REVOLUÇÃO
CULTURAL
Arraial
Flor do Maracujá em discussão
Aluizio Batista Guedes nasceu
em 1950 quando a cidade de Porto Velho terminava na rua Campos Sales. Pedagogo graduado
em Administração Escolar, Metodologia do Ensino Superior, Direito Educacional e
Ensino Regional. Porém, é conhecido mesmo como grande defensor do folclore e em
especial, da brincadeira de boi bumbá em Porto Velho. Recentemente tem se
destacado nas reuniões que discutem a realização ou não do Arraial Flor do
Maracujá. Aluizio Guedes tem um recado ao governador Confúcio Moura: “Senhor
governador, verifique o quanto está se fazendo injustiça social em relação a
cultura no estado de Rondônia. Assuma o que o senhor prometeu durante a
campanha, que seria dado ênfase a cultura em seu mandato. Culturalmente
falando, senhor governador, estamos sem pai e sem mãe”.
ENTREVISTA
Zk – Você como integrante da
comissão da Federon pró-realização do Flor do Maracujá pode falar sobre o que
já tem de positivo a esse respeito?
Aluizio Guedes –
Infelizmente o governador passou a responsabilidade da realização do Flor do
Maracujá para os folcloristas e como nós não temos bagagem política, estamos
sofrendo dificuldades para falar com os deputados.
Zk – E o que foi que o
governador falou pra vocês?
Aluizio Guedes – Ele passou
a nós da Federon a responsabilidade de procurar emenda parlamentar no sentido
de buscar recursos para os grupos folclóricos.
Zk – E vocês estão fazendo o
que?
Aluizio Guedes – Ha um mês
estamos visitando os gabinetes dos deputados e temos encontrado muita
dificuldade para ser recebido e até de agendar uma reunião, enfim, de
sensibilizar os deputados, essa é a dificuldade maior, uma vez que muito deles
têm seus compromissos com seus municípios e sempre ouvimos a seguinte resposta:
“Já firmei compromisso com o município tal...” e assim nos sentimos isolados,
por não termos um representante que abrace essa bandeira de luta pela cultura
do município de Porto Velho.
Zk – Na prática o que vocês
já conseguiram junto aos deputados estaduais?
Aluizio Guedes – Conseguimos
a adesão na nossa causa de apenas oito deputados, cada um assinou nosso
manifesto se disponibilizando a colocar emenda no valor de R$ 30 Mil cada.
Zk – Isso quer dizer o que?
Aluizio Guedes – Quer dizer
que a possibilidade da realização do Arraial Flor do Maracujá é muito remota.
Zk – Quanto é necessário
para os grupos se apresentarem no Flor do Maracujá?
Aluizio Guedes – Estamos
pleiteando o mesmo do ano passado, ou seja, R$ 600 Mil. Para alcançarmos essa
cifra é necessária a assinatura de 20 deputados estaduais.
Zk – E a prefeitura de Porto
Velho entra com o que?
Aluizio Guedes –
Independente dos R$ 600 Mil que estamos pleiteando via Assembleia Legislativa,
já temos assegurado R$ 350 Mil da prefeitura. No inicio houve uma polêmica no
sentido de se pegar esse dinheiro da prefeitura e dividir com outro eventos.
Assim o que já vem há mais de cinco anos 350 Mil sendo repassado aos grupos
folclóricos, este ano queriam dividir entre os Arraiais que acontecem em Porto
Velho e no Baixo Madeira. Felizmente conseguimos convencer a presidente da
Funcultural Jória Lima e o prefeito Mauro Nazif e o dinheiro será apenas para
os grupos filiados a Federon.
Zk – Quanto a Secel o que
tem de concreto em se falando de Flor do Maracujá?
Aluizio Guedes –
Oficialmente a gente não tem da Secel nenhuma resposta que deixe a gente satisfeita.
O que aconteceu foi que recebemos em nossa assembleia a visita da professora Nazaré
Silva que se comprometeu pelo lado que ela tem do amor à cultura, em levantar
essa bandeira junto ao governador. A respeito disso, estamos esperando uma
reposta do governo, resposta essa que
pode ser; Não vou fazer! Para que a gente possa tomar outra providencia. Até o
presente momento não temos nada oficial.
Zk – Até aqui você falou
apenas em recursos para os grupos e a estrutura de palco, iluminação, arquibancada,
como está?
Aluizio Guedes – O filho tai
pra ser registrado, mas, tem uns três pais brigando, isso atrapalha. Os três
pais que falo são os empresários que querem ajudar na realização do Arraial no
sentido de colocar a estrutura. Acontece que os empresários foram a nossa
reunião e disseram que entram e realizam o Arraial, porém, sem a participação
do governo. Não a saída total do governo, pois essa participação sempre vai
haver. O que eles querem é uma autorização para que eles busquem patrocínios
para cobrir as despesas com a montagem da parafernália o que achamos justo.
Zk – Se por acaso o governo
chegar e dizer que não vai realizar o Flor do Maracujá a Federon assume esse
compromisso?
Aluizio Guedes – Existe a
vontade, sabe aquela coisa da paixão! Os folcloristas querem fazer, mas, é
preciso pisar no chão porque a estrutura do Arraial necessita de um peso que
chamo de peso político. Vamos ser honesto a Federon não tem esse peso, vamos
ser honesto. Esperamos que essa nova gestão da Federon que está começando,
assuma o compromisso de mostrar a cara e os folcloristas que são o sangue disso
tudo, ter seu próprio Arraial, não vou dizer que seja um Flor do Maracujá, mas, um evento que sirva de
ponta pé inicial. O Flor do Maracujá hoje, na minha concepção, nós não temos
condições de assumir. Já fui coordenador do Flor do Maracujá e sei que não é
fácil montar um evento do porte do Flor. No meu ponto de vista, mesmo com a
grande vontade de nós folcloristas, em realizar o Arraial, temos que entrar
nesse barco devagar.
Zk - Agora vamos falar com o
folclorista presidente de um grupo de boi bumbá considerado grande. Quanto fica
colocar um grupo como o Diamante Negro no Flor do Maracujá?
Aluizio Guedes – É muito
caro. Fiz uma proposta ao deputado Ribamar Araujo que procurasse envolver os
segmentos sociais, principalmente os nossos empresários no sentido de apoiar os
grupos folclóricos. O grupo Diamante
Negro tem um trabalho familiar, somos 12, todos funcionários. Então a gente
começa a colocar o boi do nosso salário. Este ano de 2013, o Diamante Negro
enxugando a folha, está orçado em R$ 80 Mil. Quando o governo estadual e a
prefeitura se dispõem em colaborar, a gente recebe um montante de R$ 40 Mil e a
gente tem que correr atrás da outra metade. Ano passado conseguimos apoio de
alguns companheiros, empresários, mas é difícil, vou dizer uma coisa, com todo
respeito aos demais. Precisamos ter pessoas sérias à frente dos grupos folclóricos,
os que não levam a sério a administração do grupo prejudicam os que levam. Os
maus gestores nos colocam numa saia justa perante o empresariado, que quando
vamos solicitar ajuda em suas empresas não querem nem nos receber, porque
alguém de algum grupo não agiu com honestidade.
Zk – Qual a diferença
estrutural entre um boi bumbá e uma quadrilha junina?
Aluizio Guedes – A quadrilha
pega uma caixa amplificada coloca um CD e vai ensaiar, No boi a coisa é muito deferente e cara, pois
é necessário uma banda com no mínimo seis integrantes, precisa tirar
autorização junto aos órgãos do meio ambiente se não o som é embargado. Para se
iniciar os ensaios, os bois precisam estar com a documentação do juizado da
infância e da dolescencia, autorização para utilizar o espaço público e depois
de estar com tudo isso, tem que visitar as famílias no sentido de convencê a
aceitar que a brincadeira seja realizada ali, se alguém não aceitar a vaca
(boi), vai pro brejo! Por isso nossos ensaios são apenas nos finais de semana,
sábado e domingo.
Zk – Qual o tema do Diamante
Negro para este ano?
Aluizio Guedes – O Diamante
já está definido. “A Arte de Folcloriar” tem mais alguma coisa, “Na memória de
um povo, se mantém a tradição”. Posso adiantar que esse folcloriar começa com
as quermesses de antigamente, vamos lembrar o Arraial que existia em torno da
nossa Catedral do Sagrado Coração de Jesus. Vai ser por aí! Nosso boi vem muito
regional.
Zk – Gostaria de saber sua
opinião a respeito da reunião que aconteceu na última quinta feira e que foi
denominada de Manifesto “Revolução Cultural”?
Aluizio Guedes –
Olha, foi ótimo, estamos de parabéns todos nós. Foi bom porque precisamos
mostrar nossa cara, a gente fica falando pelas esquinas e não tem coragem de
enfrentar o problema. Precisamos lutar, pela valorização, o respeito a nossa
identidade cultural e dizer a quem estar no poder, que não pode se impor a uma
coisa que é espontânea. Esse Manifesto há muito tempo não via, é um manifesto
da vontade popular. Esperamos que as nossas autoridades reconheça. O
desenvolvimento do estado de Rondônia não pode acontecer se a cultura estiver à
margem. Não se faz educação sem cultura.
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