De
interno no colégio Dom Bosco a eleição de 1950
O porto-velhense Pedro Sena
hoje residindo em Salvador (BA), veio a Porto Velho participar da festa de 100
anos da mãe da sua esposa Orlete Macêdo senhora Nair Andrade Macedo cuja festa
aconteceu sábado passado dia 9. Por também fazer parte da família, domingo dia
10, fui até a residência da Tia Nair e papo vai, papo vem Pedro foi contando sua
história desde quando foi interno no colégio Dom Bosco até quando foi demitido
do jornal Alto Madeira por contribuir com a campanha do Coronel Rondon que foi
eleito deputado federal derrotando o Coronel Aluísio Ferreira. Achamos bacana
as histórias do Pedro e resolvemos publicá-las na íntegra, porém como a
história completa não cabe apenas numa edição, resolvemos dividir a entrevista
em dois episódios. Hoje você vai acompanhar o primeiro e na edição de amanha, o
restante da história quando Pedro fala sobre sua convivência com a família
Reski durante 14 anos.
ENTREVISTA
Zk – Por gentileza qual seu
nome, data de nascimento e origem?
Pedro - Pedro Alberto Gomes
de Sena. Nasci em 15 de novembro de 1937 na localidade chamada São José
defronte a boca do Rio Jamary, ou ao lado de São Carlos. Minha mãe se casou com
um seringalista muito conhecido na região que era dono daquelas terras todas. O
Nome dele era Joaquim Gaspar de Carvalho. Fiquei morando em São José até completar
a idade de estudar. Sou registrado como amazonense porque naquele tempo a
localidade onde nasci pertencia ao estado do Amazonas.
Zk – Veio para Porto Velho
estudar em qual estabelecimento?
Pedro – Fui internado no
colégio Dom Bosco que funcionava no prédio onde hoje é a Faculdade Católica ao
lado da Catedral. Fiquei internado durante seis (6) anos. Papai não dava colher
de chá, eu tinha três irmãs moças filhas do primeiro casamento dele e ele
também as internou num colégio em Manaus. Por ser um aluno aplicado consegui
uma façanha, o padre diretor me dispensou do primeiro ano do cientifico
alegando que eu tinha terminado o ginásio com alto grau de aproveitamento. Em
1947 meu pai faleceu e como só ele sabia lidar com os seringais, pois éramos
todos muito jovens. Resultado, abandonamos nossas terras. Lembro dos
seringalistas Albino Henrique, Baraúna, Os Cantanhedes, Marçal Couceiro entre
outros. Sei que a coisa foi tocando e eu tinha que ver meu lado, tive a sorte
de ter um padre diretor com muita visão e minha mãe dona Helena Gaspar de
Carvalho já tinha se mudado para Porto Velho e como ela não era casada ficou
conhecida como Helena Sena. Bom, com a morte do meu pai, tive que sair do
internato porque a anuidade era muito cara e o pagamento tinha que ser
adiantado. Graças a Dom João Batista Costa e meu currículo de aluno excelente
consegui uma vaga na Escola Normal Carmela Dutra.
Zk – Você disse que naquele
tempo os Bispos eram tratados como se fossem príncipes. Como funcionava isso?
Pedro – Grande homem Dom
João. Ele ajudou muito minha família.
Ele recém chegado à prelazia de Porto Velho, mostrava aquela simplicidade. Ele
desvestiu aquelas pompas que os bispos e arcebispos que eram considerados
príncipes tinham. Pra você ter idéia a chegada de Dom Pedro Massa o primeiro
bispo de Porto Velho foi um acontecimento que parou a cidade, ele veio num
avião da Panair chamado Catalina que pousou no rio Madeira. O porto repleto de
gente acho que tava toda a população da cidade lá inclusive as autoridades,
diretor da EFMM, comerciantes, categas enfim e ele desembarcou todo
paramentado, batina de púrpura, crucifico e corrente de ouro, guarda de honra
era como se fosse mesmo um príncipe. Dom João mudou isso com pouco tempo que
estava aqui. Ele simplificou a coisa se achegou mais a população dos bairros
carentes, pois assim a pedido dele fui aceito na Escola Normal Carmela que por
sinal era uma maravilha.
Zk – Como sabemos você
exerceu a função de contador, onde fez esse curso?
Pedro – Depois de algum
tempo, a maçonaria fundou a Escola Estudo e Trabalho que acho que foi a
primeira escola profissionalizante de Porto Velho, pois seu objetivo era formar
auxiliar de contabilidade e contador, pois naquele tempo esses profissionais
eram chamados de “Guarda Livro” e então me matriculei lá mais só fiz dois anos
porque tive que ir trabalhar (me formei em Savaldor – BA).
Zk – Qual foi o primeiro
emprego?
Pedro – Fui trabalhar no
jornal Alto Madeira no tempo que o diretor era o professor Carlos Mendonça um
aristocrata, uma pessoa finíssima, o secretário era uma pessoa que também ficou
muito conhecida por ter se envolvido numa tragédia que marcou sua vida, era o
professor Ordélo Serpa, uma pessoa maravilhosa sábia formado em curso
superiores de magistratura.
Zk – Esse Ordélo é o mesmo
que se envolveu numa confusão que resultou em sua morte?
Pedro – É ele mesmo. Ele se
envolveu numa briga com um motorista de táxi chamado Antônio Coalhada numa casa
de prostituição, ele era muito violento, além de gostar de beber quando não
estava em serviço. O Coalhada disse um desaforo pra ele que puxou uma faca
peixeira e deu quatro facadas no Coalhada. Algumas pessoas que apreciaram a
cena, sabendo que ele era uma pessoa importante no governo do território além
de ser secretário no jornal Alto Madeira, o tiraram da cena do crime. Passados
alguns anos ele saiu da redação que era ao lado do “Sinucas” de propriedade do
Euro Tourinho na rua Barão do Rio Branco e era mais de dez horas da noite e foi
jantar no clipe do João Barril que ficava no meio da avenida Sete de Setembro,
em frente as Lojas Pernambucanas, onde ficava uma turma de gente boa que tinha
dinheiro, jogando a noite toda. Naquele dia o Antônio Coalhada estava no clipe.
Ordélo quando o viu, ainda tentou evitar mais não teve jeito; “Agora vamos
acertar aquela conta, deu uma primeira facada que pegou na veia jugular e saiu
pipinando o corpo do Ordélo, foram quase vinte facadas. Ordélo não resistiu e morreu
ali mesmo.
Zk – Você fazia o que no
Alto Madeira?
Pedro – Naquele tempo tinha
se iniciado a introdução da máquina de datilografia, como aquelas remington e no
colégio Dom Bosco tinha o padre Bruno que era alemão que foi contrato pelo
Ministério da Agricultura pra fazer a previsão do tempo, soltando uns balões lá
de cima do telhado do colégio, quando os balões atingiam x metro de altura
estourava e o padre acompanhando aqui de baixo com um teodolito. Ele me chamou
para ajudá-lo. Esse padre Bruno iniciou o recrutamento para ver quem se
interessaria a aprender a escrever na maquina de datilografia: “Você Pedro tem
boa cabeça deve fazer esse curso”. Esse
curso me valeu o começo da minha vida profissional, a ganhar dinheiro e então
fui trabalhar no Alto Madeira e o Ordélo escrevia laudas e laudas de noticias e
passava pra mim que datilografava, assim acontecia com as noticias que chegavam
da Agencia Meridional. O professor Carlos Mendonça ficava até mais das oito
horas da noite de ouvido num rádio Fhilips para ouvir o Repórter Esso, o que
saia no rádio, ele anotava passava para o Ordélo que desenrolava a matéria e
passava pra mim “Bater” na máquina de escrever. Naquele tempo era assim que
chamavam quem tinha o curso de datilografia. “Tu sabe bater na máquina?”.
Independente disso, fui pra dentro das oficinas aprender o oficio de tipógrafo
que naquele tempo, era letra por letra. Lá pra meia noite seu Boy começa a
imprimir o jornal que só tinha quatro páginas.
Meu ordenado era 300 Cruzeiros o que entregava todo para minha mãe para
ajudar nas despesas da casa.
Zk – Você ficou no Alto Madeira até quando?
Zk – Você ficou no Alto Madeira até quando?
Pedro – Fiquei até 1950 na
campanha do Coronel Rondon para deputado federal que ele venceu o Aluisio
Ferreira. Eu era simpatizante do Rondon, mas, ainda não votava e naquele tempo
já tinha essa confusão política que existe até hoje. Alguém que trabalhava com
o José Saleh Morebh um comerciante muito importante que trabalhava na época
para derrubar o Aluisio. Rondon ganhou mas o Coronel Aluizio entrou com recurso
para anular o pleito e eles (do Rondon) precisavam pra contestar o recurso, de
três edições diferente e recentes do
Alto Madeira onde os aluizistas publicaram matérias que os rondonistas diziam
que eram calúnias. Sei que vieram falar comigo: “Olha o seu Saleh mandou pedir
pra você fazer um favor, embora vá lhe dar
um bom agrado em dinheiro, que é preciso você pegar 20 exemplares desses
dias aqui (me entregando os dias anotados).
Zk – E você aceitou a
propina?
Pedro – Eu inocentemente
falei, não quero dinheiro nenhum, por outro lado não posso falar com ninguém
aqui porque o pessoal é contra o partido do Cel. Rondon, agora eu vou fazer o
que vocês estão pedindo e aonde vou entregar esse material. “Você entrega ali
no edifício Feitosa, na esquina da Barão com a José de Alencar (depois o Abel
abriu o Bar Santo Antônio), diga que é o pedido do Saleh”. Para encurtar a conversa
a turma do Rondon derrubou o recurso do Aluisio. Descobriram que os jornais
foram a principal prova contra o Aluisio e então procuraram saber quem foi que
havia fornecido as edições até que descobriram que fui eu e me demitiram. “Seu
Pedro tem uma denuncia aqui de que o senhor forneceu jornais sem autorização da
diretoria para o partido do Rondon, o senhor entregou pro seu Saleh Morebh. Sei
que o senhor não tem idade e nem alcance para analisar o mal que isso pode
causar para o nosso partido, mas como o assunto se tornou público, o senhor não
pode mais ficar aqui”, disse seu Carlos Mendonça. Mandou o seu Esmite Bento de
Melo que era o tesoureiro bater minhas contas.
Zk – Desempregado e agora?
Pedro – O assunto chegou até
seu José Saleh que mandou me chamar. Ele tinha aberto uma loja na rua Barão do
Rio Branco que era um escritório de representação, a gente pensava que não era
nada, mas, era só ele que podia vender a cerveja Antártica, o Açúcar Patende
que vinha de Pernambuco e muita conserva. Naquele tempo tudo era difícil, a
mercadoria chegava aqui vinda de Belém primeiro nas Chatas Sapucaia, Cuibá e
outras, depois nos navios Augusto Monte Negro, Leopoldo Peres, Lauro Sodré. Fui
trabalhar nessa loja ganhando muito mais que ganhava no Alto Madeira. Fiquei
até 1954, quando o Rondon perdeu a eleição.
Zk – E foi trabalhar com
quem?
Pedro – Certo dia, não tinha
nem dois meses que havia saído da loja do Saleh, estava jogando bilhar na
sinuca do Tourinho e encontrei o Antônio Reski. Eu já era amigo da família. Naquele
tempo os Reski dominavam o comércio de Porto Velho, tinha cinema, padaria tinha
duas lojas uma na esquina da Sete com a José de Alencar e a outra na esquina da
José de Alencar com a Henrique Dias. Então ele chegou comigo e disse que estava
numa enrascada danada, pois o Chiquinho Gonçalves que era quem fazia o trabalho
de escritório pra eles, não era como contador, o contador era o José de Góes
uma pessoa muito competente e o Chiquinho estava com cirrose e não podia
trabalhar. “Já me informei com o Saleh e você é a pessoa ideal para trabalhar
com a gente... (Coninua na edição de amanhã.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário