quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

ENTREVISTA - Simplício Martins Bezerra - da Embrapa


Hoje o cearense Simplício Martins está completando 75 anos de vida e por isso, estamos publicando sua história. Ele veio para Rondônia por acaso, já que estava na Bahia trabalhando na erradicação da varíola e achou de ficar noivo com uma baiana e o negócio não deu certo, teve que sair do local e veio parar em Porto Velho. Aqui após trabalhar no garimpo de cassiterita como dono de boteco, foi parar em Goiás e terminou por voltar a capital de Rondônia onde foi contratado para trabalhar na Embrapa. “O Collor me demitiu e gostaria até de dar-lhe um abraço por isso”. Montou comercio no bairro Eldorado e ficou famoso por ter sido vítima de muitos assaltos “Num desses assaltos minha mulher foi assassinada”. Casou com a dona Maria do Socorro com quem vive há 23 anos. A Embrapa o chamou de volta em 2010. Essa e outras histórias, você fica sabendo na entrevista que segue:

ENTREVISTA

Zk – Qual seu nome?

Simplício - Meu nome completo é Simplício Martins Bezerra! Nasci em Baturité no estado do Ceará e cheguei aqui em Porto Velho no mês de julho de 1970. Antes de vir pra cá estava na Bahia vacinando o pessoal contra a varíola. Acontece que arranjei um casamento por lá e andou dando umas diferenças e eu tive que sair e resolvi vir pra cá pra Rondônia.
Zk – E já em Porto Velho?
Simplício – Sou funcionário da Embrapa desde 1976. No tempo do Fernando Collor de Melo saí, aliás, fui mandado embora e então fui trabalhar por conta, me dei muito bem, até falo que gostaria de encontrar o Collor pra dar um abraço nele de agradecimento por ele ter me demitido.
Zk – Fazia o que quando saiu da Embrapa?
Simplício – Montei um comercio na rua Açaí no bairro Eldorado onde vendia de tudo, cereais e até material para construção. Daí comecei a sofrer assaltos, o primeiro foi no dia 21 de janeiro de 1993 e a minha mulher morreu em conseqüência desse assalto e o sujeito assaltante também faleceu. Deus sempre da um jeito e esse tipo de gente não pode continuar no meio da sociedade.
Zk – E a vida continuou?
Simplício – Sofri mais sete assaltos. O tempo vai passando e a gente já com certa idade e no comércio você tem que se doar muito e como já estava me sentindo um pouco cansado e cansado de tanto ser assaltado, fui e fechei o comercio. Aluguei minhas coisas, mas, não posso reclamar não, me dei bem, construir alguns imóveis, tenho um galpão e fui tocar a vida.
Zk – Tocar a vida de que maneira?
Simplício - A Embrapa me chamou de volta. Estou na Embrapa desde o dia 2 de agosto de 2010, atuo na área de laboratório, por algum tempo na pesquisa da melhoria das plantas e agora na melhora da qualidade do leite.
Zk – Na primeira vez que o senhor trabalhou na Embrapa fazia o que?
Simplício – Quando entrei na Embrapa pela primeira vez, ela estava começando, fui trabalhar no campo, preparar a terra, mexer com gado tudo isso eu fiz. O diretor era o Dr. William José Curi uma pessoa maravilhosa e o Moacir Medrado era o subchefe.
Zk – Quais os produtos desenvolvidos pela Embrapa em Rondônia?
Simplício – Muita coisa café, seringa, gado (bovino e bubalino). A Embrapa é uma empresa muito importante no Brasil todo e em algumas partes do mundo. Me sinto feliz de estar hoje com essa idade e ainda trabalhando na Embrapa. Completo neste dia 17 de dezembro, 75 anos. Nasci em 1940.
Zk – Quantos filhos o senhor teve com suas mulheres?
Simplício – Só tenho uma filha, à família é pequena e tenho uma neta que está com 15 anos.
Dona Maria do Socorro Ramalho Cavalcante Bezerra atual mulher, entra na conversa: Já estou com 23 anos casada com ele.
Zk – Vamos falar da Porto Velho de quando o senhor chegou em 1970?
Simplício – Porto Velho praticamente não tinha nada, a rua Sete de Setembro era calçada de pedra até a Joaquim Nabuco. Os estabelecimentos bancários eram: Banco do Brasil, Banacre, Bradesco e Banco da Borracha. Tinha a Farmácia do Boanerges na José de Alencar com a Sete, o Café Santos e aquelas lojinhas que tinham no meio da rua a Casa das Canetas e o Bar Arara. Tinha o seu Antônio Galinha que tinha o Hotel Fortaleza: um dia me hospedei lá e fui abrir a geladeira pra pegar água e a tampa caiu. O pessoal o chamava de Antônio Galinha, mas, o que tinha muito mesmo no hotel era Gato. Lembro do J Lima e seu caldo de cana e da saltenha que ficava no Mercado Municipal (hoje Cultural) no canto da José de Alencar com aquela travessa que dizem que agora se chama Manelão, o armazém do Miguel Arcanjo que existe até hoje, tinha a Casa Sergipe perto do Mercado Maru na Sete de Setembro e naquele tempo a policia era os guardas da Guarda Territorial, só tinha o Hospital São José, a Maternidade Darcy Vargas era onde hoje existe umas repartições da prefeitura na Carlos Gomes, depois fizeram a Clinica Oswaldo Cruz onde hoje é a Assembléia Legislativa.
Zk – O senhor estava falando que sempre que estava doente ia se tratar na Bolívia. Por quê?
Simplício – Porque lá existiam bons médicos formados na Alemanha e Estados Unidos como o Dr. Ramires, Dr. Aldo Bravo. Hoje Porto Velho é uma maravilha. Estive no Ceará ano passado no meio do ano, inclusive assisti dois jogos da Copa do Mundo, Uruguai X Costa Rica e Costa do Marfim X Grécia e fui fazer um checape num hospital de lá e vi que não tem diferença daqui. Antigamente quando a pessoa adoecia em Porto Velho ou Rondônia diziam que as melhores clinicas eram as empresas de aviação Cruzeiro e VASP.
Zk – Por trabalhar na Embrapa o senhor viajou muito na BR 29 hoje 364?
Simplício – Lembro que em 1971 quando viajei pela primeira vez por essa estrada, não tinha nada, pra chegar ao Candeias só através de balsa e quem administrava a Vila era um guarda conhecido como Cão. Itapuã não existia, Ariquemes tinha menos de 20 casas na beira da estrada (era a Vila Papagaio), Jaru era apenas um Posto Fiscal na beira do rio, Ouro Preto não existia, Ji Paraná era chamado de Vila de Rondônia e era só do lado de cá da ponte, Presidente Médici conhecida como Pela Jegue e Cacoal não existiam, Pimenta e Vilhena já existiam, mas, eram apenas Vila. Sofri muito nessa BR 364 ajudando desatolar ônibus.
Zk – Como foi que o senhor foi morar no bairro Eldorado?
Simplício – Quando cheguei aqui em 1970, fui trabalhar no garimpo de cassiterita, só que nunca trabalhei como garimpeiro, botei um botequinho lá dentro, foi lá que conheci minha primeira mulher. Quando o governo federal fechou o garimpo.
Zk – Opa! Vamos detalhar essa história do fechamento do garimpo manual de cassiterita?
Simplício – No dia 31 de março de 1971 o governo federal fechou o garimpo, botou todo mundo pra fora. Só saía gente, quem tinha alguma animal ou veículo não trazia. Eu com a mulher escolhemos o estado de Goiás já que Porto Velho praticamente não oferecia vantagem para o nosso negócio. Naquele tempo não tinha rodoviária aqui, a gente pegava o ônibus ali no hotel Cuiabano o dono era um velho ignorante que só. Existiam duas empresas que faziam linha, a Mato Grosso e a Viação Motta.
Zk – Quer dizer que o senhor não ganhou a passagem de avião?:
Simplício – Não porque eu não era garimpeiro. Fui pra Goiás na cidade de Rio Verde e fiquei lá durante 4 anos, depois voltei em 1975 e fui morar no Areal durante 9 anos, foi quando entrei na Embrapa e em 82, comprei o terreno no Eldorado, foi o primeiro loteamento vendido.
Zk – Quem era o dono daquela terra?
Simplício – Ali era a fazenda do seu Adalberto Barros que tinha uma casa bonita ali perto onde hoje é o Posto Carga Pesada, aí lotearam a fazenda e eu comprei um terreno e no dia 5 de outubro de 1985 mudei pra minha casa no bairro Eldorado.
Zk - Para encerrar?
Simplício – Agradeço a Embrapa por ter me dado a oportunidade, já poderia estar aposentado, tenho idade pra isso, mas to lá porque amo a Embrapa. Sobre minha atual mulher Socorro. É o seguinte. Fui assaltado no dia 21 de janeiro de 1993, a mulher não morreu na hora, faleceu no dia 3 de março em Goiânia pra onde a levei, gastei o que não podia e não teve jeito. Indo ao INSS mexendo com os documentos, conheci a Socorro que trabalhava lá e surgiu o namoro e nos casamos e estamos até hoje (23 anos) vivendo nosso amor.

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