Por:
Altair Santos (Tatá)
Essa é a Trinca de Reis Bainha, Silvio e Ernesto |
E lá
se vão 55 anos de música nos costados e na moringa melódica de um dos mais
ativos compositores e intérpretes da nossa região. Não à toa o amigo Sílvio
Santos, são-carlense do baixo-madeira, chegou a Porto Velho, em definitivo, no
mês de março de 1951, já voltando de Guajará Mirim. Antes disso, ainda
pequenino, trazido por sua mãe, Dona Inês Macedo, num barco de linha, aqui em
rápida passagem aqui deixaram os pertences e, sem demora, subiram no primeiro
trem rumo a Pérola do Mamoré onde encontrariam seu pai José Caminha dos Santos
(Zeca Cotó), que veio a falecer em 1950. Nem de longe o filho das barrancas,
nascido ao gorjeio das aves ribeirinhas e untado nos mistérios dos rios e
soprado pelo vento das fartas matas, sonharia o seu futuro paginando (hoje) em
sua coluna de jornal a cultura e suas pautas. Tampouco nela, a coluna,
imaginava vir a se assinar “ZeKatraca” e se manter de coração e corpo presente
na rotina cultural da cidade.
O seu
mais antigo alfarrábio musical, datado de 1960, dá conta de que o futuro
compositor, cantor, radialista, folclorista, carnavalesco e jornalista Sílvio
Santos, segundo reza os seus manuscritos, colecionados num imaginário prodígio
faria naquele ano, a sua primeira marchinha, intitulada “Quando a Chuva Cai”,
justo na época em que o mundo se curvava à explosão da “beatlemania” que
arrebatava em Liverpool e ganharia os porões nos pubs e cafés londrinos, na
Inglaterra, para em seguida, invadir e conquistar os Estados Unidos e o mundo,
por conseguinte.
O
certo é que e, Beatles à parte após a chuva de marchinha, que de certo regou
sua verve criativa, dali em diante ninguém mais conteve o processador letrista
e melodioso existente na cuca e no coração do inventivo e perspicaz sambista,
forrozeiro, boêmio e folclorista Sílvio Santos, que empresta a sua volumosa
obra de conteúdo e padrão Barsa (lembram da enciclopédia?) para servir de
adorno ou pano de frente, onde a música assim reclamar.
Com Ernesto
Melo, o poeta da cidade e Waldemir Pinheiro da Silva (o Bainha), o Zé Pereira
da cidade porto e o indestrutível homem que comeu cera, forma a conhecida e
afamada Trinca de Reis, nascida em maio de 2010, para o show de inauguração do
Mercado Cultural. Se preferir, o leitor ou leitora pode dispensar a estes
senhores a titulação de: A Santíssima Trindade do Samba Nosso afinal, seus
repertórios e trajetórias, os credenciam a tal plano.
Bem
lembramos os plantões do Sílvio no Departamento de Nutrição e Dietética do
Hospital de Base de Porto Velho. À época éramos do RH e seus colegas de turno
sempre comentavam que, nas horas de folga, ele sentava no refeitório vazio,
empunhava uma caixa de fósforos, fazia um ritmo e se danava a compor ou
finalizar músicas já em andamento. Não raro em nossos encontros, ele sempre
tinha uma nova. Agora mesmo, ao instante da construção do presente texto, não é
de duvidar que o moço esteja lá, melodiando alguns versos e rimas.
Escolas
de samba da cidade e do município de Rolim de Moura, blocos de carnaval daqui
da capital e, inclusive de Boa Vista/RR e Mosqueiro/PA, além de quadrilhas
juninas, bois-bumbás, grupos de forró, cantores brega, seresteiros e pagodeiros
(principalmente os de moral!), beberam na fonte musical do Sílvio Santos nesse
mais de meio século, quer seja com uma toada, um forró, um samba de enredo, uma
marchinha ou mesmo um bolero com tez de madrugada, pra enternecer os corações.
Dentre
os muitos fatos dados e passados em sua vida de artista, foi em 1970 que a música
se lhe apareceu como desafio ao receber das mãos da professora Marize Castiel o
livro “Sinhá Moça” da escritora Maria Camila Dezonne uma narrativa sobre fatos
da época da abolição da escravatura no sertão da Bahia. Sílvio tinha que ler o
livro o qual era o enredo escolhido e, depois, compor o samba que levaria a
Pobres do Caiari para a avenida. Os ensaios transcorriam defronte a Garagem do
Governo (Praças das Três Caixas D´água) sem que o compositor apresentasse ou
desce notícia do samba de enredo, para aflição dele próprio e da diretoria.
Passado
algum tempo, em meio a um dos ensaios, os diretores pediram que o autor
mostrasse o samba, que na verdade ainda não tinha uma só linha escrita. Botando
marra de compositor o Sílvio disse que ali no meio da praça não era lugar
propício. Foi aí que, a convite do Zeka Melo, então Presidente da agremiação,
foram até a sua residência, que ficava ao lado. Na sala, sentados em roda os
atentos e curiosos diretores, conheceriam enfim, o samba feito pelo Sílvio como
prestação de contas do que lhe fora encomendado. Sem pestanejar batucou na
mesa, puxou um ritmo, tomou fôlego e cantou inteirinho o samba de enredo até
então inexistente e foi salvo pela leitura ao livro, cujos trechos (sinopse e
enredo) estavam guardados em sua mente. Naquele ano a Pobres do Caiari,
conquistou o seu primeiro título do carnaval local cantando e dançando o samba
de enredo “Sinhá Moça e a Abolição.”
A
nossa audaz tentativa de desnudar uns tantos lustrosos fatos e ocorrências da
caminhada musical do artista Sílvio Santos nos pede e cobra mais espaço, tempo
e busca, pois como dito por ele mesmo, numa de suas composições, tempo para “darmos
um pulo na Casa das Canetas e, na volta, parar no Café Santos, tomar um
cafezinho, enquanto o engraxate dá um brilho daquele caprichado em nosso sapato
e sem manchar o couro, afinal temos pouco tempo e o tempo é ouro!”
Evento: Show musical –
Sílvio Santos 55 Anos de Música Autoral
Quando: nesta sexta-feira,
16 de setembro de 2015 – 20 horas
Local: Mercado Cultural
Querido
amigo Silvio, sucesso, saúde e um forte abraço!
tatadeportovelho@gmail.com
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