No tempo do Bazar e da
Serraria Santo Antônio
Na véspera do dia em que o
município de Porto Velho completaria 103 anos, nos reunimos na residência do
senhor Jorge Braga em torno de um tambaqui do Vale do Guaporé assado na brasa,
para ouvir as histórias de vida, do senhor Bento da Mota Braga.
Seu Bento que vai completar
90 anos no dia 16 de novembro próximo, apesar da ótima saúde, não lembra muito
bem do tempo que trabalhou nos seringais do Acre, do Bazar Santo Antônio e das
serrarias Santo Antônio, Transamazônica e Ibemalta entre outros empreendimentos.
Assim sendo, ouvimos suas histórias, através de seus filhos Jorge e Elvan além
do neto George.
O que mais o seu Bento
gosta, é de cantar algumas canções do seu tempo de jovem.
É com prazer que apresento a
história do seu Bento da Mota Braga contada por seus filhos e netos.
ENTREVISTA
Zk – O senhor é de onde?
Bento - Sou da Boca do Acre,
nasci no dia 16 de novembro de 1927. Fui casado com a dona Iacira de Freitas
Braga. Sou filho de João Leocádio Braga que veio do Ceará para Boca do Acre em
1890.
Zk – Me disseram que o
senhor é excelente cantor. Tem alguma canção na ponta da língua por aí?
Bento – “Vai boiadeiro que a
noite já vem/Guarda o teu gado e vai pra junto do teu bem...”. Gosto muito da
música do Carlos Galhardo - E o Destino Desfolhou - O nosso amor
traduzia/Felicidade e afeição/Suprema glória que um dia/Tive ao alcance da
mão/Mas veio um dia o ciúme/E o nosso amor se acabou, ou, ou/Deixando em tudo o
perfume/Da saudade que ficou...
Zk – O senhor é considerado
pioneiro como criador de peixe em cativeiro, inclusive de tartarugas e
tracajás?
Bento – Realmente, tive uma
propriedade na Estrada do Areia Branca onde desenvolvi a atividade de
aquicultura, com registro no IBDF. Comecei criando tartaruga e tracajá. Eu era
o fiel depositário dos órgãos do governo responsáveis pela preservação das
espécies, chegamos a ter em nossa responsabilidade mais de 12 mil quelônios. Na
mesma propriedade cheguei a criar pirarucu mais não vingou.
Participação do neto George
Alessandro Braga – Secretário da SEPOG:
Zk – George fala alguma
coisa sobre teu avô?George Braga – Ele é um pioneiro. Amava muito a vovó, ao
ponto de largar tudo que tinha, para tratar de um maldo qual ela foi acometida,
foi pro Rio de Janeiro e a internou no sanatório. É um homem que ama muito a
família. Seu lema é a honestidade.
Conversa com o Elvan o filho
que até hoje trabalha no ramo madeireiro.
Zk – Vocês chegaram a ser
perseguidos por trabalhar com a exploração de madeira na época?
Elvan – Madeireiro na época
era visto como herói, como empresário bem sucedido. Depois foi que passaram ser
visto como bandido devastador etc.
Zk – Você acha que o sistema
de manejo funciona?
Elvan – Funciona sim, é mais
que correto. Se não tivessem implantado esse sistema, o madeireiro tinha
acabado a Amazônia. Era tudo pasto para gado, soja & tal.
Jorge Braga o filho mais
velho:
Zk – Conta um pouco da
história do teu pai?
Jorge – Papai é filho de
cearense, nasceu em Boca do Acre (AM). Saiu de casa com 12 anos de idade.
Zk – Você lembra o ano que
vieram para Porto Velho?
Jorge – Eu tinha dez anos de
idade, foi em 1960. Meu pai tomava conta de seringal la no Acre e resolveu vir
pra Rondônia que segundo ele, era melhor do que onde estávamos. Ele sempre teve
o tino de comerciante, comprou umas mercadorias e colocou uma lona na rua
Henrique Dias.
Zk – Você lembra os
comerciantes da Henrique Dias na época?
Jorge – Entre a José de
Alencar e a Presidente Dutra tinha o Tufy Matny e a Padaria do Raposo, do outro
lado da Presidente tinha o Banco do Brasil, a Associação Comercial e um terreno
sem nenhuma construção que ia até a hoje Rogério Weber.
Zk – O que o seu Bento da
Mota Braga vendia na lona?
Jorge – Tinha tudo quanto
era bugiganga balde plástico para água, bacia, toalha enfim, naquele tempo,
esse estilo de comerciante era chamado de Marreteiro. O negócio ali no chão foi
crescendo até que...
Zk – O que aconteceu?
Jorge – Seu Mário Monteiro
um empresário que morava no Rio de Janeiro e tinha muita terra aqui, começou a
construir naquela área, quatro lojas, pegou amizade com meu pai e certo dia
falou: “Bento tu não quer sair aqui do chão pruma loja? - Querer eu quero, mas
não posso – “Estou construindo essas quatro lojas e uma é tua, pode escolher”.
– Não tenho dinheiro pra pagar! – “Você me paga do jeito que puder”. A primeira
loja foi a Casa Manicoré do Eneas Cavalcante, aí vinha o Bazar Santo Antônio de
Bento da Mota Braga; a terceira loja era a do Jamil e a última loja era a
Sapataria do seu Antônio e dona Isaura. Tem um detalhe, meu pai andava de
bicicleta. O certo foi que o negócio cresceu e um dia ele disse: Vou comprar um
carro e foi a São Paulo e comprou pick up Willians.
Zk – Nessas alturas o
negócio ia de vento em popa?
Jorge – Então ele comprou
uma terra onde hoje é a estrada da Coca Cola (Areia Branca), na época era
apenas uma picada e então, resolveu abrir uma estrada. Essa estrada foi aberta
na foice, no machado e na enxada. Lembro que nessa empreitada estava o Walter
Bártolo, João Café que faziam parte de um órgão do governo conhecido como
Fomento. Seu Edésio do balneário e o Antônio Tapioquinha também ajudaram muito.
Zk – E como foi que seu
Bento se envolveu com serraria?
Jorge – O Banco do Brasil
viu que ele estava bem e ofereceu crédito. Como lá no Acre ele havia tido uma
serraria manual, conseguiu financiamento e montou a Serraria Santo Antônio que
ficava onde hoje é o Caipirão. Foi a primeira grande serraria particular em
Porto Velho. Vendeu para o Emil Gorayebe e montou a serraria Transamazônica ali
onde hoje fica a garagem da Eucatur na Jorge Teixeira, essa foi em sociedade
com o Luiz Tourinho. Depois montou a Ibemalta no Km 8 em frente a AABB na BR
364 sentido Cuiabá.
Zk – O que aconteceu pra ele
parar com o ramo madeireiro?
Jorge – Ele ficou muito bem
de vida, construiu um edifício na José de Alencar ao lado da Caixa Econômica
isso entre os anos de 1978/79, tinha algumas casas, aí veio a ambição.
Zk – Ambição?
Jorge – Era o auge do
garimpo de ouro do Madeira e ele entrou no garimpo sem conhecer nada. Nesse
tempo estávamos estudando em Belém. E foi tirando da serraria e jogando no
garimpo. Resultado, perdeu tudo! Ainda montou um mercado mais também perdeu.
Depois disso, se reconciliou com Deus, ficou bem espiritualmente, não tem medo
de morrer, vai fazer 90 anos agora em novembro. Hoje é aposentado.
Zk – Fala sobre o amor do
seu Bento pela dona Iacira?
Jorge – Ele conheceu a mamãe
novinha, lá em Rio Branco (AC). Quando se casaram ele tinha 20 anos e ela 16. O
amor deles era tanto, que quando morávamos no seringal “Limeira” ela começou a
tossir e foi piorando, ele a levou para Rio Branco eu fiz essa viagem com eles.
minha mãe numa maca puxada por burro, porque não tinha estrada, era só a
vereda, foram aproximadamente 20 Km e o médico diagnosticou tuberculose. Isso
foi em 1953/54. Ele conseguiu levá-la para o Rio de Janeiro num avião da FAB.
Ela passou dois anos no sanatório e se curou. No Rio mesmo com mamãe doente
ainda tiveram dois filhos. Mamãe foi e é, o amor da vida dele.
Zk – Qual o nome dos irmãos?
Jorge – Eu sou o Jorge, aí
vem o Elvan, Aluízio Sérgio (falecido) gêmeo com Acira, Maria Eliana, Maria
José, Rita de Cássia e a Maria Arlene. Tem o Francisco Constâncio que é irmão
só por parte de pai.
Zk – Para encerrar. E o
George secretário de governo que é seu filho?
Jorge – Casei em janeiro de
1971 com a Dulce Gonçalves filha do seu Olinto que foi cozinheiro de vários
governadores, desde de Aluízio Ferreira até o Marques Henrique e em outubro
do mesmo ano, nasceu o
George, menino estudioso meio danadinho porque ninguém quer filho homem quieto.
É funcionário de carreira do Tribunal Federal do Trabalho e quando moramos em
Ariquemes o médico da nossa família era o Dr. Confúcio e ficamos amigos. Durante
a campanha pra governo no 1º mandato, o Dr, Confúcio criou um site no qual
solicitava que os eleitores lhes enviassem sugestões para ser implantadas caso
fosse eleito e o George enviou várias sugestões, Confúcio gostou e o convidou
para ser secretário da SEPOG, cargo que exerce até hoje.
Zk – E você faz o que nos
dias de hoje?
Jorge – Sou engenheiro
agrônomo aposentado, mas, temos uma cooperativa de agrônomos, técnicos
agrícolas, pessoal da zona rural. Da qual sou presidente.
FOTOS: ROSINALDO MACHADO
FOTOS: ROSINALDO MACHADO
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