O Sardinha
– De Garimpeiro a assessor parlamentar
Quinta
feira 18 recebi na redação, a visita do seu Raimundo da Silva Cruz
mais conhecido como Sardinha. “Vim aqui contar minha história,
pois me considero um dos que junto com o Teixeirão ajudou construir
esse estado”. Sardinha estava acompanhado do seu fiel amigo Pedro.
“Pedro é como chamo esse meu amigo, pois desde quando nos
encontramos há pouco tempo, vimos que tínhamos algo em comum,
trabalhar em prol da população dos bairros da periferia”. A
conversa fluir e ficamos sabendo das proezas do seu Raimundo no
exército, no garimpos de cassiterita e de ouro e principalmente o
Raimundo político que foi candidato por duas vezes a deputado
estadual e uma a vereador. “No tem do Índio do PSB levei dois
ônibus lotado de gente para votar em mim na convenção e o Índio
disse que só tive 50 votos sendo que cada ônibus tinha 80
eleitores”
Essa
e outras histórias, em especial a da abertura da galeria da avenida
Jorge Teixeira você vai conhecer na entrevista que segue.
ENTREVISTA
Zk
– Qual seu nome completo?
Sardinha
– Sou Raimundo da Silva Cruz nascido no lugar Carapanatuba no
Amazonas, vim para Rondônia em 1971 com 20 anos de idade, para
servir o exército no 5º BEC. Nasci no dia 26 de outubro de 1951.
Zk
– Depois que deu baixa foi fazer o que?
Sardinha
– Acontece que não vim pra cá apenas pra servir o exército, vim
pra deixar uma história em Rondônia. Essa história construí junto
com o coronel Jorge Teixeira. Na realidade, cumpri minha obrigação
cívica durante um ano e quando dei baixa, continuei trabalhando no
5º BEC só que pelo DNER onde fiquei durante cinco anos trabalhando.
Acontece que naquela época, quando o trabalhador completava 5 anos
de trabalho, o DNER rescindia o contrato. Com o dinheiro da
indenização 93 Mil Cruzeiros, montei uma empresa a “Conservadora
Cruz”.
Zk
– Quais as obras que sua empresa fez para o governo do estado?
Sardinha
– Ajudamos a construir a Esplanada das Secretarias. Nas
proximidades da Esplanada montei um restaurante num local chamado
“Taboquinha” e passamos a atender os funcionários das
secretarias. Outra obra que ajudamos a construir foi a Galeria da
Jorge Teixeira que à época chamava avenida Kennedy. Ali trabalhamos
com a lama no pescoço. Um dia o Teixeirão chegou pra mim e disse:
“Admiro você porque você é um guerreiro, um soldado que nunca
deixou falha no seu trabalho, nós precisamos de gente como você”.
Zk
– Como surgiu esse apelido de Sardinha?
Sardinha
– Eu tinha um bar cujo nome de fantasia era Bar Sardinha. Quando
comprei o ponto esse nome já existia pintado na parede e eu resolvi
deixar lá e os fregueses passaram a dizer, “Vamos almoçar la no
Sardinha” e o apelido pegou.
Zk
– Além da galeria, quais outras obras sua empresa fez?
Sardinha
– Foram muitas obras. Prédios, drenagem, saneamento básico,
serviço de escoamento de água do Bate Estaca até o 5º BEC tudo
com aqueles tubos grossos de ferro e selado com chumbo. Ajudamos a
abrir a avenida Norte Sul hoje Rogério Weber e colocamos um bueiro
de chapa de aço lá. Trabalhamos em algumas pontes de concreto.
Zk
– Antes da empresa de serviço?
Sardinha
– Além do restaurante montei um comercio ali perto do Aragão,
aliás, o Aragão era nosso parceiro. Por ali também tinha o Casarão
do Forró do Paulo onde no final do mês, quando saia o dinheiro do
governo a gente ia se divertir, era muito bom!
Zk
– E hoje?
Sardinha
– Hoje estou como assessor do vereador Maurício Carvalho. Meu
trabalho é verificar as necessidades da população nos bairros e
levar as reivindicações pro vereador sou o Diretor Fiscal do
gabinete dele. Aceitei essa função porque a população sempre vem
me procurar para resolver os problemas de seus bairros, isso porque
presido uma entidade filantrópica, a Sociedade Beneficente de Idoso,
Família e Crianças Carentes do Estado de Rondônia. Também tenho
uma escola e uma creche, todas documentadas, porém, essas entidades
estão paradas por falta de recursos para mante-las. Aliás, esse foi
um dos motivos de ter vindo procurar vocês aqui do Diário da
Amazônia, quem sabe, alguma autoridade se sensibilize e nos ajude a
colocar pra funcionar essas entidades.
Zk
– Por falar nisso, você também foi garimpeiro?
Sardinha
– Trabalhei em garimpo de ouro, diamante, cassiterita, topázio.
Trabalhei na Mineração Massangana, Ceriumbrás, Macisa, no Embaúba,
Tamborete, Prainha e em Jaru. Certa vez, nosso grupo que era formado
por oito homens, tirou Uma Tonelada e Meia de Cassiterita.
Zk
– Qual o garimpo mais difícil, o de ouro ou o de cassiterita?
Sardinha
– Sem sombra de dúvida é o da cassiterita. O ouro é mais fácil
de trabalhar, você monta a balsa ou a draga e vai trabalhar mais na
peneira e na bateia, já a cassiterita é mais pesada é na picareta
braba mesmo. O ouro monta um motorzinho já coloca as empanadas na
caixa, vem descendo o ouro coloca o azougue e é só colher o metal.
Na época que trabalhei no garimpo “Jenipapo” em Jaru com o
Biraci, tínhamos seis motores trabalhando e a cada despescada a
gente tirava até cinco quilos de ouro. No rio Madeira trabalhamos
com balsa, aí era mergulhando.
Zk
– Você sabe quem descobriu o ouro no Madeira?
Sardinha
– Foi dois irmãos, eles moravam perto do colégio Padre Chiquinho
no Areal. Eles descobriram ouro no madeira e começaram a trabalhar e
estavam crescendo muito em seus negócios e o pessoal começou a
desconfiar. Um curioso, sempre tem um curioso achou de segui-los à
noite e descobriu que eles estavam tirando ouro dentro do Rio
Madeira. Contavam que só de uma despescada eles tiram seis quilos de
ouro. Pra despistar eles montaram um Mercadinho e mesmo assim
descobriram e foi então que surgiram as chamadas fofocas do garimpo
de ouro do Madeira.
Zk
– A gente ouvia muita história sobre morte de garimpeiros
mergulhadores no Madeira, que tinham suas mangueiras cortadas. Como
era isso?
Sardinha
– Quanto mais morria gente mais ouro aparecia. Muitas mortes foram
por perversidade mesmo, ali eu vi nego matar o outro só de
sacanagem. Vi dois irmãos que vieram do Maranhão, os caras chegaram
todo sujo de poeira e dois peões estavam terminando de montar uma
balsa e estavam precisando de mergulhador e os dois maranhenses foram
trabalhar com eles. Passaram seis horas debaixo d’água e quando
vieram despescar conseguiram 4 quilos de ouro, receberam a
porcentagem de 10% cada. Um guardou a parte e o outro foi pra
bagaceira com a mulherada, depois voltou pra mergulhar de novo, um
cara de outra balsa com inveja, cortou a mangueira dele. O irmão
pegou o ouro que sobrou e voltou pro Maranhão.
Zk
– No garimpo do Madeira você chegou a despescar quantos gramas de
ouro?
Sardinha
– O garimpo do Madeira era diferente, a gente trabalha em equipe e
eu trabalhava mais na despescagem e cheguei a ganhar até 150 gramas.
O interessante era quando alguém conseguia uma boa quantidade de
ouro, aí todo mundo com suas dragas encostavam, era aquela muvuca de
draga e forma-se o que se chama de FOFOCA.
Zk
– É verdade que as prostitutas só aceitavam ouro como pagamento?
Sardinha
– Era sim. Um grama, um grama e meia e era o seguinte, tinha mulher
que era exigente, “Não vou dar minha prexeca por meia grama de
ouro”. Naquele tempo existia as boates que funcionavam em dragas no
meio do rio e o negócio era chic. O Garimpo é o seguinte: É mais
pro ruim do que pro bom, tem nego que só vai pra “tirar” o couro
do outro.
Zk
– Vamos mudar de assunto> Como foi que você se transformou em
político, candidato a deputado e vereador?
Sardinha
– Minha primeira candidatura foi a deputado estadual, na época que
o José de Abreu Bianco foi governador de Rondônia, tive 400 votos.
No tempo do governo Cassol saímos também para deputado estadual e a
terceira eleição foi quando o Roberto Sobrinho ganhou a prefeitura,
saímos para vereador tive 121 votos. Ingressei na política pelo
Partido PSB no tempo do Ernandes índio. Aqui tem uma história: Me
candidatei à convenção para vereador e o Índio me sacaneou. No
dia da convenção levei dois ônibus cheio de gente e na hora da
apuração dos votos, para saber quais seriam os candidatos do
partido, ele disse que não dava para apurar os votos naquele dia,
porque estava muito tarde. “Vamos guardar as urnas no Comando Geral
e amanhã a gente apura”. No outro dia, não me avisaram a hora da
apuração e quando cheguei ao partido, disseram que eu não havia
alcançado o coeficiente necessário para ser candidato. Levei 80
pessoas em cada ônibus o que daria 160 votos e me apresentaram um
resultado a meu favor, de apenas 50 votos. Tive certeza que garfaram
meus votos.
Zk
– Para encerrar?
Sardinha
– Hoje desempenho meu trabalho em beneficio do meu estado. Não sou
filho de Rondônia, mais me considero rondoniense porque ajudei a
criar esse estado. No próximo domingo dia 28, pretendo inaugurar o
escritório da minha empresa no bairro Lagoinha 2. Nossa
especialidade é drenagem e construção de galerias. Contato 9
9381-8585 Construtora Cruz.
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