A
artesã e um pouco da história da família Chaquiam
Na ultima quinta feira 17,
logo após a solenidade de entrega das carteiras de artesão e trabalhador manual
que aconteceu no auditório do palácio Presidente Vargas – Museu da Memória,
conversamos com a artesã Maria Antonia Chaquiam e solicitamos que ela nos
contasse sobre a convivência com a Família de Miguel Chaquiam já que foi casada
(é viúva) com o filho mais novo do pioneiro Elias. “Seu Miguel foi um dos
fundadores do Clube Ypiranga e até comprava as camisas do time de futebol do
clube”. Dona Antônia para ajudar nas despesas de casa, assumiu a
profissão de artesã. “Comecei pintando camisas e pano de prato”.
Numa das salas do antigo palácio do governo de Rondônia, ouvimos a história
da artesã que a partir daquela quinta feira 17, foi reconhecida como
profissional artesã. “Essa carteira é o
nosso grito de liberdade”.
ENTREVISTA
Zk – A senhora é de onde?
Maria Antônia – Nasci no
Maranhão numa ilha que faz parte do Delta do Parnaíba. Vim para Porto Velho
quando tinha Oito anos de Idade, isso no ano da revolução 1964. Vivi minha
infância e juventude no bairro Triângulo, só sai de lá quando casei.
Zk – Casou com quem?
Maria Antônia – Estudava no
Colégio Estudo e Trabalho a noite e uma amiga me apresentou o Elias Chaquiam o
mais novo da família Chaquiam e desde então começamos a namorar, após dois anos
nos casamos. Foram 37 anos de casados, até ele morrer. Tivemos três filhos
Elias Chaquiam Filho (Promotor de Justiça), Erik Oliveira Chaquiam (advogado no
TRE) e a Erika Oliveira Chaquiam (psicóloga).
Zk – A família Chaquiam é
considerada pioneira de Porto Velho. Como foi a sua convivência com eles?
Maria Antônia – Quando
começamos a namorar fui apresentada à família, seu Miguel Chaquiam que era meu
sogro ainda era vivo, ele faleceu em 1972. Ele tinha uma loja ali na rua José
de Alencar que vendia praticamente de tudo. No inicio era apenas secos e
molhados, depois passou a vender ‘fazenda’ (tecido), porcelana, enfim, era um
comercio bastante diversificado com vários tipos de mercadorias.
Zk – A senhora chegou a
morar naquela casa da José de Alencar?
Maria Antônia – Depois que
casamos, passamos dois anos morando fora e quando nasceu nosso primeiro filho, passamos
a morar naquela casa. Na época ainda funcionava a loja. De um lado tinha a loja
do seu Abdon e do outro era a agencia da Cruzeiro do Sul (hoje INSS). A luta
deles aqui foi muito grande, principalmente na época da ditadura militar. Eles
foram muito perseguidos, porque meu cunhado Thomas Miguel Chaquiam era
político, foi inclusive prefeito de Porto Velho no tempo do Dr. Renato
Medeiros. Minha sogra hospedou os japoneses que chegavam para trabalhar como
hortifrutigranjeiros na Colônia dos Japoneses. Acontece que a casa era bastante
grande e ela a transformou num tipo de pousada.
Zk – Qual a origem dos
Chaquians?
Maria Antônia – Meu sogro
era Armênio e minha sogra era Síria. Meu sogro veio pra cá e depois mandou
buscar a mulher e aqui tiveram que casar novamente, porque o casamento deles
não foi reconhecido no Brasil. Eles se casaram de novo aqui em Porto Velho.
Zk – Voltando a perseguição
na época da ditadura?
Maria Antônia – Meu cunhado
Thomas foi preso porque naquele tempo, você não podia ter idéias consideradas
avançadas que era considerado comunista e o Thomas Chaquiam foi considerado
pelos militares como comunista. Meu marido Elias foi gerente durante alguns
anos da Companhia Minérios de Rondônia que era de uns portugueses.
Zk – Com certeza a senhora
aprendeu a culinária síria. Tem alguma receita especial?
Maria Antônia – Como já disse,
depois que meu filho mais velho nasceu fui morar com minha sogra e aprendi a
preparar alguns pratos da culinária Árabe como Charuto, Kibe, Grão de Bico e
muitas outras iguarias.
Zk – A senhora estava
falando que o seu Miguel Chaquiam patrocinou o Clube Ypiranga. Eles eram
metidos, como chamavam na época, catega?
Maria Antônia – Logo que
eles chegaram aqui no começo de Porto Velho, participaram da fundação do Clube
Ypiranga, seu Miguel além de fundador foi patrocinador. Comprava as camisas
para o time de futebol. Se eles eram metido? Nada disso, eram até demais
humildes, recebiam todos sem distinção alguma, nunca foram de ostentar, apesar
da condição de comerciantes considerados.
Zk – Voltando aos dias de
hoje. Como foi que a senhora passou a praticar o artesanato?
Maria Antônia – Passei a me
dedicar mesmo ao artesanato, depois que a loja foi fechada e a gente começou a
passar por alguma dificuldade, Os filhos precisavam estudar e para ajudar nas
despesas de casa, passei a me dedicar mais ao artesanato. Saímos do centro e
fomos morar no bairro Embratel onde até hoje resido. Comecei pintando camiseta,
pano de prato e depois passei a trabalhar com semente, cipó, aprendi a lapidar,
fiz vários cursos no SEBRAE e passei a trabalhar com a biojóia e com a ecojóia.
A eco-jóia é trabalhada apenas com a semente e à biojóia se agrega a prata e o
ouro,
Zk – O comentário que se
ouve, é que o artesanato de Rondônia quando exposto em feiras nacionais é um
dos que mais vende. A senhora já participou desse tipo de feira?
Maria Antônia – Já viajei
muito. As primeiras feiras que participei foi A “Mãos de Minas”. O primeiro
grupo do PAB formado em Rondônia estava Eu, seu Giovane, Bahia, Mirtes Rufino
entre outros. Acontece que a Silvia Feliciano (artesã e artista plástica),
ministrou uma oficina na Biblioteca José Pontes Pinto, na época, eu trabalhava
com a dona Cristina lá na Estrada de Ferro e então a Silvia me viu confeccionando
uma bolsa e perguntou o que eu estava fazendo e eu disse: uma bolsa de semente
de açaí, (Fui eu que fez a primeira bolsa de semente de açaí aqui) e ela gostou
tanto, que selecionou a bolsa para ir pra Brasília. Foi nessa feira que nós
artesãos de Rondônia, ganhamos o primeiro caminhão para transportar nossas
peças. Depois disso passei a participar das feiras nacionais. Aliás em
Pernambuco eles dão muito valor à cultura, feira em Minas Gerais, Brasília e
outros estados. Depois a Wéllida Sodré assumiu a coordenação do PAB em Rondônia.
Nosso artesanato ou o artesanato de Rondônia é um dos mais valorizados nas
feiras nacionais. A gente saia daqui com o caminhão do PAB lotado e volta
vazio. A gente vende tudo, isso é muito bom pra gente e para o estado.
Zk – Agora vocês estão
recebendo a Carteira de Artesão. O que essa Carteira significa?
Maria Antônia – É uma
vitória conquistada por nós, agora nossa profissão é reconhecida, agora somos
profissionais. Antes o artesão não tinha valor nenhum. Agora passaremos a ser
reconhecido nacional e internacionalmente como profissional Artesão. Posso
fazer propaganda da nossa cooperativa?
Zk – Pode!
Maria Antônia – Nossos
trabalhos em biojóias e ecojóia são comercializados na Cooperativa de Trabalho
dos Artesãos de Rondônia AÇAÍ localizada à rua Henrique Dias esquina com a
Euclides da Cunha pertinho do Mercado Central em Porto Velho. Obrigado!
Nenhum comentário:
Postar um comentário