sábado, 6 de abril de 2013

SÁVIO ROBERTO E A HISTÓRIA DO IATA



Iata, a Colônia que abastecia Porto Velho 

Sávio Roberto de Aguiar Araujo nasceu num acampamento da Estrada de Ferro Madeira Mamoré em terras do distrito do Iata no município de Guajará Mirim em 1955. Sempre que vem a Porto Velho costuma nos procurar para um papo sobre a historia de Rondônia e em especial, a de Porto Velho Guajará Mirim e da sua terra natal, o Iata. “Tô te esperando para uma caldeirada de tambaqui a beira do rio Iata faz tempo”. Dessa vez nos encontramos na sede da Secel e como Guajará vai completar 84 anos de emancipação política no próximo dia 10 (terça feira), instiguei o Sávio a falar sobre a historio do Núcleo do Iata a Colônia que abasteceu de produtos agrícolas Porto Velho e Guajará até a desativação da Estrada de Ferro Madeira Mamoré em 1972. Siga nossa conversa:

ENTREVISTA

Zk - O senhor é rondoniense de onde?
Sávio - Nasci numa região formada pelo rio Iata que vem da Bolívia. Assim sendo nasci no acampamento que ficava no quilometro 337 da Estrada de Ferro Madeira Mamoré no Distrito do Iata, município de Guajará Mirim. Meu avô era feitor daquele acampamento, minha mãe professora da Escola Rural Benjamin Constant, meu pai e meus tios eram Cassacos da Estrada de Ferro. Isso em 1955.
Zk - Essa sua aparência de cearense vem de qual descendência?
Sávio - Minha origem é assim: Meu avô pai da minha mãe seu Joaquim de Araujo Lima era cearense; meu pai é cearense também só que a minha avó mãe da minha mãe era peruana e eu nasci com essa cara assim, que jeito!
Zk - Como surgiu o núcleo do Iata?
Sávio - Depois que meu pai deixou de ser cassaco foi estudar e se transformou em topógrafo. Após a 2ª Guerra Mundial o engenheiro Dr. Nina Ribeiro idealizou a Colônia do Iata e meu pai foi quem traçou as linhas como topógrafo. Era o tempo do Presidente da República Getúlio Vargas, Acontece que Porto Velho cresceu assim como Guajará Mirim, então tinha que ter um lugar para produzir comida para esse povo comer, o governo fez a pesquisa e as terras da região do Iata foram consideradas muito boas para o cultivo da lavoura de mandioca, arroz, milho entre outros.
Zk - Como ficou a topografia da Colônia?
Sávio - Como já disse, meu pai foi o responsável pela abertura das linhas do Iata. A Linha Aluizio Ferreira é a linha alimentadora de onde partem as transversais que são as chamadas vicinais. São dez linhas e no fundo fica a reserva indígena Sete de Setembro com aproximadamente 75 Mil hectares

Zk - O que o Iata produzia?

Sávio - Produzia de tudo, por exemplo: Essa farinha que hoje ta no Acre era do Iata. Lá se plantava Banana, Macaxeira, Arroz, Milho, Feijão enfim tudo que era grão o Iata produzia. Quarta feira saia o trem do Iata trazendo a feira para Porto Velho e Guajará Mirim. O Iata era o celeiro do Território Federal de Rondônia.

Zk - Vocês colhiam castanha lá no Iata?

Sávio - Não, Os castanhais eram na Bolívia e na região do Vale do Guaporé, do lado de cá não tinha castanha, pelo menos na região do Iata. O Iata foi o centro produtor que plantava pra colher, já Guajará Mirim foi diferente, lá o que funcionava era o extrativismo, poalha, castanha, borracha, madeira. No Iata o agricultor plantava pra colher depois.

Zk - E o setor de Hortifrutigranjeiro?

Sávio - Era mais agricultura, hortifrutigrajeiro era uma horta no fundo do quintal, algumas fruteiras só para consumo familiar, o negócio mesmo era a agricultura, a produção de grãos.
Zk - Naquele tempo tinha fazenda de gado no núcleo?
Sávio - Tinha, sempre teve. Na parte já chegando para o Bom Sossego da Sétima Linha pra Oitava os lotes são maiores.
Zk - Por falar nisso, quanto mede um lote de terra pertencente ao núcleo do Iata?
Sávio - Os moldes no Iata tem a média de 25 hectares que são 250 metros de frente por 1000 de fundo, por isso que as linhas alimentadoras no Iata são de dois em dois quilômetros.
Zk - É verdade  que o Capitão Silvio quando foi abrir o PIC Ouro Preto se baseou na divisão dos moldes da Colônia do Iata?

Sávio - É isso mesmo. O Capitão Silvio o grande idealizador do PIC Ouro Preto de Rondônia pegou o modelo do Iata. Só que no PIC Ouro Preto as linhas alimentadoras são de quatro em quatro quilômetros. 500 de frente por 2000 de fundo.

Zk - E a sua família no Iata fazia o que?

Sávio - Minha mãe foi professora por 37 anos. Meu pai foi o topógrafo que cortou as linhas e depois foi administrador da Colônia e meu avo foi Feitor da EFMM.

Zk - O que o senhor fazia lá no Iata?

Sávio - Eu estudava, fui pra Porto Velho, montei comercio e depois fui pra Cacoal em 1978/79, participei de todo aquele desenvolvimento da BR 364, quando o Coronel Teixeira já era o nosso governador. Na região de Cacoal chegava 50 caminhão de Pau de Arara por dia lotado de peão em busca de trabalho e terra. Morei em Cacoal por 17 anos.

 

Zk - E o retorno pro Iata?

Sávio - Voltei pro Iata em dezembro de 1996, porque minha mãe já estava velha e exigiu minha presença, queria ver os netos e fiquei por lá até ela falecer. Inclusive você contou a história da professora Chiquinha na sua página. Guardo até hoje o jornal. Hoje moro em Guajará Mirim porque meus filhos fazem faculdade e o Iata não oferece nada disso.

Zk - Em sua opinião, por que o Iata parou, deixou ser o celeiro se não de Rondônia, mas, de Porto Velho e Guajará?

Sávio - Porque mudou o fluxo e então o centro produtor foi pra BR 364. Outra, quando a Estrada de Ferro parou e quem fez o traçado da BR 425 traçou mal. A 425 era para ter passado na primeira Linha do Iata, se assim fosse feito, a Colônia teria ido pra frente, mas, a BR passou a 6 quilômetros de lá e o povoado ficou à sua própria sorte. As políticas públicas para desenvolvimento da agricultura mudou pra BR 364 que foi o grande assentamento do PIC Ouro Preto e o Iata ficou lá jogado a própria sorte, porque os marreteiros deixaram de comprar a produção dos agricultores.

 

Zk - O que é marreteiro?

Sávio - Marreteiro era a pessoa que comprava o produto dos agricultores e levava pra cidade, hoje chamam de atravessador. Os grandes marreteiros do Iata foram o Nabor, Vicente Lucas, Sebastião Pinto, Seu Adércio os condutores dos trens da Madeira Mamoré também atuavam como marreteiro, principalmente o Valdemar Rodinha e o Periquito.

 

Zk - Em sua opinião foi correto desativar a Madeira Mamoré?

Sávio - Infelizmente o brasileiro é assim, ele não sabe, por exemplo, fazer uma coisa sem acabar com a outra. Ele tem que acabar com o Zé pra poder dar a vida pro Chico. Faz três anos que fui ao Acre e pensei: Já pensou se o Acre tivesse a Estrada de Ferro Madeira Mamoré o que não seria aquele estado. O Acre se desenvolveu de uns tempo pra cá, só com a história dos seringais que estão lá nos cafundós  e nós aqui, temos o maior patrimônio histórico, que é a Estrada Ferro e não aproveitamos nada, porque é tudo jogado, abandonado, sucateado.

Zk - Tão dizendo que a Ferrovia vai ser reativada no trecho entre Guajará e o Iata. O que o senhor acha disso?

Sávio - Discordo dessa idéia, sabe por que. O município de Guajará Mirim acaba na localidade chamada de Lajes, por isso acho que o trecho a ser revitalizado tem que ir até Lajes, são apenas 38 km, inclusive tem a famosa Pedra Gorda que o trem passava bem devagar e a gente esticava o braço pela janela do vagão pra pegar nela. Tudo isso é atração turística que não estão levando em conta.

Zk - Para encerrar. Guajará completa terça feira dia 10, 84 anos de emancipação. O que o senhor tem a dizer aos guajaramirenses?

Sávio - Que não desanimem, que lutem pelo seus direitos e que nossos governantes, estaduais e federais olhem com carinho para o município, que cuidem principalmente da BR 425 e que procurem fomentar a geração de emprego para os jovens guajaramirenses. Parabéns meu município querido!

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