Binho – músico, cantor,
poeta, compositor, universal
Sexta feira passada dia 8, no
Mercado Central no intervalo da gravação de um vídeo sobre as festas de final
de ano, que será exibido em breve por uma rede de televisão regional,
aproveitamos e batemos um papo descontraído com o professor, cantor,
compositor, escritor e poeta Rubens Vaz Cavalcante mais conhecido como BINHO.
“Era Rubens, passou pra Rubinho e virou Binho espero que não chegue apenas ao
NHO”. Porto-velhense criado no bairro Cruzeiro onde vivenciou as apresentações
de Bois Bumbás no Terreiro do Januário, Binho diz que não gosta do termo
regional para a classificação do seu trabalho musical. “A gente esta aqui,
assim como o cara está em São Paulo e não é regionalista”.
A conversa terminou porque a
equipe da televisão avisou que a gravação iria começar e então desligamos o
gravador e salvamos a conversa que você passa a acompanhar agora.
ENTREVISTA
Zk – Quem é o Binho
Binho – Sou um menino de Porto
Velho que quando saiu daqui foi pra estudar e que acompanha os acontecimentos
da cidade, tantos os sociais quanto os estruturais. Faço minha parte compondo,
fazendo poesia, fazendo música e outras coisas e que vai completar 59 anos de
idade no próximo janeiro
Zk – E o Binho?
Binho – Na verdade era Rubens
aí ficou Rubinho e depois ficou apenas Binho. Meu medo é que fique só em Nho.
Na verdade, o nome de batismo é Rubens Vaz Cavalcante. Minha família veio do
Para. Minha mãe é da família Ferreira Vaz e meu pai da família Couto
Cavalcante.
Zk – Sobre a infância?
Binho – Minha infância foi no
bairro do Cruzeiro, estudei no Murilo Braga no Nossa Senhora das Graças. Jogava
bola no campo do cruzeirinho todo fim de tarde (onde até bem pouco tempo
funcionava o Hotel Vila Rica), por ali mesmo aprendi a tocar violão, aprendi a
cantar; tudo com os amigos. Naquela época não tinha escola de música, não tinha
nada, aprendi olhando a mão dos outros. Os amigos que sabiam mais, sem muito
paciência, passavam alguns acordes pra gente.
Zk – Como surge o compositor
Binho?
Binho – Quando fiz minha
primeira música já tinha meus 18 anos de idade. Os festivais aconteciam lá no
Flamengo aí resolvi inscrever com os amigos, uma música.
Zk – Quem nasceu primeiro, o
poeta ou o músico?
Binho – Acho que primeiro foi o
músico, porque quando comecei a escrever eu já tocava algumas coisas bem
básicas da música popular, não da MPB, to falando da música popular no geral,
dos caras que faziam sucesso Fernando Mendes, José Augusto. Algumas bandas
norte-americanas e inglesas. Sempre gostei do inglês. De tanto escutar na casa
dos Johnson que era um lugar que eu freqüentava, dava minhas cacetadas. Aprendi
tudo de ouvido. Acho que quem veio primeiro foi o cara que estava
tentando aprender a tocar um instrumento
Zk – O poeta surge para colocar
letra nas músicas?
Binho – Não! O poeta surge de
uma experiência colegial. Eu tinha alguns amigos que escreviam e me davam os
poemas pra passar a limpo, porque eu tinha a letra bonita, aquela coisa da
caligrafia. – Dá pro Binho escrever que fica bonito – Aí, de tanto escrever,
passei a perceber que já arrumava o texto dos caras, fazia umas modificações
umas correções e quando me toquei já estava praticamente refazendo o poema do
cara. O que aconteceu? Disse se é para reescrever o poema dos meus amigos,
posso até continuar reescrevendo, mas, vou passar a escrever as minhas. Comecei
aquela coisa bem empírica, falando das coisas do dia-a-dia, das paixõezinhas,
da questão da família, umas temáticas muito pessoal, depois comecei a olhar ao
redor e veio essa coisa que alguns chamam de regionalismo, que é um nome que
prefiro evitar. Acho que a gente faz tudo em nível universal, a nossa música
não serve só pra cá, serve pro mundo inteiro. A gente esta aqui, assim como o
cara está em São Paulo e não é regionalista. Tu vai dizer que o Arnaldo Antunes
é regionalista, mais ele faz música em São Paulo, então ele faz numa região.
Acho que a coisa do tema amazônico que comparece muito nas minhas letras, mas,
não como regionalismo.
Zk – Você não é compositor de
um ritmo, é de vários estilos?
Binho – Comecei fazendo umas
baladas porque tinha muita influencia do rock in rol, depois comecei a
descobrir os ritmos brasileiros de um modo geral. Me envolvi com a Bossa Nova,
depois com a MPB e continuei com o rock, aliás, escuto rock a vida toda por
isso considero uma escola forte na minha composição, embora ela não apareça de
modo explícita, ela aparece de forma amenizada nos arranjos, nos vocais, na
maneira de cantar.
Zk – E a parceria Binho e Bado?
Binho – Aí foi outra questão
interessante, porque também foi num festival, acho que naquele festival da
minha primeira música, porque daí o Sesc me chamou e chamou o Bado pra gente
realizar uns trabalhos, eles tinha criado o Laboratório Musical Harmonia que
tinha o Júlio Yriarte, o Zega, Serginho, o próprio Laio já estava la dentro e
nós fomos chamados e então fizemos nosso primeiro show em parceria. A partir
daí começamos a fazer música, foi uma época que produzimos bastante. Depois,
cada um foi buscando seus caminhos.
Zk – Vocês fizeram muitas
musicas em parceria?
Binho – Muitas! Porem estava
acontecendo uma coisa que estava deixando a gente meio sem jeito, os caras
começaram a achar que a gente era uma dupla caipira, assim “breganejo”, não era
nem caipira. “Bado & Binho” e tal, queriam vender essa coisa. Pra gente não
rolou, os amigos tiravam sarro. Temos música como Lavadeiras, Com Beira na
Beira do Rio Madeira, Mana Manauara uma música que faz sucesso aqui e a moçada
de Manaus toca também.
Zk – Tem um negócio que eu
admiro em você. É a paixão pela brincadeira de Boi Bumbá?
Binho – O Boi Bumbá é uma coisa
de bairro. No meu bairro tinha o terreiro do seu Januário que era um lugar onde
dançavam vários Bois e toda vez que tinha apresentação eu ia pra lá. Depois
consegui entrar no Boi porque eles iam dançar de casa em casa, paravam e aquela
casa dava ali um gorozinho, uma comidinha pra rapaziada e o Boi dançava ali na
frente, era realmente uma coisa popular, hoje, acho que encurralou demais, o
Boi ficou mais escola de samba. Naquela época a garotada saia correndo atrás do
Boi na rua. Na matança era aquela festa, todo mundo ia esconder o Boi, todo
mundo queria a língua do Boi, os vaqueiros com aquelas roupas que no olhar dos
meninos, parecia uma coisa super elegante, os penachos, que na época eram de
penas verdadeiras, nosso conceito ecológico era muito frágil.
Zk – Você hoje é pro - reitor
de qual área na UNIR?
Binho – Não sou mais pro
reitor, hoje sou apenas professor. Trabalho na área de literatura mais
especificamente com o curso de Letras na área da poesia contemporânea e na área
da crítica literária que é aonde eu atua melhor, sinto que dar mais resultado,
até por essa minha pesquisa constante da poesia brasileira e de outros países,
mais essa poesia de agora da década de 1980 pra cá, que é minha meta de estudo
e de trabalho.
Zk – Ainda agora, você estava
falando sobre as bandas de garagem. Como funcionavam essas bandas?
Binho – Acho que as bandas de
garagem aconteceram no Brasil inteiro. Aquelas bandas que a gente montava pra
fazer as festinhas com os amigos, pra trazer as namoradinhas, ou as futuras
namoradinhas, era um local de paquera, tinha aquele charme e então tirávamos os
repertórios das baladinhas The Feveres, Renato e Seus Blues Caps. algumas das
bandas internacionais que faziam sucesso. A garagem era ponto de encontro de
quase todo dia, porque aconteciam os pseudos ensaios, na verdade a gente só se
divertia.
Zk – Você chegou a viver de
música. Tocando na noite?
Binho – Barzinho nunca foi o
meu forte, primeiro que meu repertório de música popular não era exatamente o
que o bar queria. Os bares sempre tiveram essa tendência de optar por uma
música de consumo, essa coisa que toca na rádio e o cara vai pro bar escutar o
que ele já escutou em casa. Começou a surgir alguns bares como o “Casa da
Gente”, que foi o primeiro bar especificamente de MPB que era do Júlio de
Carvalho e tinha o sócio dele o Nilsola e ali a gente podia tocar o que queria.
Na realidade eu gostava mesmo era de fazer show em palco, esse negócio de
atender pedido, daqueles recadinhos no guardanapo eu ficava meio agoniado,
porque eu não tocava tudo que pediam;
Zk – Para encerrar. Sobre
família?
Binho – Sou casado com a Carla
que também é professora universitária, tenho uma filha a Clara Luz. Sou um cara
comum, to aí na cidade vivendo o que é possível viver.
Zk – Natal?
Binho
– Natal é o momento das famílias se reunirem pra festejar as vitórias do ano,
pra renovar os sentimentos, pra se ver, pra comer um bocado, engordar um pouco,
encher a cara às vezes pra quem gosta de beber. Natal é um momento que a gente
tem que valorizar. É uma coisa que nos interliga com um passado de vida.
Geralmente no Natal, você lembra-se dos outros natais.
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