O baterista de todos os ritmos
Quinta feira passada dia 18, durante
o Projeto Seresta Cultural coordenado pelo músico Heitor Almeida, a praça
Getulio Vargas e o Calçadão Manelão em frente ao Mercado Cultural ficou repleto
de amantes da música dos anos 60, 70 e 80. Acontece que o músico Elcimar
Pereira do Nascimento nome que praticamente ninguém conhece no mundo artístico,
pois o seu dono é conhecido apenas como Vovô, realizou o que ele denominou de “Show de Despedida”.Despedida dele como músico da noite,
baterista de banda, para isso convidou alguns amigos músicos para realizar o
espetáculo, considerado pelo Paulinho Rodrigues e pela maioria dos que marcaram
presença na Seresta Cultural daquela noite, como o melhor show musical de 2014,
realizado no Mercado Cultural de Porto Velho. Com um repertório recheado de
clássicos da música pop rock de bandas como Rolling Stone, Scorpius, Beetles,
Elvis Presley, Frank Sinatra e também clássicos da nossa MPB. Não fosse a chuva
(fina) que começou a cair, com certeza Vovô amanheceria o dia tocando bateria
no seu inconfundível estilo. No meio do corre-corre da passagem de som, Vovô
falou sobre sua carreira como músico baterista e empresário do ramo artístico
musical para o Diário da Amazônia.
ENTREVISTA
Zk – Como surgiu o apelido de vovô?
Vovô – Quando eu tinha 6 anos de
idade. Acontece que meu cabelo era bem loirinho e o pessoal dizia que já nasci
velho e começou a me chamar de vovô. O apelido pegou tanto, que hoje, até eu
tenho dificuldade para lembrar meu nome de batismo que é Elcimar Pereira do
Nascimento nascido no dia 7 de dezembro de 1947 em Manaus.
Zk – Quantos anos você tinha quando
descobriu a vocação musical?
Vovô – Comecei a tocar bateria com 13
anos de idade e aos 14 já fazia parte da banda que tocava na maior boate de
Manaus a “Boate La Hoje”. Era eu, Nonato do Cavaquinho, Teixeira de Manaus,
Nino Gato, Gilson e o Magalhães da Guitarra todos mais tarde, gravaram seus
discos e fizeram e fazem sucesso até hoje. Aprendi a tocar bateria com o
Tenente Agenor.
Zk – O que fez você com apenas 14
anos de idade assumir como baterista da Banda que tocava na La Hoje?
Vovô – Acontece que o Tenente Agenor
já não tinha paciência para pegar as batidas modernas de bandas como Rolling
Stone, Beetles e tantas outras que surgiram na década de sessenta e os meninos
me viram tocando e me convidaram para tocar com eles, fui e me dei bem.
Zk – E Porto Velho?
Vovô – A primeira vez viemos tocar um
baile no Clube dos Oficiais. Depois voltamos com a banda “Quarta Projeção”
completa e eu conheci o irmão do Heitor Almeida o Gerson que era o dono do
Grupo “Os Rebeldes” e fiquei um tempo tocando com Os Rebeldes (1967). Fui
embora e depois voltei para tocar um baile com o cantor Jair Rodrigues e
ficamos para inaugurar a boate Cambuquira, foi quando conheci minha ex esposa a
Zilma e fixei residência aqui.
Zk – Quais eram os bateristas que
atuavam em Porto Velho e como surgiu a Banda Status?
Vovô – Tinha o Teixeira que tocava
nos Rebeldes que era carioca. Telêmaco que morava em Guajará Mirim, Walme era
uma galera. A Banda Status surgiu de uma discussão que tive com o Paulinho da
MPB Show. Fui tocar na MPB Show em virtude de uma briga que aconteceu entre o
Telêmaco e o cantor Bezerra da Silva. Segundo fiquei sabendo, eles já tinham
feito uns shows no Ferroviário quando aconteceu a discussão e o Bezerra da
Silva disse que não cantava mais com aquele baterista, foi aí que o Paulinho me
contratou. Ao chegar no clube sem ensaiar sem nada o Bezerra da Silva me
reconheceu e disse: “Agora a Banda está de parabéns, tem um baterista
profissional”, aí criei nome em Porto Velho.
Zk – Como foi que o Nonato do
Cavaquinho entrou para a Banda Status?
Vovô – O Nonato já era meu amigo
desde Manaus, tocamos juntos em tudo quanto era boate inclusive Brega isso aconteceu
também em Manacapuru terra dele, além de músico o Nonato pintava camiseta,
aliás, nos dois éramos pintores de camisa e voltamos a nos encontrar aqui em
Porto Velho. Vale salientar que o Nonato tocava contrabaixo. Depois ele deu
sorte gravou seu LP como cavaquinista solo e faz sucesso até hoje.
Zk – Quais os artistas famosos da
época você acompanhou?
Vovô – Foram muitos, Nelson
Gonçalves, Altemar Dutra, Agnaldo Timóteo, Gilliardi, José Augusto, João
Mineiro & Marciano, Wando. Jair Rodrigues e muitos outros.
Zk – E o Ronaldo Brito?
Vovô – Fomos amigos de infância lá em
Manaus e muita gente pensa que somos irmãos, ele morava no Beco do Macedo e eu
na Matinha dois bairros pesados, quando cheguei aqui ele era empresário famoso
e gerente de Banco. Depois ele assumiu como empresário da nossa Banda Status e
aí foi sucesso total.
Zk – Você foi dos primeiros donos de
banda a ter aparelhagem própria e depois até se tornou empresário do ramos de
sonorização. Fala sobre essa fase?
Vovô – Tive o prazer de ter a melhor
banda do estado de Rondônia, o melhor PA, fiz Jorge Bem com meu som em Rio
Branco Acre, a primeira Banda do estado de Rondônia a possuir um ônibus foi a
minha. Entre tantos eventos destaco: Nove anos de carnaval no bairro Eldorado
com entrada grátis, parei porque ficou difícil conseguir patrocínio, os
políticos deixaram de investir na cultura e eu tinha que correr atrás de
patrocínio para pagar os músicos, então resolvi parar. Por falar em baile de
carnaval, só no Ferroviário toquei doze anos. Teve um ano que trouxe 16 músicos
de Manaus e montei três bandas de carnaval, (clube dos Oficiais, Ferroviário e
Ypiranga) pra você ver como era bom o carnaval de clube em Porto Velho.
Zk – O que fez os clubes pararem de
realizar baile carnavalescos?
Vovô – O povo de Rondônia vai muito
pela cabeça dos outros, acho que o Axé não era para ter entrado aqui da maneira
como entrou. O Axé veio com o Carlinhos Camurça querendo se eleger, ele trouxe
as bandas do interior da Bahia e acabou com o carnaval dos clube sociais daqui.
Fico triste ao ver que os clubes não têm condições de fazer o carnaval
tradicional. Hoje todos os clubes de Porto Velho são terceirizados, sou sócio
remido do Botafogo, Ypiranga e Ferroviário como tudo é terceirizado sou
explorado dentro do que é meu. Presidência de clube aqui é cargo
vitalício.
Zk – E o sucesso da Banda Status?
Vovô – Não quero me gabar não, até
hoje não apareceu aqui em Rondônia uma banda que fizesse mais sucesso que a
banda Status. Fizemos todos os 52 municípios do estado além de tocar no Acre,
Bolívia e Peru. Particularmente acompanhei o Jair Rodrigues durante toda a
campanha do Waldir Raupp o baterista dele adoeceu e o Jacaré que era da banda
dele me contratou. Também passei um tempo em São Paulo com o Djalma Pires e com
a cantora roqueira Bianca.
Zk – Durante esses 52 anos atuando
como músico. Qual sua maior decepção?
Vovô – É falta de respeito para com a
Cultura em nosso estado. Aqui é totalmente diferente de Manaus. Estive
recentemente em Manaus e lá existe o Projeto “Carrossel da
Saudade” que toda sexta feira, promove um
baile e cada músico ganha por noite R$ 500 a prefeitura paga, além dos músicos
da Banda Base tem os cantores convidados, cada uma faz meia hora e recebe o
cachê pago pela prefeitura de Manaus, Isso é valorizar quem faz cultura. Aqui o
Heitor o Ernesto Melo e outros que tocam no Mercado Cultural muitas vezes têm
que tirar dinheiro do seu próprio bolso para pagar os músicos, ninguém investe
na cultura local. Tem músico ganhando R$ 80 por noite em Porto Velho, pelo amor
de Deus, isso é falta de respeito. Fico triste com esse descaso. No meu show to
pagando R$ 300 para cada músico.
Zk – Hoje você vive de que?
Vovô – Tô dando aula de bateria tenho
12 alunos e toco nas igrejas. As aulas são no meu estúdio que fica na rua 10
entre a Alexandre Guimarães e a Rio de Janeiro no bairro Agenor de Carvalho
telefone 9312-4848.
Zk – No show de despedida quais os
músicos que fazem parte da Banda?
Vovô – Carlos Guery (teclados), Aymeê
(contabaixo), Gregory (cantor), David (sax), Heitor (percussão), Charles quer é
meu filho (guitarra e voz) e é claro Eu na bateria.
Zk – Para começar a encerrar. Você
foi casado, é casado e quantos filhos têm?
Vovô – Fui casado um monte de vezes,
tenho 13 filhos espalhados por aí. Isso é mal da gente que é artista, você sabe
disso. O palco é o maior chamariz de mulher e como ninguém é de ferro vai
levando.
Zk – Para encerrar?
Vovô – Hoje ninguém
consegue falar com um político sobre apoio cultural. Eles não tão nem aí. Esses
caras vieram pra saquear o estado!
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