Doutor na formação do estado
de Rondônia
Silvio Persivo se tornou
conhecido, por sempre estar sendo convocado pela mídia de um modo geral, para
opinar sobre a economia do estado e do Brasil, porém, na entrevista que você
vai ler, passamos a conhecer o cara que ajudou a planejar o estado de Rondônia
e saiu por aí, coordenando a estruturação dos Nuares que mais tarde, se
transformaram em municípios. “Em minha opinião o grande governador de Rondônia
foi Humberto da Silva Guedes”. Nossa conversa aconteceu segunda feira passada
18, antes dele embarcar de férias.
Recomendamos também nossos
leitores, a curtir a entrevista do Silvio Persivo na TV Opinião (site
gentedeopiniao.com.br)
ENTREVISTA
Zk – Vamos começar pela sua
origem?
Silvio Persivo – Nasci no
centro de Fortaleza (CE), no dia 8 de março de 1950. Na verdade sou o primeiro
filho do segundo casamento do meu pai Sebastião Persivo e Maria Celeste que
tiveram cinco filhos, meu pai já tinha três filhas de um outro casamento.
Zk – Você estava comentando
que seu pai inaugurou o primeiro supermercado do Ceará. Como surgiu a idéia?
Silvio Persivo – A verdade é
que ele foi aos Estados Unidos viu e ficou fascinado, Ao regressar reuniu um
grupo de empresários pra criar o supermercado Sino que iria ser o primeiro,
mas, no meio do negócio o deixaram de lado. Então ele se associou com outras
pessoas e então surgiu o supermercado Aldeota que foi o primeiro do Ceará.
Zk – E a história de ir
morar em Paris na França?
Silvio Persivo – Na verdade,
a minha formação foi toda francesa, porque era comum na época e eu me nutri
muito na cultura francesa. Meu sonho era o de morar algum tempo na França. Fui
pro Rio de Janeiro achando que nunca sairia de lá. Vivi numa época muito
bonita, embora houvesse alguma bandidagem, não era como hoje. O grande centro
de show naquela época era o Canecão onde assisti entre outros o show com
Toquinho, Miúcha, Tom Jobim e Vinicius nesse dia até o Roberto Carlos estava na
platéia e foi convidado para cantar, foi uma coisa fantástica.
Zk – Como é a história de
você ter vindo a Porto Velho no inicio dos anos 1970 estudar a possibilidade da
instalação de um Banco?
Silvio Persivo – Isso foi em
1974 e eu nem sonhava em vir pra cá. Na época se falava que iam liberar a
abertura de agencias de bancos estrangeiros. Na realidade me pegaram de supetão
e me botaram dentro do avião porque ninguém queria vir pro norte. Era pro Citibank
e terminou que não saiu agencia nenhuma, eles tinham mais expectativa do que
realidade. A cidade era muito pequena, ainda era o aeroporto Caiari.
Zk – E a história do
abastecimento do avião?
Silvio Persivo – O
comandante não conhecia essa região e vinha abastecendo com cartão de crédito e
aqui ainda não existia esse tipo de serviço, nós tivemos que ficar no Porto
Velho Hotel até resolver o problema do abastecimento. Quer dizer, passei apenas
algumas horas em Porto Velho e jamais pensava que um dia viria morar aqui.
Zk – E como foi que veio
morar em Porto Velho e por quê?
Silvio Persivo – Um amigo de
Fortaleza o Marcelino Pontes Moreira que era adjunto, na verdade ainda não
existia a figura do adjunto. Formalmente havia o secretário de governo que era
o Luiz César Guedes. Quando cheguei o governador era Humberto da Silva Guedes.
O Luiz César é um cérebro brilhante. Havia uma pessoa de Guajará Mirim o Jorge
Elage que considero um gênio, hoje está mais calmo, ele se interessava por
tudo, mexia com tudo, entendia de tudo. Primeiro minha vinda pra cá seria
contratado pelo Ministério do Interior para atuar no grupo chamado Pólos
Urbanos e acabei contratado pelo governo do Território de Rondônia. Na época,
estava se criando as secretarias de governo e todas foram instaladas no Palácio
das Secretarias que funcionava onde hoje é a UNIR/Centro antigo Porto Velho
Hotel. Na realidade, comecei a trabalhar no palácio Presidente Vargas porque o
Secretário de Governo virou Secretário de Planejamento.
Zk – A Seplan foi à primeira
secretaria a funcionar no que ficou conhecido como Esplanada das Secretarias,
no bairro Pedrinhas?
Silvio Persivo – O primeiro
prédio construído ali era para abrigar a Seplan e depois transformá-lo em
escola. O projeto do governador Guedes era construir a estrutura de governo,
inclusive, o Palácio, na beira do rio Madeira aproveitando a estrutura da
Madeira Mamoré e abrindo o rio para a cidade. Não sei aonde foi parar esse
projeto. Veio o governador Jorge Teixeira e reproduziu aquele prédio da Seplan,
sem melhorar o projeto original que tinha problemas.
Zk – Quem fazia parte da equipe
que começou a montar a estrutura do estado ainda no governo de Humberto Guedes?
Silvio Persivo – Eu, Maurílio
Galvão, Cláudio Damasceno, José Aldenor Neves e mais um monte de gente. Na
realidade o Guedes foi quem começou a estruturar o Estado. Inclusive o Guedes
chegou a criar os cinco municípios do eixo da BR – 364.
Zk – Quais são esses
municípios?
Silvio Persivo – Ariquemes,
Ji Parana, Cacoal, Pimenta Bueno e Vilhena. Antes disso, só existia Porto Velho
que era o maior município do mundo e Guajará Mirim que também não era pequeno.
Particularmente eu considero o Guedes o grande governador de Rondônia, pois,
ele realmente, planejou o estado o Teixeira implantou. O Teixeira era um
fazedor, ele implantou de qualquer jeito, não queria nem saber.
Zk – E a história que o
Guedes não deixou o BNH entrar em Porto Velho?
Silvio Persivo – Até o
governo Guedes só havia o IPASE Novo que foi feito na época do Odacir Soares
enquanto prefeito da cidade. O Guedes dizia que não iria deixar colocar poleiro
aqui em Porto Velho. Ele tinha a visão de que o estado devia crescer de forma
distribuída e harmônica e assim contratou gente para estruturar o estado, por
exemplo, até hoje na cidade de Porto Velho o sistema viário é uma adaptação do
que foi feito pelo Zimbres que foi um urbanista que tinha mestrado na
Inglaterra e fez aqui em 1978 essa estrutura de você subir pela Carlos Gomes
descer pela D. Pedro II e lá pela Abunã e pela Calama. Na verdade o Zimbres ia
fechar o centro, fazer um calçadão, por isso também, que a rodoviária é
localizada ali. Ainda não existia a Zona Leste e nem a Zona Sul a Zona Norte
era muito pequena. Então com o Guedes aconteceu a primeira grande transformação,
que depois iria ser inaugurada pelo Teixeira. Praticamente quem fez a Usina de
Samuel, o Hospital de Base, quem fez a Rodoviária, o Mercado Central foi o
Guedes.
Zk – Em sua opinião o que o
Teixeira planejou e construiu realmente em Porto Velho?
Silvio Persivo – O Ginásio
Claudio Coutinho e o primeiro prédio do Tribunal de Contas, porque a reprodução
daquela estrutura que ficou conhecida como Esplanada das Secretarias, foi uma
tristeza, não resistiu ao tempo. A grande virtude do coronel Teixeira é que ele
não era um homem de muito pensamento e nem de futuro, ele era de fazer, ele
chegou e disse vou fazer e fez. Na verdade, os municípios, todos eles, estavam
programados pelo Guedes que a época trouxe a UnB, o Silvio Savaia que era da
USP e trouxe uma série de pessoas pra pensar o estado e também contou com uma
ajuda forte do Capitão Silvio Gonçalves de Farias.
Zk – Sobre o Capitão Silvio?
Silvio Persivo - Ele fez
inicialmente os sete projetos, ou seja, os PAD’s e os PIC’S e isso deu uma
consolidação. Ele acentou praticamente 120 mil pequenos produtores e isso deu
ao estado, uma distribuição espacial muito bem feita. Veja bem, aqui em
Rondônia não houve reforma agrária, houve colonização.
Zk – Como foi que você sendo
do governo de Rondônia se envolveu com os projetos do INCRA?
Silvio Persivo – O Capitão
Silvio gostava muito de mim e ele disse: “Vou te mostrar o estado”. O INCRA
tinha uma estrutura melhor que a do Território, foi quando tive a visão do
tamanho do estado.
Zk – Você também fez parte
da comissão que fez o estudo para a criação de vários municípios. Como foi que
aconteceu isso?
Silvio Persivo – Substitui o
Jorge Elage na CODRAM – Coordenação de Desenvolvimento e Articulação dos Municípios
e junto com uma equipe de engenheiros e arquitetos, fui responsável pela
abertura de ruas e planejamento de cidades como Ariquemes, Ji Paraná, Cacoal,
Pimenta Bueno, Rolim de Moura, Vilhena, Colorado do Oeste e Cerejeiras.
Zk – Quem foi Milton Santos?
Silvio Persivo – Foi grande
geógrafo brasileiro (falecido), que foi contratado pelo Guedes para pensar o
estado. Na época estava acontecendo grande evasão dos pequenos proprietários,
para evitar isso, ele projetou o que se chamava de Núcleos Urbanos de Apoio
Rural – NUAR que eram pequenas cidades com estrutura suficiente para que o
agricultor não saísse para os grandes centros urbanos. Esses Nuares acabaram
sendo os novos municípios.
Zk – Por que vocês abriram
as ruas de Rolim de Moura com aquela largura toda?
Silvio Persivo - Rolim de
Moura era um dos locais programados par ter um NUAR. Na época foi contratado
uma pessoas que tinha máquinas que era o Valter Longo que era de Vilhena para
abrir as ruas de Rolim de Moura. Eu tinha muito pouco tempo de Rondônia e fui
substituir o Jorge Elage na CODRAM. Quando chegamos onde hoje é Rolim, tiramos
umas 14 pessoas com malária. O povo vivia à beira de um riacho e eu disse, não
dar pra começar uma cidade aqui a gente tem que tirar esse povo de perto desse
córrego se não vai morrer todo mundo de malária. Alguém havia me dito que o
mosquito da malária o anofelino, só voava 70 metros e morria. Falei com o
Benedito que era o engenheiro, pra ele projetar as ruas, ele me disse que não
sabia o que fazer e então eu disse que iria decidir. Chamei o Valter Longo e
ordenei ele abrir as ruas com 100 metros de largura. Ora se o mosquito só voa até
70 metros e se as ruas forem de 100 em 100 metros o mosquito não chegaria até
onde estávamos. Tudo ilusão. Saí de lá pensando, isso nunca vai dar certo, um
vizinho não vai poder dar adeus pro outro. Rapaz, após uns três meses, voltei
lá e Rolim já estava uma cidade, já devia ter umas 12/15 mil pessoas e o
interessante, foi que eles continuarem abrindo ruas daquela largura. Só sei que
muita gente até hoje, pensa que Rolim de Moura nasceu uma cidade Planejada. A
única das cidade de Rondônia planejada à época, foi Ariquemes.
Zk – Pra finalizar e o
governador Jorge Teixeira?
Silvio Persivo - Jorge
Teixeira foi um presidente de estado, acho que nenhum governador teve o poder
que Jorge Teixeira teve, essa é a grande realidade. Ele fazia chover.