No
último dia 13, durante a comemoração do aniversário de criação do jornal Diário
da Amazônia, nos deparamos com o Ernesto Melo – O Poeta da Cidade entre os
convidados especiais. Assim que a festa terminou procurei saber o motivo do
convite especial e fui informado que atualmente, dona Maria Thereza mãe do
Ernesto é a mais antiga assinante do jornal. Em conversa com o Editor Solano
Ferreira fui convidado a voltar a publicar a coluna do Zekatraca em especial,
as entrevistas de domingo. Durante a conversa sugeri que a volta fosse com a
publicação da entrevista com a dona Maria Thereza, por se tratar a assinante
mais antiga do jornal, ela completa 90 anos de idade no próximo dia 15 de
outubro. Junto com o fotografo Roni Carvalho do Diário e Ana Santos (pelo blog
do Zekatraca), batemos o papo com dona Thereza e seu filho Ernesto Melo na
manhã da última quinta-feira 23, em sua residência.
ENTREVISTA
Zk –
Por gentileza qual seu nome completo e cidade onde nasceu?
Thereza
Melo – Meu nome é Maria Thereza de Oliveira Melo. Nasci no município de Santo
Antônio (MT) no dia 15 de outubro de 1932/31. Aqui existe uma dúvida. Na
realidade eu nasci em 1932 e minha mãe (Francisca de Souza Oliveira) morreu
durante o parto e por isso, meu pai (Francisco Bento de Oliveira) deu a gente
para uma família cuidar, erámos eu e mais duas irmãs: Maria da Conceição, Maria
Luiza e eu Maria Thereza. Nesse momento o filho Ernesto Melo entra na conversa
e explica:
Ernesto
Melo – A história é a seguinte: Ele atarantado deu as filhas para os padrinhos
criarem e ela foi morar com a família do seu Joaquim de Moraes.
Thereza
Melo – Certa vez minha tia Durvalina chegou com meu pai e falou: “Chico Bento
por que tu não te casas novamente. Onde elas moram só tem menino...” Então meu
pai resolveu se casar com minha ‘mãe’ Idelvita. Tem muita mãe que não chega aos
pés dela. Ela era irmã do Bernardo Simeão e nós voltamos a morar com ele.
Zk – E
como foi que a senhora conheceu o Esmite?
Thereza
Melo – Na Avenida 7 de Setembro existia um clube cujo nome era Yale e um dia,
nos convidaram para uma festa. O Esmite era da Diretoria. Então fomos com Papai
e Mamãe (naquele tempo filha só saia acompanhada dos Pais). Durante a festa
conheci o Esmite e começamos a namorar. Quando chegou o carnaval o Esmite me
inscreveu para participar do concurso de Rainha. As candidatas foram Eu, a
Luiza Feitosa e a Floriza, na apuração dos votos eu fiquei como Princesa, foi
então que o Esmite armou o maior barraco, porque eu não fui eleita Rainha.
Nesse tempo a gente já morava em Porto Velho na Avenida Osório atrás do Colégio
Maria Auxiliadora.
Zk – E
o casamento?
Thereza
Melo – Nós casamos no dia 10 de abril de 1948.
Ernesto
Melo – Quando eles se casaram foram morar no Palacete do seu Herculano que era
onde hoje existe o Iara Hotel.
Thereza
– Nessas alturas o Esmite já funcionário da prefeitura e conseguiu esse terreno
onde moramos até hoje e começou a construir nossa casa.
Zk – A
senhora estudou em qual colégio?
Thereza
Melo – Sempre no Maria Auxiliadora naquele tempo só estudava meninas. Comecei
no Jardim, fui para a Alfabetização 1º Ano e as demais séries. Quando foi para
prestar Exame de Admissão fiz passei, porém, me casei e parei de estudar.
Zk –
Onde o Esmite trabalhava?
Thereza
Melo – Ele trabalhava no jornal Alto Madeira, depois foi para o jornal O Guaporé
e já era da prefeitura. Ele também era diretor do Clube Guaporé que funcionava
ali na José Bonifácio justamente onde hoje funciona a Rádio Boas Novas. O João
do Rato era o presidente do Clube. O João tinha também uma carpintaria onde fazia
Caixão e perto dessa carpintaria o Esmite tinha um Bar o “Ka Te Espera”, também
tínhamos um restaurante que por muito tempo funcionou onde hoje é o Almanara.
Zk – A
senhora tinha quanto anos quando casou com seu Esmite?
Ernesto
Melo – Na realidade ela nasceu em 1932, porém, para casar tinha que aumentar um
ano e meu pai conseguiu um Registro de Thereza Melo -Nascimento que diz que ela
nasceu em 1931. Pra ela o ano de nascimento é 1932, porém, como o que vale é o
que está escrito, ela é de 1931. Então oficialmente, vai completar 90 anos no
próximo dia 15 de outubro.
Thereza
– Tem uma história interessante. Quando morávamos no seu Herculano e quando
dava à tardinha, eu ficava olhando lá para onde ficava o jornal Alto Madeira. Naquele
tempo dava benzinho para ver, pois não existia essas casas entre a Gonçalves
Dias e a Praça Jonathas Pedrosa e eu ficava vendo quando o Esmite saia do
jornal para casa. Coisa de recém-casados.
Zk – É
sabido que a residência de você era frequentada pela boemia de Porto Velho e
mais, todo artista cantor que vinha fazer show em Porto Velho, tinha que
visitar vocês. Como foi que seu Esmite conquistou isso?
Thereza
Melo – O Esmite era muito comunicativo. Para você ter ideia, nós recebemos aqui
em casa, o time do Vasco da Gama do Rio de Janeiro quando eles vieram jogar
aqui. Tinha um primo meu que jogava no Vasco. Lembro do cantor Nerino Silva,
Waldik Soriano que não saia daqui. Tem até uma história interessante com o
Nerino Silva.
Zk –
Conte pra gente essa história?
Ernesto
Melo – De tantas vindas em Porto Velho e frequentar nossa casa, meu pai e o
Nerino ficaram amigos e até chegaram a viajar pela Bolívia com meu pai como
empresário do Nerino, porém, certa vez o empresário Esmite vendeu vários shows
de novo para Guajará e Bolívia; acontece que o avião que ele vinha apresentou
problemas e teve que ficar em Cuiabá e com os shows já vendidos meu pai teve
que se virar para achar uma solução e o resultado foi que quem fez os shows foi
o irmão do Caboco que era a cara do Nerino Silva e o imitava muito bem, tanto
que ninguém percebeu a armação.
Zk - Seus filhos nasceram na maternidade?
Thereza
Melo – Todos nasceram em casa sob os cuidados de Parteiras. Quem pegou o
Ernesto foi a dona Piedade mãe do Leão José Athias aquele dos fogos Caramuru.
Quem pegou o Esmitinho foi a dona Josefa avó do Jason. Tive oito filhos sendo 7
homens e uma mulher que era médica, tem também um filho médico o Edson que mora
em Manaus.
Zk –
Como era o seu Esmite como marido e pai?
Thereza
Melo – Ele era muito bom. Os meninos chegavam do colégio e sempre vinham os
colegas e o Esmite providenciava uma mesa com merenda e todos comiam. Ele jamais
negou um prato de comida seja para quem fosse. Como marido também foi muito
bom, apesar de em determinado período, eu desconfiar que ele andava com outras
mulheres, nada que abalasse nosso casamento.
Zk –
Como a senhora explica esse amor em ler o jornal impresso, principalmente agora
que tudo pode ser acessado via Internet?
Thereza
Melo – Como você acompanhou no desenrolar dessa entrevista. Sempre estivemos
envolvidos com jornal e isso nos transformou em leitores assíduos de jornal
impresso, começamos com o Alto Madeira, fomos para O Guaporé, assinamos o
Estadão do Norte e desde quando inaugurou o Diário da Amazônia somos
assinantes. Só lamento nos dias de hoje, que em virtude desse mal da Covid não
fazem o jornal especificamente de domingo. Tomara que essa crise acabe logo,
para o jornal voltar aos dias de domingo. A leitura do jornal impresso é muito
melhor.
Zk – A
senhora é aposentada como funcionária federal. Como foi que a senhora conseguiu
emprego no governo?
Thereza
Melo – O Esmite trabalhava no jornal O Guaporé onde também trabalhava o
professor Enos Eduardo Lins e a Cosete e ela sempre dizia: Esmite traz a
Theresa para trabalhar no governo, naquele tempo era fácil, porém, sempre o
Esmite respondia: Mulher minha não trabalha. Até que com a insistência ele
cedeu, então me levaram lá no Palácio Presidente Vargas e eu assinei minha
nomeação. Não sabia fazer nada. Por ter a letra muito bonita fui escolhida para
trabalhar no protocolo, foi quando me deram uma cartilha e eu passei a estudar
datilografia e aprendi, antes eram aquelas máquinas que faziam tec depois
vieram as elétricas e o negócio melhorou, passei a fazer memorando, oficio,
cheguei a trabalhar no Gabinete do Governador Marques Henriques. Desde 1986 sou
aposentada como funcionário federal, já que trabalhei o tempo todo como
funcionária do Território Federal de Rondônia e por isso sou do quadro da
União. Zk – A senhora foi casada por quantos anos?
Thereza
Melo – Nos casamos em 1948 dia 10 de abril e só nos separamos com a morte do Esmite
no dia 6 de agosto de 1996. Foram 48 anos de uma feliz união.
Zk –
Agora para encerrar. Como foi criar esse monte de filhos e a casa cheia de
gente?
Thereza
Melo – Foi gostoso!