Elvestre
Johnson – Tábua de Balanço
Voltamos a enfocar o
surgimento da Rádio Caiari, desta feita contando a história do locutor
apresentador Elvestre Johnson o idealizador do programa “Tábua de Balanço”, o
maior sucesso da emissora e do rádio portovelhense, entre os anos de 1964 a
1969. “Ia passando em frente a rádio Caiari e vi uma fila enorme, perguntei
do que se tratava e me disseram que era concurso para locutor, por curiosidade
me inscrevi e terminei sendo selecionado”.
Essa e outras histórias
sobre a vida do hoje aposentado, jornalista Elvestre Johnson você vai ficar
sabendo através da entrevista que segue:
ENTREVISTA
Elvestre –Nasci no Alto do Bode
um morro que ficava entre a Baixa da União e o Triângulo. O nome foi porque ali
moravam os estrangeiros que vieram trabalhar na construção da Estrada de Ferro.
Eram Barbadianos, Antilhanos que falavam a língua inglesa e os brasileiros não
entendiam nada e diziam que era bode bodejando. Quando perguntavam sobre o nome
do local diziam: “É Alto do Bode”. Nasci ali em 1939. Somos uma família de 16
irmãos, Deus já levou três.
Zk – Filho de?
Elvestre – Papai Norman Johnson
era do Caribe, minha avó era barbadiana, e minha mãe dona Elvira Berenice Johnson
nasceu no Brasil, agora minha avó que era a grande baluarte da família
chamava-se Elisa Wills.
Zk – Como foi que você
começou a se interessar pelo rádio, como apresentador de programa de rádio?
Elvestre – Comecei na rádio
Caiari por um acaso. Eu lecionava no Senai e naquela época todo mundo andava a
pé ou de bicicleta.
Zk – Vamos dar um tempo na
história do radialista para falar sobre o Senai. Quem o levou para trabalhar
lá?
Elvestre – Quando o Senai
foi instalado aqui em 1960 o diretor era o professor Eirado depois ele se
afastou e entrou o professor Chico Otero que já era do quadro e ao assumir,
precisou contratar um professor de português, então foi lá na Escola Normal
entrevistou um, entrevistou outro e terminou por me escolher e então passei a
lecionar no inicio de 1961. Acontece que a primeira turma do Senai começou
fazendo o Curso Preparatório a partir do meio do ano de 1960, porém, oficialmente,
só passou a contar como curso mesmo, a partir do ano de 1961 quando realmente
comecei a lecionar, quer dizer, fui um dos primeiros professores do Senai em
Rondônia.
Zk – Como funcionava o
Senai?
Elvestre – O Senai naquela
época era uma coisa fantástica. Era muita disciplina tal qual o exército, uma
coisa muito organizada. Naquele tempo o Senai daqui era subordinado a 6ª Região
cuja sede era em Bauru (SP). Depois passou para a 19ª Região. Tive a felicidade
de trabalhar com o professor Chico Otero que era um cara muito organizado,
muito rígido e muito correto. Os alunos vinham da Bolívia, Guajará Mirim e Acre
e aqui se juntavam aos de Porto Velho era a verdadeira integração.
Zk – E antes de se formar
professor, você fazia o que?
Elvestre – Fui vendedor de
bolo e sorvete pela rua. Mamãe enchia o tabuleiro e eu saia vendendo. Atuei
como menino de recado para as prostitutas da Maria Eunice, Anita, Tartaruga e
outras, tudo para ajudar no orçamento de casa porque nossa família era grande.
Zk- E a rádio Caiari como
foi?
Elvestre – Teve um concurso
na época. Eu vinha com uns alunos do Senai e vi aquela fila enorme em frente à
rádio Caiari e perguntei o que era aquilo e me disseram, é concurso para
locutor, levado pela curiosidade me inscrevi. Éramos 23 candidatos e só
passaram dois, Eu e a Maria do Carmo filha da dona Maturina. Isso foi em 1964.
Zk – Qual programa você
passou a apresentar?
Elvestre – Quando fui contratado, o padre Vitor Hugo disse
que queria um programa e então comecei a esboçar e levei ao ar o “Canta
Passarinho”, era assim: No meio da música que estivesse rodando, o sonoplasta
acionava um botão e surgia um passarinho cantando, o ouvinte tinha que dizer
através de carta, qual música o pássaro cantou, se acertasse ganharia o prêmio.
Depois achei o Canta Passarinho um tanto quanto pobre e aí troquei o nome para
“Onda de Prêmios”, mas, não gostei e resolvi mudar.
Zk – Para Tábua de Balanço?
Elvestre – A idéia era
colocar no ar, um programa que balançasse os ouvintes, o pessoal me ajudou a
raciocinar: “Coisa que balança é trampolim” daí o nome do programa “Tábua de
Balanço – O Trampolim do Sucesso”. Tocávamos do baião ao rock e até música
romântica e principalmente a Jovem Guarda Iê, iê iê que estava no auge.
Zk – Você apresentava outros
programas?
Elvestre – Fazia o jornal da
Noite que ia ao ar entre onze e meia noite, era Eu o Joel Silva e o Inácio
Castro (os dois já faleceram). Também abria a rádio as 6h00 apresentando o RC
Noticias (Rádio Caiari Noticias), foi uma época fantástica.
Zk – Voltando ao concurso
para locutor. Quem foi o examinador?
Elvestre – Foi o Emil
Gorayeb um cidadão muito forte que tinha uma voz muito potente.O analista de
português foi o maior e melhor professor de português que já existiu por aqui,
Enos Eduardo Lins.
Zk – Você ficou na rádio
Caiari até quando?
Elvestre – Até 1970 quando o
Brasil foi pro México. Surgiu a rádio Eldorado, fui convidado e
aceitei trabalhar lá, depois voltei para a Caiari e passei a fazer apenas
esporte.
Zk– Fala sobre como eram feitas as transmissões dos jogos de futebol?
Elvestre – Naquela época
ainda não tinha Internet era apenas a Embratel e também, não existia o sistema
de link, então o repórter de pista, gravava as entrevista e corria para a
cabina onde ficava o narrador e colocava o gravador encostado no microfone e
reproduzia a entrevista.
Zk –Como comentarista de
futebol qual o grande lance, aquele que marcou a tua vida como radialista?
Elvestre – Quando o Brasil
estava se preparando para ir pro México veio fazer um jogo em Manaus e nós fomos
pra lá, Eu e o Ribamar. Atuei como repórter de pista e enquanto o Ribamar ficou
na cabina fui pra beira do gramado, nesse dia jogaram a seleção “B” do Brasil
contra a seleção “B” de Manaus e depois a seleção “A” do Brasil contra a
seleção “A” de Manaus. Quando a seleção brasileira saiu do túnel do Vivaldão
veio o Pelé a maior estrela do Brasil e ao seu redor um monte de repórter,
nunca vi tanta gente na minha vida ao redor de uma mesma pessoa e eu fiquei
afastado com o meu microfone que tinha aproximadamente uns dois palmos de
comprimento e o Pelé dizia: “calma gente, calma, vou atender um por um”.Olhou
no meu rumo que estava um pouco afasto e disse, vou começar por aquele moreno
ali que era Eu. A primeira pergunta da coletiva quem fez foi Eu: Pelé, como
você se sente aqui no Vivaldão? Sai correndo para a cabina para transmitir a
entrevista e dei de cara com o Paulo Cezar Caju que virou pra mim e disse: Oi
da Cor! Aquilo pra mim foi fantástico!
Zk – Quem fazia parte da
equipe esportiva da rádio Caiari?
Elvestre – O Abemor era o
faz tudo, ele era o técnico, carregador de cabos e orientador. Nas viagens para
economizar, ia o sonoplasta que atuava como técnico, o locutor narrador e o
comentarista. Tinha o Clodomiro Santos e o Jorge Santos que eram os sonoplastas
e como já disse o Abemor como técnico.
Zk – Existe uma brincadeira
que envolve o narrador Tarugo. Conta o que gerou a gozação?
Elvestre – Tarugo era um
“caboquinho” que atuava como narrador de futebol na Caiari e em determinado
jogo, entre o Ferroviário e outro time, onde estava atuando como zagueiro, o
Dodó que tem quase dois metros de altura. Tarugo narra: “Lá vem o ataque pra cima do
Ferroviário, confusão na intermediária, escapou o jogador fulano, se prepara e
chuta rasteirinho, rasteirinho – Corte Dodó de cabeça”.Já pensou o Dodó
daquele tamanho, cortando uma bola de cabeça rés a grama. Daí a gozação!
Zk – Como foi teu
relacionamento com o Padre Vitor Hugo?
Elvestre – Foi a melhor
possível. Ele era uma pessoa muito aberta, principalmente quando se tratava de
religião, por exemplo, eu professava a religião Protestante, Crente e ele
apesar de ser padre católico não se incomodava, tanto que nomeou o Osmar
Vilhena que também era evangélico diretor da rádio. Eu me relacionava muito bem
com ele. Descobri no Vitor Hugo uma mentalidade muito moderna praquela época.
Zk – Para encerrar. Família?
Elvestre – Casei em 1963 com
a Maria José Souza e convivemos durante 50 anos, ela morreu recentemente.
Tivemos cinco filhos. Hoje tenho netos e bisnetos. Sinto-me um homem muito
feliz. Ela me fez muito feliz e os meus filhos continuam me fazendo muito
feliz! Meus amigos são muito importantes na minha vida.
Um comentário:
Como sempre, magnífico e fenomenal no divino trabalho de mostrar nossa terra.
...E o Elvestre Johnson, uma riqueza da região.
Parabéns!
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