Continuando com a história
do surgimento da rádio Caiari, nesta edição, publicamos a entrevista com o José
Hélio de Castro que juntamente com o Bianor Santos e o Inácio Castro foram os
primeiros locutores da emissora criada pelo então padre Vitor Hugo em 1960. Zé
Hélio conta de como começou sua vida como locutor de rádio: “Estava
tomando tacaca na banca da dona Chiquinha na praça Jonathas Pedrosa, quando
ouvi pelo Serviço de Alto Falante a Voz da Cidade que eles estavam recebendo
inscrições para teste de locutor, fui lá me inscrevi e fui aprovado”.
Daí pra frente, Hélio foi contratado pela rádio Difusora do Guaporé e depois
pela rádio Caiar. Acompanhe essa história.
ENTREVISTA
Zk – Vamos começar por sua
identificação?
Zé Hélio – Meu nome completo
é José Hélio de Castro Rocha, nasci em Fortaleza por acaso, porém me considero
de Rondônia porque vim pra cá com três meses e aqui me criei, casei, aqui vou
morrer. Minha mãe chamava-se Alice Rocha de Castro e o meu pai Inácio de Castro
e Silva. Nasci no dia 9 de fevereiro de 1940.
Zk – Em Porto Velho como foi
a tua infância?
Zé Hélio – No inicio a gente
morava numa casa da Estrada de Ferro Madeira Mamoré ali onde hoje existe a Vila
Ferroviária na Farquar. Existia um casarão, de um lado morava a nossa família e
do outro seu Joaquim Bártolo e a dona Labibe. Depois moramos na José do Patrocínio
e finalmente fomos para a D. Pedro II, onde vivi minha juventude, só sai de lá
quando casei.
Zk – E quando foi que você
começou a trabalhar em rádio?
Zé Hélio – Essa história é
muito interessante: Quanto estava fazendo a quarta série do ginásio, Eu, Zé
Nilton e o Bianor um dia a gente estava na praça Jonathas Pedrosa tomando
tacaca na dona Chiquinha e tinha a Voz da Cidade do Fuad Nagib cujo estúdio era
bem em frente, aí saiu uma nota, dizendo que eles estavam com inscrição aberta
para quem quisesse fazer teste para locutor, então fomos lá os três, fizemos o
teste e fomos os três contratados para trabalhar no Serviço de Alto Falante A
Voz da Cidade.
Zk – E a Rádio Difusora do
Guaporé?
Zé Hélio – Certa noite eu
estava trabalhando na Voz da Cidade quando chegou o seu Petrônio de Almeida
Gonçalves que era diretor da Difusora e ele me convidou pra fazer um teste na
difusora. Trabalhei na Difusora do Guaporé até ela sair do ar.
Zk – E a rádio Caiari?
Zé Hélio – A Rádio Difusora
parou suas atividades no final dos anos 1950 e o padre Vitor Hugo entendeu
que tinha que montar uma rádio. Então convidou o Bianor Santos para trabalhar
com ele na implantação da rádio o Bianor foi quem iniciou a rádio Caiari que
funcionava lá no colégio Dom Bosco (hoje faculdade católica) embaixo de uma
escada, um transmissor velho de rádio amador. O Bianor foi e me convidou para
fazer parte do quadro de locutores e então fui o segundo da rádio Caiari,
depois eu levei pra lá meu irmão Inácio Castro e ficamos os três. Depois o bispo
Dom João Batista Costa cedeu uma sala no prédio da prelazia atrás da Catedral e
á rádio foi pra lá.
Zk – Você lembra o ano e o
mês do inicio da rádio Caiari?
Zé Hélio – Na minha
concepção foi no meio do ano de 1960. Falo isso porque no inicio do ano de 1960
fui estudar no Rio de Janeiro e por não ter me adaptado e também por saudade da
família fiquei apenas 4 meses. Logo que cheguei de volta aqui em Porto Velho o
Bianor me convidou para trabalhar na rádio Caiari. Levando em consideração que
as aulas começavam em março, voltei pra cá em julho, por isso tenho quase
certeza que a rádio Caiari comeu a ir pro ar no mês de agosto de 1960.
Zk – Qual o programa que
você apresentava na rádio Caiari?
Zé Hélio – A gente fazia de
tudo, era locutor de comercial, apresentava o jornal e outros programas. Vale
salientar que naquele tempo existia o locutor comercial que só fazia as
propagandas. Exemplo: tinha o programa Carrossel de Melodia que era apresentado
pelo Bianor, na hora do comercial entrava no estúdio o locutor para falar as
propagandas dos patrocinadores e o Bianor só fazia a apresentação do programa.
O Carrossel de Melodia que também cheguei a apresentar era um programa onde as
pessoas ofereciam músicas aos aniversariantes. Era assim: Está completando mais um ano no
jardim florido de sua existência, a jovem Maria. Seu namorado Pedro com todo
carinho, lhe oferece a melodia “Tal”... E tocava a música escolhida
pelo namorado. Foi um programa de grande audiência se não o de maior
audiência da rádio Caiari, depois do Avisos para o Interior.
Zk – E os controlistas,
operadores de som?
Zé Hélio – Quando a rádio
começou lá embaixo daquela escada do colégio Dom Bosco, a gente fazia a locução
e colocava os discos que a época era apenas em 78 RPM e era muito difícil você
fazer a locução e colocar os discos no “prato”, foi então que o padre Vitor
Hugo autorizou o Bianor a contratar dois sonoplastas, que se não me engano, fotam,
o Ary Santos e Você os primeiros sonoplastas da rádio Caiari.
Zk – Fala mais um pouco
sobre como funcionava a rádio Caiari?
Zé Hélio – O Vitor Hugo era
um idealista, ele começou a rádio Caiari com aquele transmissor velho de rádio
amador e logo depois, fez uma viagem à Itália e por lá, conseguiu equipamentos
de primeira qualidade, tudo da marca Telefunken que na época era top de linha.
Esse equipamento desembarcou em Porto Velho em meados do ano de 1961. Era uma
mesa de última geração, gravador Akai, transmissor potente e a torre (antena),
que foi erguida no terreno da igreja Nossa Senhora das Graças lá no KM-1 com
aproximadamente 70 metros de altura.
Zk – Quando a rádio passou a
funcionar no prédio da Carlos Gomes com certeza o quadro de funcionários
aumentou. Quem foi contratado?
Zé Hélio – Aí veio o seu
Petrônio Gonçalves, o Abemor. Lembro que também foi criado o programa “Bico do
Arara” um programa que tinha apenas cinco minutos de duração mais fazia o maior
sucesso, por sempre fazer críticas em forma de sátira (humor) ao governo e
outras autoridades. Bom, depois veio o Osmar Vilhena que chegou a ser diretor
da rádio.
Zk – Vamos falar sobre seu
pai Inácio Castro que foi um dos donos do jornal O Alto Madeira. O que você
lembra do seu pai?
Zé Hélio – Nessa vou ficar
te devendo. Acontece que quando meu pai morreu eu era criança, estava apenas
com cinco anos de idade. Ouvi falar que ele foi um dos pioneiros do jornalismo
em Porto Velho. Acho que ele ficou como dono do Alto Madeira até negociar com o
Assis Chateaubriand a venda para Os Diários Associados já na década de 1940.
Meu pai faleceu no dia 7 de Setembro de 1945.
Zk – Depois da rádio Caiari
você trabalhou em outras emissoras ou não?
Zé Hélio – Não, quando sai
da Caiari fui trabalhar na empresa Rondomarsa a primeira concessionária de
veículos que foi montada em Porto Velho, Era revendedora dos carros da Willys Overland
do Brasil. A Rondomarsa que muitos pensam que era do seu Aurélio na realidade,
era dos sócios; Joaquim Pereira da Rocha e Humberto Corrêa. A sede era na rua
Barão do Rio Branco em frente à praça Jonathas Pedrosa.
Zk – E o José Hélio jogador
de futebol?
Zé Hélio – Tem essa fase.
Quando retornei do Rio de Janeiro fui jogar no Ferroviário acontece que o
diretor da Madeira Mamoré Dr. Ernani Pamplona era o presidente do Ferroviário e
eu pedi, para jogar no Ferroviário, que ele me arranjasse um emprego e então
ele me colocou no SALFT – Serviço de Água, Luz e Força do Território. Quando
surgiu a Rondomarsa fui pra lá porque o ordenado era bem melhor. No SALFT eu
ganhava Cinco Mil Cruzeiros e a Rondomarsa me ofereceu Oito Mil. Devo
esclarecer que a rádio Caiari naquela época só funcionava à noite.
Zk – Você começou jogar bola
aonde?
Zé Hélio – Comecei mesmo no
campinho do Barão do Solimões, depois no time do Colégio Dom Bosco. O primeiro
time federado foi o Bancrévea Clube que só disputou uma temporada, então fui
pro aspirante do Botafogo e no ano seguinte fui promovido para o time principal.
Em 1960 após retornar do Rio de Janeiro fui jogar no Ferroviário onde fiquei
até encerrar a carreira em virtude de problemas no menisco.
Zk – Para encerrar. Família
Zé Hélio – No dia 7 de
dezembro deste ano, vou comemorar 50 anos de casado com dona Irene dos Reis
Castro. Tivemos quatro filhos, três mulheres e um homem, graças a Deus todos
perfeitos, casados e encaminhados como diz o outro. Minha família é uma família
muito feliz!