Por
Silvio M. Santos
Capar Original do Disco com a gravação do samba |
Há alguns
dias, o Ilmar Esteves postou na página do face Saudosismo Portovelhense, a
gravação em CD do samba enredo da Escola de Samba “Os Pobres do Caiari” para o
carnaval de 1985 “Ceará, Lendas, Rendas e Crenças – CEARÁ DE IRACEMA” de
autoria de Silvio. M. Santos, Babá e Haroldo Dori interpretado, pelo Babá.
A
publicação alcançou ótimo índice de visualização e comentários, aliás, comentários
todos de elogio ao samba, que é considerado antológico
e até hoje, é o mais cantado samba enredo de uma escola de samba de Porto Velho
onde acontece um evento com grupos de samba e pagode.
Entre
os comentários muitos querendo saber quem pesquisou a história e quem foi o
autor de tão admirada obra musical.
Foi
então que resolvemos contar a história de como surgiu o Enredo e o Samba que é
conhecido como: Ceará de Iracema.
O ENREDO
Flávio e o cantor Quinzinho |
O
carnavalesco Flávio Daniel começou a pesquisar o que ele denominou de “Lendas e
Costumes do Nordeste” desde meados do ano de 1983. Nordestino de Pernambuco
Flávio fez contato com seu irmão que morava em Recife e solicitou que ele lhe
enviasse, material literário sobre as Lendas e os Costumes do povo do Nordeste.
O
interessante era que cada vez que ele recebia uma partida de material literário,
me convidava para ir até sua casa onde eu ficava conhecendo as histórias relativas
à sua pesquisa.
CAIARI PERDE O CARNAVAL DE 1984
No
carnaval de 1984 dona Marise Castiel colocou na avenida, o enredo: “Céu, Terra
e Mar – As Forças da Natureza” com o samba enredo de autoria do trio Sandro,
Cascão e Carlinhos que derrotaram o samba da parceria Silvio M. Santos e Babá.
Acontece que a escola não logrou êxito em seu desfile e um dos quesitos que foi
acusado pelo fracasso, foi justamente o samba de enredo.
CHAGAS NETO ASSUME O CAIARI
Assim
que terminou o carnaval de 1984, o empresário Chagas Neto foi convidado e
aceitou, assumir como Patrono da Escola de Samba que até então, era registrada
como “Império do Samba Os Pobres do Caiari”. Chagas foi apresentado a
comunidade Pobres do Caiari, durante feijoada que foi servida, no sítio do
Cezar Zoghbi que ficava ali onde hoje está o Tênis Clube.
Nessas
alturas, o Flavio já havia me convencido que sua pesquisa sobre as Lendas e os
Costumes do Nordeste seria o enredo da Caiari no carnaval de 1985. Durante a
feijoada, peguei o microfone do carro de som que estava animando a nossa festa
e anunciei que iria cantar, o que poderia ser o REFRÃO do samba enredo no
carnaval de 1985 e cantei a seguinte estrofe: “E o violeiro que é poeta nato,
tira mote fácil, sobre causos do sertão e conta histórias de vaquejada e
vaqueiro de jangadeiro e do ‘pade’ Ciço Romão”...
CHAGAS NETO TROCA O NOME DA ESCOLA
Um dos
primeiros atos do Chagas frente à escola de samba, foi trocar sua denominação, que
passou a ser Grêmio Recreativo Escola de Samba Pobres do Caiari. As reuniões
passaram a acontecer num galpão existente no Conjunto Santo Antônio que recebeu
o nome de sede da Caiari.
Houve
uma reunião na qual, foram nomeados para desenvolver o enredo para o carnaval
de 1985 os carnavalescos Marise Castiel. J. Pinto e Flávio Daniel sob a direção
da professora Marise Castiel. Como o Flávio quase não comparecia as reuniões
dessa comissão, por sugestão da dona Marise e em homenagem ao Chagas Neto o
nome do tema foi trocado para: “Ceará –
Lendas, Rendas e Crenças”, o que não agradou muito ao Flávio, mas, foi
aprovado pelo demais diretores.
Nesse
interim o Hiran Brito Mendes sugeriu ao Chagas Neto que convidasse para compor
o samba enredo, a dupla Silvio M. Santos e Babá o que foi aceito e feito o
convite.
NASCE O SAMBA CEARÁ DE IRACEMA
Silvio M. Santos o compositor |
Conhecedor
de toda a história desde meados de 1983, passei a trabalhar na composição do
samba, já era o mês de julho de 1984. Nessas alturas conheci o violinista
(violão de 7 cordas) Haroldo Dori. Bom, certo dia, a boca da noite Haroldo
chegou na minha casa que era no Areal da Floresta e eu havia terminado de
compor o samba e então, pedi que pegasse o violão para me acompanhar e, na
medida que eu cantava ele ia harmonizando a melodia por mim criada. Finalmente
peguei meu gravador e acompanhado pelo Haroldo gravei o samba.
Logo
depois fomos até a casa do Babá no bairro Liberdade e lá lhe expliquei o que
queria e deixei a Fita Cassete para que ele “Lapidasse” o que eu havia feito.
Isso foi numa sexta-feira.
BABA LEVANTA A MELODIA DO SAMBA
Baba compositor e interprete |
Segunda
feira, voltamos a residência do Babá e ele nos entregou uma fita com sua versão
melódica para o samba. Não mudou totalmente a melodia que eu havia criado,
porém, levantou o samba logo em seu início, ficamos (Eu e o Haroldo) impressionados
de como o Babá havia transformado a melodia inicial do samba, numa harmonia pra
cima, nos abraçamos felizes e ficamos de apresentar o samba em primeira mão ao
Hiran.
No
outro dia pela manhã, nos dirigimos a Secretaria de Administração do Estado na
Esplanada das Secretarias e mostramos o samba ao Hiran que era o Diretor de
Carnaval da Escola. Hiran ouviu e para nossa decepção não aprovou, dizendo: “Está
muito pequeno para ser samba enredo”. Saímos da sala cabisbaixo e fomos direto
para o Chaveiro do Manelão e lá o Babá numa inspiração repentina virou pra mim
e fez as seguintes perguntas: “Compadre, quem faz a renda é chamada de que? Eu,
de Rendeira, e quem toca viola? Eu: quase sempre é um cantador. Então é só
juntar com esses versos: Vaqueiro segura o laço, jangadeiro vai pro mar e o
povo se prepara pra festejar Iemanjá (esses últimos versos já existiam na minha
letra) e então convocamos o Haroldo e o Babá gravou o samba, agora com mais
alguns versos o que agradou o Hiran.
A GRAVAÇÃO NO RIO DE JANEIRO
Mais
uma vez o Hiran Brito entrou em ação e conseguiu a aprovação da diretoria da
escola em especial do Chagas Neto e após contatar com o Laíla e com o Rivaldo
Santos que eram os produtores do Disco com os sambas enredos das escolas de
samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro, que produzissem a gravação do samba
enredo da Pobres do Caiari “Ceará – Lendas, Rendas e Crenças – Ceará de Iracema”.
Laíla
contratou o cavaquinhista Alceu Maia e o Grupo “Samba 7”, o mesmo que gravava
os sambas do Grupo Especial e as beck vocal “As Gatas” e o Baba juntamente com
o Hiran viajaram para o Rio de Janeiro e o Babá gravou o samba “Ceará de Iracema”,
era o mês de setembro de 1984.
No
mesmo disco, foram gravadas: a marchinha “Hino da Banda” e o samba “Exaltação
ao Caiari” de minha autoria, mais um agradecimento aos patrocinadores do Disco.
VEJA A LETRA DO SAMBA DA CAIARI PARA 1985
Ceará –
Lendas, Rendas e Crenças – Ceará de Iracema
De:
Silvio M. Santos, Babá e Haroldo Dori
Interprete:
Babá
Eita!
Ceará
de Iracema tua história é um poema
Parte
agora iremos contar
Glórias
a Soares Moreno
Ao
Guerreiro Poti e José de Alencar
Ubirajara,
índio de grande valor
Com
Jandira e Araci dividia seu amor.
E o
violeiro que é poeta nato
Tira
mote fácil
Sobre
causos do sertão
E
conta histórias
De
vaquejada e vaqueiro
De
jangadeiro e do Pade Ciço Romão.
Com
bilros a mulher faz suas rendas
E
labirintos pra poder ganhar o pão
Segue
o povo em sua fé
Em
romaria pra chegar em Canindé
Quem
faz a renda,
É
chamada de rendeira
E o
violeiro
Quase
sempre é cantador
Vaqueiro
segura o laço
Jangadeiro
vai pro mar
E o
povo se prepara
Pra
festejar Iemanjá
E na praia...
Na
praia tem caju
Mulher
faceira
E água
de coco
Pra
beber
EITA
Ê!
Nenhum comentário:
Postar um comentário