sábado, 8 de novembro de 2014

ENTREVISTA - Sergio Areal Souto

A felicidade proporcionada pela ‘Falsa Alegria’




Acreano de Sena Madureira Sergio Nobre Areal Souto ou apenas Sergio Souto quando se trata do artista cantor e compositor, é uma das maiores expressões da música popular brasileira.
Sergio se define como um compositor urbano, pelo fato de viver a quase 50 anos no Rio de Janeiro. A influência Amazônica, contudo, é permanente na sua obra.
Convidado pelos produtores do Festcineamazônia Fernanda Kopanakis e Jurandir Costa para junto com o também compositor e cantor Célio Cruz, participar do show de encerramento da 12ª edição do evento, Sérgio Souto durante o ensaio de sexta feira 07, nos recebeu e falou da sua carreira artística em especial, de como a música “Falsa Alegria” lhe proporcionou e proporciona grandes emoções. “Ainda vou escutar essa música gravada pelo Zeca Pagodinho”. Vamos à entrevista.

ENTREVISTA

Zk – Fala sobre tua origem?
Sergio Souto – Nasci em Sena Madureira estado do Acre no dia 11 de julho de 1950, me mudei para Rio Branco com 10 anos e com 15 fui pro Rio de Janeiro.
Zk – Por que o Rio de Janeiro?
Sergio Souto – Fui morar em Rio Branco porque minha família mudou em busca de melhores condições para nossos estudos, em 1962 meu pai morreu e após três anos da sua morte, éramos sete irmãos seis homens e uma menina e minha mãe decidiu ir morar no Rio de Janeiro, primeiro para tratar da saúde de um irmão meu e depois porque lá as oportunidades eram bem maiores.
Zk – Seus pais faziam o que no Acre, eram acreanos de origem?
Sergio Souto – Meu pai Theodomildo Pinto do Areal Souto era cearense de um município chamado Independência e minha mãe Irani Nobre Souto. Meu pai foi seringueiro Soldado da Borracha e apesar de ter estudado apenas até o primário era um cara muito inteligente, ele dava aula de matemática pra gente. Ele foi prefeito de Sena Madureira e depois dirigiu o Diário Oficial do Estado, morreu aos 72 anos de idade. Meu pai tem uma história muito interessante, casou com minha mãe ao ficar viúvo do primeiro casamento e tinha sete filhos seis mulheres e um homem e com a mamãe teve também sete filhos seis homens e uma mulher.
Zk – Você chegou ao Rio de Janeiro com 15 anos e foi fazer o que?
Sergio Souto – A viagem foi de FAB e a primeira pousada foi aqui, no Porto Velho Hotel o mais chic da cidade, a segunda escala foi em Campo Grande e no outro dia chegamos ao Rio de Janeiro em pleno carnaval, desembarquei no Galeão e dei de cara com aquela cidade enorme e tudo quando a gente é criança, é fantástico ainda mais que o povo tava na rua brincando carnaval, a acolhida não poderia ser melhor.
Zk – Vamos falar desse encontro com a cidade maravilhosa?
Sergio Souto – Meus irmãos foram casando e eu fui trabalhar como fotografo gráfico, tinha todo o equipamento fotográfico, era profissional, tinha inclusive laboratório. Fazia cobertura de casamento, festa de debutante, desfile de moda etc. Comecei na música muito tarde, já estava com 30 anos de idade.
Zk – E não parou mais?
Sergio Souto – O dinheiro que faturava com a fotografia fui guardando para investir no meu primeiro disco (LP). Acontece que gostava de cantar, isso já vinha desde criança lá no Acre, cantava e ficava batucando na mesa já que não tinha nenhum instrumento.

Zk – Sua influencia musical é de família?
Sergio Souto – Minha dizia que meu pai tocava violão, mas, ele nunca tocou pra gente lá em casa, já minha mãe tocava um pouquinho de violão, mas, apenas os acordes simples, Do, Re... Ela dizia: “Larguei por causa das minhas unhas que eram grandes”. No Rio de Janeiro encontrei com amigos músicos do Acre e fui aprendendo olhando eles tocarem, peguei um violão emprestado e fui aperfeiçoando, aprendendo harmonias mais elaborados etc.
Zk – Qual sua primeira composição musical?
Sergio Souto – Comecei a compor mesmo quando já tinha 30 anos de idade. Apesar de já ter tentado compor alguma música que vamos dizer, não foram aproveitadas, considero minha primeira composição a música Falsa Alegria. Essa abriu todas as portas, inclusive a do Programa Fantástico da Rede Globo de Televisão.
Zk – Como surgiu Falsa Alegria?
Sergio Souto – Conheci o compositor carioca Amaral Maia e então firmamos parceria musical e logo de cara, em 1979, ganhamos o primeiro lugar no Festival Rodada Brhama de Música Popular Brasileira com a música “Falsa Alegria”. Daí pra frente, parti para a produção do meu primeiro disco, uma produção independente paga com o dinheiro que guardei fazendo fotografias. Devo esclarecer que nunca trabalhei como músico tocando na noite, quando resolvi ser artista cantor e compositor foi logo gravando meu primeiro LP.

Zk – Fala sobre a gravação desse seu primeiro disco?
Sergio Souto – Foi um disco muito lindo! Lindo pra história dele, foi gravado na mesma época que o Boca Livre gravou seu primeiro disco que estourou no Brasil todo, foi na onda dos independentes. Gravamos num estúdio que ficava perto do Campo de Santana próximo do famoso edifício Balança Mais não Cai, gravei com o pessoal do Galo Preto Rafael Rabelo tocando violão de Sete Cordas comigo e com a galera, montei um timaço.
Zk – E como você foi parar no Fantástico?
Sergio Souto – Esse disco começou a tocar bem no rádio e não sei como o disco caiu nas mãos do José Itamar de Freitas e ele ouviu. Ele costumava ouvir discos as segundas feiras e dei sorte porque o meu disco naquela segunda feira era o primeiro da pilha. Segundo fiquei sabendo depois, quando ele ouviu a primeira música que era justamente Falsa Alegria ele perguntou: “Quem é esse cara, procura, caça ele quero ele gravando ainda hoje para o Fantástico”.
Zk – E como foi o contato com a equipe do Fantástico?:
Sergio Souto – Eles ligavam la pra casa e minha mãe já não sabia o que dizer. Eles me localizaram as cinco horas da tarde: “Você precisa vir pra cá agora, vamos gravar um clipe com você”. Peguei um táxi e fui pro Jardim Botânico, cheguei e encontrei tudo preparado, a roupa que ia vestir enfim é muita produção na Globo. Fui gravar em Vila Isabel no famoso Petisco da Vila. Aquela parafernália toda, seguranças do meu lado, me senti um astro naquela noite. As mesas do Feitiço da Vila lotadas com autoridades e gente famosa, dali saímos e fomos gravar outras cenas no Chafariz tudo na Vila.
Zk – Domingo estava você no Fantástico?
Sergio Souto – Passou um mês, dois e nada. Me chamaram de novo, mandaram me buscar em casa para um nova gravação, dessa vez no Alto da Boa Vista, esperei mais dois meses e nada do clipe ir pro ar. Na terceira vez que me chamaram o Zé Mario me disse Sérgio o Itamar não faz isso com ninguém não, ta fazendo contigo porque está apostando no trabalho. Fomos gravar na Central do Brasil. Alugaram um vagão de trem encheram de figurante e eu cantando no meio daquele empurra empurra.

Zk - Dessa vez foi pro ar?
Sergio Souto – Rapaz ele colocou o clipe no ar no dia que estourou a guerra das Malvinas e o Flamengo foi tri campeão brasileiro quer dizer praticamente o Brasil inteiro estava assistindo o Fantástico naquela noite. Foi a maior festa La em casa. No dia seguinte as rádios passaram a tocar mais enfim a partir dali a vida mudou. Depois me inscrevi no Festival dos Festivais com a música “Minha Aldeia” que rendeu um novo clipe no Fantástico e foi tema da novela Sinhá Moça de 1986.
Zk – Aliás, você se tornou especialista em festivais. Quantos foram?
Sergio Souto – Em 1979 também participei do Festival da Tupi em São Paulo que aconteceu no Parque do Anhembi com a participação de grandes nomes Caetano Veloso, Fagner que venceu com a música “Quem me levará sou eu”, Oswaldo Montenegro cantando Bandolins, participei com “Navegantes” um fado lindíssimo que foi elogiado pela crítica Silvio Lancelotti, Tárik de Souza, Zuza Homem de Melo todos falando maravilhas de Navegante. Depois veio o Festival dos Festivais da Globo, o Festival da TV Manchete chamado Som das Águas, Festival Rímula de Música do SBT e acabou os festivais.

Zk – E vão surgindo os parceiros?
Sergio Souto – Sim, veio o Aldir Blanc meu primeiro grande parceiro é claro que tirando o Amaral Maia. O Moacir Luz que já era meu parceiro me levou ao Aldir que falou, manda uma fita com umas quatro cinco músicas e vamos trabalhar, a primeira música foi Valsa Dividida que é um clássico, compus com ele 14 músicas, gravei todas elas em discos diferentes aí pintou o Paulo César Pinheiro que tem uma história muito legar. Sou louco pela obra dele e foi aquela mesma história, não manda uma música só, quero no mínimo quatro. Mandei uma fita com sete músicas, com uma semana ele ligou e disse, dá o sinal do fax aí e começou a sair letra, ele fez as sete, cada uma mais bela que a outra, por exemplo: Diamante – O amor é um presente, invisível corrente, imantada de braço pra braço, é uma câmara ardente onde um corpo inocente, se deita e de la sai devasso...

Zk – E seu retorno ao Acre?
Sergio Souto – Fiquei 14 anos sem ir ao Acre e voltei e não parei mais de ir, agora to um bom tempo sem ir lá. Como você gosta, em Rio Branco fiz samba enredo para a escola de Samba Unidos do 15, Urubu Cheiroso e para a escola de samba Mocidade Independente. No Rio não me envolvo muito com escola de samba, mas, tem um parceiro de Manaus o Paulo Onça que da ala de compositores da Grande Rio que está me instigando a fazer samba enredo com ele, vamos ver se cola. Ele ta gravando um disco e colocou duas músicas minha.

Zk - É verdade que existe a possibilidade do Zeca Pagodinho gravar Falsa Alegria.
Sergio Souto – Todo mundo quer gravar Falsa Alegria que foi gravada pelo grande Nelson Gonçalves entre outros. Meu sonho é vê-la gravada pelo Zeca Pagodinho, inclusive sei que ele gosta muito dela e quem sabe no próximo trabalho dele Falsa alegria seja o carro chefe.
Zk – Como se deu o encontro dessa turma de compositores da Amazônia, você, Nilson Chaves, Bado e tantos outros?:
Sergio Souto – Isso é muito legal. O problema da Amazônia é a distância. Existe uma unidade muito grande entre a gente. O Pará é campeão na música até o brega do Pará é chic. A noite em Belém é autoral os caras cantam as músicas deles, poucos cantam músicas de outros compositores. Cada voz mais linda que a outra, ouvi um dias desses a Andrea Pinheiro cantando com um pianista num bar chamado Boiúna, quando ela começou a cantar fiquei arrepiado, que voz linda e tem o Nilson Chaves, Vital Lima, Paulinho Moura, Jorge Andrade poeta o Ziza Padilha. Aqui em Porto Velho tenho um parceiro querido que é o Binho que se Deus quiser daqui a pouco estará de volta o Bado a gente não tem nada junto mas, existe um carinho um pelo outro muito bom.

Zk – Você vive exclusivamente de música?
Sergio Souto – Vivo de música, as vezes é sufocante, as vezes gratificante. Tô lançando um disco novo que é o “Quase Todas”. Como não tenho distribuidora tenho que levar debaixo do braço vendendo nas minhas apresentações. Neste domingo completo 36 dias fora de casa. Fiquei 15 dias em Belém e 15 dias em Manaus e vim pro Festcineamazônia a convite da Fernanda e do Jurandir Costa.

Zk – Casado?
Sergio Souto – Divorciado tenho um filho que está com 21 anos de idade. Ano que vem ta prevista uma apresentação num evento que reúne músicos e musica do mundo inteiro voltadas para o tema ecologia. Em 2015 vai acontecer na Flórida – USA. Devo fazer uma turnê por Portugal.

Zk - Quem já gravou Sergio Souto?:
Sergio Souto – Elba Ramalho, Eliana Printson, Nilson Chaves, Fabíola, Fagner, Jorge Vercilo, Jessé, Sergio Napp, Cristina Santos irmã da Lucélia Santos, Weber Wernek que gravou diversas músicas minhas, tem um grupo de samba em Vitória (ES) chamado Grupo Ilha que está lançando um CD com cinco músicas minhas. Em Manaus o Grupo Fino do Samba gravou duas músicas também.

Zk – Contato?
Sergio Souto – E-mail sersouto@gmail.com e o telefone (21) 9 9860-1112


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