Saudosista por excelência
Sexta feira passada 24,
fomos ao Mercado Cultural prestigiar a Fina Flor do Samba e assim que chegamos,
um cidadão nos abordou, dizendo: “há muito tempo gostaria de conhecê-lo,
para agradecer por você ter publicado uma carta minha que escrevi e enviei la
de Santarém (PA), em homenagem ao meu pai”. Era o Tenente da reserva da
PM amazonense João Aristino Moura dos Reis. Após breve conversa, resolvemos
entrevistá-lo, pois apesar de morar atualmente em Santarém (PA), Aristino
nasceu e se criou em Porto Velho. “Nasci na Baixa da União e me criei na
Arigolândia”. filho de um Guarda Territorial e de uma quituteira. “Minha mãe
fazia bolo e eu ia vender pélas ruas da cidade”. Fã de carteirinha do Poeta da
Cidade Ernesto Melo se identificando com a música “Tributo a Silvio Santos”. “Essa
música que o Ernesto compôs em sua homenagem, tem muita a ver também com a
minha história. Eu e você somos vencedores”.
Foi nesse clima que batemos
o papo com o João Aristino que veio a Porto Velho festejar o aniversário de 65
anos de seu irmão Petronilio Moura.
ENTREVISTA
Zk – Você é de Porto Velho
nascido aonde?
João Moura – Nasci na Baixa
da União no dia 24 de junho de 1942, fui criado no bairro Arigolândia. Quando
ainda morava na Baixa além das peraltices de criança, ajudava meus pais, pois
minha mãe fazia bolo e eu ia vender no centro comercial, inclusive no Mercado
Municipal (hoje Cultural), vendi pipoca ali no canto da Casa Saudade, trabalhei
na Sorveteria Elite que ficava na esquina da José de Alencar com a Sete de Setembro,
era assim.
Zk – Na Baixa da União
existia um campo de futebol bem no meio do aglomerado de casas. Você batia bola
lá?
João Moura – Dificilmente
conseguia participar das peladas naquele campo, acontece que nosso pai não deixava,
o caso dele era trabalho e pra gente jogar bola tinha que fugir, mas, quando
chegava da bola, apanhava.
Zk – Quem era seu pai?
João Moura – Ele era guarda
territorial, inclusive você fez uma homenagem a ale a qual aproveito a
oportunidade para agradecer, o nome dele: Benedito Ferreira dos Reis.
Zk – E a quando vocês se
mudaram da Baixa da União para Arigolândia?
João Moura – Eu devia ter
meus dez/doze anos, quando mudamos para a Arigolândia e lá a batalha também foi
grande. Ali meu pai conseguiu um lote de terra que podia ser considerado como
sítio, onde a gente plantava roça pra sobrevivência.
Zk – Fala mais sobre sua
vida?
João Moura – Servi o exército
na então 3ª Cia de Fronteira (hoje 17ª Brigada), estudei sete anos no colégio
Dom Bosco e depois fui trabalhar na CEM – Campanha de Erradicação da Malária.
Zk – Na CEM você chegou a
borrifar DDT nas residências?
João Moura – Coloquei muito
DDT. Trabalhei na borrifação entre Porto Velho Guajará Mirim. Nossa equipe
viajava numa Calamazul da Estrada de Ferro e ia parando de casa em casa de
Porto Velho a Guajará Mirim. Calamazul era um veículo motorizado menor que a
Litorina.
Zk – Que história é essa de
ter sido expulso de casa. Qual o motivo?
João Moura – Como já disse,
meu pai não dava moleza pra gente não, tinha que trabalhar e ajudar no sustenta
da casa. Talvez por eu ter largado o emprego da CEM ele me expulsou de casa.
Zk – E foi parar em Manaus?
João Moura – Como Porto
Velho ainda era muito pequena eu não queria tá presente vendo meu pai todo dia,então
consegui uma passagem de FAB (Força Aérea Brasileira) e fui pra Manaus, isso
foi em 1963. Por alguns meses, como diz o ditado,“comi o pão que diabo amassou”,
mas, consegui me equilibrar. Foi quando encontrei um amigo de Porto Velho que
servia na polícia de lá e ele me convidou para entrar para a PM e eu aceitei.
Hoje sou aposentado como oficial da Polícia Militar do Amazonas.
Zk – E Santarém como aconteceu
na sua vida?
João Moura – Santarém foi
uma consequência. Ao me separar da primeira mulher, fui pra Belém onde conheci uma
jovem que até hoje é minha esposa. Fizemos 25 anos de casados em abril passado.
Ela é de Monte Alegre e então viemos morar aí onde permanecemos até hoje.
Zk – Certa vez recebi uma
correspondência sua falando sobre seu pai e até publiquei no jornal a sua
homenagem. Na Guarda Territorial ele fazia o que?
João Moura – No tempo que
meu pai entrou para a Guarda Territorial os guardas faziam de tudo, era uma
espécie de trabalhador braçal, pois o Território era recém-criado e então o
governo utilizava a mão de obra dos guardas, para fazer vários serviços. Meu
pai por exemplo, tirou muito lenha que era utilizada na cozinha da guarda e na
caldeira da usina de luz. Naquele tempo o comando da guarda escalava alguns
guardas que tinham conhecimento do assunto, para pescar e os peixes eram
utilizados na alimentação da tropa. Existiam competições esportivas e meu pai
fazia parte da equipe do Remo disputava as Regatas como representante da Guarda
Territorial. Por isso escrevi aquele material que você publicou na sua coluna,
pois, muitos fizeram por essa terra e nunca foram reconhecidos. Apesar de ter
sido expulso de casa, jamais deixei de admirar meu pai, principalmente pela
educação que nos proporcionou e seu trabalho como Guarda Territorial.
Zk – Agora visitando Porto
Velho sua cidade natal. Tem motivo especial para essa visita?
João Moura – Acontece que
meu irmão Petronilio Moura Reis vai completar 65 anos de idade, no próximo dia
31 de maio e eu vim prestigia-lo. Quando eu completei 70 anos ele foi lá em Santarém
festejar comigo e agora vim prestigiar a festa dos seus 65 anos e rever os
amigos.
Zk – Você estava me falando
que tem tudo sobre a Banda do Vai Quem Quer e divulga as músicas lá em
Santarém, Como foi que você conheceu o Manelão?
João Moura – Foi o Ernesto
Melo quem me apresentou ao Manelão aí cheguei e perguntei: É você que é o
Manelão. É você o homem da Banda Vai Quem Quer? Então meu irmão, vim só lhe
prestigiar! O Beto Cezar (ainda era Carimbó) estava presente e então lembrei o
pai dele o Camucim, do José Vieira Caúla, do Teodorino do Pedrinho todos da
Casa Saudade e o Menelão quando falei em Camucim disse, apontando para o Beto,
olha o filho dele aí e o Beto me deu um CD. Manelão então me deu camisetas do
bloco e o CD que divulgo até hoje lá em Santarém. Hoje tenho o prazer de
conhecer você que é o compositor da maioria das músicas da Banda.
Zk – Outra coisa, você
também divulga as músicas do Ernesto Melo e tem uma que é especial. Fala sobre
essa música do Ernesto?
João Moura – A música que
admiro é,“Tributo ao Silvio Santos”,
pelo que o Ernesto diz na letra, você sofreu muito. Quando ele diz “... Você
sofreu e hoje é um vencedor...”. Essa homenagem que o Ernesto faz a
você eu peguei um pedacinho e mandei prum locutor da rádio 94 FM de Santarém o
Domingos Campo que sofreu como você e como eu sofri também, quer dizer, somos
vencedores.
Zk – Como você ver a Porto
Velho de hoje?
João Moura – Melhorou muito,
não tem nem comparação. Naquele tempo você sabe, Baixa da União tinha aquela
vala, era vizinho de uma lado vizinho do outro. Quando chegava fruta do
interior a gente ia ajudar desembarcar fosse do trem ou dos barcos que faziam o
beradão. Hoje como diz o Ernesto em sua música: “... O Alto do Bode hoje é baixo
e não tem mais a Baixa da União... Madeira Mamoré só por pirraça, calou a Maira
Fumaça ferindo o meu coração...”. É saudosismo puro e eu sou saudosista
por excelência. Pra mim é um orgulho, a cidade onde nasci progrediu e muito.
Poucas cidades no Brasil alcançaram tanto progresso como a nossa Porto Velho.
Zk – Você falou que o
terreno de vocês na Arigolândia era tipo um sítio e o que aconteceu?
João Moura –Quando chegou o
Coronel Oliveira no 5º BEC ele loteou o terreno do papai dando para outras
pessoas. No terreno o papai plantava macaxeira, café, banana e muito mais. Pois
é, essa é a recordação que o BEC nos deixou.
Zk – Foi nesse tempo que
você atuou como vendedor de galinha?
João Moura – Acontece que no
tempo da infância e adolescência, todos nós tínhamos que ajudar no sustento da
casa. Certa vez chegou um cidadão e falou pra minha mãe, “deixa o Aristino
vender galinha pra mim”? e lá fui eu com as galinhas na capoeira ou presas no
cambão. Certa vez um cara pegou cinco galinhas levou, dizendo que voltava pra
pagar e até hoje não apareceu, fui roubado!
Zk – Tem filhos?
João Moura – Em Santarém tem
dois e em Manaus um do primeiro matrimônio: O de Manaus chama-se João Aristino
Moura dos Reis Júnior os de Santarém são o Arisjoão Moura dos Reis e minha
filha Vanilara Moura dos Reis minha esposa Maria Vângela Moura dos Reis.
Zk – Para encerrar?
João Moura – Só tenho a
dizer que você pra mim é um elemento que não tem predicado, pra mim você é tudo
em matéria de cultura, assim como o Ernesto Melo o Poeta da Cidade. Só tenho é
que render minha homenagem a vocês e ter orgulho de ter vocês na minha terra. Que
Deus abençoe todos os rondonienses e em especial os nascidos em Porto Velho.
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