se apagaram todas e eu e o Serrati ficamos ali naquele banquinho, sem
falar nada, sem se levantar pra beber água ou urinar. A noite passou e a
madrugada chegou e nos dois lá sentados sem enxerga nada pois a noite estava
muito escura,
Quando deu cinco horas da
madrugada, vimos uma luzinha acender na esquina da Alexandre com a José de
Alencar, sem falar nada, pulamos daquele banquinho e saímos correndo no rumo
daquela luz, e ao chegar, demos graças a Deus, era a luz da lamparina que
iluminava a Banca da dona Maria que vendia café com pão e salgados em geral.
Foi uma alívio. O defunto passou a noite sem ter vela acesa ao redor do caixão,
tudo pela falta de coragem do seu sobrinho e do seu colega de trabalho.
O enterro do Daniel Zelada
foi bastante concorrido, porém, nem eu nem o Serrati o acompanhamos até sua
última morada.
E tem a historio do Amo de
Boi Bumba Augusto Queixada que ao passar em frente a Cemitério dos Inocentes,
ouviu uns gemidos e então aproveitou a deixa e fez uma toada cuja letra começa
assim: “Em altas horas, ouvi gemer, Fora de hora ouvi chorar...”. Ele jurava que
era o gemido de uma alma penada.
Antigamente a gente marcava
encontro no “Cruzeiro” do Cemitério e ali ficávamos contando histórias de
velório e de cemitério. Se você tem
alguma dessas histórias entre em contato pelo email zekatracasantos@gmail.com
Um comentário:
Muito bom! E eu lendo uma hora da manhã! Eu hem!
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