As
gentilezas no atendimento na Raio de Sol
Sexta feira dia 23, a boca
da noite, fui comprar pão na Padaria Raio de Sol cujo pão é considerado o
melhor de Porto Velho. O proprietário seu Mário diz que é o melhor do Brasil.
Na realidade, há muito tempo minha vontade era entrevistá-lo, porém, ficava
receoso, pois ele tem fama de não ser muito cortez. Naquele dia ao receber o
troco perguntei. Gostaria de fazer uma consulta e ele respondeu. “Você
vai ter que pagar por essa consulta”, era brincadeira e então perguntei
se poderia entrevista-lo, pois o considero uma pessoa admirável pela sua
maneira de ser. Ele concordou e logo depois estava eu e a fotografa Ana Célia
Santos minha esposa, no escritório do
seu Mário onde passamos a ouvir histórias sobre a vida do cidadão que
pensávamos ser incessível mas, que na realidade, é um ótimo papo. Com seu Mário
ninguém escapa ao mesmo tempo em que elogia uma pessoa, não se constrange ao
falar das falcatruas de outras e cita nomes de pessoas influentes da cidade. As
histórias contadas pelo seu Mário são tantas, que para não perdermos nada,
resolvemos publicá-las em duas edições.
A primeira você acompanha
nesta edição e a segunda na edição da próxima terça feira.
ENTREVISTA
Zk – Vamos começar essa
conversa?
Mário - Um dia, morando em
Goiânia, chegou um emissário de
Rondônia entregando um produto pra minha mulher que a mãe dela tinha
mandado e ficamos conversando. Eu conhecia bem a família dele, mas, ele eu não
conhecia, convidei pra entrar mais não aceitou. Moral da história: eu o
obriguei a entrar, ele ficou hospedado na minha casa. O nome dele é Rômulo
Bertelli. Isso aconteceu em 1987. Ajudei ele trazer a família dele que morava
na Espanha. Ele vendia lote, título de clube era vendedor avulso era ele e o
Lima Filho.
Zk – Além da encomenda o que
mais ele foi fazer em Goiânia?
Mário – Foi levar a mulher
dele para dar a luz a uma criança o que estranhei muito. Acontece que ele não
tinha dinheiro para pagar o hospital, mas, tinha um carro que era a minha cara.
Comprei o carro, paguei e vim buscar aqui em Porto Velho. Chegando aqui gostei
muito. O Lima Filho já era meu conhecido e me mostrou a padaria e eu gostei
tanto que resolvi ser padeiro. Comprei uma padaria não deu certo, comprei outra
também não deu certo. Fui a Goiânia e ao retornar, comprei do seu Paulo Garcia
a metade dessa padaria aqui, que era lá no Jardim Eldorado isso tudo em 1987.
Zk – Dessa vez deu certo?
Mário – Sofri muito, vai
daqui, vai dali, trabalhando e como eu não era profissional da área pois em Goiânia
tinha uma imobiliária que ficava na praça principal, sou corretor de imóveis.
Na padaria comecei a sofrer com os funcionários e então comecei a procurar
recursos. Fiz curso de padeiro, acabei entrando para a Fiero onde fui diretor
durante 14 anos junto com Miguel de Souza e Julio Miranda.
Zk – Bons tempos?
Mário – As coisas foram
passando e eu não ganhei dinheiro do jeito que eu achava. Um belo dia perguntei
do Wilson Mamede Júnior ex dono da Casa do Padeiro: O que acontece que eu
trabalho, trabalho e não ganho dinheiro igual esse povo? Ele respondeu: seu
Mário é muito simples, nós trabalhamos com pó branco (trigo) de 50 Kg. Moral da
história, eu estou aqui vivo com 85 anos de idade, trabalhando, cumprindo com
meus deveres profissionais, familiares e tudo mais.
Zk – O senhor é goiano de
Goiânia?
Mário – Não! Sou mineiro de
Divinópolis, vim pra Goiânia porque fiquei viúvo com dois filhos, hoje um mora
na América outro em Divinópolis ambos da construção civil. Fui casado primeiro
com Mariza Pardini que morreu. Devo dizer que nunca fui promíscuo. Arranjei
outra mulher em Goiânia não casei, vivemos muito bem durante 28 anos e um dia
ela me bateu e eu fui embora.
Zk – Como assim?
Mário – E ainda deu parte
dizendo que eu é que tinha batido nela. Isso já aqui em Porto Velho. Foi
engraçado porque fui intimado a depor às 10 horas. Depois de alguns minutos
esperando para ser ouvido, pedi a moça recepcionista que lesse a intimação pra
mim e ela, calma que o senhor já vai ser atendido, depois que insisti ela leu.
Não é dez horas a minha audiência? É! Parece que já passou o horário, calma o
senhor vai ser atendido agora. Não é dez hora que está escrito? É! Então feliz
Natal pra senhora e fui embora. Mais tarde recebi outra intimação para as 11
horas do outro dia. Quando cheguei à delegacia da mulher antes das 11 horas,
chegou um senhor e perguntou: O senhor é o seu Mário Queiroz? Sim, a delegada
quer falar com o senhor. Sua esposa – eu não tenho esposa. Sua ex esposa ta la
na sala mas, a delegada quer falar com o senhor em particular. Quando encontrei
a delegada ela disse, sua ex esposa me falou umas coisas que achei por bem
conhecer o senhor. Em primeiro lugar quero pedir um abraço pelo ensinamento que
o senhor me proporcionou ontem. Hoje sua mulher acabou de tirar a queixa
todinha e confessou o que ela fez. Ela foi embora, levou o que quis, devolveu o
que quis e foi morar numa casa que estava alugada por Mil e Quinhentos Reais em
2001. Moral da história, ela tirou o inquilino. A casa estava alugada porque
meu filho mais velho pediu: “Pai a casa ta muito grande pra mim, se eu alugar o
senhor me dar o troco?” eu respondi, perfeitamente. Ele ficou sem o aluguel e a
mulher tomou conta. Quando chegou a noticia que eu tinha que ir para uma peleja
judicial o Sérgio Castelo Branco como meu advogado fez uma petição e minha
atual mulher Icler Ibanez França falou: Por que você não dar aquela casa pra
ela pra acabar com isso? Fiz a proposta e ela não respondeu. Depois de várias
pelejas, hoje dia 23 de setembro de 2016, acho que foi a última. Ficou decido
que a casa vai a leilão.
Zk – O senhor chegou a atuar
como corretor de imóveis aqui em Porto Velho?
Mário – Não. Até fui
localizado aqui pela Caixa Econômica Federal pelo meu cabedal lá em Goiânia e
aqui eles me procuraram para ajudá-los no financiamento de imóveis. Pedi um
prazo pra pensar e pesquisar e descobri que em Porto Velho ninguém tinha renda
comprovada, então, trambique eu não queria fazer e continuei com padaria. Sofri
muito, mas, sou feliz por ter sido padeiro.
Zk – Por falar nisso o
senhor foi presidente do Sindicato dos Padeiros?
Mário – O Sindicato foi
criado de cima pra baixo e a primeira coisa que fiz foi dar uma bronca. Puseram
o Lima Filho como presidente e eu como vice. Na hora que o cara que montou isso
veio pegar minha assinatura questionei: Que palhaçada é essa, você um cara
acusado de crime de morte (havia matado um Juiz, parece), não lembro nem o nome
dele. Acabei aceitando e acabei fazendo parte da diretoria da Fiero onde atuei
por 14 anos, brigando por Porto Velho ao ponto de discutir sobre essas usinas,
hoje tenho, os livros da Santo Antônio Energia com dedicatória. O Miguel de
Souza pra mim foi o segundo melhor deputado federal que tivemos o primeiro foi
o Confúcio Moura. O Bianco é muito meu amigo apesar de ter me dado uma boa
quebradinha, a culpa foi do irmão dele o Arnaldo. Hoje por conta disso, tenho
uns 20 Milhões pra receber do governo.
Zk – O senhor chegou a Porto
Velho justamente durante a transição do governo militar para o civil. E então?
Mário – Quando aqui cheguei
o governador era o Jerônimo Santana muito meu
amigo, ele ia lá na padaria do Eldorado pra comer aquela broa de milho
barriguda. Um dia aparece lá um amigo nosso, hoje meu irmão de maçonaria
Orestes Muniz pedindo voto pra governador, falei pra ele, você não fez nada
como é que quer governar o estado (sorrindo muito). Um dia um secretário da
fazenda que não lembro o nome, numa reunião no auditório da EMATER eu
perguntei: Eu compro de uma empresa, que fornece mercadorias, fornece notas
tudo direitinho sem trambiques, só tem uma coisa que me deixa na dúvida, essa
empresa é localizada no Km 12 da BR 319, lá não tem nenhum tijolo! Eles acharam
até que eu não sairia vivo daquela reunião.
Zk – O seu pão é considerado
o melhor da cidade, qual o segredo da receita?
Mário – Hoje graças a Deus
vivo muito bem, minha atual mulher.
Hicler Ibanez França é
realmente a companheira. Quando cheguei eu desmanchava 525 quilos de farinha de
trigo por dia, em Candeias só eu entregava pão, não tinha padaria la. Era
carrinho pra lá, carrinho pra cá vendendo pão e os funcionários rindo de mim,
eu não era padeiro. Um dia fui a Fiero ali onde hoje é o Sesi Clinica, dei um
grito: Como é que faz, quero criar um negócio de panificação aqui! E deu certo.
Dias depois eu mandei 17 funcionários em volta de uma vez.
Zk – E a receita do pão Raio
de Sol?
Mário – Veja bem, quando
você cria, faz suas experiências. Até que cheguei no ponto certo. Todos os
padeiros conhecem minha receita, Acontece que por ela ser muito cara, eles não
querem. O meu pão tem vida. Você compra o meu pão e daqui a três, quatro cinco
dias pode comer que está bom o dos outros no outro dia esfarela todo. Eles não
põe nem olho de soja no pão. Eu coloco banha de porco que é cara. Eu faço um
pão do jeito que precisa ser feito. A Daniele da Vigilância Sanitária me tem como
referencia. Ano atrasado foram fechadas trinta e tantas padarias fechadas por
falta de higiene, a Roma até mudou de dono hoje é o Tonhão lá. A Daniele me
chamou para uma reunião eu disse que não queria ir e ela me disse que me queria
la como referencia, resultado fui e quando cheguei, ela ainda não havia
chegado, os colegas padeiros ficaram sussurrando, “pegaram o velho, pegaram o
velho”. Quando ela chegou e me viu foi dizendo. “Ô seu Mário o senhor veio.
Olha gente vocês vieram pelo laço e ele veio de livre e espontânea vontade.
Fiquei um pedaço e fui embora.
Zk – Só tem essa padaria
aqui da Brasília com a D. Pedro ou tem outras?
Mário – Só tem essa e ela
vai fechar no final deste ano.
Zk – Por quê?
Mário – Olha tem uma pessoa
aqui que vocês chamam de empresário, mais é um bandido...
Zk – Essa resposta completa
você vai acompanhar na próxima edição, ou seja, terça feira dia 27.