O
compositor de samba de todas as gerações
Carioca de Engenho de Dentro
nasceu Adalto Magalhães Gavião no dia do Fico
(9 de janeiro) de 1945 e logo ficou
conhecido como Adalto Magalha. “Ainda criança chegava em casa cantando um
música de sucesso com uma letra minha”. Apesar de já estar na estrada
há alguns anos, só quando foi apresentado ao Almiguineto um dos fundadores do
grupo Fundo de Quintal, foi que Adalto Magalha passou a ser gravado pelos
grandes cantores de samba da época como Beth Carvalho Zeca Pagodinho, Jorge
Aragão, Jevelina Pérola Negra, Exalta Samba e tantos outros cantores de
sucesso.
Em Porto Velho pela segunda
vez, participou da festa em comemoração ao Dia Nacional do Samba sexta e sábado
passado (28 e 29), no Mercado Cultural, cantando com Ernesto Melo e A Fina Flor
do Samba na sexta e na Roda de Samba do Beto Cezar no sábado. A história do
Adalto Magalha se confunde com a história do surgimento do estilo Samba Pagode.
“Tudo
é samba, não existe esse negócio de pagode ser diferente do samba”. São
mais de 400 músicas gravadas. “Pelo meu trabalho e pelas músicas de sucesso,
acho que merecia ganhar muito mais do Direito Autoral”. Cada música tem uma
história e com Adalto Magalha cada história é uma música de sucesso.
ENTREVISTA
Zk – Como aconteceu a
composição da música Rendição sua primeira composição gravada?
Adalto Magalha – Eu tinha
feito uma música chamada “Cruel Sociedade” (oh meu irmão, deixa essa vida de
lado, pra se arrumar um trocado, usa a imaginação...) e essa música o
Almiguineto quando ouviu perguntou quem era o cara que tinha feito e o parceiro
levou ele na minha casa. Chegando em casa ele me deu uma fita cassete, isso em
1984 e falou assim: “Adalto fica a vontade, escreve o que você sabe”. Nessa
fita tinham duas músicas, uma era “Cenário” e a outra música era “Rendição”,
letrei as duas na hora. Quando ele ouvia não me largou até hoje. Graças a Deus
uma parceria de 30 anos. Acontece que eu já fazia música há muito tempo, mas, o
Almir foi quem abriu espaço pra mim. Ele era o Almirguineto e eu não era ninguém.
Zk – Com quanto anos de
idade você começou a compor?
Adalto Magalha – Com meus 16
anos, venho de uma família musical, meus irmãos, meus primos são todos músicos enfim,
já nasci com o DNA musical.
Zk – Você toca qual
instrumento?
Adalto Magalha – Não toco
nenhum instrumento, não quis fazer calo no dedo. “Sou letrista, mas também faço
música. Eu ainda pequeno, chegava em casa cantando uma música de sucesso com
uma letra minha e o pessoal: Que é isso rapaz”. Até recomendo a gurizada de
hoje que quer ser letrista, que pegue uma música que está fazendo sucesso e
coloque uma letra sua, é um bom aprendizado.
Zk – E quando a gravadora
FAMA chegou e te convidou para gravar o LP Explosão do Pagode?
Adalto Magalha – Nessa época
eu cantava mais do que compunha e o Arlindo Cruz me convidou para fazer parte
do LP Explosão do Pagode. Na realidade quem me levou pro disco foi o Arlindo.
Zk – Na época existia uma
conversa no Rio de Janeiro de que o sambista que não passasse pelo Pagode do
Arlindo, Cacique de Ramos e outros, não conseguiria nada. Como era essa
história?
Adalto Magalha – Existe um
grande respeito pelo pessoal que começou ali igual a mim o Zeca Pagodinho, Zé
Roberto, Marquinho PQD enfim, uma série de compositores que freqüentavam o
Pagode do Arlindo. As músicas que fazem sucesso hoje são as mesmas daquele
tempo.
Zk – E o João Nogueira o que
representa na sua carreira?
Adalto Magalha – Foi o João
Nogueira que despertou o samba em mim. Quando vi o João cantando e aquele jeito
de compor eu falei assim: As músicas que estou fazendo não valem mais, daqui
pra frente é isso que quero.
Zk – Assim como você teve no
João Nogueira seu espelho musical, hoje a juventude compositora o considera
como o grande Mestre. O que você tem a dizer a respeito disso?
Adalto Magalha – Isso é bom saber,
porque fiz escola, eles se baseiam nas minhas composições, nas minhas letras.
Isso é muito legal, inclusive servi de escola para muitos compositores que já
tinham nome, eles se baseavam nas minhas letras para escrever as suas, com
sentido diferente, mas, no mesmo tema que estava usando. Muitos confessaram que
esperavam eu lançar uma música para eles poderem compor as suas, era muito
engraçado isso.
Zk – O interessante do seu
trabalho como compositor é a quantidade de músicas que são sucesso. Muitas
vezes o cara tem um bocado de música e nenhuma alcança o sucesso como suas
músicas alcançam. Dentre as mais de 400 músicas gravadas dá para citar as que
mais fizeram e fazem sucesso?
Adalto Magalha – Dessas
minhas mais de 400 musicas gravadas, posso tirar umas vinte e até mais para
fazer um show e todas são sucesso que o público canta aonde quer que o show
esteja acontecendo, vamos dizer assim, do Oiapoque ao Chuí como Azul do Meu
Céu, Perfume de Champagne, Rendição, Hoje eu Vou Pagodear. Amor e Festança,
Banho de Felicidade, É Você, Luz do Desejo, Desafio, Mãe Natureza são as que
estou lembrando agora.
Zk – Quantos disco você
gravou entre LPs e CDs?
Adalto Magalha – Fiz o
Explosão do Pagode I e II, depois Os Poetas do Sucesso com Mauro Diniz, Zé
Roberto, Marquinho PQD e Pedrinho da Flor. Quando fiz Os Poetas do Sucesso eu
já tinha o Samba de Tradição agora to lançando esse CD “Eu Não Vivo Sem o
Samba”.
Zk – E o grupo Siri com
Quiabo?
Adalto Magalha – É uma
rapaziada que já está com uma idade, que se reúne no botequim la em
Jacarepaguá, faz aquele negocinho. Não tem nada de profissional, tocam por
prazer na hora de tomar uma cervejinha com tira gosto. Quando fui convidado
para fazer uma apresentação da FM O Dia o Pierre falou, traz alguém pra te
acompanhar e eu chamei os caras, eles ficaram doido, me chamaram até de maluco.
Muita gente me ligou, “pô devia me levar nessa...” Meu amigo eles são meus
amigos e pra mim amigo não tem defeito.
Adalto Magalha – “Não vivo
sem o samba”, tem a participação do Almirguineto, Dudu Nobre e do Arlindo Cruz.
Teria outras participações como Seu Jorge, Diogo Nogueira porém a produção achou
que não era um bom negócio, porque ia ficar um CD de participações e então
ficaram só os três que me deram um resultado muito bom, fiquei até orgulhoso
porque todos eles vieram com uma boa vontade muito grande e os músicos foram
praticamente os mesmo que participaram do outro disco, esse ficou um trabalho
até demorado, isso porque é uma produção independente, a verba era minha e
assim tinha que esperar entrar dinheiro pra continuar o trabalho. Agradeço
muito ao Mauro Diniz pelos arranjos;
Zk – Você também é
compositor de samba enredo. Fala sobre
esse viés no teu trabalho?
Adalto Magalha – O samba
enredo foi uma coisa engraçada, eu tinha um pagode la no Caxambi que depois
mudei pro Caxambi do Engenho de Dentro, esse pagode passou a se chamar “Ferro
de Engomar” ele juntava num sábado mais de mil pessoas na rua. Ali comecei a
lançar minhas músicas e um dia recebi o convite pra fazer um samba enredo aí
falei que não sabia fazer samba enredo e o cara falou, o samba que tu faz é no
estilo samba enredo assim acabei indo pro samba enredo.
Zk – Ganhou samba em quais
escolas de samba?
Adalto Magalha – Três anos
seguidos no Salgueiro (95, 96 e 97) um na Estácio de Sá, quatro anos na
Tradição, Unidos da Tijuca, também fiz samba para escola de São Paulo. Fiquei 8
anos ganhando samba enredo seguidos.
Zk – E o samba da Tradição
em homenagem ao Silvio Santos?
Adalto Magalha –"O Homem do Baú - Hoje é domingo, é
alegria, vamos sorrir e cantar!", uma homenagem a Sílvio Santos. Eu não
levava fé nesse samba mas, até hoje ele é cantado no Brasil inteiro, ele é todo
em tom menor, falar de Silvio Santos é alegria saiu um Tom Menor alegre. O
interessante foi que antes da sinopse chegar em minhas mãos eu já tinha feito o
samba. A única coisa que tinha errado era que eu falava que ele tinha nascido
na Lapa mas, na Lapa de São Paulo quando na realidade, foi na Lapa do Rio de
Janeiro aí foi trocar a letra de São Paulo pelo Rio de Janeiro.
Adalto Magalha – Quando
parei de fazer samba enredo a nossa verba não era lá essas coisas, atualmente
ta dando muito dinheiro mas, se tornou um negócio muito difícil. Ganhei samba
com o Marcio Paiva, com o Lourenço hoje tu tem que botar na parceria cinco,
seis pessoas. Tem que botar o cara que tem dinheiro, o cara que tem torcida o
cara que tem não sei o que e você que é o cabeça, faz o samba, vê teu trabalho
ser dividido com tanta gente. Não acho isso legal não.
Zk – O que é o samba de
escritório?
Adalto Magalha – Lá no Rio
de Janeiro tem um escritório que basicamente todas as escolas que eles
concorrem à linha melódica do samba é a mesma, não muda, ai tu já sabe que é do
escritório. Às vezes eles ganham.
Zk – Para encerrar. Você
vive de música?
Adalto Magalha – Vivo de
música, de show. Acho que pelo meu trabalho e tantos sucessos ganho muito pouco
do direito autoral, minha Associação é a Sadremba eu não vivo da Sadembra, vivo
de show. Direito autoral no Brasil é brincadeira! Tinha um radialista que
falava: “Direito autoral é vergonha nacional!”
Zk – Finalmente?
Adalto Magalha – O
Sol brilha pra todo mundo moçada!
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