A comunidade
do Distrito de São Carlos que fica a quatro horas de barco de Porto Velho, desde
último dia 04, está festejando Nossa Senhora Aparecida com a realização de
novenas, leilões, bingos e comercialização de iguarias regionais, que acontecem
no arraial montado no pátio da igreja. A manifestação popular que completa 92
anos, em 2013, é uma das mais tradicionais da região do Baixo-Madeira e
consegue atrair várias pessoas das localidades vizinhas.
O festejo vai até
o domingo, quando será fechada com a realização de um torneio de futebol nas
modalidades masculino e feminino.
Sábado (12)
dia da padroeira do Brasil, acontece a procissão que em São Carlos é divida em
duas manifestações, sendo uma por terra, saindo da igreja, fazendo o percurso
pelo calçadão da vila contornando pela orla do rio. A segunda acontece no leito
do rio Madeira com os barcos, rabetas e canoas saindo da ilha que fica em
frente a localidade, que chega no porto em frente da igreja juntamente com a
procissão terrestre e dali, os dois andores seguem até a igreja, onde é rezada
missa. “São mais de noventa anos de tradição e de muita história. Por isso o
festejo alusivo à Mãe Aparecida para a comunidade do distrito e a ajuda da
prefeitura, é importante para mantermos essa tradição”, adiantou. O
administrador do Distrito Ednardo Medeiros.
São Carlos a Vila mais antiga de Rondônia
De acordo com
o professor e historiador Abnael Machado de Lima, a Vila de São Carlos do
Rio Madeira é a localidade mais antiga a ser instalada na área territorial onde
está situado o Estado de Rondônia. A comunidade nasceu com a denominação de
Missão de Santo Antônio do Alto Madeira, ao ser fundada pelo padre João Sam
Payo, em 1723. Em 1727, o povoado foi da margem do rio para o interior da
floresta, na região do Lago Cuniã. Ainda segundo o historiador, essa medida foi
tomada para que a missão ficasse menos vulnerável aos ataques de índios (mura,
muduruku, parintintin) e também de quem entrava na floresta para capturá-los.
Em 1797 o
governo português no local da missão transferida, instalou o povoado de São
João do Crato, constituído de degredados e mulheres de vida errada,
portugueses, ciganos e famílias indígenas trazidas do rio Negro. O
administrador do povoado era o Ouvidor Luiz Pinto de Cerqueira, substituído em
1801 pelo capitão Marcelino José Cordeiro, o qual devido às condições endêmicas
do local e a permanente ameaça de ataque dos indígenas, o abandonou em 1802,
localizando a sede do povoado uma região um pouco abaixo deste, aonde já havia
alguns moradores.
Em 1828, o
povoado foi destruído por um incêndio, supostamente provocado pelo sargento
Manoel Batista de Carvalho.
Ainda no
século 19, em 1858, ao viajar pela região, frei Joaquim do Espírito Santo Dias
e Silva, encontrou no lugarejo uma população de 125 índios. Dois anos mais
tarde, seria instalado um posto militar no povoado que passou a se denominar
São Carlos. Nessa época, havia uma grande movimentação de pessoas pela região
por causa da extração do látex de seringueira e pela tripulação dos vapores que
descarregavam mercadorias eram abastecidos com borracha e castanha do Pará. Com
o objetivo de utilizar o povoado como ponto de apoio à catequização e
instalação de missões no rio Jamari e seus afluentes e no alto rio Madeira, os
frades franciscanos Jesualdo Mechetti, Samuel Mancini e Teodoro Portarraro de
Massafra, chegam a São Carlos em 8 de janeiro de 1871, onde construíram uma
capela provisória e uma casa, dedicando-se à assistência espiritual aos seus
habitantes. Também foram construídos vários barracões pelos seringalistas para
depósito de mercadorias importadas e estocagem de borracha para exportação.
No entanto, a
crise econômica mundial que jogou para baixo a cotação do preço da borracha no
mercado internacional, que provocou a falência em muitos seringais da Amazônia
afetou São Carlos, que estava em franco desenvolvimento, provocando estagnação
econômica e o êxodo dos habitantes. O historiador Abnael Machado afirma que a
situação no povoado só não foi mais drástica por causa da visão empreendedora
do seringalistas Rodolfo Guimarães, maior proprietário da localidade, que
passou a investir na produção agrícola e na agroindústria instalando a usina de
São Carlos, que produzia mel, rapadura, cachaça e açúcar mascavo.
Já no início
do século XX, no final da década de 1930, os padres salesianos Ângelo Cerri e
Francisco Pucci projetaram a construção de uma Igreja em São Carlos,
empreendimento apoiado pelos seringalistas Rodolfo Guimarães que doou à
prelazia um terreno de 100 x 100 e, Joaquim Gaspar de Carvalho, Alfredo
Barbosa, José Baraúna e Albino Henrique, que cederam suas embarcações para o
transporte de pedra e areia tiradas da cachoeira do Samuel, no rio Jamari.
A primeira
missa foi rezada pelo padre Adriano Tourinho, de Porto Velho, quando a igreja
ainda estava em construção. Ela só viria a ser inaugurada em 7 de setembro de
1942, com a bênção e a entronização das imagens da padroeira da comunidade,
Nossa Senhora Aparecida, doada pelo senhor Rodolfo Guimarães e de São Carlos,
doada por Dom Pedro Massa, bispo da Prelazia do Amazonas.
Atualmente no
espaço limitado pelo distrito de São Carlos encontram-se duas Estações
Ecológicas a 1 e 2 e uma Reserva Extrativista a do lago Cuniã. Mas o distrito
de São Carlos do Jamari só seria criado pela Resolução nº 122, de 21 de
novembro de 1985, com amparo na Lei Complementar nº 39, de 10 de dezembro de
1980.
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