segunda-feira, 14 de abril de 2014

Raimundo Garcia Neto - Topografo do IBRA - Final



Pioneiros – A história de todos nós


Nesta edição, concluímos a entrevista com Raimundo Nonato Garcia Neto. Garcia fala sobre a revolução de 1964: “Lembro que ia de ônibus pra casa quando entraram os soldados do exército com baionetas, mandaram o ônibus parar e que todo mundo descesse. Quando cheguei em casa fiquei sabendo através do rádio, que João Goulart havia sido deposto e os militares haviam assumido o governo...”. Lembra o tempo que atuou como goleiro de futebol de salão e da sua participação na escola de samba Pobres do Caiari e sobre o episódio, de quando policiais federais deram tiro de metralhadora no meio do desfile da Banda do Vai Quem Quer.
Garcia passa a fazer parte da galeria de entrevistados do Programa do Departamento de Comunicação do Governo de Rondônia – DECOM: Pioneiro – A História de Todos Nós.

ENTREVISTA           



 Diário - Como era feito o transporte do equipamento e de vocês para essas localidades?
Garcia – Naquele tempo não existia ponte, tudo era balsa. Jaru era o quartel general de pium e borrachudo (mosquitos), lembro que a gente fechava os vidros das camionetas e ligava o Para Brisa para poder ter visibilidade. A prioridade nas balsas eram para as ambulâncias, ônibus, carro do 5° BEC e os do INCRA. Quando qualquer coisa tipo cair um carro numa balsa acontecia era o maior transtorno, acontece que ao longo da BR não existia restaurante, telefone, não tina luz elétrica não existia nada.
Diário - Mas, tinha “Os 4 Bicos” da vida?
Garcia – Isso não podia faltar, afinal de contas éramos todos rapazes, podíamos não ser galã, mas, não era de se jogar fora e sempre conseguia alguém pra namorar e nessas casas que chamavam de “Quatro Bicos” geralmente instaladas nas proximidades das balsas a turma ia se aliviar.

Diário - Vamos voltar para Porto Velho onde você também atuava como goleiro de futebol de salão?
Garcia – Certo dia chegou ao Hotel Vitória o Auristélio Castiel e perguntou pra gente: “Vocês jogam futebol, não querem jogar num time de futebol de salão chamado Náutico?” como a gente ficava sem fazer nada, aceitamos e então ele armou um jogo entre os integrantes do Náutico e a gente. Nosso time era Garcia, Isaías, Melo, Enok e Coelho resultado aplicamos uma goleada no Náutico e a partir de então passamos a fazer parte do time. Dos jogadores locais do Náutico só quem continuou foi o meu cunhado IVO que considero um dos maiores jogadores de futebol de salão de todos os tempos aqui de Porto Velho, juntamente com o Valter Santos. Depois fundamos o Quariquara um dos melhores times de futebol de salão que já existiu por essas bandas. O Quariquara não era só um time de futebol de salão, funcionava como se fosse um clube social, a gente promovia Manhãs de Sol no Ypiranga e depois passamos a realizar festas noturnas, o Quariquara tinha até programa na rádio Caiari.
Diário - Você chegou a ser presidente da escola de samba Pobres do Caiari. Fala sobre essa fase carnavalesca?
Garcia – Eu gostava de apreciar os desfiles das escolas de samba de Porto Velho que naquele tempo eram muito bem elaborados e como sou fã de tudo que tem a cor azul, torcia pela Caiari. Um amigo chamado Silvio Santos um dia chegou e perguntou: “Garcia tu quer participar da Caiari?” e como eu já era fã da escola onde tinha muitos amigos aceitei o convite e acabei assumindo a presidência executiva e depois a presidência do Conselho Deliberativo da escola. Adora carnaval, passei a sair na Banda a partir do seu segundo ano de fundação. Hoje não vou no meio, mas, acompanho o desfile da Banda.
Diário - Por falar em Banda no episódio que envolveu policiais federais que entraram na Banda atirando de metralhadora, você aparece em cima do carro dos policiais. Como foi esse episódio?
Garcia – Posso contar agora porque já faz muito tempo. Eu saia sempre na Banda com um amigo meu chamado Dado, naquele ano ainda não era essa multidão que saia hoje. Quando chegamos perto da Utilar (hoje Lojas Americanas), vimos um carro Fiat entrando na contra mão por dentro do bloco. Pelo amor de Deus, um carro na contra mão na Banda do Vai Quem Quer o cara deve ta querendo alguma coisa. Os foliões partiram pra cima querendo virar eu subi em cima do veículo pedindo para não o virarem, não teve jeito. Daqui a pouco chega um amigo meu e diz: Garcia olha o que tenho aqui! Ele estava com uma metralhadora embaixo da camisa. O que isso? O cara que estava dentro do carro estava com essa metralhadora e o povo tomou e me deu pra segurar e agora o que vamos fazer? Esse amigo conhecia uma pessoa que era influente no governo e fomos até a casa dela, contamos o que havia acontecido e deixamos a metralhadora com ele.
Diário - E ficou por isso mesmo?
Garcia – Viraram o carro incendiaram, quebraram o vidro da Utilar! Passado uns seis meses, chega na minha casa uma intimação da Policia Federal. Chamei um advogado pra ir comigo e na hora, o delegado pegou uma foto de dentro da gaveta me mostrou e perguntou: você conhece essa pessoa aqui? Que olhei era eu em cima do carro Fiat com os braços estendidos no rumo do povo. Não sei como eles bateram aquela foto com tanta nitidez, não dava pra negar que era eu. Ele então perguntou o que eu estava fazendo em cima do carro, se tava incitando o povo a virar o veículo. Respondi não senhor, a posição das minhas mãos diz que estou pedindo calma, que não virem o carro. Resultado, ele viu que eu não tinha culpa nenhum e encerrou o caso, o advogado que estava comigo entrou mudo e saiu calado, foi só receber os honorários.
Diário - Família?

Garcia – Tive pouco contato com meu sogro seu Pedrinho, porque viajava muito, inclusive quando ele morreu, estava trabalhando no Iata. Minha sogra dona Inácia era uma pessoa maravilhosa mesmo.
Diário - Você foi a primeira pessoa que eu conheço que chegou aqui com uma Fita Cassete com toadas dos Bois de Parintins. Lembra do ano?
Garcia – Isso foi no ano de 1989. O bumbódromo de Parintins foi inaugurado em 1988. Na viagem perguntei as cores dos bois e alguém me disse que tinha o Vermelho e o Azul de cara disse: Sou do Boi Azul nem sabia que o nome era Capricho. Acontece que conseguimos comprar os ingressos através de uma funcionária da Tele Amazônia em Parintins e quando chegamos, por ser torcedora do Garantido, ela comprou ingresso para a arquibancada do Vermelho, quando entrei no bumbódromo e vi que estava do lado vermelho não gostei nada e dei o jeito de passar para o lado azul. Naquele tempo estava começando a renovação da brincadeira, as toadas eram mais bem elaboradas e as alegorias espetaculares. Fiquei pasmo, quando um Gavião deu um rasante no meio da arena e pegou um “bêbado” e saiu voando com ele. Depois foi que fiquei sabendo que existia um cabo de aço que atravessava a arena por onde o Gavião deslizava, o interessante foi à perfeição do encaixe de suas garras nas argolas instaladas nas costas do personagem (bêbado). Trouxe a fita para mostrar ao Silvio Santos que brincava boi aqui, como era que estavam compondo as toadas em Parintins.
Diário - Voltando ao tempo que você era presidente do Grêmio Estudantil em Manaus. Na época da Revolução vocês foram vitimas da repressão?
Garcia – Lembro quem ia de ônibus pra casa quando entraram os soldados do exército com baionetas, mandaram o ônibus parar e que todo mundo descesse. Quando cheguei em casa fiquei sabendo através do rádio que João Goulart havia sido deposto e os militares haviam assumido o governo. Na época eu o era diretor de esportes do Grêmio e nós reunimos no Colégio Estadual e resolvemos sair em passeata contestando a revolução, quando retornamos, a Policia Militar tinha cercado o colégio e não deixou a gente entrar. Mesmo assim, fizemos alguns protestos pelas ruas de Manaus, fazíamos comício em cima de camburão, queimamos o cinema Odeon, mas como nossa turma estava terminando o científico, quando saímos, a turma que ficou não prosseguiu com o movimento.
Diário - Como era Porto Velho quando vocês chegaram?
Garcia – Ainda cheguei a entrar em fila pra comprar carne, a energia ia embora Dez Horas da Noite. O bom era que todo mundo se conhecida e as famílias na boca da noite ficam sentadas em frentes das casas conversando, pois não tinha televisão. A cidade era dominada pelos garimpeiros de cassiterita e soldados do 5° BEC. Porto Velho é minha terra, estou aqui há 46 anos, meus filhos nasceram aqui, minha mulher Ilza Garcia Dias é daqui e quando escuto alguém falando mal de Rondônia fico muito nervoso e chego até a discutir com a pessoa, defendendo essa terra maravilhosa que me acolheu (muito emocionado).
Diário - E?                                                  
Garcia – Hoje o xodó da nossa casa são as netinhas Julia e Luiza que mandam na gente.

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