Carnaval, indústria a ser explorada
Em plena quinta feira de carnaval 12 de fevereiro, encontramos o
João Bosco Siqueira – Bosco presidente do bloco Us Dy Phora num momento de
reflexão lá na sede da Banda do Vai Quem Quer e lembramos, que foi justamente
ali, que em fevereiro do ano passado, ele quase convence o prefeito Mauro Nazif
a desistir da idéia de cancelar os desfiles dos blocos em virtude da cheia
histórica do rio Madeira.
Lembrando aquela reunião que dava como certo os desfiles, que
mais tarde foram cancelados, solicitamos ao Bosco que nos contasse, por qual
motivo, o prefeito mudou de idéia em menos de duas horas. Essa e outras
histórias relativas à cheia do rio Madeira no ano passado, serão contadas a
partir de agora pelo Bosco D'us Dy Phora.
ENTREVISTA
Zk – Quem é o Bosco do bloco Us Dy Phora?
Bosco - Sou auditor de carreira do Tribunal de Contas há mais de
21 anos. Foi na antiga Fundação Cultural onde desenvolvi meu gosto pela
cultura, já sabia um pouco sobre o assunto graças ao meu pai Francisco Machado
Siqueira ferroviário da Estrada de Ferro Madeira Mamoré desde 1949, que nos
levava ainda criança, para assistir na Sete de Setembro, Pinheiro Machado e na
Farquar em seu cangote as escolas de samba Pobres do Caiari, Diplomatas do
Samba e outros grandes, e ali ouvíamos as músicas dos grandes compositores da
época.
Zk – Você é de onde?
Bosco – Sou de Porto Velho do bairro do Areal onde nasci em
1963. Meu pai abriu praticamente a rua onde moramos a 13 de Setembro. O areal
era campo de treinamento do Exército da Terceira Companhia de Fronteira. Na
verdade o Areal é um balneário, infelizmente por falta de projeto urbanístico
muitos daqueles igarapés se perderam, mas, era um local onde os grandes da
cidade iam lavar suas roupas e tomar banho nos finais de semana. O desenho do
Areal na verdade é uma ilha.
Zk – É aí que queremos chegar! Ano passado (2014), você deu uma
aula de conhecimento para as autoridades da Defesa Civil, Prefeito, Ministério
Público e todos os envolvidos com a enchente do rio Madeira sobre a alagação da
Baixa da União e outras áreas. Qual seu conhecimento a respeito desse assunto?
Bosco - A questão é que eles estão confundindo cheia com
enchente. Cheia todo ano tem no rio Madeira é natural que enche em função de
uma situação sazonal, desce lá do Peru como todo mundo sabe e ocupa aquilo que
sempre ocupou nas suas várzeas. O que acontece é que, por falta de planejamento
urbanístico, as áreas de várzeas são ocupadas de forma irregular pela população
que não deveria estar lá. Segundo, os igarapés que deságuam no rio Madeira, no
passado tinham uma dimensão e em função da falta de uma política adequada, essa
dimensão diminuiu e eles foram assoreados, diminuiu a fundura e com isso toda e
qualquer água que venha com a cheia transborda.
Zk – Você tem a solução para evitar esse transbordamento?
Bosco – Eles tinham que alargar, aprofundar e voltar às margens
que os igarapés tinham. Se por ventura isso não for suficiente caberia ao poder
público criar barreira de contensão junto ao rio Madeira para que no inverno
pudesse protegê-lo. Como não houve investimento nessa área, que deveria ser a
contra partida das usinas do Madeira. Eles simplesmente esqueceram e com isso,
construíram o prédio do Tribunal Regional Eleitoral em cima de um igarapé e
isso contribuiu com o aumento do volume da água. Toda rua Jacy Paraná é um
córrego, as dimensões da rua é o igarapé. O que se tem que fazer hoje na
Rogério Weber, 13 de Setembro, Campos Sales e na Tenreiro Aranha são pontes
para que os igarapés voltem ao seu leito natural e assim não haveria mais cheia.
A mesma coisa aconteceu na antiga Fábrica de Borracha com o famoso igarapé
Grande que está totalmente assoreado. O igarapé Grande chega na BR 364. Ele
tinha uma queda d’agua de sete metros na década de setenta.
Zk – Falando de carnaval! Ano passado você quase convence o Dr.
Mauro a não cancelar o carnaval. O que aconteceu que ele resolveu pelo
cancelamento da festa?
Bosco – Eu havia conversado com o Dr. Mauro as 12h00 daquele dia
sobre a possibilidade, dos blocos grandes poderem desfilar, Bloco Us Dy Phora,
Jatuarana Sul, Galo da Meia Noite e a Banda do Vai Quem Quer porque juntando
eles todos, dá mais de 300 Mil pessoas e seria bom para ele prefeito
politicamente e socialmente. Ele compreendeu e concordou.
Zk – O que fez mudar de opinião?
Bosco – Na parte da tarde em outra reunião, alguns grupos
carnavalescos (os pequenos) entendiam que tinham que sair todos os blocos e não
apenas os maiores, eles não entenderam que o objetivo era preservar a tradição
do nosso carnaval e passaram a tumultuar a discussão, levando com que o
prefeito cancelasse a reunião. Em vista disso a Justiça cancelou os desfiles o
que considero um grande erro.
Zk – O que está faltando para o nosso carnaval de rua passar a
ser fomentador do turismo?
Bosco – Falta política pública. Não existe estruturada voltada
para o nosso carnaval de rua, não se tem idéia do potencial econômico que o
carnaval gera. O carnaval movimenta mais de 500 Mil pessoas; 3 Milhões de latas
de cervejas foram consumidas; 2,5 toneladas de carne; são mais de R$ 12 Milhões
sem contar com hotel, motel, taxista e outras atividades, é muita atividade
gerando emprego e trabalho, só que o estado se questiona se pode ou não dar
dinheiro pro carnaval. Para cada HUM Real que o estado está bancando a Liga dos
Blocos devolve R$ 12, não entendemos porque desse questionamento, desse
absurdo, quando sabemos que a própria economia nacional subsidia a indústria
automobilística e por que a indústria da cultura não pode ser subsidiada.
Zk – Você não acha que o carnaval deveria ser da responsabilidade
das secretarias de turismo e entidades afins?
Bosco – Nós temos um potencial turístico altíssimo. Um carioca
chegou comigo agora, durante o carnaval e me disse, que fez um levantamento de
Porto Velho a Vilhena e registrou mais de 5 Mil pontos turísticos e disse, que
se nós divulgássemos esse potencial turístico no Brasil e no Mundo, daqui a um
ou dois anos seríamos uma super potencia da indústria do turismo, então é
necessário que a nossa Superintendência de Turismo – Setur que está sob o comando
do Julio Olivar passe a se envolver com o carnaval. Ele (Julio) me disse que
representantes do Ministério do Turismo estiveram aqui e perguntaram quais os
Projetos que a Superintendência teria e ele citou: O Boi Bumbá de Guajará
Mirim, a Festa do Divino no Vale do Guaporé e o carnaval de Porto Velho. Por um
acaso nós da Liga dos Blocos apresentamos o Projeto “CarnaTurismo” ou “Carnaval
do Turismo” que foi mostrado e os técnicos do Ministério disseram ao Julio: É
esse Projeto que queremos e até explicaram como o governo estadual deveria
proceder junto ao Ministério para conseguir recursos para financiar o projeto.
Zk – Você foi dirigente de escola de samba (Unidos do Areal),
ajudou a criar o bloco Canto da Coruja e agora dirige o bloco Us Dy Phora, por isso
tem cacife para falar sobre o que falta para os blocos de trio elétrico e o
carnaval das escolas de samba decolar, em Porto Velho?
Bosco – O que ta faltando é gestão. O secretário de cultura ou o
presidente da Funcultural precisa de uma coisa chamada vontade política.
Apresentar um programa: Senhor prefeito, a partir de agora eu não quero a Sema
a Semtran nem ninguém envolvido no carnaval, será emitido um título a cada
bloco para que ele possa desfilar. A Semtran vai fazer seu papel que é fechar
as ruas, o Corpo de Bombeiros vai fiscalizar se os trios estão em bom estado e
a Polícia Militar mediante planejamento estará na rua. A única coisa que a
prefeitura precisa saber é planejar, quais os blocos que irão sair, os
horários, os dias e o que precisa e fazer oficio aos órgãos competentes para
dar suporte aos desfiles. A prefeitura não é pra dar dinheiro a bloco, a
prefeitura tem que apenas estruturar o carnaval colocando banheiro químico e
grades de proteção e divulgar o evento na televisão. A prefeitura precisa saber
que ela é promotora do carnaval e não os blocos e escolas de samba.
Zk – Para encerrar nossa conversa. Sexta feira dia 13 seu bloco
Us Dy Phora saiu cantando uma marchinha de protesto. Qual foi o tema?
Bosco – Nosso tema “Da Construção das Usinas aos Desmandos da
Corrupção”. Criamos o tema do nosso bloco e convidamos o compositor Silvio
Santos para fazer a marchinha que por sinal ficou muito boa e foi cantada pelos
foliões do nosso bloco Us Dy Phora.
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