O sobrenome é alemão, porém seu dono
é um rondoniense de Ji Paraná e criado em Porto Velho nas barrancas do Rio
Madeira e por isso como muitos beradeiros, agregou o prenome “Parente”, termo
utilizado pelos ribeirinhos dos rios das Amazônia. Parente Gaspar hoje atuando
como técnico em desenvolvimento de projetos culturais na Gerencia de Cultura da
Secel, desde pequeninho desenvolveu a arte de desenhar, “Minha vida era
comprando revistas em quadrinhos nas bancas de revista da cidade”. Ao conhecer
o movimento Hip Hop passou a se dedicar a grafitagem. “Primeiro saí pichando
muros e prédios abandonados pela cidade”.
Considerados por muitos como o melhor
na arte da grafitagem em Porto Velho, recentemente Parente Gaspar foi
contratado e grafitou o muro do recém inaugurado Colégio Murilo Braga no bairro
Nossa Senhora das Graças, o primeiro colégio público de Rondônia totalmente
informatizado. Quem passa pelo lado do Murilo Braga que fica para a rua
Brasília pode apreciar a bela obra do Parente Gaspar em grafite. “É uma batelão
onde um menino está operando um computador mostrando que o ribeirinho também já
está informatizado e um Peixe Rubi cuja cor vermelha contrasta com o Rio
Poluído”.
A partir do
movimento contracultural de
maio de 1968, quando os muros de Paris foram suporte para inscrições de
caráter poético-político, a prática do grafite generalizou-se pelo mundo, em
diferentes contextos, tipos e estilos, que vão do simples rabisco ou de tags repetidas ad nauseam, como uma
espécie de demarcação de território, até grandes murais executados em espaços
especialmente designados para tal, ganhando status de
verdadeiras obras de arte. Os grafites podem também estar associados a
diferentes movimentos e tribos urbanas,
como o hip-hop, e a variados
graus de transgressão.
Terça feira passada
encontramos o Gaspar grafitando o muro do Murilo Braga e batemos o papo que
segue:
Entrevista
Zk – Você nasceu aonde?
Gaspar – Nasci em Ji Paraná, mas,
como minha mãe morreu durante meu parto, minha avó me pegou pra criar e então
vim pra cá pra Porto Velho com apenas três meses de idade.
Zk – E quando surge o grafiteiro em
você?
Gaspar – Desde pequeno gosto de
desenhar e com o contato com as revistas em quadrinhos, comecei a desenvolver o
estilo grafiteiro. Minha vida era e é em banca comprando revistas e daí fui
aperfeiçoando meus desenhos. O grafite conheci através de uma dessas revistas.
Isso foi em 2003.
Zk – Você chegou a ser pichador?
Gaspar – Sim, pegava meu spray e saia
pichando prédios abandonados, jamais pichei prédios que estavam servindo a
alguma entidade, sempre praticava nos espaços abandonados, acho que por isso
nunca tive problemas de retaliação por parte das autoridades quanto à pichação
Zk – Quem foi sua grande influencia
na arte da grafitagem
Gaspar – Os grafiteiros brasileiros,
que se viravam em geral com pouco dinheiro. Como os materiais são caros eles
usavam o látex e o rolinho. Atualmente o Cobra me inspira muito, tem os Gêmeos
e na Europa tem o Banks. O Cobra inclusive tem uma equipe de sete a oito
grafiteiros que o ajudam a desenvolver as grandes obras os murais que ele pinta
pelo mundo.
Zk – Para desenvolver o trabalho, o
grafiteiro se baseia em que? Tem um gabarito a ser seguido?
Gaspar – Tem o Black Book o Livro
Negro onde o grafiteiro faz o esboço preparativo, agora quando é mural de
grande dimensão, por exemplo, o Cobra utiliza aqueles ladrilhos quadradinhos
para poder colocar o desenho na metragem que ele pede. Tem grafiteiro que vai
forçando, no olhar já faz a medida e tudo. Com a minha experiência, já
calculo certinho, risco direto sem medir.
Zk – E esse trabalho que você está
desenvolvendo no muro do colégio Murilo Braga?
Gaspar – O secretário Emerson Castro
da Seduc me convidou e a secretaria me contratou como artista
plástico/grafiteiro para fazer um muro de 18,95 metros de extensão por 3 metros
de altura.
Zk – Foi a secretaria quem sugeriu o
tema?
Gaspar – Não. O tema eu criei. É um
Batelão! A idéia foi mostrar a história Beradeira com o contato com o
mundo da informática, tanto, que tem um garotinho em uma determinada área do
Batelão operando um computador. Até porque o Murilo Braga é um colégio todo
informatizado e o peixe que representa o alimento base do ribeirinho. Só que
por causa da cor, utilizei como modelo, um peixe do pantanal mato-grossense o
Rubi. Gostei do tema o Peixe na cor vermelha faz o contraste com o fundo que é
o Rio Poluído.
Zk – Quais outros locais que a gente
pode apreciar a sua obra?
Gaspar – Tem um grafite ao lado do
Ginásio Claudio Coutinho no Complexo Deroche Pequeno Franco que é um mural que
fiz por conta própria. Existe grafite que já foram apagados pelo tempo, fiz
grafite em festivais de música. Faço grafite por encomenda também nas casas das
pessoas. Na rua to trabalhando pouco pela falta de tempo, estou muito ocupado
agora.
Zk – Fale sobre o movimento
grafiteiro em Porto Velho?
Gaspar – Na década de oitenta tinha o
Dentinho do Movimento Hip Hop que foi quem me passou as primeiras técnicas.
Hoje ele está trabalhando mais com a areografia. Tem o Albinho e outros que não
lembro o nome o certo é que a cena é muito fraca aqui em Porto Velho. Eu me
considero o mais atuante aqui.
Zk – Os grafiteiros ainda sofrem
muita discriminação?
Gaspar – Rapaz, no começo era brabo,
agora não! Nosso trabalho está muito mais valorizado, agora as pessoas pagam o
valor que a gente cobra, isso é muito bom. No inicio não existia projeto
aprovado pelo governo, agora tem. O Brasil é um precursor, apóia muito a arte
da grafitagem. Agora existe em São Paulo o Museu Aberto de Arte Urbana – MAU.
Onde mais de 20 grafiteiros fizeram mural patrocinado pela prefeitura de São
Paulo, com curadoria de arte.
Zk – Você falou que faz trabalhos em
residências de particulares. Quem quiser te contratar faz o que?
Gaspar – Liga pra (69) 9918- 0234 ou
pode me achar na Gerencia de Cultura da Secel no CPA e tem o face que é
gasparknypper me adiciona fala comigo que ta tranqüilo.
Zk – É muito caro?
Gaspar – A mão de obra artística não
tem valor estipulado, então a gente cobra aquilo que é justo. A gente cobra por
metragem o desenho que a pessoa quer e calcula o tempo que vai levar e a
qualidade do tema. Daí faço a manutenção não é só grafitar. Hoje existem muitos
grafiteiros que trabalham com a produção teatral criando ou desenvolvendo
cenários para as peças.
Zk – Quer dizer que tem mercado?
Gaspar – O grafite agora se expandiu
pra tudo, é roupa, capa de CD, tênis, meia, tudo que você pensar. Projetos
arquitetônicos têm grafite. Em Porto Velho agora que está melhorando, creio que
muito em breve, muito mais será investido na arte do grafite.
Zk – Futuro?
Gaspar – Quero abrir uma loja para
ensinar a arte do grafite. Já dei aula, agora quero expandir mais os
ensinamentos. Sinto-me muito sozinho no desenvolvimento dessa arte em Porto
Velho. Quero mais gente grafitando por aí Parente!
Um comentário:
Só faltou acrescentar que o Gasper tem um prêmio internacional na carreira: o UNESCO Digital Arts Award 2007 - que ganhou junto com o Coletivo Madeirista - num projeto c/ graffiti & multimídia
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