O
samba da Amazônia está em festa! Nesta sexta feira dia 19, Ernesto
Melo o Poeta da Cidade completa 65 anos de vida e para comemorar a
data, vai realizar no Mercado Cultural show especial dentro do
Projeto a Fina Flor do Samba com a participação de Bainha, Silvio
Santos e Torrado “A famosa prata da casa”. De Manaus vem os
artistas Junior Rodrigues, Edson Melo, Onésio 7 Cordas, Paulo
Roberto (flauta) e Rubinho do Cavaco e de Humaitá o Bimba do contra
baixo.
Batemos
um papo com o Ernesto Melo sobre sua carreira artística e ouvimos
seu desabafo, contra a falta de apoio dos governos municipal e
estadual. “Não sou contra trazerem shows de artistas nacionais,
mas, deem condições aos nossos artistas também”.
Hoje
estão todos convidados a prestigiar o show em comemoração aos 65
anos de Ernesto Melo o Poeta da Cidade a partir das 20h30 no Mercado
Cultural.
ENTREVISTA
Zk
- Nesses 65 anos, quantos são de boemia?
Ernesto
Melo – Quem pode falar sobre isso mais do que eu é você. Em 1976,
você me apresentou aos boêmios que frequentavam o Bar do Casimiro,
Capivara e Rasgado foi ali que começou tudo. O interessante, é que
você não sei se já me conhecia, talvez pela história do Papai que
estava sempre envolvido com isso, apostou na gente e me convidou para
ir a esses recintos. São mais 40 anos de boemia e de samba.
Zk
– O que te levou a escrever músicas com letras que contam a
história de Porto Velho?
Ernesto
Melo – Eu gostava de escrever e quando fui estudar fora mandava
para o jornal Alto Madeira minhas poesias. Sempre tive mais
facilidade em fazer samba e falar de Porto Velho. Confesso, por
exemplo: se for falar de Boi Bumbá eu não sei fazer isso. Não sei
se é porque o Boi que a gente conheceu com Galego, com Salgado,
Augusto Queixada e outros, não têm nada a ver com o Boi atual.
Coincidência ali no “Céu” (prédio na esquina da Prudente com a
Almirante Barroso) eu ia sempre com o Papai, ali perto tinha uma
fábrica de colchão que era cheio com capim, era o caminho para a
Baixa da União e ali também tinha o boteco do Zelada então eu
sempre estava presente nesses ambientes. Quando o garçom Marta Rocha
assassinou o Camurça eu fui lá ver o corpo e era na zona onde
ficavam os “puteiros” da cidade na Joaquim Nabuco entre a D.
Pedro e a Afonso Pena e adjacências. Outro crime de assassinato
bastante comentado na época foi quando o Boca Larga matou um cidadão
no Bar Guanabara do Cabo Lira que ficava no Mercado Municipal pelo
lado da José de Alencar. Lembro-me do Ismael Camurça fechando as
portas da loja do seu pai a Casa Colombo para não ser testemunha.
Por aquele lado da José de Alencar me lembro da loja do José Oceano
Alves, Ponto Caçula do Pedrinho e do Cabeça Branca (pai), que
também foi assassinado em sua loja que a época era em frente à
Casa Saudade.
Zk
– E a música?
Ernesto
Melo - Quando os artistas cantores vinham se apresentar em Porto
Velho geralmente iam lá em casa. Naquele tempo o cantor vinha
sozinho, não tinha essa de trazer banda, quem veio com seu
violonista foi o Altemar Dutra e assim mesmo, foi o maior quiprocó
com o Bainha. Nem mesmo o grande Bienvenido Granda trouxe banda,
quando esteve aqui e se apresentou nas escadarias do Porto Velho
Hotel. Meu pai me levava pra conhecer tudo isso, assim conheci o
baterista Adamor, João Miguel, Jorge Marim, Manga Rosa, Ivo Santana.
O Jorge Andrade praticamente era nosso vizinho, pois, sua namorada e
depois esposa Ana Amélia cuja família era proprietário do Iracema
Hotel Bar (hoje sindicato dos Bancários) na Gonçalves Dias. Essa
turma toda ensaiava lá em Casa, Nerino Silva do sucesso “Eu gosta
da minha sogra, pode falar quem quiser...”, toda vez que vinha aqui
nos visitava. Com tudo isso a gente foi tomando gosto pela boemia. O
Liberato dizia me gozando, porque minha irmã que faleceu era médica,
o Edson é médico, Esmitinho matemático e ele dizia: Porto Velho
perdeu um médico, mas, ganhou um grande sambista.
Zk
– Da turma de sambistas compositores mais antigos como Bainha
Silvio e Babá você foi e é o que mais se destaca, pois é o único
que conseguiu gravar um CD. O que você acha que faltou para os
mesmos deslancharem?
Ernesto
Melo – Me causa muito mal estar. Hoje é fácil gravar um CD. Tive
a sorte de gravar o meu e você sabe muito bem como foi que
aconteceu: Um cidadão comerciante durante um show meu na Taba do
Cacique se sensibilizou com meu lamento e mandou dizer que bancaria a
gravação do meu CD e bancou, no momento pediu para não ter seu
nome citado e só depois fiquei sabendo que era o Manelão. Gravamos
mais não conseguimos apoio para prensar e então conseguimos prensar
o trabalho em Manaus pela Fundação Cultural Villas Lobo. Cadê o CD
do Sebastião Araujo – Baba. Cadê o CD do Bainha do Silvio Santos
esses caras não são eternos, por isso, é necessário registrar a
obra deles.
Zk
– E a festa dos 65 anos de idade?
Ernesto
Melo – A gente tá trazendo um pessoal de Manaus para se apresentar
junto com os sambistas de Porto Velho na Fina Flor do Samba no
Mercado Cultural. A praça Getúlio Vargas está sem iluminação, o
Mercado conseguimos que a Semdestur iluminasse. A gente parou quase
dois meses com a Fina Flor porque era impossível fazer show em
virtude da falta de iluminação. Em suma: Não temos apoio de
ninguém, eles liberam o espaço (sofrível) e ainda acham que estão
fazendo o bastante.
Zk
– Onde entra o carnaval aqui?
Ernesto
Melo - Fizemos o Projeto Carnaval para a FESEC obedecendo todas as
diretrizes da Lei 866 e demorou quase um ano para ser homologado
pelos órgãos municipais e aí veio o Alceu Valença e a prefeitura
aprovou os Recursos em 12 dias. Não sou contra trazerem shows de
artistas nacionais, mas, é preciso valorizar o artista local também.
Zk
– O Projeto a Fina Flor do Samba é um dos classificados para o
prêmio da Sejucel Zezinho Maranhão de Música. O que você tem a
dizer sobre essa iniciativa?
Ernesto
Melo – Se formos selecionado entre os seis que receberão os
recursos do Edital vamos ter que nos adequar, pois o recurso é pouco
para atender o que o Edital exigi. O ganho maior caso sejamos
contemplados, é para o nosso Portfólio. De qualquer maneira já é
um começo.
Zk
– Como vai ser o show de hoje a noite a Fina Flor do Samba?
Ernesto
Melo – Nossa banda conta com o Ney (cavaquinho), Enio Melo (violão
de 7 cordas), Chico Lobo (rebolo), Walber (pandeiro), Beto Ramos
(ritmo), José Áureo (surdo) de Humaitá vem o Bimba (contra baixo).
Tem mais três atrações locais: Bainha, Silvio Santo e Torrado. De
Manaus Júnior Rodrigues, Edson Melo, Onésio 7 Cordas, Paulo Roberto
(flauta) e Rubinho do Cavaco.
Zk
– Horário?
Ernesto
Melo – Vamos começar as 20h30 com o apoio da Semdestur e
Funcultural. Temos que agradecer nossos familiares em especial a
minha esposa Erenir que é quem faz o contato com mídia e o Beto
Ramos que faz a arte dos cartazes.
Zk
– Finalmente?
Ernesto
Melo – É muito gratificante como realização pessoal, por você,
Bainha, Torrado pela minha mulher, Enio Melo. É isso que eu gosto. A
música não pode ser esquecida. Esse apelo se estende à Sejucel.
Dêem-nos condições que faremos o resto!
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