domingo, 5 de junho de 2016

ENTREVISTA - Augusto Batista dos Santos

‘Na verdade trabalhar na TV Cultura era uma coisa muito divertida. Os programas todos eram ao vivo, não tinha essa de gravar e editar não’

‘Enquanto sentir que tenho força para seguir trabalhando, não quero nem pensar em aposentadoria’


O sonoplasta da TV Cultura do Território


Casado com dona Maria das Graças Silva Santos que é filha de um dos primeiros sanfoneiros de Porto Velho seu Antonio Bananeira e dona Maria Celeste parteira na Maternidade Darci Vargas por muitos anos. Pai de três filhos Tânia Regina, Ronaldo da Silva e Romilson da Silva. Augusto completou no dia 21 de maio passado, 44 anos de serviço prestados como funcionário público federal. “Enquanto sentir que tenho força para seguir trabalhando, não quero nem pensar em aposentadoria”. Essa nossa conversa estava marcada para acontecer no final do mês de abril, acontece que no dia que combinamos gravar Augusto me ligou dizendo que não estava se sentindo bem e que iria ao médico, depois ele entrou de férias e só retornou agora. Nos encontramos na Casa da Cultura Ivan Marrocos justamente na Sala dos Pioneiros. Minha curiosidade, era saber parte da história da TV Cultura que funcionou em nossa capital de 1974 até a chegada da TV Rondônia. No meio da viagem, conhecemos alguns pormenores da vida desse beradeiro nascido no baixo rio Madeira na localidade de Bom Jardim que animava as festas do beradão tocando pandeiro. Melhor mesmo é acompanhar a história do seu Augusto da Casa da Cultura.

ENTREVISTA

Zk - Vamos começar pela sua identificação?
Augusto – Sou Augusto Batista dos Santos nasci na localidade de Bom Jardim no baixo rio Madeira no dia 7 de maio de 1953. Sou filho do seu Zeferino Rabelo dos Santos e dona Ceci Batista dos Santos. Ingressei no serviço público na época do Território Federal de Rondônia no dia 14 de julho de 1972, lotado Na Assessoria de Imprensa e Relações Públicas do Governo.
Zk – Com quantos anos você veio para Porto Velho?
Augusto – Estava com 12 anos de idade quando vim pra cá. Acontece que morei por algum tempo no Belmonte, isso quando meu irmão Argemiro foi professor naquela localidade, inclusive a gente morava na própria escola o Argemiro lecionou de sete a oito anos na localidade de Belmonte. Quando ele veio pra Porto Velho vim junto e passei a morar com meus pais, na rua do Coqueiro na Baixa da União.
Zk – Por que rua do Coqueiro?
Augusto – O nome foi dado pela população porque existia um coqueiro no meio da rua que começava na esquina da 7 de Setembro entre a sede do Ferroviário e o Serviço de Água, Força e Luz do Território – SALFT hoje Ceron e terminava no Alto do Bode. No trecho entre a Sete e a João Alfredo encostado ao muro do Ferroviário existiram vários quiosques onde se vendia de tudo. A rua do Coqueiro era a principal rua da Baixa da União. Hoje o nome dela é Euclides da Cunha.
Zk – E vocês ficaram morando na Baixa da União até quando?
Augusto – Até quando o comandante do 5º BEC resolveu abrir a rua Norte Sul hoje Rogério Weber e então meu pai adquiriu um terreno no bairro do Areal na rua Dom João Costa hoje rua Tenreiro Aranha e então mudamos pra lá, isso em 1969.
Zk – O Dadá seu irmão me disse que você era muito danado. Menino peralta. É verdade?
Augusto – Nem tanto! Quando morávamos no beradão, na época que meus irmãos Argemiro e Assis tocavam nas festas eu era o responsável pelo pandeiro. Enquanto eu não chegasse com o pandeiro à festa não iniciava. A gente tocava no Bom Jardim, Ilha dos Mutuns onde passamos a morar depois que saímos de Bom Jardim. Meu pai adquiriu um sítio e a gente mudou pra lá.
Zk – Vamos falar da atuação da Assessoria de Imprensa do Governo. O que você tem a nos contar?
Augusto – Inclusive nessa mesma assessoria, trabalhei durante seis anos com o artista plástico João Zoghbi entre outros. A assessoria de imprensa era o órgão responsável em divulgar todos os eventos do governo do Território. Uma das atividades que chamava mais a atenção era à Hora Oficial de Rondônia que era apresentada na Rádio Caiari todo dia às 20 horas. Por muitos anos esse programa foi apresentado pelo nosso querido Jorge Sarrafe dos Santos. O editor da Hora Oficial era o Nelson Townes de Castro. Tinha também o Boletim Informativo Mensal, de todas as atividades do governo territorial.
Zk – Você participou de um episódio que marcou a comunicação em Rondônia que foi a instalação da TV Cultura. Fala sobre esse momento em sua vida?
Augusto – Isso foi uma iniciativa do governador João Carlos Marques Henriques Neto. O estúdio da televisão funcionava no salão nobre do palácio Presidente Vargas isso no ano de 1974. Todas as pessoas que trabalharam na TV Cultura na época eram colaboradoras o Dílson Machado escalava uma pessoa da equipe para dirigir a programação a cada dia, ou seja, cada dia era um diretor. A televisão entrava no ar às 19 horas e saía à meia noite. Quem estava escalado para trabalhar naquele dia na televisão saia do expediente às 17 horas e quando dava 19 horas, nosso querido Adalberto Castro mais conhecido como Dodó que era o motorista passava de casa em casa nos pegando para levar pra TV e quando encerrava a programação a meia noite ele levava de volta.
Zk – Qual sua função na TV?
Augusto – Era o sonoplasta e em conseqüência disso, o único que não podia faltar ao serviço. Na verdade trabalhar na TV Cultura era uma coisa muito divertida. Os programas todos eram ao vivo, não tinha essa de gravar e editar não. Os responsáveis pela montagem da aparelhagem da TV foram os senhores Fernando Brasil Barbosa e o seu Arthur Marques e eles é que faziam a televisão funcionar. O jornal da TV Cultura era apresentado pelo Vladimir de Carvalho que era chamado de “tele noticias”. O programa de esporte era apresentado pelo José Ribamar, João Dalmo e pelo saudoso Wilton Guedes e o programa de auditório que acontecia todo domingo era apresentado pelo Osmar VIlhena. A direção geral era do Dílson Fernandes. O responsável técnico pelas gravações dos programas quando necessário era o Sebastião Cardoso que veio de Brasília com essa missão, ele morava na casa do governador.
Zk – Quanto tempo a TV Cultura ficou no ar?
Augusto – Por aproximadamente um ano. Quando chegou a TV Rondônia o governo parou com a TV Cultura. A TV Cultura era uma TV Educativa. O bom era que todo mundo se conhecia, tinha um bom relacionamento. A logomarca da TV que era a figura de um índio, foi idéia da jornalista Jussara e quem desenvolveu, desenhou foi o Osvaldo Soares de Brito hoje conhecido no mundo artístico nacional como Heldon Brito (cantor). A logomarca ou o indiozinho aparecia a cada mudança de programação que era justamente para dar tempo de se mudar o equipamento, isso porque não tinha publicidade nem do governo. Lembro que aos domingos a dona Nilce Guimarães se apresentada declamando poesias.

Zk – Quem fazia parte da equipe que auxiliava o Dílson na administração da Televisão. A turma do apoio?
Augusto – Nelze Lins Guimarães, Valdiza Violeta Pereira, Doroti Johnson. Dimas Queiroz de Oliveira, Dionei Ribeiro era uma equipe coesa, ninguém alterava a voz com ninguém. Na parte da administração da programação tinha também o Moacir Ubiratan Sampaio.
Zk – Vamos falar da sua participação na vida social da cidade?

Augusto – Cheguei a desfilar pela escola de samba Seca Boteko que ensaiava na Duque de Caxias na calçada da loja do seu Miguel Arcanjo. Os principais fundadores da escola foram o Miguelzinho e o saudoso Sibite que era o Divino, Amadeu meu irmão, Garcia Neto, Ernesto Melo era uma galera boa. O Seca Boteko só desfilou uma vez e tem mais, o carnavalesco foi o Joãozinho Trinta que estava começando a se destacar no carnaval do Rio de Janeiro inclusive já tinha sido campeão pela Beija Flor. Na realidade eu participava mais de eventos esportivos. Joguei no Paysandu, Clube Atlético Rondoniense, joguei no Nacional que era da segunda divisão da Federação, esse Nacional era do 5º BEC e quem coordenava era o cabo Batista.
Zk – Fala mais um pouco da tua família e da Porto Velho antiga?
Augusto – Meu pai era comerciante na Feira Modelo hoje Mercado Central, quando mudamos para o Areal as ruas praticamente não existiam, era apenas caminho e em virtude de pessoas como Sebastião Valadares e Floriano Riva serem freguês do meu pai, as rua onde morávamos no Areal e outras foram beneficiadas com encascalhamento e até instalação de energia elétrica e ai foi quando o Areal começou a se desenvolver de verdade.
Zk – E hoje?
Augusto – Faço parte da equipe do Carlinhos Maracanã na Casa da Cultura Ivan Marrocos. Apesar de já ter ultrapassado o tempo de serviço necessário não penso em me aposentar. Obrigado!

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