No final do mês de setembro,
Porto Velho recebeu personalidades brasileiras do Centro Espírita Beneficente
União do Vegetal, que vieram festejar o aniversário da Matriarca da entidade,
senhora Raimunda Ferreira da Costamais conhecida como Pequenina viúva do Mestre
Gabriel. “Entre tantas personalidades contamos com a Margareth Menezes e a
Maria João neta do escritor Jorge Amado”. Porém, os trabalhos contaram com a
participação do Mestre Raimundo Monteiro substituto do Mestre Gabriel. Monteiro
hoje reside em Brasília. “Na realidade dificilmente você vai me encontrar no DF
pois viajo muito difundindo e fazendo palestras sobre a UDV”. Pai do escritor e
jornalista José Monteiro de Souza e do engenheiro cantor e compositor Jair
Monteiro, seu Raimundo conta nessa entrevista, sobre sua vivencia como
funcionário público e em especial sobre quando foi defender da União do Vegetal
nos Estados Unidos. “Ganhamos do Bush de lavada na casa dele”. Saiba sobre o
que é “Burracheira” e como proceder para beber o Chá do Mariri pela primeira
vez, na entrevista que segue.
ENTREVISTA
Zk – Nasceu e se criou
aonde?
Raimundo Monteiro – Nasci em
Humaitá (AM), no ano de 1934, meu pai Lindolfo Monteiro de Souza e minha mãe
Zulmira Monteiro de Souza ambos cearenses. Vim morar em Porto Velho em 1949.
Meu pai foi seringueiro, e veio administrar um seringal no baixo Madeira e eu
vimpra Porto Velho estudar. Fui interno no colégio dos padres em Guajará Mirim
onde fiz o curso primário, o ginásio fiz no Colégio Dom Bosco em Porto Velho.
Morei em Guajará Mirim por cinco anos, inclusive tenho uma irmã que é freira lá,
Irmã Maria Luiza Monteiro.
Raimundo Monteiro – Vim pra
cá encaminhado pelo colégio de Guajará já que lá só se estudava até o primário.
Naquele tempo a gente tinha que fazer o Exame de Admissão ao Ginásio. Me
empregaram no governo territorial como servente, lavava o chão , servia
cafezinho, e assim ia estudando e cheguei a professor.
Zk – Professor?
Raimundo Monteiro – Cheguei
a ministrar aulasno Grupo Escolar General Euclides Zenóbio da Costa que ficava
no Morro do Querosene.
Zk – Onde ficava localizado
o Morro do Querosene?
Raimundo Monteiro – Quem vai
pela Rogério Weber no sentido Sete de Setembro 5º BEC, do Posto São Paulo até a
Prudente de Moraes e da João Alfredo até a Jacy Paraná se não me engano, tinha
um morro que era chamado de Morro do Querosene e lá ficava o Grupo Escolar
Zenóbio da Costa. Na época existiam duas facções política, Cutuba e Pele Curta.
Minha nomeação foi em janeiro de 1954.
Zk – Fale sobre sua vida
como funcionário desde os tempos do Território até se aposentar?
Raimundo Monteiro – Como
disse, comecei lavando sanitários, servindo cafezinho, depois fiz 200 horas de
curso de administração de orçamento e finanças. Fiz curso em redação oficial e
fiz curso de administração de material e administrei durante seis anos o
Frigorifico de Governo, depois voltei a trabalhar no palácio do governo na área
de contabilidade. Na época do governo militar veio um coronel e eu já fazia
parte do núcleo de apoio ao gabinete do governador, depois fui efetivado como
funcionário do gabinete como ajudante e cheguei a ser assessor chefe de
gabinete. Na época a chefe de gabinete era a Conceição Teixeira. Trabalhei com
o Coronel Humberto Guedes e com o Teixeirão.
Zk – Por que a transferência
para a Representação de Rondônia em Brasília?
Raimundo Monteiro – Minha
mulher Zilda Felício Monteiro da Costa precisava fazer um tratamento
especializado, ter um clima melhor, o médico que indicou o tratamento foi o DR.
José Augusto do Prontocor então ela que tinha dois cargos no governo de
Rondônia pediu exoneração e confiante foi pra Brasília antes de mim, após um
ano e oitomeses consegui minha transferência. Consegui a transferência graças a
uma correspondência que enviei ao general Golbery do Couto e Silva que assim
como eu era maçom, fui para a Representação de Rondônia como Assessor Chefe de
Gabinete. Depois fui trabalhar no Ministério do Meio Ambiente.
Zk -O senhor veio a Porto
Velho participar de um evento da União do Vegetal. Fale sobre esse evento e
desde quando frequenta a UDV?
Raimundo Monteiro – Centro
Espírita Beneficente União do Vegetal. Quando falamos Centro Espírita, a pessoa
fica logo assustada. A doutrina da União é uma doutrina cristã
reencarnacionista e usamos um chá como comunhão. No começo uma polêmica muito
grande existiu sobre o uso do chá, pois diziam que era droga, entorpecente etc.
Zk – O que a União do
Vegetal fez para tirar da população esse conceito de droga?
Raimundo Monteiro – Abrimos
nossas portas aos pesquisadores brasileiros e internacionais para que fizessem
estudos quimicamente. Nosso guia espiritual nosso Mestre Gabriel um
seringueiro, mas, culto em termo de espiritualidade.
Zk – Antes de qualquer coisa,
vamos falar sobre o Mestre Gabriel?
Raimundo Monteiro – a União
do Vegetal nasceu aqui em Rondônia começou na rua Abunã. Aliás, o Mestre
Gabriel começou a beber o chá ainda no seringal. Ao vir morar em Porto Velho
trabalhou no Hospital São José como auxiliar de enfermagem. Bom aqui começamos
o trabalho de organização institucional da entidade.
Zk – Como foi que o Mestre
Gabriel descobriu os poderes do chá?
Raimundo Monteiro – É uma
história que a gente pode falar, mas, que para as pessoas, é difícil de
acreditar. Nós falamos em reencarnação, essa história vem pelas suas
reencarnações, as vezes que ele já veio aqui, com o conhecimento que alguns
chamam de terceira visão. Isso falando em termos mínimos para compreensão da população,
o Mestre Gabriel era muito, além disso, para saber melhor é preciso frequentar
a UDV, ver os efeitos que o chá transmite para o nosso interior.
Zk – E como foi que o senhor
tomou conhecimento do Chá?
Raimundo Monteiro – Sou de
tradição católica, fui inclusive coroinha quando a missa era rezada em latim e
o padre ficava de costas para o público, naquela época a igreja católica era
muito fechada e eu sentia a necessidade, minha consciência pedia algo mais como
conhecimento assim sendo eu achava que através das ciências ocultas, através do
espiritismo pudesse encontrar, respostas pra muitos questionamentos que eu
tinha, foi quando me falaram desse homem José Gabrielda Costa que morava em
Porto Velho no bairro da Olaria que preparava um chá que a gente tomava e fazia
uma viagem astral. Isso me chamou a atenção: Uma viagem astral! Preciso
conhecer isso e então fui e encontrei um homem muito simples que a primeira
vista não dei muito valor, mas, quando comunguei o chá (o termo é esse mesmo
Comunhão) e ele abriu os trabalhos, me deparei com um cidadão bem superior a
mim, como homem e em termo de sabedoria espiritual que me encantou. Naquele
momento senti que havia encontrado um homem que iria suprir as necessidades
espirituais que estava precisando. Cheguei à UDVno dia 4 de setembro de 1966
Zk – Hoje o senhor é Mestre.
Fale sobre a trajetória de uma membro da União até chegar a Mestre?
Raimundo Monteiro – Quando
uma pessoa chega pela primeira vez participa de uma ou várias sessões e caso
queira se associar passar a recolher uma mensalidade, tudo de acordo com a Lei.
Nesse quadro de sócios vão desenvolvendo espiritualmente suas necessidades, as
virtudes que o ser humano tem, as virtudes morais, espirituais e intelectuais,
então chegam num lugar que chamamos de sessão instrutiva que uma sessão de alto
grau para preparação de dirigente.
Zk – Existe um livro sobre a
doutrina da UDV, uma espécie de bíblia?
Raimundo
Monteiro – No estilo bíblia não. Temos um guia de orientação para
jovens. Escrevemos dois livros até hoje, para distinguirmos o que é o Daime e o
que é a União do Vegetal.
Zk – Qual é a diferença?
Raimundo Monteiro – É na
doutrina, na condução dos trabalhos e na disciplina. A União tem uma conduta de
não vulgarizar o seu trabalho, não fazer propagando,
Zk – É verdade que o senhor
foi defender a União nos Estados Unidos?
Raimundo Monteiro – É
verdade. Acontece que estamos em diversas parte do mundo como Inglaterra, nos
Estados Unidos e nos Estados Unidos ainda não tínhamos concluído o trabalho de
pesquisa internacional e em consequência foi suspenso o Vegetal lá e eu fui a
pessoa que foi prestar depoimento no0 FBI, isso porque quando o criador dessa
religião fez passagem eu fui escolhido para ser seu sucessor, no Brasil e no
exterior. Por que cheguei lá de coração aberto? Acontece que temos consciência de
uma coisa que usamos a dez, vinte anos e sabemos que o chá não faz mal a
ninguém. Fui ouvido por um delegado do FBI, um promotor Federal e um delegado
da Receita Federal, durante 45 minutos. Para toda resposta que dei não houve
nenhum questionamento. Depois que parei eles me perguntaram: “Os senhores vão
respeitar a Lei?” – Vamos!. Lá temos os Mestres que são americanos, depois do
FBI entramos com processo na Suprema Corte e ganhamos, então o presidente George
Bush achando que o Vegetal não era sadio recorreu e nós ganhamos de 8 a zero,
passamos a rasteira no Bush dentro da casa dele.
Zk – Sabemos que muitas
celebridades do mundo artístico do Brasil e do exterior bebem o chá. O senhor
pode citar algumas dessas celebridades?
Raimundo Monteiro – Já
tivemos aqui, inclusive participando do preparo do chá o Sting. Do Brasil
tivemos a Elba Ramalho, Renato Teixeira já participou de show promovido pela
União.
Zk – O evento que aconteceu
em Porto Velho no último final de semana do mês de setembro foi em comemoração
a que
Raimundo Monteiro – Acontece
que a Matriarca da UDV dona Pequenina (o nome dela é Raimunda Ferreira da
Costa)esposa do Mestre Gabriel e todo aniversário dela vem gente de todo Brasil
participar e nós viemos prestigiar do aniversário da pessoa que é uma das
fundadoras da religião além de amiga. Ela que cortou seringa junto com Gabriel
merece todas as honras dos sócios da União.
Zk – É verdade que uma
famosa cantora baiana marcou presença nessa festa?
Raimundo Monteiro – A
Margareth Menezes faz parte da União já faz tempo e sempre ela vem a Porto
Velho beber o chá e descansar, principalmente logo após o carnaval. Ela foi uma
das que veio festejar o aniversário da nossa Matriarca Pequeninaela e a Maria João
que é neta de Jorge Amado, aliás a Maria João é Conselheira. Na União os homens
alcançam o posto de Mestre e as mulheres de Conselheira.
Zk – E em Brasília onde o
senhor reside, existe Templo da UDV
Raimundo Monteiro – Lá nos
temos diversos templo além do escritório nacional da UDV que fica ao lado do
Teatro Municipal no Setor Bancário Norte.
Zk – O que é a Borracheira?
Raimundo Monteiro – Já ouviu
falar na música do Caetano Veloso Força Estranha? Deram um Dai-me pra ele beber
e ele não conhecia então foi tomado por essa força estranha. Na União do
Vegetal essa força é uma expansão da sua consciência, é como se você estivesse
num estado de letargia, mas, esse estágio não te tira a consciência, ao
contrário, é um estágio de êxtase com lucidez, que popularmente é conhecida
como “Burracheira”.
Zk – O que é necessário para
a pessoa frequentar a União e beber o chá?
Raimundo Monteiro
–Recomendamos as pessoas que vão pela primeira veza não beber bebida alcóolica,
depois nosso representante faz um breve questionário para saber sua história de
vida, saúde se estar tomando algum remédio por que temos dentro da União o
Departamento Médico de Saúde Mental, temos médios que são Mestre e fazem
palestra. Tem um detalhe a pessoa tem quer indicada por um sócio da União.
Zk – Quais são os elementos
da natureza utilizados na preparação do chá?
Raimundo Monteiro –
Especificamente usamos o Cipó Mariri, O Fogo, a Água que é o precioso líquido e
Folha da Chacrona. Tanto o Cipó Mariri como a Chacrona são encontrados com facilidade
na Amazônia Legal, Bolívia, Peru, Colômbia. Os mais usados são os do Peru e do
Brasil.
Zk – O senhor tem filhos que
moram em Porto Velho quase são?
Raimundo Monteiro –Tem o
José Monteiro Silva de Souza que jornalista e escritor; tem o Jair Monteiro que
é cantor, compositor e engenheiro civil e tem a Leila Sueli Silva de Souza que
mora em Ji Paraná que é professora formada em letras e os outros que moram
comigo em Brasília.
Zk – Pra finalizar?
Raimundo Monteiro –
Aconselho a todo ser humano na minha concepção. Antes de sair daqui dessa
terra, deveria conhecer a União do Vegetal, pra ter uma visão espiritual ampla
da sua própria existência.
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