sábado, 24 de setembro de 2016

ENTREVISTA - Mario de Queiroz Araújo

As gentilezas no atendimento na Raio de Sol
Sexta feira dia 23, a boca da noite, fui comprar pão na Padaria Raio de Sol cujo pão é considerado o melhor de Porto Velho. O proprietário seu Mário diz que é o melhor do Brasil. Na realidade, há muito tempo minha vontade era entrevistá-lo, porém, ficava receoso, pois ele tem fama de não ser muito cortez. Naquele dia ao receber o troco perguntei. Gostaria de fazer uma consulta e ele respondeu. “Você vai ter que pagar por essa consulta”, era brincadeira e então perguntei se poderia entrevista-lo, pois o considero uma pessoa admirável pela sua maneira de ser. Ele concordou e logo depois estava eu e a fotografa Ana Célia Santos  minha esposa, no escritório do seu Mário onde passamos a ouvir histórias sobre a vida do cidadão que pensávamos ser incessível mas, que na realidade, é um ótimo papo. Com seu Mário ninguém escapa ao mesmo tempo em que elogia uma pessoa, não se constrange ao falar das falcatruas de outras e cita nomes de pessoas influentes da cidade. As histórias contadas pelo seu Mário são tantas, que para não perdermos nada, resolvemos publicá-las em duas edições.
A primeira você acompanha nesta edição e a segunda na edição da próxima terça feira.

ENTREVISTA

Zk – Vamos começar essa conversa?
Mário - Um dia, morando em Goiânia, chegou um emissário de    Rondônia entregando um produto pra minha mulher que a mãe dela tinha mandado e ficamos conversando. Eu conhecia bem a família dele, mas, ele eu não conhecia, convidei pra entrar mais não aceitou. Moral da história: eu o obriguei a entrar, ele ficou hospedado na minha casa. O nome dele é Rômulo Bertelli. Isso aconteceu em 1987. Ajudei ele trazer a família dele que morava na Espanha. Ele vendia lote, título de clube era vendedor avulso era ele e o Lima Filho.

Zk – Além da encomenda o que mais ele foi fazer em Goiânia?
Mário – Foi levar a mulher dele para dar a luz a uma criança o que estranhei muito. Acontece que ele não tinha dinheiro para pagar o hospital, mas, tinha um carro que era a minha cara. Comprei o carro, paguei e vim buscar aqui em Porto Velho. Chegando aqui gostei muito. O Lima Filho já era meu conhecido e me mostrou a padaria e eu gostei tanto que resolvi ser padeiro. Comprei uma padaria não deu certo, comprei outra também não deu certo. Fui a Goiânia e ao retornar, comprei do seu Paulo Garcia a metade dessa padaria aqui, que era lá no Jardim Eldorado isso tudo em 1987.
Zk – Dessa vez deu certo?
Mário – Sofri muito, vai daqui, vai dali, trabalhando e como eu não era profissional da área pois em Goiânia tinha uma imobiliária que ficava na praça principal, sou corretor de imóveis. Na padaria comecei a sofrer com os funcionários e então comecei a procurar recursos. Fiz curso de padeiro, acabei entrando para a Fiero onde fui diretor durante 14 anos junto com Miguel de Souza e Julio Miranda.
Zk – Bons tempos?
Mário – As coisas foram passando e eu não ganhei dinheiro do jeito que eu achava. Um belo dia perguntei do Wilson Mamede Júnior ex dono da Casa do Padeiro: O que acontece que eu trabalho, trabalho e não ganho dinheiro igual esse povo? Ele respondeu: seu Mário é muito simples, nós trabalhamos com pó branco (trigo) de 50 Kg. Moral da história, eu estou aqui vivo com 85 anos de idade, trabalhando, cumprindo com meus deveres profissionais, familiares e tudo mais.
Zk – O senhor é goiano de Goiânia?
Mário – Não! Sou mineiro de Divinópolis, vim pra Goiânia porque fiquei viúvo com dois filhos, hoje um mora na América outro em Divinópolis ambos da construção civil. Fui casado primeiro com Mariza Pardini que morreu. Devo dizer que nunca fui promíscuo. Arranjei outra mulher em Goiânia não casei, vivemos muito bem durante 28 anos e um dia ela me bateu e eu fui embora.
Zk – Como assim?
Mário – E ainda deu parte dizendo que eu é que tinha batido nela. Isso já aqui em Porto Velho. Foi engraçado porque fui intimado a depor às 10 horas. Depois de alguns minutos esperando para ser ouvido, pedi a moça recepcionista que lesse a intimação pra mim e ela, calma que o senhor já vai ser atendido, depois que insisti ela leu. Não é dez horas a minha audiência? É! Parece que já passou o horário, calma o senhor vai ser atendido agora. Não é dez hora que está escrito? É! Então feliz Natal pra senhora e fui embora. Mais tarde recebi outra intimação para as 11 horas do outro dia. Quando cheguei à delegacia da mulher antes das 11 horas, chegou um senhor e perguntou: O senhor é o seu Mário Queiroz? Sim, a delegada quer falar com o senhor. Sua esposa – eu não tenho esposa. Sua ex esposa ta la na sala mas, a delegada quer falar com o senhor em particular. Quando encontrei a delegada ela disse, sua ex esposa me falou umas coisas que achei por bem conhecer o senhor. Em primeiro lugar quero pedir um abraço pelo ensinamento que o senhor me proporcionou ontem. Hoje sua mulher acabou de tirar a queixa todinha e confessou o que ela fez. Ela foi embora, levou o que quis, devolveu o que quis e foi morar numa casa que estava alugada por Mil e Quinhentos Reais em 2001. Moral da história, ela tirou o inquilino. A casa estava alugada porque meu filho mais velho pediu: “Pai a casa ta muito grande pra mim, se eu alugar o senhor me dar o troco?” eu respondi, perfeitamente. Ele ficou sem o aluguel e a mulher tomou conta. Quando chegou a noticia que eu tinha que ir para uma peleja judicial o Sérgio Castelo Branco como meu advogado fez uma petição e minha atual mulher Icler Ibanez França falou: Por que você não dar aquela casa pra ela pra acabar com isso? Fiz a proposta e ela não respondeu. Depois de várias pelejas, hoje dia 23 de setembro de 2016, acho que foi a última. Ficou decido que a casa vai a leilão.
Zk – O senhor chegou a atuar como corretor de imóveis aqui em Porto Velho?
Mário – Não. Até fui localizado aqui pela Caixa Econômica Federal pelo meu cabedal lá em Goiânia e aqui eles me procuraram para ajudá-los no financiamento de imóveis. Pedi um prazo pra pensar e pesquisar e descobri que em Porto Velho ninguém tinha renda comprovada, então, trambique eu não queria fazer e continuei com padaria. Sofri muito, mas, sou feliz por ter sido padeiro.
Zk – Por falar nisso o senhor foi presidente do Sindicato dos Padeiros?
Mário – O Sindicato foi criado de cima pra baixo e a primeira coisa que fiz foi dar uma bronca. Puseram o Lima Filho como presidente e eu como vice. Na hora que o cara que montou isso veio pegar minha assinatura questionei: Que palhaçada é essa, você um cara acusado de crime de morte (havia matado um Juiz, parece), não lembro nem o nome dele. Acabei aceitando e acabei fazendo parte da diretoria da Fiero onde atuei por 14 anos, brigando por Porto Velho ao ponto de discutir sobre essas usinas, hoje tenho, os livros da Santo Antônio Energia com dedicatória. O Miguel de Souza pra mim foi o segundo melhor deputado federal que tivemos o primeiro foi o Confúcio Moura. O Bianco é muito meu amigo apesar de ter me dado uma boa quebradinha, a culpa foi do irmão dele o Arnaldo. Hoje por conta disso, tenho uns 20 Milhões pra receber do governo.
Zk – O senhor chegou a Porto Velho justamente durante a transição do governo militar para o civil. E então?
Mário – Quando aqui cheguei o governador era o Jerônimo Santana muito meu amigo, ele ia lá na padaria do Eldorado pra comer aquela broa de milho barriguda. Um dia aparece lá um amigo nosso, hoje meu irmão de maçonaria Orestes Muniz pedindo voto pra governador, falei pra ele, você não fez nada como é que quer governar o estado (sorrindo muito). Um dia um secretário da fazenda que não lembro o nome, numa reunião no auditório da EMATER eu perguntei: Eu compro de uma empresa, que fornece mercadorias, fornece notas tudo direitinho sem trambiques, só tem uma coisa que me deixa na dúvida, essa empresa é localizada no Km 12 da BR 319, lá não tem nenhum tijolo! Eles acharam até que eu não sairia vivo daquela reunião.

Zk – O seu pão é considerado o melhor da cidade, qual o segredo da receita?
Mário – Hoje graças a Deus vivo muito bem, minha atual mulher.
Hicler Ibanez França é realmente a companheira. Quando cheguei eu desmanchava 525 quilos de farinha de trigo por dia, em Candeias só eu entregava pão, não tinha padaria la. Era carrinho pra lá, carrinho pra cá vendendo pão e os funcionários rindo de mim, eu não era padeiro. Um dia fui a Fiero ali onde hoje é o Sesi Clinica, dei um grito: Como é que faz, quero criar um negócio de panificação aqui! E deu certo. Dias depois eu mandei 17 funcionários em volta de uma vez.
Zk – E a receita do pão Raio de Sol?
Mário – Veja bem, quando você cria, faz suas experiências. Até que cheguei no ponto certo. Todos os padeiros conhecem minha receita, Acontece que por ela ser muito cara, eles não querem. O meu pão tem vida. Você compra o meu pão e daqui a três, quatro cinco dias pode comer que está bom o dos outros no outro dia esfarela todo. Eles não põe nem olho de soja no pão. Eu coloco banha de porco que é cara. Eu faço um pão do jeito que precisa ser feito. A Daniele da Vigilância Sanitária me tem como referencia. Ano atrasado foram fechadas trinta e tantas padarias fechadas por falta de higiene, a Roma até mudou de dono hoje é o Tonhão lá. A Daniele me chamou para uma reunião eu disse que não queria ir e ela me disse que me queria la como referencia, resultado fui e quando cheguei, ela ainda não havia chegado, os colegas padeiros ficaram sussurrando, “pegaram o velho, pegaram o velho”. Quando ela chegou e me viu foi dizendo. “Ô seu Mário o senhor veio. Olha gente vocês vieram pelo laço e ele veio de livre e espontânea vontade. Fiquei um pedaço e fui embora.
Zk – Só tem essa padaria aqui da Brasília com a D. Pedro ou tem outras?
Mário – Só tem essa e ela vai fechar no final deste ano.
Zk – Por quê?
Mário – Olha tem uma pessoa aqui que vocês chamam de empresário, mais é um bandido...
Zk – Essa resposta completa você vai acompanhar na próxima edição, ou seja, terça feira dia 27.

Um comentário:

Fernanda Silva disse...

Fiz uma pesquisa no nome do meu pai, no google, e encontrei essa entrevista, parabéns, me bateu uma saudades. e ver ele, depois de tantos anos sem ver pessoalmente e agora que não esta mais entre nós. Acalentou meu coração. Obrigada.