A felicidade proporcionada pela ‘Falsa
Alegria’
Acreano
de Sena Madureira Sergio Nobre Areal Souto ou apenas Sergio Souto quando se
trata do artista cantor e compositor, é uma das maiores expressões da música
popular brasileira.
Sergio se define como um compositor urbano, pelo fato de viver a quase 50 anos no Rio de Janeiro. A
influência Amazônica, contudo, é permanente na sua obra.
Convidado pelos produtores do Festcineamazônia Fernanda
Kopanakis e Jurandir Costa para junto com o também compositor e cantor Célio
Cruz, participar do show de encerramento da 12ª edição do evento, Sérgio Souto
durante o ensaio de sexta feira 07, nos recebeu e falou da sua carreira
artística em especial, de como a música “Falsa Alegria” lhe proporcionou e
proporciona grandes emoções. “Ainda vou escutar essa música gravada pelo Zeca
Pagodinho”. Vamos à entrevista.
ENTREVISTA
Zk –
Fala sobre tua origem?
Sergio
Souto – Nasci em Sena Madureira estado do Acre no dia 11 de julho de 1950, me
mudei para Rio Branco com 10 anos e com 15 fui pro Rio de Janeiro.
Zk –
Por que o Rio de Janeiro?
Sergio
Souto – Fui morar em Rio Branco porque minha família mudou em busca de melhores
condições para nossos estudos, em 1962 meu pai morreu e após três anos da sua
morte, éramos sete irmãos seis homens e uma menina e minha mãe decidiu ir morar
no Rio de Janeiro, primeiro para tratar da saúde de um irmão meu e depois
porque lá as oportunidades eram bem maiores.
Zk –
Seus pais faziam o que no Acre, eram acreanos de origem?
Sergio
Souto – Meu pai Theodomildo Pinto do Areal Souto era cearense de um município
chamado Independência e minha mãe Irani Nobre Souto. Meu pai foi seringueiro
Soldado da Borracha e apesar de ter estudado apenas até o primário era um cara
muito inteligente, ele dava aula de matemática pra gente. Ele foi prefeito de
Sena Madureira e depois dirigiu o Diário Oficial do Estado, morreu aos 72 anos
de idade. Meu pai tem uma história muito interessante, casou com minha mãe ao
ficar viúvo do primeiro casamento e tinha sete filhos seis mulheres e um homem
e com a mamãe teve também sete filhos seis homens e uma mulher.
Zk –
Você chegou ao Rio de Janeiro com 15 anos e foi fazer o que?
Sergio
Souto – A viagem foi de FAB e a primeira pousada foi aqui, no Porto Velho Hotel
o mais chic da cidade, a segunda escala foi em Campo Grande e no outro dia
chegamos ao Rio de Janeiro em pleno carnaval, desembarquei no Galeão e dei de
cara com aquela cidade enorme e tudo quando a gente é criança, é fantástico
ainda mais que o povo tava na rua brincando carnaval, a acolhida não poderia
ser melhor.
Zk –
Vamos falar desse encontro com a cidade maravilhosa?
Sergio
Souto – Meus irmãos foram casando e eu fui trabalhar como fotografo gráfico,
tinha todo o equipamento fotográfico, era profissional, tinha inclusive
laboratório. Fazia cobertura de casamento, festa de debutante, desfile de moda
etc. Comecei na música muito tarde, já estava com 30 anos de idade.
Zk – E
não parou mais?
Sergio
Souto – O dinheiro que faturava com a fotografia fui guardando para investir no
meu primeiro disco (LP). Acontece que gostava de cantar, isso já vinha desde
criança lá no Acre, cantava e ficava batucando na mesa já que não tinha nenhum
instrumento.
Zk –
Sua influencia musical é de família?
Sergio
Souto – Minha dizia que meu pai tocava violão, mas, ele nunca tocou pra gente
lá em casa, já minha mãe tocava um pouquinho de violão, mas, apenas os acordes
simples, Do, Re... Ela dizia: “Larguei por causa das minhas unhas que eram
grandes”. No Rio de Janeiro encontrei com amigos músicos do Acre e fui
aprendendo olhando eles tocarem, peguei um violão emprestado e fui
aperfeiçoando, aprendendo harmonias mais elaborados etc.
Zk –
Qual sua primeira composição musical?
Sergio
Souto – Comecei a compor mesmo quando já tinha 30 anos de idade. Apesar de já
ter tentado compor alguma música que vamos dizer, não foram aproveitadas,
considero minha primeira composição a música Falsa Alegria. Essa abriu todas as
portas, inclusive a do Programa Fantástico da Rede Globo de Televisão.
Zk –
Como surgiu Falsa Alegria?
Sergio
Souto – Conheci o compositor carioca Amaral Maia e então firmamos parceria
musical e logo de cara, em 1979, ganhamos o primeiro lugar no Festival Rodada
Brhama de Música Popular Brasileira com a música “Falsa Alegria”. Daí pra
frente, parti para a produção do meu primeiro disco, uma produção independente
paga com o dinheiro que guardei fazendo fotografias. Devo esclarecer que nunca
trabalhei como músico tocando na noite, quando resolvi ser artista cantor e
compositor foi logo gravando meu primeiro LP.
Zk –
Fala sobre a gravação desse seu primeiro disco?
Sergio
Souto – Foi um disco muito lindo! Lindo pra história dele, foi gravado na mesma
época que o Boca Livre gravou seu primeiro disco que estourou no Brasil todo,
foi na onda dos independentes. Gravamos num estúdio que ficava perto do Campo
de Santana próximo do famoso edifício Balança Mais não Cai, gravei com o
pessoal do Galo Preto Rafael Rabelo tocando violão de Sete Cordas comigo e com
a galera, montei um timaço.
Zk – E
como você foi parar no Fantástico?
Sergio
Souto – Esse disco começou a tocar bem no rádio e não sei como o disco caiu nas
mãos do José Itamar de Freitas e ele ouviu. Ele costumava ouvir discos as
segundas feiras e dei sorte porque o meu disco naquela segunda feira era o
primeiro da pilha. Segundo fiquei sabendo depois, quando ele ouviu a primeira
música que era justamente Falsa Alegria ele perguntou: “Quem é esse cara,
procura, caça ele quero ele gravando ainda hoje para o Fantástico”.
Sergio
Souto – Eles ligavam la pra casa e minha mãe já não sabia o que dizer. Eles me
localizaram as cinco horas da tarde: “Você precisa vir pra cá agora, vamos
gravar um clipe com você”. Peguei um táxi e fui pro Jardim Botânico, cheguei e
encontrei tudo preparado, a roupa que ia vestir enfim é muita produção na
Globo. Fui gravar em Vila Isabel no famoso Petisco da Vila. Aquela parafernália
toda, seguranças do meu lado, me senti um astro naquela noite. As mesas do
Feitiço da Vila lotadas com autoridades e gente famosa, dali saímos e fomos
gravar outras cenas no Chafariz tudo na Vila.
Zk –
Domingo estava você no Fantástico?
Sergio
Souto – Passou um mês, dois e nada. Me chamaram de novo, mandaram me buscar em
casa para um nova gravação, dessa vez no Alto da Boa Vista, esperei mais dois
meses e nada do clipe ir pro ar. Na terceira vez que me chamaram o Zé Mario me
disse Sérgio o Itamar não faz isso com ninguém não, ta fazendo contigo porque
está apostando no trabalho. Fomos gravar na Central do Brasil. Alugaram um
vagão de trem encheram de figurante e eu cantando no meio daquele empurra
empurra.
Zk -
Dessa vez foi pro ar?
Sergio
Souto – Rapaz ele colocou o clipe no ar no dia que estourou a guerra das
Malvinas e o Flamengo foi tri campeão brasileiro quer dizer praticamente o
Brasil inteiro estava assistindo o Fantástico naquela noite. Foi a maior festa
La em casa. No dia seguinte as rádios passaram a tocar mais enfim a partir dali
a vida mudou. Depois me inscrevi no Festival dos Festivais com a música “Minha
Aldeia” que rendeu um novo clipe no Fantástico e foi tema da novela Sinhá Moça
de 1986.
Zk –
Aliás, você se tornou especialista em festivais. Quantos foram?
Sergio
Souto – Em 1979 também participei do Festival da Tupi em São Paulo que
aconteceu no Parque do Anhembi com a participação de grandes nomes Caetano
Veloso, Fagner que venceu com a música “Quem me levará sou eu”, Oswaldo
Montenegro cantando Bandolins, participei com “Navegantes” um fado lindíssimo
que foi elogiado pela crítica Silvio Lancelotti, Tárik de Souza, Zuza Homem de
Melo todos falando maravilhas de Navegante. Depois veio o Festival dos
Festivais da Globo, o Festival da TV Manchete chamado Som das Águas, Festival
Rímula de Música do SBT e acabou os festivais.
Zk – E
vão surgindo os parceiros?
Sergio
Souto – Sim, veio o Aldir Blanc meu primeiro grande parceiro é claro que
tirando o Amaral Maia. O Moacir Luz que já era meu parceiro me levou ao Aldir
que falou, manda uma fita com umas quatro cinco músicas e vamos trabalhar, a
primeira música foi Valsa Dividida que é um clássico, compus com ele 14
músicas, gravei todas elas em discos diferentes aí pintou o Paulo César Pinheiro
que tem uma história muito legar. Sou louco pela obra dele e foi aquela mesma
história, não manda uma música só, quero no mínimo quatro. Mandei uma fita com
sete músicas, com uma semana ele ligou e disse, dá o sinal do fax aí e começou
a sair letra, ele fez as sete, cada uma mais bela que a outra, por exemplo:
Diamante – O amor é um presente, invisível corrente, imantada de braço pra
braço, é uma câmara ardente onde um corpo inocente, se deita e de la sai
devasso...
Zk – E
seu retorno ao Acre?
Sergio
Souto – Fiquei 14 anos sem ir ao Acre e voltei e não parei mais de ir, agora to
um bom tempo sem ir lá. Como você gosta, em Rio Branco fiz samba enredo para a
escola de Samba Unidos do 15, Urubu Cheiroso e para a escola de samba Mocidade
Independente. No Rio não me envolvo muito com escola de samba, mas, tem um
parceiro de Manaus o Paulo Onça que da ala de compositores da Grande Rio que
está me instigando a fazer samba enredo com ele, vamos ver se cola. Ele ta
gravando um disco e colocou duas músicas minha.
Zk - É
verdade que existe a possibilidade do Zeca Pagodinho gravar Falsa Alegria.
Sergio
Souto – Todo mundo quer gravar Falsa Alegria que foi gravada pelo grande Nelson
Gonçalves entre outros. Meu sonho é vê-la gravada pelo Zeca Pagodinho,
inclusive sei que ele gosta muito dela e quem sabe no próximo trabalho dele
Falsa alegria seja o carro chefe.
Zk –
Como se deu o encontro dessa turma de compositores da Amazônia, você, Nilson
Chaves, Bado e tantos outros?:
Sergio
Souto – Isso é muito legal. O problema da Amazônia é a distância. Existe uma
unidade muito grande entre a gente. O Pará é campeão na música até o brega do
Pará é chic. A noite em Belém é autoral os caras cantam as músicas deles,
poucos cantam músicas de outros compositores. Cada voz mais linda que a outra,
ouvi um dias desses a Andrea Pinheiro cantando com um pianista num bar chamado Boiúna,
quando ela começou a cantar fiquei arrepiado, que voz linda e tem o Nilson
Chaves, Vital Lima, Paulinho Moura, Jorge Andrade poeta o Ziza Padilha. Aqui em
Porto Velho tenho um parceiro querido que é o Binho que se Deus quiser daqui a
pouco estará de volta o Bado a gente não tem nada junto mas, existe um carinho
um pelo outro muito bom.
Zk –
Você vive exclusivamente de música?
Sergio
Souto – Vivo de música, as vezes é sufocante, as vezes gratificante. Tô
lançando um disco novo que é o “Quase Todas”. Como não tenho distribuidora
tenho que levar debaixo do braço vendendo nas minhas apresentações. Neste
domingo completo 36 dias fora de casa. Fiquei 15 dias em Belém e 15 dias em
Manaus e vim pro Festcineamazônia a convite da Fernanda e do Jurandir Costa.
Zk –
Casado?
Sergio
Souto – Divorciado tenho um filho que está com 21 anos de idade. Ano que vem ta
prevista uma apresentação num evento que reúne músicos e musica do mundo
inteiro voltadas para o tema ecologia. Em 2015 vai acontecer na Flórida – USA.
Devo fazer uma turnê por Portugal.
Zk -
Quem já gravou Sergio Souto?:
Sergio
Souto – Elba Ramalho, Eliana Printson, Nilson Chaves, Fabíola, Fagner, Jorge
Vercilo, Jessé, Sergio Napp, Cristina Santos irmã da Lucélia Santos, Weber
Wernek que gravou diversas músicas minhas, tem um grupo de samba em Vitória
(ES) chamado Grupo Ilha que está lançando um CD com cinco músicas minhas. Em
Manaus o Grupo Fino do Samba gravou duas músicas também.
Zk –
Contato?
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